Está sendo veiculado
pela internet que o escritor americano Dean Koontz, romancista de suspense e
terror, escreveu em 1981 o livro “The
eyes of darknes (“Os olhos da escuridão”), onde o mesmo cita uma arma biológica
que se chama “Wuhan-400”, um micro-organismo desenvolvido num laboratório
próximo da cidade de Wuhan, exatamente a mesma onde se originou a pandemia do
coronavirus denominada COVID 19. Estão vendo isso como uma previsão dos
acontecimentos atuais, visto há 29 anos!
Tornou-se comum no
decorrer do século passado e no início deste se ouvir o pronunciamento de algum
"especialista" sobre temas da atualidade. Em geral a mídia não dá a
tais elementos o título de "profeta", talvez por achá-lo anacrônico.
O termo mais comum é o de "guru", filósofo, pensador, analista,
cientista, ou simplesmente “especialista” ,etc.
Um exemplo temos no
italiano "Toni" (ou Antonio) Negri, tido como filósofo e "o mais
debatido pensador da esquerda européia". Trata-se de um criminoso, preso
desde 1997, acusado de ter sido o mentor do grupo terrorista "Brigadas
Vermelhas" que assassinou o primeiro-ministro Aldo Moro em 1978. Pois bem,
tal "pensador" publicou um
livro em 2000, com o título de "Império", no qual o autor diz
estabelecer nova terminologia para aquela palavra, pela qual não mais são
denominadas as nações que estabelecem o império, mas uma "nova ordem"
(diríamos um caos) em que são eliminados os conceitos de nação, fronteira,
raça, etnia, povo, etc.
Tal livro foi
descrito pelo jornal "New York Times" como a "primeira grande
síntese teórica do novo milênio", pois trata da estrutura política que
sustenta o chamado mundo globalizado numa organização inteiramente indiferente
a nações, fronteiras, povos, raças, etc. Nesta perspectiva, os Estados-nações
não têm mais controle sobre movimentos de capital ou lutas sociais. Nesta nova
configuração o "império" não tem mais limites e nem se circunscreve a
um povo ou país.
No texto o autor
insinua que o mundo capitalista ruiria após o comunista, os EUA atacariam os países
árabes, que lhe suscitaria maior ódio em todo o mundo e terminaria por
causar-lhe uma bancarrota financeira e política. Segundo o autor, os americanos
não têm recursos suficientes para manter a guerra contra o Iraque, e isto está
sendo feito pelas organizações deste imaginado "império"
extra-nacionalista e globalizado... (v.
"Folha de São Paulo", 30.3.2003 - fl. A 26)
Como se sabe, a URSS
sucumbiu e caiu o muro de Berlim, símbolo da divisão dos dois mundos,
capitalista e comunista. Faltou cair o mundo capitalista, representado pelos
EUA, e para tanto teria de haver uma catastrófica recessão.
Vários “profetas”
passaram então a prever o que viria depois, que tipos de sociedades os homens
construiriam após o fim da "guerra fria” e do suposto fim do comunismo. O
americano James Dale Davidson e o inglês William Reesmogg, ambos financistas,
publicam o livro “The great reckoning”
(O grande ajuste de contas), onde afirmam que o mundo estaria a caminho
de uma grande recessão, uma catástrofe social como poucas já registradas na
história. Grandes companhias, bancos e instituições poderosas, vão falir uma
após outra. O desemprego será maior do que em qualquer outra época, e os mais
privilegiados terão de abandonar as grandes metrópoles em busca de segurança. O
uso de certas drogas será legalizado para conter a explosão social, e o
islamismo substituirá o marxismo como desafio ideológico. “O Grande ajuste
de contas” prevê, ao final de tudo, um
mundo melhor do que o atual para os sobreviventes da catástrofe.
Outro “profeta” é o francês Pierre Lellouche, conselheiro do
ex-prefeito de Paris, Jacques Chirac, especialista em questões estratégicas.
