sábado, 21 de março de 2020

PREVISÕES MODERNAS MERECEM CREDIBILIDADE COMO PROFÉTICAS?



Está sendo veiculado pela internet que o escritor americano Dean Koontz, romancista de suspense e terror,  escreveu em 1981 o livro “The eyes of darknes (“Os olhos da escuridão”), onde o mesmo cita uma arma biológica que se chama “Wuhan-400”, um micro-organismo desenvolvido num laboratório próximo da cidade de Wuhan, exatamente a mesma onde se originou a pandemia do coronavirus denominada COVID 19. Estão vendo isso como uma previsão dos acontecimentos atuais, visto há 29 anos!
Tornou-se comum no decorrer do século passado e no início deste se ouvir o pronunciamento de algum "especialista" sobre temas da atualidade. Em geral a mídia não dá a tais elementos o título de "profeta", talvez por achá-lo anacrônico. O termo mais comum é o de "guru", filósofo, pensador, analista, cientista, ou simplesmente “especialista” ,etc.
Um exemplo temos no italiano "Toni" (ou Antonio) Negri, tido como filósofo e "o mais debatido pensador da esquerda européia". Trata-se de um criminoso, preso desde 1997, acusado de ter sido o mentor do grupo terrorista "Brigadas Vermelhas" que assassinou o primeiro-ministro Aldo Moro em 1978. Pois bem, tal "pensador"  publicou um livro em 2000, com o título de "Império", no qual o autor diz estabelecer nova terminologia para aquela palavra, pela qual não mais são denominadas as nações que estabelecem o império, mas uma "nova ordem" (diríamos um caos) em que são eliminados os conceitos de nação, fronteira, raça, etnia, povo, etc.
Tal livro foi descrito pelo jornal "New York Times" como a "primeira grande síntese teórica do novo milênio", pois trata da estrutura política que sustenta o chamado mundo globalizado numa organização inteiramente indiferente a nações, fronteiras, povos, raças, etc. Nesta perspectiva, os Estados-nações não têm mais controle sobre movimentos de capital ou lutas sociais. Nesta nova configuração o "império" não tem mais limites e nem se circunscreve a um povo ou país.
No texto o autor insinua que o mundo capitalista ruiria após o comunista, os EUA atacariam os países árabes, que lhe suscitaria maior ódio em todo o mundo e terminaria por causar-lhe uma bancarrota financeira e política. Segundo o autor, os americanos não têm recursos suficientes para manter a guerra contra o Iraque, e isto está sendo feito pelas organizações deste imaginado "império" extra-nacionalista e globalizado...  (v. "Folha de São Paulo", 30.3.2003 - fl. A 26)
Como se sabe, a URSS sucumbiu e caiu o muro de Berlim, símbolo da divisão dos dois mundos, capitalista e comunista. Faltou cair o mundo capitalista, representado pelos EUA, e para tanto teria de haver uma catastrófica recessão.
Vários “profetas” passaram então a prever o que viria depois, que tipos de sociedades os homens construiriam após o fim da "guerra fria” e do suposto fim do comunismo. O americano James Dale Davidson e o inglês William Reesmogg, ambos financistas, publicam o livro “The great reckoning”  (O grande ajuste de contas), onde afirmam que o mundo estaria a caminho de uma grande recessão, uma catástrofe social como poucas já registradas na história. Grandes companhias, bancos e instituições poderosas, vão falir uma após outra. O desemprego será maior do que em qualquer outra época, e os mais privilegiados terão de abandonar as grandes metrópoles em busca de segurança. O uso de certas drogas será legalizado para conter a explosão social, e o islamismo substituirá o marxismo como desafio ideológico. “O Grande ajuste de contas”  prevê, ao final de tudo, um mundo melhor do que o atual para os sobreviventes da catástrofe.
Outro “profeta”  é o francês Pierre Lellouche, conselheiro do ex-prefeito de Paris, Jacques Chirac, especialista em questões estratégicas. Segundo ele, com o fim da “guerra fria”, não prevalecerá uma nova ordem Norte-Sul, mas uma desordem mundial que poderá durar até três décadas. Revoluções nas antigas repúblicas soviéticas, ameaça nuclear de países islâmicos contra a Europa, etc. Enquanto isto, prolifera nos Estados Unidos a construção de residências subterrâneas, dando a impressão a muitos de que o futuro será a volta para as cavernas e ao nomadismo. Tudo isto indica que estaríamos caminhando para o caos.
