BENTO
XVI RESPONDENDO A PERGUNTAS DE SEMINARISTAS - I
Pergunta de
GREGOR PAOLO STANO, Diocese de Oria do I ano (1º ano de Filosofia)
1. Santidade,
o nosso é o primeiro dos dois anos dedicados ao discernimento, durante o qual
estamos empenhados a perscrutar profundamente a nossa pessoa. É um exercício
cansativo, para nós, porque a linguagem de Deus é especial e só quem está
atento a pode colher entre as mil vozes que ressoam dentro de nós. Portanto,
pedimos-lhe que nos ajude a compreender como fala Deus concretamente e que
vestígios deixa com o seu pronunciar-se em segredo.
Como
primeira palavra, um obrigado ao Monsenhor Reitor pelo seu discurso. Já sinto
curiosidade em conhecer aquele texto que escrevereis e assim também de
aprender. Não tenho a certeza de ser capaz de esclarecer os pontos essenciais
da vida do seminário, mas digo quanto posso.
Agora,
esta primeira questão: como podemos discernir a voz de Deus entre as mil vozes
que ouvimos todos os dias neste nosso mundo. Diria: Deus fala conosco de modos
muito diferentes. Fala através de outras pessoas, através de amigos, dos pais,
do pároco, dos sacerdotes. Aqui, os sacerdotes aos quais estais confiados, que
vos guiam. Fala por meio dos acontecimentos da nossa vida, nos quais podemos
discernir um gesto de Deus; fala também através da natureza, da criação, e
fala, naturalmente e sobretudo, na Sua Palavra, na Sagrada Escritura, lida na
comunhão da Igreja e pessoalmente em diálogo com Deus.
É
importante ler a Sagrada Escritura, por um lado de modo muito pessoal, e
realmente, como diz São Paulo, não como palavra de um homem ou como um documento
do passado, como lemos Homero, Virgílio, mas como uma Palavra de Deus que é
sempre atual e fala comigo. Aprender a ouvir um texto, historicamente do
passado, a Palavra viva de Deus, ou seja, entrar em oração, e assim fazer da
leitura da Sagrada Escritura um diálogo com Deus.
Santo
Agostinho nas suas homilias diz com frequência: Bati várias vezes à porta desta
Palavra, até que pude compreender o que o próprio Deus me dizia; por um lado,
esta leitura muito pessoal, este diálogo pessoal com Deus, no qual procuro o
que o Senhor me diz, e juntamente com esta leitura pessoal é muito importante a
leitura comunitária, porque o sujeito vivo da Sagrada Escritura é o Povo de
Deus, é a Igreja.
Esta
Escritura não era uma coisa particular de grandes escritores mesmo se o Senhor
tem sempre necessidade da pessoa, da sua resposta pessoal mas cresceu com
pessoas que estavam comprometidas no caminho do Povo de Deus e assim as suas
palavras são expressão deste caminho, desta reciprocidade da chamada de Deus e
da resposta humana.
Portanto,
o sujeito vive hoje como viveu naquele tempo, por isso a Escritura não pertence
ao passado, porque o seu sujeito, o Povo de Deus inspirado pelo próprio Deus, é
sempre o mesmo, e portanto a Palavra é sempre viva no sujeito vivo. Então é
importante ler a Sagrada Escritura e ouvir a Sagrada Escritura na comunhão da
Igreja, isto é, com todas as grandes testemunhas desta Palavra, começando pelos
primeiros Padres até aos Santos de hoje, até ao Magistério de hoje.
Sobretudo,
é uma palavra que se torna vital e viva na Liturgia, portanto diria que a
Liturgia é o lugar privilegiado onde cada um de nós entra no "nós"
dos filhos de Deus em diálogo com Deus. É importante: o Pai Nosso começa com as
palavras "Pai Nosso"; só se eu estiver inserido no "nós"
deste "Nosso", posso encontrar o Pai; só dentro deste
"nós", que é o sujeito da oração do Pai Nosso, ouvimos bem a Palavra
de Deus. Portanto, isto parece-me muito importante: a Liturgia é o lugar
privilegiado onde a Palavra é viva, está presente, aliás, onde a Palavra, o Logos,
o Senhor, fala conosco e se entrega nas nossas mãos; se nos colocarmos na
escuta do Senhor nesta grande comunhão da Igreja de todos os tempos,
encontramo-lo.
Ele
abre-nos a porta aos poucos. Portanto diria que este é o ponto no qual se
concentram os outros: somos pessoalmente dirigidos pelo Senhor no nosso caminho
e, ao mesmo tempo, vivemos no grande "nós" da Igreja, onde a Palavra
de Deus é viva.
Depois,
associam-se outros pontos, os do ouvir os amigos, os sacerdotes que nos guiam,
a voz viva da Igreja de hoje, ouvindo assim também as vozes dos acontecimentos
deste tempo e da criação, que se tornam decifráveis neste contexto profundo.
Portanto,
em resumo diria que Deus fala de muitos modos conosco. É importante, por um
lado, estar no "nós" da Igreja, no "nós" vivido na
Liturgia. É importante personalizar este "nós" em mim mesmo, é
importante estar atentos às outras vozes do Senhor, deixar-se guiar também por
pessoas que têm experiência de Deus, por assim dizer, e nos ajudam neste
caminho, para que este "nós" se torne o meu "nós", e eu, um
que pertence realmente a este "nós". Assim cresce o discernimento e
cresce a amizade pessoal com Deus, a capacidade de compreender, nas mil vozes
de hoje, a voz de Deus, que está presente sempre e fala conosco.
(VISITA
AO PONTIFÍCIO SEMINÁRIO MAIOR ROMANO POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA
SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
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