Segundo ele, com o fim da “guerra fria”, não prevalecerá uma nova ordem
Norte-Sul, mas uma desordem mundial que poderá durar até três décadas.
Revoluções nas antigas repúblicas soviéticas, ameaça nuclear de países
islâmicos contra a Europa, etc. Enquanto isto, prolifera nos Estados Unidos
a construção de residências subterrâneas, dando a impressão a muitos de que o
futuro será a volta para as cavernas e ao nomadismo. Tudo isto indica que
estaríamos caminhando para o caos.
O jornal “L’Express”,
de 13.11.91, publica entrevista de Jacques Séguela, presidente de instituto de
pesquisa dos costumes, no qual o mesmo prevê brevemente o fim da chamada
“sociedade de consumo”, fruto da ecologia e da preocupação de preservação do
meio ambiente.
O grego Cornelius
Castoriadis, filósofo radicado na França desde 1945, também faz suas previsões.
Seu pensamento está contido nos livros “Socialismo ou Barbárie”, “Os Destinos
do Totalitarismo”, “A Instituição Imaginária da Sociedade” e “As Encruzilhadas
do Labirinto”, mas pode-se resumir no seguinte: com o agravamento do caos na
URSS e no Ocidente, surgirá então um mundo autogovernado de coletividades
autônomas. O filósofo disse que há uma minoria que já trabalha neste sentido, e
que a palavra-chave é despertar o público da apatia e esperar que cresça a
saturação pela sociedade de consumo. Está proclamado que o futuro da humanidade
é a autogestão, e isto caminha para as conclusões filosóficas do indigenismo,
do autoctonismo, conforme apregoam os estruturalistas.
Depois da segunda
guerra contra o Iraque, a mídia deu ênfase ao escritor francês Emmanuel Todd.
Ocorre que referido historiador e demógrafo havia publicado um livro na década
de 70, "La Chute Finale" (A Queda Final), onde o mesmo previra a
previsível ruína do império soviético. Decorridos mais de 30 anos, o Autor
publica outra obra: "Após o Império: Ensaio sobre a Decomposição do
Sistema Americano", que conquistou a lista dos mais vendidos em vários
países europeus, editado em 2002. Seguindo a corrente de "profetas"
modernos, ele também prevê a ruína do império econômico dos Estados Unidos.
Emmanuel Todd
especializou-se em previsões. Nos anos 90 havia publicado outro livro
profético, intitulado "A Ilusão Econômica", onde critica a
globalização da economia e a União Européia, prevendo o fracasso desta última.
Isto vem lhe aumentando o prestígio como analista seguro de eventos futuros no
mundo. (v. "Folha de São Paulo", 13.07.2003).
Assim como existem os
que prevêem o futuro da sociedade humana em sua forma política e social, há
também aqueles que falam sobre mudanças na própria estrutura genética, como o
cientista britânico Martin Rees. Dedicado à astronomia, pertencente à Royal
Society e do King's College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido,
publicou um livro com o título "Our Final Hour" (Nossa Hora Final). O
autor critica no livro os perigos que a alta tecnologia pode causar ao mundo
contemporâneo. Se sobrevivermos a nós mesmos e às nossas máquinas cada vez
menores e mais perigosas, temos um encontro marcado com um sombrio futuro
"pós-humano". No subtítulo de
capa o autor deixa entrever qual o objetivo de seu livro: "Alerta de um
cientista: como terror, erro e desastre ambiental ameaçam o futuro da
humanidade neste século - na Terra e além".
O maior perigo que o
Autor chama a atenção é para a guerra biotecnológica e o que ele chama de
"nanotecnologia" (o que seria
o mesmo que pequenas tecnologias ou microtecnologias). Desta forma seria
possível se construir armas de pequeno porte tão letais quanto às nucleares
instaladas nas ogivas de foguetes. As novas tecnologias poderão concentrar poderes
excepcionais não somente em pequenas nações mas até mesmo em um só indivíduo,
conduzindo à derrocada da civilização.