O jornal “L’Express”, de 13.11.91, publica entrevista de Jacques Séguela, presidente de instituto de pesquisa dos costumes, no qual o mesmo prevê brevemente o fim da chamada “sociedade de consumo”, fruto da ecologia e da preocupação de preservação do meio ambiente.
O grego Cornelius Castoriadis, filósofo radicado na França desde 1945, também faz suas previsões. Seu pensamento está contido nos livros “Socialismo ou Barbárie”, “Os Destinos do Totalitarismo”, “A Instituição Imaginária da Sociedade” e “As Encruzilhadas do Labirinto”, mas pode-se resumir no seguinte: com o agravamento do caos na URSS e no Ocidente, surgirá então um mundo autogovernado de coletividades autônomas. O filósofo disse que há uma minoria que já trabalha neste sentido, e que a palavra-chave é despertar o público da apatia e esperar que cresça a saturação pela sociedade de consumo. Está proclamado que o futuro da humanidade é a autogestão, e isto caminha para as conclusões filosóficas do indigenismo, do autoctonismo, conforme apregoam os estruturalistas.
Depois da segunda guerra contra o Iraque, a mídia deu ênfase ao escritor francês Emmanuel Todd. Ocorre que referido historiador e demógrafo havia publicado um livro na década de 70, "La Chute Finale" (A Queda Final), onde o mesmo previra a previsível ruína do império soviético. Decorridos mais de 30 anos, o Autor publica outra obra: "Após o Império: Ensaio sobre a Decomposição do Sistema Americano", que conquistou a lista dos mais vendidos em vários países europeus, editado em 2002. Seguindo a corrente de "profetas" modernos, ele também prevê a ruína do império econômico dos Estados Unidos.
Emmanuel Todd especializou-se em previsões. Nos anos 90 havia publicado outro livro profético, intitulado "A Ilusão Econômica", onde critica a globalização da economia e a União Européia, prevendo o fracasso desta última. Isto vem lhe aumentando o prestígio como analista seguro de eventos futuros no mundo. (v. "Folha de São Paulo", 13.07.2003).
Assim como existem os que prevêem o futuro da sociedade humana em sua forma política e social, há também aqueles que falam sobre mudanças na própria estrutura genética, como o cientista britânico Martin Rees. Dedicado à astronomia, pertencente à Royal Society e do King's College da Universidade de Cambridge, no Reino Unido, publicou um livro com o título "Our Final Hour" (Nossa Hora Final). O autor critica no livro os perigos que a alta tecnologia pode causar ao mundo contemporâneo. Se sobrevivermos a nós mesmos e às nossas máquinas cada vez menores e mais perigosas, temos um encontro marcado com um sombrio futuro "pós-humano".  No subtítulo de capa o autor deixa entrever qual o objetivo de seu livro: "Alerta de um cientista: como terror, erro e desastre ambiental ameaçam o futuro da humanidade neste século - na Terra e além".
O maior perigo que o Autor chama a atenção é para a guerra biotecnológica e o que ele chama de "nanotecnologia"  (o que seria o mesmo que pequenas tecnologias ou microtecnologias). Desta forma seria possível se construir armas de pequeno porte tão letais quanto às nucleares instaladas nas ogivas de foguetes. As novas tecnologias poderão concentrar poderes excepcionais não somente em pequenas nações mas até mesmo em um só indivíduo, conduzindo à derrocada da civilização.
Caso o homem consiga suplantar todas estas ameaças e sobreviva, estarão abertas as portas para a transmutação da espécie. A seleção natural daria lugar à manipulação genética artificial. Implantes biônicos conectados ao cérebro humano poderiam, em tese, ampliar as habilidades existentes e até mesmo favorecer novas faculdades. Seriam novas características genéticas que o homem adquiria na era "pós-humanidade", talvez adquiridas até mesmo em colônias espalhadas pelo espaço cósmico, caso a terra fique inabitável.
O Autor resume o início deste processo com a possibilidade de 50%, admitida por ele, de haver ainda neste século uma hecatombe de destruição em massa. ("Folha de São Paulo", 25.05.2003, caderno "Mais!"). 
O pior é que, realmente, muito do que falam tais “profetas” pode acontecer.

