terça-feira, 24 de março de 2020

O PÂNICO DA PANDEMIA E O GRANDE MEDO DA REVOLUÇÃO FRANCESA






O clima de pânico mundial criado pela ação da mídia por causa da pandemia do coronavirus teve um antecedente a nível regional na França do século XVIII. Este pânico coletivo foi chamado de “la grande peur” ou grande medo. Vejamos como tudo ocorreu naquele tempo.

O grande medo  
   Após a tomada da Bastilha a França foi invadida por uma misteriosa onda de medo, causada por supostas ou verdadeiras investidas de revolucionários contra as populações, com ameaças de saques e mortes.  Bruscamente, mais ou menos a partir de 20 de julho de 1789, uma notícia corre em vários lugares, na Normandia, em Dauphiné, na Alsácia, em Auverne, em toda parte. Quatro mil brigadas armadas, diziam, chegam, pilham tudo, incendeiam as casas, queimam as lavouras, executam inocentes. Os sinos tocam a rebate em várias localidades. Em algumas havia um ataque verdadeiro, mas na maioria tudo não passava de alarme falso com o objetivo único de propagar o medo, o pânico.  Dos lugares em que os ataques eram verdadeiros partem velozes correios para avisar as populações vizinhas. Estas tocam os sinos, armam os cidadãos e se preparam para rechaçar o ataque. Na grande maioria nada acontece, mas o medo fica.
Passado o medo, os cidadãos continuam armados. Logo chegam até eles os agitadores tentando açulá-los contra a aristocracia. De tal modo o medo havia tomado conta da população que conta-se de uma mulher em Mont d’Or que se refugiou numa perigosa rocha escarpada, tendo se utilizado de cordas para chegar até seu esconderijo, lugar de difícil acesso até para um forte homem. Em alguns lugares a violência explode incontida. Nos arredores de Mamers, Madame de Bonneval e Madame de Malets são surradas por seus aldeões, que lhes quebram os dentes. Em seguida trucidam M. Beauvois, matam o lugar-tenente do marechal e queimam vivo o velho conde de Falconière. Mais outras três pessoas são assassinadas. Estas notícias se espalham como rastilho de pólvora e o pânico aumenta. Todos têm medo.
Diversos historiadores comprovam que este medo foi provocado artificialmente pela ação de mais de 1.500 sociedades secretas (as famosas “Sociétés du Pensées”) que existiam na França, de onde saíam os mensageiros para espalhar as notícias, falsas ou verdadeiras. Que objetivos tinham em mente? Propagar simplesmente o medo entre a população? Imediatamente, sim, mas remotamente se pretendia fazer com que este medo amortecesse nas pessoas o desejo de esboçar qualquer reação contra as forças revolucionárias. O medo era um fator capitulacionista para o futuro. Nos lugares em que as hordas revolucionárias chegassem de verdade as pessoas de bem estariam dispostas muito mais a ceder do que lutar. O medo lhes havia tirado completamente a vontade de resistir.

O terror
Após o “grande peur”  veio o terror. Mas alguns resolveram resistir e lutar. Quando isto ocorreu, como os contra-revolucionários da Vendéia, a Revolução passou a usar o terror contra eles. O martírio de Maria Antonieta foi sucedido por levas de guilhotinamentos em Paris, implantando na França um período de terror jamais visto até então.  Depois da rainha foram executados os revolucionários moderados, os girondinos. Em Paris, as execuções foram aumentando gradativamente: em outubro de 1793 foram guilhotinadas 51 pessoas, em dezembro 68, em janeiro do ano seguinte 71, no outro mês 73 e em março 127. Em maio foram executadas um total de 358 pessoas no mês, isto somente em Paris. Até a fase final do terror foram eliminadas na capital da França mais de 1.500 pessoas, incluindo os 108 que acompanharam Robespierre no final de julho do mesmo ano.
O terror continuou furioso o seu curso, disposto a matar todas as reações que pudessem se esboçar contra os revolucionários. A sanha terrorista não se restringiu a Paris, mas à toda França. Nem todos os que morriam eram pessoas de posição social ou política. De 12 mil pessoas que foram condenadas à morte em toda a França, 7.500 eram lavradores, moços de charruas, operários e pequenos negociantes. Um historiador assim classifica esta fase do terror revolucionário: “Os historiadores que pretendem por todas as formas apresentar-nos as hecatombes montanhesas como lamentáveis excessos de uma réplica legítima, ficam bastante embaraçados a partir de 1794. Por isso, no desejo cego de ilibarem o sistema, vêem-se na necessidade de atirarem sobre um homem – Robespierre – a responsabilidade de todos os crimes que não conseguem explicar de outra maneira. A ambição de Robespierre, a hipocrisia de Robespierre, a crueldade de Robespierre são expressões que aparecem em todas as páginas. Desculpa pueril! O Terror é a própria essência da Revolução, porque a Revolução não é uma simples mudança de regime, mas uma revolução social, um empreendimento de expropriação e de extermínio...”[1] 
Durante a Revolução Bolchevista, na Rússia em 1917, e todos os golpes de estado comunistas havidos no século XX, nada mais fizeram tais revolucionários senão repetir o método aplicado na Revolução Francesa de 1789.  Um era cópia do outro, e todos copiavam os franceses. O terror tomou conta de todas as Rússias, da China, dos países do Leste europeu, de Cuba, enfim, onde o comunismo se instalou, seja através de levas e mais levas de fuzilamentos sumários, sem julgamentos e sem defesa para as vítimas, ou mesmo através de agressões violentas feitas por grupos armados contra cidadãos indefesos.  Aqueles que não aceitavam o regime e resolviam lutar eram calados pelo terror...



[1] Pierre Gaxote, “A Revolução Francesa”, pág. 258.


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