Caso o homem consiga
suplantar todas estas ameaças e sobreviva, estarão abertas as portas para a
transmutação da espécie. A seleção natural daria lugar à manipulação genética
artificial. Implantes biônicos conectados ao cérebro humano poderiam, em tese,
ampliar as habilidades existentes e até mesmo favorecer novas faculdades.
Seriam novas características genéticas que o homem adquiria na era
"pós-humanidade", talvez adquiridas até mesmo em colônias espalhadas
pelo espaço cósmico, caso a terra fique inabitável.
O Autor resume o
início deste processo com a possibilidade de 50%, admitida por ele, de haver
ainda neste século uma hecatombe de destruição em massa. ("Folha de São
Paulo", 25.05.2003, caderno "Mais!").
O pior é que,
realmente, muito do que falam tais “profetas” pode acontecer.
Que
tipo de profetas são estes?
Muitas outras
previsões semelhantes são anunciadas nos dias atuais. Podemos dar crédito a tais previsões? São
profetas de verdade?
A palavra “profeta”
vem do grego profétés, (intérprete),
e era quem interpretava o que queriam os deuses pagãos e predizia o futuro.
Em sentido lato, profeta (em hebraico nábi), significa também intérprete. Na
Bíblia a palavra profeta é empregada para designar o homem que exalta os
louvores de Deus e que cumpre uma missão divina de conduzir um povo
prevendo-lhe o futuro. De um certo modo, podem ser classificados também como
“profetas” aqueles que preveem o futuro por intermédio de meios naturais, como
os que anunciam os eclipses e outras coisas naturais. São Tomás discorre sobre
a capacidade do homem de prever o futuro pelo seu intelecto, através de causas
naturais (Summa Q LXXXVI, Art IV). Esta capacidade, porém, está limitada pelas
causas naturais, isto é, somente aquilo que a própria natureza humana
naturalmente pode prever. Existe,
portanto, um dom “profético” dado
aos homens de uma maneira natural e um outro de forma milagrosa.
No sentido estrito Profeta era aquele a quem Deus
revelava o futuro e lhe confiava a missão de o transmitir aos outros homens.
Segundo São Tomás de Aquino a profecia, neste sentido, é uma “previsão certa e
o anúncio de coisas futuras, que não podem ser conhecidas pelas causas naturais”.
Os Profetas eram,
portanto, intérpretes de Deus, reveladores dos planos divinos quanto ao futuro
e tinham a missão de guiar os povos para se converterem e voltarem-se para
Deus. A Profecia, neste caso, é um milagre propriamente dito, pois somente Deus
conhece os acontecimentos futuros e pode revelá-los aos homens com o objetivo
de guia-los. Quais os homens que Deus escolhe para ser seus profetas somente os
fatos ocorridos depois que confirmam suas revelações o comprovam.
Mas, os falsos
profetas realmente possuem um dom dado por Deus? Sim, pode-se dizer que
receberam o dom natural da previsão, muitas vezes utilizado de uma forma errônea.
Para se avaliar se uma profecia é autêntica temos que meditar sobre o seu fim,
se ela procura guiar o povo em busca de Deus ou não. Se apenas procura exaltar
o profeta ou o grupo a qual pertence é uma falsa profecia, embora às vezes
acerte as previsões pelo dom natural que possui. .
A falsa profecia provém
de um pecado que se origina da magia, dos supersticiosos e visionários
gnósticos dos povos pagãos. Trata-se da
intervenção diabólica com intenção de confundir os homens, vem de um espírito
maligno especialmente dotado da arte da mentira. Esta intervenção diabólica é
contada pelo profeta Miquéias da seguinte forma:
“Eu vi o Senhor
sentado sobre o seu trono e todo o exército do céu ao redor dele, à direita e à
esquerda. O Senhor disse: Quem enganará Acab, rei de Israel, para que ele
marche e pereça em Ramot de Galaad? Um disse uma coisa, outro outra. Mas um
espírito maligno adiantou-se, apresentou-se diante do Senhor e disse: Eu o
enganarei. O Senhor disse-lhe: de que modo? Ele respondeu: Irei e serei um
espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. O Senhor disse: Tu o
enganarás e prevalecerás; sai e faze assim” (I Reis 22, 19-23).