Que tipo de profetas são estes?
Muitas outras previsões semelhantes são anunciadas nos dias atuais.  Podemos dar crédito a tais previsões? São profetas de verdade?
A palavra “profeta” vem do grego profétés, (intérprete), e era quem interpretava o que queriam os deuses pagãos e predizia o futuro.
Em sentido lato, profeta (em hebraico nábi), significa também intérprete. Na Bíblia a palavra profeta é empregada para designar o homem que exalta os louvores de Deus e que cumpre uma missão divina de conduzir um povo prevendo-lhe o futuro. De um certo modo, podem ser classificados também como “profetas” aqueles que preveem o futuro por intermédio de meios naturais, como os que anunciam os eclipses e outras coisas naturais. São Tomás discorre sobre a capacidade do homem de prever o futuro pelo seu intelecto, através de causas naturais (Summa Q LXXXVI, Art IV). Esta capacidade, porém, está limitada pelas causas naturais, isto é, somente aquilo que a própria natureza humana naturalmente pode prever. Existe,  portanto, um dom “profético”  dado aos homens de uma maneira natural e um outro de forma milagrosa.
No sentido estrito Profeta era aquele a quem Deus revelava o futuro e lhe confiava a missão de o transmitir aos outros homens. Segundo São Tomás de Aquino a profecia, neste sentido, é uma “previsão certa e o anúncio de coisas futuras, que não podem ser conhecidas pelas causas naturais”.
Os Profetas eram, portanto, intérpretes de Deus, reveladores dos planos divinos quanto ao futuro e tinham a missão de guiar os povos para se converterem e voltarem-se para Deus. A Profecia, neste caso, é um milagre propriamente dito, pois somente Deus conhece os acontecimentos futuros e pode revelá-los aos homens com o objetivo de guia-los. Quais os homens que Deus escolhe para ser seus profetas somente os fatos ocorridos depois que confirmam suas revelações o comprovam.
Mas, os falsos profetas realmente possuem um dom dado por Deus? Sim, pode-se dizer que receberam o dom natural da previsão, muitas vezes utilizado de uma forma errônea. Para se avaliar se uma profecia é autêntica temos que meditar sobre o seu fim, se ela procura guiar o povo em busca de Deus ou não. Se apenas procura exaltar o profeta ou o grupo a qual pertence é uma falsa profecia, embora às vezes acerte as previsões pelo dom natural que possui. .

 Falsos profetas

A falsa profecia provém de um pecado que se origina da magia, dos supersticiosos e visionários gnósticos dos povos pagãos.  Trata-se da intervenção diabólica com intenção de confundir os homens, vem de um espírito maligno especialmente dotado da arte da mentira. Esta intervenção diabólica é contada pelo profeta Miquéias da seguinte forma:
“Eu vi o Senhor sentado sobre o seu trono e todo o exército do céu ao redor dele, à direita e à esquerda. O Senhor disse: Quem enganará Acab, rei de Israel, para que ele marche e pereça em Ramot de Galaad? Um disse uma coisa, outro outra. Mas um espírito maligno adiantou-se, apresentou-se diante do Senhor e disse: Eu o enganarei. O Senhor disse-lhe: de que modo? Ele respondeu: Irei e serei um espírito mentiroso na boca de todos os seus profetas. O Senhor disse: Tu o enganarás e prevalecerás; sai e faze assim” (I Reis 22, 19-23).
O Apóstolo São Paulo o confirma: “Ideo mittet illis Deus operationem erroris, ut credant mendacio” – Por isso enviará Deus a estes o artifício do erro, de sorte que acreditarão na mentira. (2 Tes 2, 10).

