O clima de
pânico mundial criado pela ação da mídia por causa da pandemia do coronavirus
teve um antecedente a nível regional na França do século XVIII. Este pânico
coletivo foi chamado de “la grande peur” ou grande medo. Vejamos como tudo ocorreu
naquele tempo.
O grande medo
Após a tomada da Bastilha a
França foi invadida por uma misteriosa onda de medo, causada por supostas ou
verdadeiras investidas de revolucionários contra as populações, com ameaças de
saques e mortes. Bruscamente, mais ou
menos a partir de 20 de julho de 1789, uma notícia corre em vários lugares, na
Normandia, em Dauphiné, na Alsácia, em Auverne, em toda parte. Quatro mil
brigadas armadas, diziam, chegam, pilham tudo, incendeiam as casas, queimam as
lavouras, executam inocentes. Os sinos tocam a rebate em várias localidades. Em
algumas havia um ataque verdadeiro, mas na maioria tudo não passava de alarme
falso com o objetivo único de propagar o medo, o pânico. Dos lugares em que os ataques eram
verdadeiros partem velozes correios para avisar as populações vizinhas. Estas
tocam os sinos, armam os cidadãos e se preparam para rechaçar o ataque. Na
grande maioria nada acontece, mas o medo fica.
Passado o medo, os cidadãos continuam armados. Logo chegam até eles os
agitadores tentando açulá-los contra a aristocracia. De tal modo o medo havia
tomado conta da população que conta-se de uma mulher em Mont d’Or que se
refugiou numa perigosa rocha escarpada, tendo se utilizado de cordas para
chegar até seu esconderijo, lugar de difícil acesso até para um forte homem. Em
alguns lugares a violência explode incontida. Nos arredores de Mamers, Madame
de Bonneval e Madame de Malets são surradas por seus aldeões, que lhes quebram
os dentes. Em seguida trucidam M. Beauvois, matam o lugar-tenente do marechal e
queimam vivo o velho conde de Falconière. Mais outras três pessoas são
assassinadas. Estas notícias se espalham como rastilho de pólvora e o pânico
aumenta. Todos têm medo.
Diversos historiadores comprovam que este medo foi provocado
artificialmente pela ação de mais de 1.500 sociedades secretas (as famosas
“Sociétés du Pensées”) que existiam na França, de onde saíam os mensageiros
para espalhar as notícias, falsas ou verdadeiras. Que objetivos tinham em
mente? Propagar simplesmente o medo entre a população? Imediatamente, sim, mas
remotamente se pretendia fazer com que este medo amortecesse nas pessoas o
desejo de esboçar qualquer reação contra as forças revolucionárias. O medo era
um fator capitulacionista para o futuro. Nos lugares em que as hordas
revolucionárias chegassem de verdade as pessoas de bem estariam dispostas muito
mais a ceder do que lutar. O medo lhes havia tirado completamente a vontade de
resistir.
O terror
Após o “grande peur” veio o
terror. Mas alguns resolveram resistir e lutar. Quando isto ocorreu, como os
contra-revolucionários da Vendéia, a Revolução passou a usar o terror contra
eles. O martírio de Maria Antonieta foi sucedido por levas de guilhotinamentos
em Paris, implantando na França um período de terror jamais visto até
então. Depois da rainha foram executados
os revolucionários moderados, os girondinos. Em Paris, as execuções foram
aumentando gradativamente: em outubro de 1793 foram guilhotinadas 51 pessoas,
em dezembro 68, em janeiro do ano seguinte 71, no outro mês 73 e em março 127.
Em maio foram executadas um total de 358 pessoas no mês, isto somente em Paris. Até a fase final
do terror foram eliminadas na capital da França mais de 1.500 pessoas,
incluindo os 108 que acompanharam Robespierre no final de julho do mesmo ano.
O terror continuou furioso o seu curso, disposto a matar todas as
reações que pudessem se esboçar contra os revolucionários. A sanha terrorista
não se restringiu a Paris, mas à toda França. Nem todos os que morriam eram
pessoas de posição social ou política. De 12 mil pessoas que foram condenadas à
morte em toda a França, 7.500 eram lavradores, moços de charruas, operários e
pequenos negociantes. Um historiador assim classifica esta fase do terror
revolucionário: “Os historiadores que
pretendem por todas as formas apresentar-nos as hecatombes montanhesas como
lamentáveis excessos de uma réplica legítima, ficam bastante embaraçados a
partir de 1794. Por isso, no desejo cego de ilibarem o sistema, vêem-se na
necessidade de atirarem sobre um homem – Robespierre – a responsabilidade de
todos os crimes que não conseguem explicar de outra maneira. A ambição de
Robespierre, a hipocrisia de Robespierre, a crueldade de Robespierre são
expressões que aparecem em todas as páginas. Desculpa pueril! O Terror é a
própria essência da Revolução, porque a Revolução não é uma simples mudança de
regime, mas uma revolução social, um empreendimento de expropriação e de
extermínio...”[1]
Durante a Revolução Bolchevista, na Rússia em 1917, e todos os golpes de
estado comunistas havidos no século XX, nada mais fizeram tais revolucionários
senão repetir o método aplicado na Revolução Francesa de 1789. Um era cópia do outro, e todos copiavam os
franceses. O terror tomou conta de todas as Rússias, da China, dos países do
Leste europeu, de Cuba, enfim, onde o comunismo se instalou, seja através de
levas e mais levas de fuzilamentos sumários, sem julgamentos e sem defesa para
as vítimas, ou mesmo através de agressões violentas feitas por grupos armados
contra cidadãos indefesos. Aqueles que
não aceitavam o regime e resolviam lutar eram calados pelo terror...
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