O Apóstolo São Paulo
o confirma: “Ideo mittet illis Deus operationem erroris, ut credant mendacio” –
Por isso enviará Deus a estes o artifício do erro, de sorte que acreditarão na
mentira. (2 Tes 2, 10).
Os
demônios são incapazes de verdadeiras profecias
Mas, tais profecias
não são consideradas verdadeiras, como nos explica Santo Antão:.
“Igualmente, a respeito das águas do rio, falam a torto e
a direito. Tendo constatado chuvas abundantes nas regiões da Etiópia, e vendo
que essa é a causa da cheia do rio, antes que a água chegue ao Egito, correm na
frente e o dizem. Os homens também o diriam, se pudessem correr como eles. Do
mesmo modo como o vigia de Davi, postado em lugar elevado, via mais facilmente
que um homem vinha do que quem estava embaixo, e como o corredor anuncia a
outros não o que não existe, mas as coisas que estão em via de se realizar e já
realizando-se, assim vão anunciar e indicar aos outros coisas futuras, mas é
com a única finalidade de enganá-los. Nesse meio tempo, se a providência
dispuser outra coisa a respeito das águas e dos viajantes, o que ela pode
fazer, os demônios mentiram, e aqueles que neles creram foram enganados.
“Foi assim que se deram as adivinhações dos helenos e que
foram enganados outrora pelos demônios, depois a ilusão se acabou. Porque o
Senhor veio e reduziu à impotência os demônios com seus artifícios. Por si
mesmos nada sabem, mas, semelhante a ladrões, exibem o que veem nos outros.
Deve-se dizer que mais conjeturam que preveem. Aliás, quando dizem a verdade,
que ninguém os admira muito. Também os médicos, da experiência que têm com os
doentes, e tendo em vista a mesma doença em vários, muitas vezes predizem
mediante conjetura, em virtude do hábito. Ninguém dirá por isso que predizem
mediante inspiração divina, mas mediante a experiência e o hábito. Portanto,
quando os demônios falam por conjetura, que ninguém os admire, nem dê atenção
ao que dizem. Qual é a utilidade em ficar sabendo por eles as coisas futuras
alguns dias antes que se realizem? Qual a necessidade de sabê-las, ainda que
possam verdadeiramente conhecê-las? Esse conhecimento não é nenhum instrumento
de virtude nem de bons costumes. Ninguém de nós será julgado por não saber
essas coisas, e nenhum se torna feliz por tê-las conhecido e por sabê-las. Cada
um será julgado a respeito destes pontos: conservou a fé, guardou fielmente os
mandamentos?” [1]
Legiões de falsos
profetas surgiram no Antigo Testamento. Santo Elias combateu 850 deles de uma
só vez, tendo matado 450 adeptos de Baal e deixados vivos outros 400 chamados
profetas dos bosques. O termo “profeta”, aqui, pode significar apenas
sacerdotes pagãos, mas indica que tinham o mesmo fim profético, isto é,
trata-se de pretensos previdentes e orientadores do povo. Estes, no entanto,
foram vencidos e mortos pelo profeta Jeú.
(I Reis 18,19 e II Reis 10, 24). Diz São Jerônimo que havia entre os
hebreus sacerdotes com um carisma especial, o privilégio de poder distinguir os
profetas verdadeiros dos falsos, reconhecendo se era o Espírito Divino, o
diabólico ou o humano que os inspirava. Tratava-se de um dom que lhes permitia
perscrutar o íntimo de tais profetas, um alto discernimento dos espíritos.