Os demônios são incapazes de verdadeiras profecias

Mas, tais profecias não são consideradas verdadeiras, como nos explica Santo Antão:.  
“Igualmente, a respeito das águas do rio, falam a torto e a direito. Tendo constatado chuvas abundantes nas regiões da Etiópia, e vendo que essa é a causa da cheia do rio, antes que a água chegue ao Egito, correm na frente e o dizem. Os homens também o diriam, se pudessem correr como eles. Do mesmo modo como o vigia de Davi, postado em lugar elevado, via mais facilmente que um homem vinha do que quem estava embaixo, e como o corredor anuncia a outros não o que não existe, mas as coisas que estão em via de se realizar e já realizando-se, assim vão anunciar e indicar aos outros coisas futuras, mas é com a única finalidade de enganá-los. Nesse meio tempo, se a providência dispuser outra coisa a respeito das águas e dos viajantes, o que ela pode fazer, os demônios mentiram, e aqueles que neles creram foram enganados.
“Foi assim que se deram as adivinhações dos helenos e que foram enganados outrora pelos demônios, depois a ilusão se acabou. Porque o Senhor veio e reduziu à impotência os demônios com seus artifícios. Por si mesmos nada sabem, mas, semelhante a ladrões, exibem o que veem nos outros. Deve-se dizer que mais conjeturam que preveem. Aliás, quando dizem a verdade, que ninguém os admira muito. Também os médicos, da experiência que têm com os doentes, e tendo em vista a mesma doença em vários, muitas vezes predizem mediante conjetura, em virtude do hábito. Ninguém dirá por isso que predizem mediante inspiração divina, mas mediante a experiência e o hábito. Portanto, quando os demônios falam por conjetura, que ninguém os admire, nem dê atenção ao que dizem. Qual é a utilidade em ficar sabendo por eles as coisas futuras alguns dias antes que se realizem? Qual a necessidade de sabê-las, ainda que possam verdadeiramente conhecê-las? Esse conhecimento não é nenhum instrumento de virtude nem de bons costumes. Ninguém de nós será julgado por não saber essas coisas, e nenhum se torna feliz por tê-las conhecido e por sabê-las. Cada um será julgado a respeito destes pontos: conservou a fé, guardou fielmente os mandamentos?” [1]
Legiões de falsos profetas surgiram no Antigo Testamento. Santo Elias combateu 850 deles de uma só vez, tendo matado 450 adeptos de Baal e deixados vivos outros 400 chamados profetas dos bosques. O termo “profeta”, aqui, pode significar apenas sacerdotes pagãos, mas indica que tinham o mesmo fim profético, isto é, trata-se de pretensos previdentes e orientadores do povo. Estes, no entanto, foram vencidos e mortos pelo profeta Jeú.  (I Reis 18,19 e II Reis 10, 24). Diz São Jerônimo que havia entre os hebreus sacerdotes com um carisma especial, o privilégio de poder distinguir os profetas verdadeiros dos falsos, reconhecendo se era o Espírito Divino, o diabólico ou o humano que os inspirava. Tratava-se de um dom que lhes permitia perscrutar o íntimo de tais profetas, um alto discernimento dos espíritos.
No entanto, tais profetas eram denunciados constantemente pelos Profetas verdadeiros:
“Os depositários da lei não me conheceram, os pastores prevaricaram contra mim, os profetas profetizaram em nome de Baal e seguiram os ídolos” (Jer 2, 8)
“Os profetas profetizaram a mentira, e os sacerdotes aplaudiram-nos com as suas mãos; e o meu povo amou estas coisas. Que castigo não virá, pois, sobre esta gente no fim de tudo isto?” (Jer 5, 31).

