BOATOS – Técnicas de espalhar boatos na opinião pública
(O artigo a seguir foi
publicado em 1969, mas nele Dr. Plínio Corrêa de Oliveira descreve uma técnica de espalhar boatos
e calúnias contra os católicos da TFP, a qual fielmente se repete hoje contra os Arautos do
Evangelho)
“Certos indícios levam a supor que existe – aboletada
alhures – uma máfia progressista a espalhar, de tempos em tempos, boatos contra
a TFP. Com efeito, não há fumaça sem fogo. Nem efeito sem causa. E sem a
hipótese de um foco de disseminação único, é difícil explicar como –
simultaneamente e em vendaval – certas críticas surgem contra a TFP em
ambientes inteiramente diversos. Tanto mais quanto elas se apoiam nos mesmos
pressupostos infundados, bem como nos mesmos argumentos capciosos, e se
propagam com as mesmas cautelas.
Eu seria simplório – note-se bem – em afirmar que participam
de tal máfia quantos disseminam, acerca da TFP, tais objeções. Com efeito, há
uma técnica de fabricar e dar propulsão
aos boatos, como para elaborar e por em circulação qualquer fator de
publicidade: um slogan, um anúncio, um livro ou um jornal. O boato bem
engendrado corresponde à psicologia de certas famílias de almas ou de certos
setores da opinião. Ele dá corpo e palavra a prevenções vagas, ressentimentos
difusos, ou impressões indefinidas. Uma vez lançado, ele encontra, esparsos
aqui, lá ou acolá, elementos (dos quais muitos cercados da consideração geral)
que por assim dizer o esperavam, e assim avidamente lhe dão crédito. Tais
elementos, depois de degustar o boato, o disseminaram, mais ou menos como –
perdoe-nos o leitor a trivialidade da comparação – quem come cebola e lhe difunde
o cheiro ao falar. E assim o forte hálito dos boateiros pode fazer com que, em
uma nação inteira, o cheiro encebolado de uma mesma lorota se propague. Como se
vê, a disseminação dos boatos anti-TFP constitui um processo que tem muito de
natural.
O que tem ele de artificial? – É a sistemática
simultaneidade com que o boato nasce em lugares que não têm comunicação entre
si. É também sua irracionalidade, eu diria antes o cunho inteiramente
arbitrário de seu conteúdo. E, por fim, a sua tática rigidamente uniforme: -
lançado, ele se difunde até que seja refutado; - refutado, ele silencia sempre;
- silenciado, ele se conserva na moita até que a refutação fique esquecida; - e
esquecida a refutação, ele volta à carga exatamente como antes. Assim é que,
infatigável, vai e vem a lorota. Tanta uniformidade e tanto método são
incompatíveis, em geral, com a natureza fantasiosa e caprichosa da mentira.
Uma característica curiosa desse sistema é sua forma de
veiculação. Nunca escolhe ele a palavra escrita: ser-lhe-ia fatal o desmentido
ou refutação. O boato anti-TFP se incuba sempre no cochicho de parente a
parente, ou de amigo e amigo, em rodas mais ou menos íntimas. E jamais
“trabalha” quando pressente alguém da TFP.
Insisto quanto à artificialidade. Por mais natural e
espontânea que seja em tese a difusão de um boato, parece-me muito difícil que
possa repetir-se infatigavelmente como as ondas do mar, contra uma mesma
entidade, sem que uma máquina ardilosa o saiba engendrar ou reviver na hora
“certa”, dar-lhe forma alada e vento propício, inocular-lhe a preferência
exclusiva pelo cochicho, etc., etc.
Claro é que, entre os difusores inadvertidos do boato
estão meus amigos “sapos”. Creio mesmo
que sem a “saparia” não haveria tais boatos. Mas não são só eles. E é nisto que
a habilidade dos fabricantes de boato me parece mostrar o melhor de seu sinuoso
talento.
Exemplifico.
Para tornar a TFP antipática, o boato difundiu que
constituímos um grupo pequeno e fechado de aristo-plutocratas, empenhados em
defender seus privilégios contra tudo e contra todos. Seríamos, pois, uns
inimigos do bem comum.
Provas? O boato as exibe: é a palavra “propriedade” em
nosso lema. São as campanhas que fizemos em 1964 contra a reforma agrária.
Este material para cochicho assim mal alinhavado, esse
conjunto de “clichês” sugestivos, essa cebola de forte odor e fácil aceitação
junto aos imaginativos, se põe a circular, entre os indecisos. Por contágio,
muita gente alheia à máfia, a difunde.
Onde há falta de clima ou de interesse, um “mafioso” ajuda a difusão,
temperando a cebola conforme as apetências do ambiente. E por fim, a “operação
cebola” atinge a amplitude desejável.
Os “suporters”
mafiosos do boato ajudam-no também em outro ponto básico. É em resistir
– pela repetição obstinada – à evidência dos fatos.
Somos um punhadinho de gente? Entretanto, nossas
manifestações públicas surpreendem pelo número.
Somos uns aristoplutocratas? Basta analisar nossa gente
quando sai em campanha de rua, para ver que nos recrutamos em todas as classes
sociais, especialmente nas mais modestas... onde mais rara é a “saparia”.
Somos defensores de todos os abusos possíveis e
imagináveis da propriedade? – Por que? Só porque em nosso lema proclamamos o
direito de propriedade? Então afirmar um direito é ipso facto apoiar-lhe os
abusos? Uma Faculdade de Direito, que tem por missão definir e ensinar todos os
direitos, é então uma escola de abusos? Dada essa contra-objeção, o indivíduo
não “mafioso” talvez se renda à evidência. O mafioso, ou a vítima da máfia,
isto é, por exemplo, algum “sapo” fortemente “encebolado”, este não. Ele salta
para outro ponto. Apesar de ter atacado há instantes a palavra “propriedade” em
nosso lema, ele afirma, desenvolto, que o mal não está aí. Está em nossos livros
e publicações. Lá é que vem, bem clara, a lista das teses abusivas,
insustentáveis, reacionárias, extremistas, que propugnamos. Tão certo está
disto o “sapo”, que forçosamente alguém oculto por detrás dele lho disse.
E ele acreditou. Aperte-se o “sapo”: em qual de nossos
livros, em que página estão definidos e propugnados estes abusos? Em que
artigos do mensário “Catolicismo”? Ou,
então, em qual de meus artigos ou entrevistas na imprensa diária ou nas mais
variadas revistas? O “sapo” não sabe, porque não leu. Tartamudeia, então, e
para safar-se do apuro lança um insulto: “Sabe o que mais? Vocês são uns
extremistas de direita”.
No que, meu “sapo” boateiro e encebolado? No que Você
discorda de nossas publicações? No que Você vê extremismo? Afirmo que como nós
pensa, acerca da propriedade, a maioria maciça dos brasileiros... Vá ler, para depois argumentar!
O “sapo” se cala e sai. Vai espalhar alhures o cheiro da
cebola.
De longe, tento alcançá-lo com uma pergunta: “Quando,
afinal, Você me dirá bem concretamente como são as reformas de base que Você
quer”?
Mas o “sapo” está longe. Ao som desta pergunta incômoda,
o “sapo” é como o boato. Tem asas...
(artigo Extremismo de
direita, cebolas e sapos alados – FSP, 28.12.69)
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