No entanto, tais
profetas eram denunciados constantemente pelos Profetas verdadeiros:
“Os depositários da
lei não me conheceram, os pastores prevaricaram contra mim, os profetas
profetizaram em nome de Baal e seguiram os ídolos” (Jer 2, 8)
“Os profetas
profetizaram a mentira, e os sacerdotes aplaudiram-nos com as suas mãos; e o
meu povo amou estas coisas. Que castigo não virá, pois, sobre esta gente no fim
de tudo isto?” (Jer 5, 31).
BALAÃO, EXEMPLO DE UM FALSO PROFETA QUE FAZ
PREVISÕES CERTAS
Nos tempos em que Moisés ainda andava
com o povo hebreu em busca da Palestina, encontraram-se, ele e seu povo, com
Balaão. Tratava-se de um falso profeta, sacerdote de Baal, que foi chamado por
Balac, rei dos madianitas, a fim de amaldiçoar o povo hebreu, mas, por
intervenção angélica, inverteu a maldição em bênção e tornou-se um profeta
autêntico, chegando a profetizar até mesmo a vinda do Messias. O Anjo de Deus
apareceu diversas vezes à Balaão, o que indica que sobre este homem, apesar de
seu coração duro, Deus tinha desígnios proféticos extraordinários.
Após receber os
embaixadores do rei Balac, respondeu Balaão: “Ficai aqui esta noite e eu vos responderei tudo o que o Senhor me
disser. Estando eles na casa de Balaão, veio Deus e disse-lhe”. Quer dizer,
Balaão já vinha tendo aparições angélicas, pois do contrário não teria dito “eu
vos responderei tudo o que o Senhor me disser”. Depois, através de um Anjo, num
diálogo que demonstra certa intimidade, Deus disse-lhe: “Que querem estes homens que estão junto de ti?”. Balaão conta para
o Anjo o motivo daquela embaixada, ao que o Anjo responde: “Não vás com eles, nem amaldiçoes o povo, porque é bendito”. Ao
levantar-se, pela manhã, Balaão conta aos embaixadores de Balac a resposta do
Senhor: “Tornai para a vossa terra,
porque o Senhor me proibiu ir convosco”. Pela resposta vê-se que Balaão ainda era
obediente a Deus.
Os embaixadores
voltaram para Balac e lhe informaram que o profeta não aceitou lançar a
maldição sobre o povo de Israel. O rei, teimoso, manda novo grupo de
embaixadores, desta vez mais numeroso. Ao receber a nova embaixada, Balaão
responde: “Ainda que Balac me desse a sua
casa cheia de prata e de ouro eu não poderei alterar a palavra do Senhor meu
Deus, para dizer de mais ou de menos. Rogo-vos que fiqueis aqui ainda esta
noite, para que eu possa saber o que é que o Senhor me responderá de novo”. Como
se vê, Balaão mantém-se firme na obediência a Deus e, educadamente, manda os
embaixadores esperar para ouvirem o que o Senhor tem a dizer. Mas Deus tinha
seus desígnios e responde a Balaão: “Se
estes homens te vieram chamar, levanta-te e vai com eles, mas com a condição de
que faças o que eu te mandar”. O
profeta, logo cedo, manda preparar sua jumenta e diz que vai seguir os
embaixadores até onde o rei Balac o chamava.
Alguma coisa saiu
errada, pois Deus logo irou-se. “Mas Deus
irou-se. E o Anjo do Senhor pôs-se no caminho diante de Balaão, que ia montado
na jumenta, e tinha consigo dois criados. A jumenta, vendo o Anjo que estava no
caminho com uma espada desembainhada, afastou-se do caminho e ia pelo campo.
Como Balaão a fustigasse e a quisesse fazer voltar à estrada, o Anjo pôs-se
numa passagem estreita entre dois muros, com que estavam cercadas as vinhas. A
jumenta, vendo-o, coseu-se com a parede e apertou o pé do que ia montado nela.