BALAÃO, EXEMPLO DE UM FALSO PROFETA QUE FAZ PREVISÕES CERTAS

Nos tempos em que Moisés ainda andava com o povo hebreu em busca da Palestina, encontraram-se, ele e seu povo, com Balaão. Tratava-se de um falso profeta, sacerdote de Baal, que foi chamado por Balac, rei dos madianitas, a fim de amaldiçoar o povo hebreu, mas, por intervenção angélica, inverteu a maldição em bênção e tornou-se um profeta autêntico, chegando a profetizar até mesmo a vinda do Messias. O Anjo de Deus apareceu diversas vezes à Balaão, o que indica que sobre este homem, apesar de seu coração duro, Deus tinha desígnios proféticos extraordinários.
Após receber os embaixadores do rei Balac, respondeu Balaão: “Ficai aqui esta noite e eu vos responderei tudo o que o Senhor me disser. Estando eles na casa de Balaão, veio Deus e disse-lhe”. Quer dizer, Balaão já vinha tendo aparições angélicas, pois do contrário não teria dito “eu vos responderei tudo o que o Senhor me disser”. Depois, através de um Anjo, num diálogo que demonstra certa intimidade, Deus disse-lhe: “Que querem estes homens que estão junto de ti?”. Balaão conta para o Anjo o motivo daquela embaixada, ao que o Anjo responde: “Não vás com eles, nem amaldiçoes o povo, porque é bendito”. Ao levantar-se, pela manhã, Balaão conta aos embaixadores de Balac a resposta do Senhor: “Tornai para a vossa terra, porque o Senhor me proibiu ir convosco”.  Pela resposta vê-se que Balaão ainda era obediente a Deus.
Os embaixadores voltaram para Balac e lhe informaram que o profeta não aceitou lançar a maldição sobre o povo de Israel. O rei, teimoso, manda novo grupo de embaixadores, desta vez mais numeroso. Ao receber a nova embaixada, Balaão responde: “Ainda que Balac me desse a sua casa cheia de prata e de ouro eu não poderei alterar a palavra do Senhor meu Deus, para dizer de mais ou de menos. Rogo-vos que fiqueis aqui ainda esta noite, para que eu possa saber o que é que o Senhor me responderá de novo”. Como se vê, Balaão mantém-se firme na obediência a Deus e, educadamente, manda os embaixadores esperar para ouvirem o que o Senhor tem a dizer. Mas Deus tinha seus desígnios e responde a Balaão: “Se estes homens te vieram chamar, levanta-te e vai com eles, mas com a condição de que faças o que eu te mandar”.  O profeta, logo cedo, manda preparar sua jumenta e diz que vai seguir os embaixadores até onde o rei Balac o chamava.
Alguma coisa saiu errada, pois Deus logo irou-se. “Mas Deus irou-se. E o Anjo do Senhor pôs-se no caminho diante de Balaão, que ia montado na jumenta, e tinha consigo dois criados. A jumenta, vendo o Anjo que estava no caminho com uma espada desembainhada, afastou-se do caminho e ia pelo campo. Como Balaão a fustigasse e a quisesse fazer voltar à estrada, o Anjo pôs-se numa passagem estreita entre dois muros, com que estavam cercadas as vinhas. A jumenta, vendo-o, coseu-se com a parede e apertou o pé do que ia montado nela. Porém ele tornou a fustigá-la.  Mas o Anjo, passando a um lugar ainda mais apertado, onde não era possível desviar-se nem para a direita nem para a esquerda, parou diante. A jumenta, vendo o Anjo parado, caiu debaixo dos pés do que ia montado, o qual irado a fustigava mais fortemente com uma vara pelas ilhargas. O Senhor abriu a boca da jumenta e ela disse: Que fiz eu? Por que me feres? Esta é já a terceira vez! Balaão respondeu: Porque tu o mereceste, e me escarneceste; oh! Se eu tivesse uma espada para te matar! A jumenta disse: Acaso não sou eu a tua besta, em que tu sempre costumaste cavalgar até hoje? Dize-me se te fiz jamais coisa semelhante. E ele respondeu-lhe: Jamais.
