BENTO XVI RESPONDENDO A PERGUNTAS DE SEMINARISTAS - III
(DIMOV KOICIO, Diocese
de Nicópolis (Bulgária) IV ano - 2º de Teologia)
4. Beatíssimo
Padre, comentando a Via Sacra de 2005 falou da sujeira que há na Igreja, e na
homilia para a ordenação dos sacerdotes romanos do ano passado admoestou-nos
contra o risco "do carreirismo, da tentativa de sucesso, de procurar obter
uma posição através da Igreja". Como devemos colocar-nos face a estas
problemáticas do modo mais sereno e responsável possível?
É uma pergunta não
fácil, mas parece-me que já disse, e é um aspecto importante, que o Senhor
sabe, sabia desde o início, que na Igreja também há o pecado e para a nossa
humildade é importante reconhecê-lo e ver o pecado não só nos outros, nas
estruturas, nos altos cargos hierárquicos, mas também em nós próprios para sermos,
desta forma, mais humildes e aprender que não conta diante do Senhor a posição
eclesial, mas estar no seu amor e fazer brilhar o seu amor.
Pessoalmente considero
que, sobre este ponto, seja muito importante a oração de Santo Inácio que diz: "Suscipe,
Domine, universam meam libertatem. Accipe memoriam, intellectum atque
voluntatem omnem. Quicquid habeo, vel possideo, mihi largitus es: id tibi totum
restituo, ac tuae prorsus voluntati trado ad gubernandum. Amorem tui solum, cum
gratia tua mihi dones: ed dives sum statis, nec aliud quicquam ultra
posco"(*). Precisamente esta última parte me parece muito importante:
compreender que o verdadeiro tesouro da nossa vida é permanecer no amor do
Senhor e nunca perder este amor. Depois seremos realmente ricos. Um homem que
encontrou um grande amor sente-se realmente rico e sabe que esta é a pérola
verdadeira, que este é o tesouro da sua vida e não todas as outras coisas que
talvez possua.
Nós encontrámos, aliás
fomos encontrados pelo amor do Senhor e quanto mais nos deixarmos tocar por
este amor na vida sacramental, na vida de oração, na vida do trabalho, do tempo
livre, tanto mais podemos compreender que encontramos a pérola verdadeira e que
o resto não conta, que o resto só é importante na medida em que o amor do
Senhor me atribui estas coisas. Eu sou rico, sou realmente rico e me destaco se
permaneço neste amor. Encontrar nele o centro da vida, a riqueza. Depois
deixemo-nos guiar, deixemos que a Providência decida o que fazer de nós.
Vem-me agora em mente
uma pequena história de Santa Bakhita, esta bela Santa africana, escrava no
Sudão, e que depois na Itália encontrou a fé, fez-se freira e quando já era
idosa o bispo visitava o seu mosteiro, na sua casa religiosa e não a conhecia;
viu esta pequena irmã africana, já curvada, e disse-lhe: "Mas o que faz a
Senhora, irmã?"; Bakhita respondeu: "Faço o mesmo que Vossa
Excelência". O bispo, admirado respondeu: "Mas o quê?", e
Bakhita respondeu: "Mas Excelência, nós queremos fazer ambos a mesma
coisa, fazer a vontade de Deus".
Parece-me uma resposta
muito bonita, o Bispo e a pequena irmã, que quase já não podia trabalhar,
faziam, em posições diferentes, a mesma coisa, procuravam cumprir a vontade de
Deus e assim estavam no lugar justo.
Vem-me também em mente
uma palavra de Santo Agostinho que diz: todos nós somos sempre apenas
discípulos de Cristo e a sua cátedra é mais alta, porque esta cátedra é a cruz
e só esta altura é a verdadeira altura, a comunhão com o Senhor, também na sua
paixão. Parece-me que, se começarmos a compreender isto, numa vida de oração
quotidiana, numa vida de dedicação, ao serviço do Senhor, nos podemos libertar
destas tentações tão humanas.
(VISITA AO PONTIFÍCIO
SEMINÁRIO MAIOR ROMANO
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
(*) Tomai, Senhor, e
recebei toda a minha liberdade e a minha memória também. O meu entendimento e
toda a minha vontade, tudo o que tenho e possuo vós me destes com amor. Todos
os dons que me destes com gratidão vos devolvo. Disponde deles, Senhor, segundo
a vossa vontade. Dai-me somente o vosso amor, vossa graça. Isto me basta, nada
mais quero pedir.
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