BENTO XVI RESPONDENDO A PERGUNTAS DE SEMINARISTAS - IV
FRANCESCO ANNESI,
Diocese de Roma do V ano (3º de Teologia)
5. Santidade, da
Carta Apostólica Salvifici doloris de João Paulo II sobressai claramente como o
sofrimento seja fonte de riqueza espiritual para quantos o aceitam em união com
os sofrimentos de Cristo. Como pode hoje o sacerdote, num mundo que procura todos
os meios lícitos ou ilícitos para eliminar qualquer forma de sofrimento, ser
uma testemunha do sentido cristão do sofrimento e como deve comportar-se diante
de quem sofre sem correr o risco de ser retórico ou patético?
Sim, como fazer?
Parece-me então que devemos reconhecer que é justo fazer o possível para vencer
os sofrimentos da humanidade e para ajudar as pessoas que sofrem são tantas no
mundo a encontrar uma qualidade de vida e a ser libertadas dos males que com
frequência nós próprios causamos: a fome, as epidemias, etc.
Mas, ao mesmo tempo,
reconhecendo este dever de trabalhar contra os sofrimentos causados por nós
próprios, devemos também reconhecer e compreender que o sofrimento é uma parte
essencial para a nossa maturação humana. Penso na parábola do Senhor sobre o grão
de mostarda que caiu na terra, e que só assim, morrendo, pode dar fruto, e este
cair na terra e morrer não é o fato de um momento, mas é precisamente o
processo de uma vida.
Cair como o grão na
terra e assim morrer, transformar-se, ser instrumentos de Deus, e dar fruto.
Não é por acaso que o Senhor diz aos seus discípulos: o Filho do Homem tem que
ir a Jerusalém para sofrer; por isso quem quer ser meu discípulo deve carregar
a sua cruz sobre os ombros e seguir-me. Na realidade, nós somos sempre como Pedro,
o qual diz ao Senhor: não, Senhor, isto não pode acontecer contigo, tu não
deves sofrer. Nós não queremos carregar a Cruz, desejamos criar um Reino mais
humano, mais belo na terra.
Isto é completamente
errado: o próprio Senhor o ensina. Mas Pedro precisou de muito tempo, talvez de
toda a sua vida para o compreender; porque esta lenda do Quo Vadis? tem
algo de verdadeiro: aprender precisamente que o caminho que dá fruto consiste
em carregar a Cruz do Senhor. Desta forma, diria, antes de falar aos outros,
devemos nós próprios compreender o mistério da Cruz.
Sem dúvida, o
cristianismo dá-nos a alegria, porque o amor dá alegria. Mas o amor é sempre
também um processo do perder-se e portanto também um processo do sair de si
mesmo; neste sentido, também um processo doloroso. E só assim é belo e nos faz
maturar e alcançar a alegria verdadeira. Quem deseja afirmar ou quem promete
uma vida apenas alegre e confortável mente, porque esta não é a verdade do
homem; a consequência é que depois devemos refugiar-nos em paraísos falsos. E
não é assim que se alcança a alegria, mas a autodestruição.
Sim, o cristianismo
anuncia-nos a alegria; esta alegria só pode crescer no caminho do amor e este
caminho do amor está relacionado com a Cruz, com a comunhão com Cristo crucificado.
E está representada no grão de trigo que caiu na terra. Quando começamos a
compreender e a aceitar isto, todos os dias, porque todos os dias nos impõe
qualquer insatisfação, ou peso que origina também sofrimento, quando aceitarmos
esta escola do seguimento de Cristo, como os Apóstolos tiveram que aprender
nesta escola, então tornar-nos-emos também capazes de ajudar quem sofre.
É verdade que é sempre
problemático quando alguém que se encontra mais ou menos com saúde ou em boas
condições e deve confortar outro atingido por um grande mal: quer seja doença,
ou perda de amor. Diante destes males que todos conhecemos, quase
inevitavelmente tudo parece unicamente retórico e patético. Mas, diria que se
estas pessoas podem sentir que nós somos "doentes-com", que desejamos
carregar com eles a Cruz em comunhão com Cristo, sobretudo rezando com eles,
assistindo também com um silêncio cheio de simpatia, de amor, ajudando-os na
medida do possível, podemos ser credíveis.
Devemos aceitar o
fato de que talvez num primeiro momento as nossas palavras pareçam meras
palavras. Mas se vivermos realmente neste espírito do verdadeiro seguimento de
Jesus, encontramos também o modo de confortar com a nossa simpatia. Simpatia
etimologicamente significa compaixão pelo homem, ajudando-o, rezando, criando
assim a confiança que a bondade do Senhor existe também no vale mais obscuro.
Podemos desta forma abrir o coração ao Evangelho de Cristo, que é o verdadeiro
consolador; abrir o coração ao Espírito Santo, que é chamado o outro Consolador,
o outro Paráclito, que assiste, que está presente.
Podemos abrir o nosso
coração não às nossas palavras, mas ao grande ensinamento de Cristo, pelo seu
ser conosco e desta forma contribuir para que o sofrimento e a dor se tornem
realmente graça de maturação, de comunhão com Cristo crucificado e
ressuscitado.
(VISITA AO PONTIFÍCIO
SEMINÁRIO MAIOR ROMANO
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
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