“De repente abriu o Senhor os olhos de Balaão, e ele viu o Anjo que estava no caminho com a espada desembainhada, e, prostrado por terra, o adorou. E o Anjo disse-lhe: Por que castigas tu pela terceira vez a tua jumenta? Eu vim opor-me a ti, porque o teu caminho é perverso e contrário a mim; e se a jumenta se não tivesse desviado do caminho, cedendo o lugar a quem se opunha (à tua passagem), eu ter-te-ia matado, e ela ficaria viva. Balaão respondeu: Eu pequei, não sabendo que tu te opunhas a mim, mas agora, se não te apraz que eu vá, voltarei. Disse-lhe o Anjo: Vai com estes, mas vê, não digas senão o que eu te mandar. Ele, pois, foi com os príncipes”  (Num 22, 20-35).
Mais uma vez fica demonstrado, pelo texto acima, que o Anjo mantinha alguma familiaridade com o profeta.  Finalmente, Balaão chega até o lugar onde estava Balac. Manda que o rei construa sete altares num alto onde Baal era cuiltuado, para ali fazer sacrifícios a Deus. Em seguida, o sacerdote se afasta e diz que vai ver se Deus virá a seu encontro, o que de fato ocorre: “Balaão disse-lhe: Eu levantei sete altares, e pus um novilho e um carneiro sobre cada um. O Senhor pôs a palavra na sua boca e disse: Tornara para Balac, e dize-lhe isto e isto”. Mas Balaão, sacerdote de Baal, que havia sido chamado para amaldiçoar o povo hebreu, por intervenção angélica muda tudo e, na hora e na presença de todos abençoa aquele povo por inspiração divina. Após a bênção, Balaão profetizou a vinda do Messias:
“Eu verei, mas não agora; eu o contemplarei, mas não de perto; nascerá uma estrela de Jacó, levantar-se-á uma vara de Israel, ferirá os capitães de Moab e destruirá todos os filhos de Set. E a Iduméia será sua possessão; a herança de Seir passará para os seus inimigos; mas Israel procederá valorosamente. De Jacó sairá um dominador, que arruinará os restos da cidade” (Num 24, 17-19).
Mesmo tendo abençoado o povo hebreu e profetizado a vinda do Messias, Balaão não escapou dos castigos divinos, pois tudo indica que ele prevaricou e promoveu ou inspirou o culto pagão de Fegor, não se converteu e foi morto pelos soldados de Moisés: “mataram também com a espada a Balaão, filho de Boer” (Num 31, 8). Quando os hebreus chegaram ao acampamento e deram conta a Moisés do resultado da carnificina, este os repreendeu desta forma: “Por que poupastes as mulheres? Não são elas que, por sugestão de Balaão, seduziram os filhos de Israel e vos fizeram prevaricar contra o Senhor com o pecado de Fegor, pelo qual também o povo foi castigado?” (Num 31, 15-16).
Segundo a vidente Anna Catharina Emmerich, a profecia de Balaão ficou muito conhecida entre o povo de onde se originaram os Reis Magos:
Os antepassados dos três Reis Magos descendiam de Jó, que outrora vivera no Cáucaso. Um discípulo de Balaão anunciara ali a profecia deste, de que aparecia uma estrela de Jacó. Essa profecia achou larga aceitação. Construiu-se uma torre alta, numa montanha. Muitos sábios e astrônomos viveram ali alternadamente; tudo que notavam nos astros, escreviam e ensinavam a todos”. (‘Vida, Paixão e Glorificação do Cordeiro de Deus” – Anna Catharina Emmerich – Editora Mir, São Paulo – 1999 – pág. 46).

