segunda-feira, 9 de março de 2020

O CAMINHO QUE DÁ FRUTO CONSISTE EM CARREGAR A CRUZ DO SENHOR






BENTO XVI RESPONDENDO A PERGUNTAS DE SEMINARISTAS - IV

FRANCESCO ANNESI, Diocese de Roma do V ano (3º de Teologia)

5. Santidade, da Carta Apostólica Salvifici doloris de João Paulo II sobressai claramente como o sofrimento seja fonte de riqueza espiritual para quantos o aceitam em união com os sofrimentos de Cristo. Como pode hoje o sacerdote, num mundo que procura todos os meios lícitos ou ilícitos para eliminar qualquer forma de sofrimento, ser uma testemunha do sentido cristão do sofrimento e como deve comportar-se diante de quem sofre sem correr o risco de ser retórico ou patético?

Sim, como fazer? Parece-me então que devemos reconhecer que é justo fazer o possível para vencer os sofrimentos da humanidade e para ajudar as pessoas que sofrem são tantas no mundo a encontrar uma qualidade de vida e a ser libertadas dos males que com frequência nós próprios causamos: a fome, as epidemias, etc.
Mas, ao mesmo tempo, reconhecendo este dever de trabalhar contra os sofrimentos causados por nós próprios, devemos também reconhecer e compreender que o sofrimento é uma parte essencial para a nossa maturação humana. Penso na parábola do Senhor sobre o grão de mostarda que caiu na terra, e que só assim, morrendo, pode dar fruto, e este cair na terra e morrer não é o fato de um momento, mas é precisamente o processo de uma vida.
Cair como o grão na terra e assim morrer, transformar-se, ser instrumentos de Deus, e dar fruto. Não é por acaso que o Senhor diz aos seus discípulos: o Filho do Homem tem que ir a Jerusalém para sofrer; por isso quem quer ser meu discípulo deve carregar a sua cruz sobre os ombros e seguir-me. Na realidade, nós somos sempre como Pedro, o qual diz ao Senhor: não, Senhor, isto não pode acontecer contigo, tu não deves sofrer. Nós não queremos carregar a Cruz, desejamos criar um Reino mais humano, mais belo na terra.
Isto é completamente errado: o próprio Senhor o ensina. Mas Pedro precisou de muito tempo, talvez de toda a sua vida para o compreender; porque esta lenda do Quo Vadis? tem algo de verdadeiro: aprender precisamente que o caminho que dá fruto consiste em carregar a Cruz do Senhor. Desta forma, diria, antes de falar aos outros, devemos nós próprios compreender o mistério da Cruz.
Sem dúvida, o cristianismo dá-nos a alegria, porque o amor dá alegria. Mas o amor é sempre também um processo do perder-se e portanto também um processo do sair de si mesmo; neste sentido, também um processo doloroso. E só assim é belo e nos faz maturar e alcançar a alegria verdadeira. Quem deseja afirmar ou quem promete uma vida apenas alegre e confortável mente, porque esta não é a verdade do homem; a consequência é que depois devemos refugiar-nos em paraísos falsos. E não é assim que se alcança a alegria, mas a autodestruição.
Sim, o cristianismo anuncia-nos a alegria; esta alegria só pode crescer no caminho do amor e este caminho do amor está relacionado com a Cruz, com a comunhão com Cristo crucificado. E está representada no grão de trigo que caiu na terra. Quando começamos a compreender e a aceitar isto, todos os dias, porque todos os dias nos impõe qualquer insatisfação, ou peso que origina também sofrimento, quando aceitarmos esta escola do seguimento de Cristo, como os Apóstolos tiveram que aprender nesta escola, então tornar-nos-emos também capazes de ajudar quem sofre.
É verdade que é sempre problemático quando alguém que se encontra mais ou menos com saúde ou em boas condições e deve confortar outro atingido por um grande mal: quer seja doença, ou perda de amor. Diante destes males que todos conhecemos, quase inevitavelmente tudo parece unicamente retórico e patético. Mas, diria que se estas pessoas podem sentir que nós somos "doentes-com", que desejamos carregar com eles a Cruz em comunhão com Cristo, sobretudo rezando com eles, assistindo também com um silêncio cheio de simpatia, de amor, ajudando-os na medida do possível, podemos ser credíveis.
Devemos aceitar o fato de que talvez num primeiro momento as nossas palavras pareçam meras palavras. Mas se vivermos realmente neste espírito do verdadeiro seguimento de Jesus, encontramos também o modo de confortar com a nossa simpatia. Simpatia etimologicamente significa compaixão pelo homem, ajudando-o, rezando, criando assim a confiança que a bondade do Senhor existe também no vale mais obscuro. Podemos desta forma abrir o coração ao Evangelho de Cristo, que é o verdadeiro consolador; abrir o coração ao Espírito Santo, que é chamado o outro Consolador, o outro Paráclito, que assiste, que está presente.
Podemos abrir o nosso coração não às nossas palavras, mas ao grande ensinamento de Cristo, pelo seu ser conosco e desta forma contribuir para que o sofrimento e a dor se tornem realmente graça de maturação, de comunhão com Cristo crucificado e ressuscitado.

(VISITA AO PONTIFÍCIO SEMINÁRIO MAIOR ROMANO
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS -
Sábado 17 de Fevereiro de 2007)



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