Porém ele tornou a fustigá-la. Mas o
Anjo, passando a um lugar ainda mais apertado, onde não era possível desviar-se
nem para a direita nem para a esquerda, parou diante. A jumenta, vendo o Anjo
parado, caiu debaixo dos pés do que ia montado, o qual irado a fustigava mais
fortemente com uma vara pelas ilhargas. O Senhor abriu a boca da jumenta e ela
disse: Que fiz eu? Por que me feres? Esta é já a terceira vez! Balaão
respondeu: Porque tu o mereceste, e me escarneceste; oh! Se eu tivesse uma
espada para te matar! A jumenta disse: Acaso não sou eu a tua besta, em que tu
sempre costumaste cavalgar até hoje? Dize-me se te fiz jamais coisa
semelhante. E ele respondeu-lhe: Jamais.
“De repente abriu o Senhor os olhos de Balaão, e ele viu
o Anjo que estava no caminho com a espada desembainhada, e, prostrado por
terra, o adorou. E o Anjo disse-lhe: Por que castigas tu pela terceira vez a
tua jumenta? Eu vim opor-me a ti, porque o teu caminho é perverso e contrário a
mim; e se a jumenta se não tivesse desviado do caminho, cedendo o lugar a quem
se opunha (à tua passagem), eu ter-te-ia matado, e ela ficaria viva. Balaão
respondeu: Eu pequei, não sabendo que tu te opunhas a mim, mas agora, se não te
apraz que eu vá, voltarei. Disse-lhe o Anjo: Vai com estes, mas vê, não digas
senão o que eu te mandar. Ele, pois, foi com os príncipes” (Num 22, 20-35).
Mais uma vez fica
demonstrado, pelo texto acima, que o Anjo mantinha alguma familiaridade com o profeta. Finalmente, Balaão chega até o lugar onde
estava Balac. Manda que o rei construa sete altares num alto onde Baal era
cuiltuado, para ali fazer sacrifícios a Deus. Em seguida, o sacerdote se afasta
e diz que vai ver se Deus virá a seu encontro, o que de fato ocorre: “Balaão disse-lhe: Eu levantei sete altares,
e pus um novilho e um carneiro sobre cada um. O Senhor pôs a palavra na sua
boca e disse: Tornara para Balac, e dize-lhe isto e isto”. Mas Balaão,
sacerdote de Baal, que havia sido chamado para amaldiçoar o povo hebreu, por
intervenção angélica muda tudo e, na hora e na presença de todos abençoa aquele
povo por inspiração divina. Após a bênção, Balaão profetizou a vinda do
Messias:
“Eu verei, mas não agora; eu o contemplarei, mas não de
perto; nascerá uma estrela de Jacó, levantar-se-á uma vara de Israel, ferirá os
capitães de Moab e destruirá todos os filhos de Set. E a Iduméia será sua
possessão; a herança de Seir passará para os seus inimigos; mas Israel
procederá valorosamente. De Jacó sairá um dominador, que arruinará os restos da
cidade” (Num
24, 17-19).
Mesmo tendo abençoado
o povo hebreu e profetizado a vinda do Messias, Balaão não escapou dos castigos
divinos, pois tudo indica que ele prevaricou e promoveu ou inspirou o culto
pagão de Fegor, não se converteu e foi morto pelos soldados de Moisés: “mataram também com a espada a Balaão, filho
de Boer” (Num 31, 8). Quando os hebreus chegaram ao acampamento e deram
conta a Moisés do resultado da carnificina, este os repreendeu desta forma: “Por que poupastes as mulheres? Não são elas
que, por sugestão de Balaão, seduziram os filhos de Israel e vos fizeram
prevaricar contra o Senhor com o pecado de Fegor, pelo qual também o povo foi
castigado?” (Num 31, 15-16).