CAIFÁS

Caifás pode ser considerado um falso profeta que previu o martírio de Jesus, embora sem o desejar como foi o caso de Balaão.
Quando se fez necessário a prisão de Jesus Cristo, Caifás afirmou aos judeus reunidos em conselho: "Convém que um só homem morra pelo povo"  (Jo 18, 14). Sem querer, aquele ímpio pontífice pronunciou uma frase profética: realmente era necessário que um só homem, o Homem-Deus, morresse como vítima expiatória para libertar os homens do pecado e abrir as portas do céu. Que queria ele dizer ele com a expressão "morrer pelo povo"? Ora, é claro que Caifás não acreditava que Jesus Cristo fosse capaz de se oferecer em sacrifício do povo judeu, libertando-o materialmente do jugo romano. Se era esta a intenção ao pronunciar estas palavras, num plano meramente humano e provinciano, não se compreende como isto seria possível.
Mas, poderia ser que o pontífice estivesse pensando de outra forma. Isto é, que para agradar aos seus senhores romanos poderiam oferecer um homem para ser castigado como revoltoso, mas um falso revoltoso a fim de encobrir o verdadeiro. Entregue ao castigo este homem, os romanos os deixariam em paz. Mas, se fosse assim porque não entregar então Barrabás? Será que este seria o verdadeiro revolucionário que lutava contra Roma e que os membros do Sinédrio queriam deixar a salvo? Para quem ver as coisas no plano meramente natural, funcionam desta forma.
No entanto, não foi bem assim que dispôs a Divina Providência. Era necessário que um só homem, Nosso Senhor Jesus Cristo, a Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, o Verbo Encarnado, morresse e comprasse com o seu sangue a salvação de toda a Humanidade. Não há profecia mais importante do que esta, dita, saída no entanto da boca de um homem maldito e inimigo de Deus...

Nosso Senhor nos preveniu contra os falsos profetas

“...Vede que ninguém vos engane. Porque virão muitos em meu nome, dizendo: eu sou o Cristo, e seduzirão muitos. Porque ouvireis falar de guerras e de rumores de guerras. Olhai não vos turbeis: porque importa que estas coisas aconteçam, mas não é ainda o fim. Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino, e haverá fomes, pestilências e terremotos em diversos lugares. Todas estas coisas são o princípio das dores. Então sereis sujeitos às tribulações e vos matarão, e sereis odiados por todas as gentes por causa do meu nome. E muitos se escandalizarão, e uns aos outros se entregarão e se odiarão. Levantar-se-ão muitos falsos profetas, e seduzirão a muitos. Por causa de se multiplicar a iniqüidade, se resfriará a caridade de muitos. Mas o que perseverar até o fim, este será salvo. Será pregado este evangelho do reino por todo o mundo, em testemunho de todas as gentes; e então chegará o fim”.  (Mat. 24, 4-14).
Nosso Senhor profetiza neste discurso que haverão no futuro falsos profetas, e não só isto, mas “muitos falsos profetas”,  indicando com isto que a época do profetismo voltaria para a Igreja. Sempre que os verdadeiros profetas surgem, inspirados por Deus, os falsos profetas aparecem em profusão para atrapalhar e confundir os fiéis. No Antigo Testamento, os falsos profetas atuavam e às vezes profetizavam coisas verdadeiras, como foi o caso de Balaão, que não era profeta de Deus e profetizou coisas verdadeiros sobre os judeus. Outros, Deus permite que saibam algo sobre o futuro e o profetizem ao povo, com isto criando confusão e servindo de prova aos fiéis. Daí ser necessário o “discernimento dos espíritos” para aplicar os critérios acima descritos e com isto se identificar os verdadeiros profetas.
“E se não se abreviarem aqueles dias, não se salvaria pessoa alguma; porém, serão abreviados aqueles dias em atenção aos escolhidos. Então, se alguém vos disser: Eis aqui está o Cristo, ou ei-lo acolá, não deis crédito, porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas, e farão grandes milagres e prodígios, de tal modo que (se fosse possível)  até os escolhidos seriam enganados”.  (Mt. 24, 22-24)
Não só haverão muitos falsos profetas, mas estes terão poder de fazer prodígios, de fazer até milagres. Mas isto conseguirá enganar apenas as pessoas que não estiverem em comunhão com a Igreja e não souberem, portanto, usar o critério do discernimento dos espíritos.
O texto citado (Mt 24, 14) acima indica que Nosso Senhor está falando de uma época que coincide com o final do quinto período da Igreja (referido por Bartolomeu de Holzhauser) e o começo do sexto, pois diz que “será pregado este Evangelho do reino por tudo mundo, em testemunho a todas as gentes. E então chegará o fim” (quer dizer, e então chegará o fim do mundo), que será depois destes castigos e de uma era posterior em que o Evangelho será pregado em toda a Terra, quer dizer, o Reino de Maria.
Por mais de quatro séculos (mais ou menos 435 anos) não surgiram verdadeiros profetas em Israel. No entanto, como aquele povo era acostumado a profetizar se formou durante este tempo uma escola de falsos profetas. No tempo de Nosso Senhor os falsos profetas já eram em grande quantidade. Havia, por exemplo, a seita dos herodianos, que profetiza que tal monstro (Herodes) seria o esperado Messias. “Ora Herodes estava em conflito com os de Tiro e de Sidônia. Mas estes, de comum acordo, foram ter com ele, e com o favor de Blasto, camareiro do rei, pediram paz, porque das terras do rei é que o seu país recebia a subsistência. No dia marcado, Herodes, vestido de traje real, sentou-se no trono e arengava-lhes. O povo o aplaudia, dizendo: É voz de um deus e não de um homem! Porém subitamente o anjo do Senhor o feriu, porque não tinha dado glória a Deus; e, roído de vermes, expirou”  (At 12, 20-23).
Tanto os fariseus, quanto os saduceus profetizavam também um rei material e cheio de glórias terrenas para o povo judeu. Outros diziam que o Messias seria São João Batista, com intuito talvez de causar confusão. Os samaritanos profetizavam dois messias para suas seitas: Dositeo e Simão Mago. Este último teve um discípulo chamado Menandro, também tido como messias.   Os mais terríveis de tais “profetas” eram os chamados zelotas ou zelotes, membros de uma seita judaica composta apenas da elite e que tinham por escopo defender o templo sagrado e “zelavam” pela Lei mosaica. O messias para tais zelotas não seria um homem mas toda a sua seita, pronta para levar o povo judeu a dominar o mundo e subjugar todos os povos da terra.  Foram eles os mais encarniçados defensores de Jerusalém que obrigaram os invasores à destruir a cidade no ano 79.
Mesmo depois da morte de Nosso Senhor os falsos profetas ainda proliferam.  Conta Bossuet que mesmo depois da destruição de Jerusalém surgiu um falso profeta chamado Barchochebas, um bandido que, se utilizando do significado de seu nome (“filho da estrela”) dizia ser ele a estrela de Jacó profetizada no Livro dos Números e ser o próprio messias. Foi seguido pelo rabino mais famoso da época, Akibas,  fazendo com que entrassem no seu partido os maiores “sábios” judeus. Tantos eram seus adeptos que o imperador romano, Adriano, matou 600 mil deles na guerra que lhes moveu




[1]               “Vida e Conduta de Santo Antão – de Santo Atanásio, Ed.Paulinas Págs. 55/56..


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