Segundo a vidente
Anna Catharina Emmerich, a profecia de Balaão ficou muito conhecida entre o
povo de onde se originaram os Reis Magos:
“Os antepassados dos três Reis Magos descendiam de Jó, que outrora
vivera no Cáucaso. Um discípulo de Balaão anunciara ali a profecia deste, de
que aparecia uma estrela de Jacó. Essa profecia achou larga aceitação.
Construiu-se uma torre alta, numa montanha. Muitos sábios e astrônomos viveram
ali alternadamente; tudo que notavam nos astros, escreviam e ensinavam a
todos”. (‘Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus” – Anna Catharina
Emmerich – Editora Mir, São Paulo – 1999 – pág. 46).
CAIFÁS
Caifás pode ser
considerado um falso profeta que previu o martírio de Jesus, embora sem o
desejar como foi o caso de Balaão.
Quando se fez
necessário a prisão de Jesus Cristo, Caifás afirmou aos judeus reunidos em
conselho: "Convém que um só homem morra pelo povo" (Jo 18, 14). Sem querer, aquele ímpio
pontífice pronunciou uma frase profética: realmente era necessário que um só
homem, o Homem-Deus, morresse como vítima expiatória para libertar os homens do
pecado e abrir as portas do céu. Que queria ele dizer ele com a expressão
"morrer pelo povo"? Ora, é claro que Caifás não acreditava que Jesus
Cristo fosse capaz de se oferecer em sacrifício do povo judeu, libertando-o
materialmente do jugo romano. Se era esta a intenção ao pronunciar estas
palavras, num plano meramente humano e provinciano, não se compreende como isto
seria possível.
Mas, poderia ser que
o pontífice estivesse pensando de outra forma. Isto é, que para agradar aos
seus senhores romanos poderiam oferecer um homem para ser castigado como
revoltoso, mas um falso revoltoso a fim de encobrir o verdadeiro. Entregue ao
castigo este homem, os romanos os deixariam em paz. Mas, se fosse assim porque
não entregar então Barrabás? Será que este seria o verdadeiro revolucionário
que lutava contra Roma e que os membros do Sinédrio queriam deixar a salvo?
Para quem ver as coisas no plano meramente natural, funcionam desta forma.
No entanto, não foi
bem assim que dispôs a Divina Providência. Era necessário que um só homem,
Nosso Senhor Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo
Encarnado, morresse e comprasse com o seu sangue a salvação de toda a
Humanidade. Não há profecia mais importante do que esta, dita, saída no entanto
da boca de um homem maldito e inimigo de Deus...
Nosso Senhor nos preveniu contra os falsos profetas
“...Vede que ninguém
vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: eu sou o Cristo, e
seduzirão muitos. Porque ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras. Olhai
não vos turbeis: porque importa que estas coisas aconteçam, mas não é ainda o
fim. Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá
fomes, pestilências e terremotos em diversos lugares. Todas estas coisas são o
princípio das dores. Então sereis sujeitos às tribulações e vos matarão, e
sereis odiados por todas as gentes por causa do meu nome. E muitos se
escandalizarão, e uns aos outros se entregarão e se odiarão. Levantar-se-ão
muitos falsos profetas, e seduzirão a muitos. Por causa de se multiplicar a
iniqüidade, se resfriará a caridade de muitos. Mas o que perseverar até o fim,
este será salvo. Será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, em
testemunho de todas as gentes; e então chegará o fim”. (Mat. 24, 4-14).
Nosso Senhor
profetiza neste discurso que haverão no futuro falsos profetas, e não só isto,
mas “muitos falsos profetas”,
indicando com isto que a época do profetismo voltaria para a Igreja.
Sempre que os verdadeiros profetas surgem, inspirados por Deus, os falsos
profetas aparecem em profusão para atrapalhar e confundir os fiéis. No Antigo
Testamento, os falsos profetas atuavam e às vezes profetizavam coisas
verdadeiras, como foi o caso de Balaão, que não era profeta de Deus e
profetizou coisas verdadeiros sobre os judeus. Outros, Deus permite que saibam
algo sobre o futuro e o profetizem ao povo, com isto criando confusão e
servindo de prova aos fiéis. Daí ser necessário o “discernimento dos espíritos”
para aplicar os critérios acima descritos e com isto se identificar os
verdadeiros profetas.
“E se não se
abreviarem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; porém, serão abreviados
aqueles dias em atenção aos escolhidos. Então, se alguém vos disser: Eis
aqui está o Cristo, ou ei-lo acolá, não deis crédito, porque se levantarão
falsos cristos, e falsos profetas, e farão grandes milagres e prodígios, de tal
modo que (se fosse possível) até os
escolhidos seriam enganados”. (Mt.
24, 22-24)
Não só haverão muitos
falsos profetas, mas estes terão poder de fazer prodígios, de fazer até
milagres. Mas isto conseguirá enganar apenas as pessoas que não estiverem em
comunhão com a Igreja e não souberem, portanto, usar o critério do
discernimento dos espíritos.
O texto citado (Mt
24, 14) acima indica que Nosso Senhor está falando de uma época que coincide
com o final do quinto período da Igreja (referido por Bartolomeu de Holzhauser)
e o começo do sexto, pois diz que “será pregado este Evangelho do reino por
tudo mundo, em testemunho a todas as gentes. E então chegará o fim”
(quer dizer, e então chegará o fim do mundo), que será depois destes castigos e
de uma era posterior em que o Evangelho será pregado em toda a Terra, quer
dizer, o Reino de Maria.
Por mais de quatro
séculos (mais ou menos 435 anos) não surgiram verdadeiros profetas em Israel. No entanto,
como aquele povo era acostumado a profetizar se formou durante este tempo uma
escola de falsos profetas. No tempo de Nosso Senhor os falsos profetas já eram
em grande quantidade. Havia, por exemplo, a seita dos herodianos, que profetiza
que tal monstro (Herodes) seria o esperado Messias. “Ora Herodes estava em conflito com os de Tiro e de Sidônia. Mas estes,
de comum acordo, foram ter com ele, e com o favor de Blasto, camareiro do rei,
pediram paz, porque das terras do rei é que o seu país recebia a subsistência.
No dia marcado, Herodes, vestido de traje real, sentou-se no trono e
arengava-lhes. O povo o aplaudia, dizendo: É voz de um deus e não de um homem!
Porém subitamente o anjo do Senhor o feriu, porque não tinha dado glória a
Deus; e, roído de vermes, expirou” (At
12, 20-23).
Tanto os fariseus,
quanto os saduceus profetizavam também um rei material e cheio de glórias
terrenas para o povo judeu. Outros diziam que o Messias seria São João Batista,
com intuito talvez de causar confusão. Os samaritanos profetizavam dois messias
para suas seitas: Dositeo e Simão Mago. Este último teve um discípulo chamado
Menandro, também tido como messias. Os
mais terríveis de tais “profetas” eram os chamados zelotas ou zelotes, membros
de uma seita judaica composta apenas da elite e que tinham por escopo defender
o templo sagrado e “zelavam” pela Lei mosaica. O messias para tais zelotas não
seria um homem mas toda a sua seita, pronta para levar o povo judeu a dominar o
mundo e subjugar todos os povos da terra.
Foram eles os mais encarniçados defensores de Jerusalém que obrigaram os
invasores à destruir a cidade no ano 79.
Mesmo depois da morte
de Nosso Senhor os falsos profetas ainda proliferam. Conta Bossuet que mesmo depois da destruição
de Jerusalém surgiu um falso profeta chamado Barchochebas, um bandido que, se
utilizando do significado de seu nome (“filho da estrela”) dizia ser ele a
estrela de Jacó profetizada no Livro dos Números e ser o próprio messias. Foi
seguido pelo rabino mais famoso da época, Akibas, fazendo com que entrassem no seu partido os
maiores “sábios” judeus. Tantos eram seus adeptos que o imperador romano,
Adriano, matou 600 mil deles na guerra que lhes moveu
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