BENTO XVI RESPONDENDO A PERGUNTAS DE SEMINARISTAS - II
CLAUDIO
FABBRI, Diocese de Roma do II ano (2º ano de Filosofia)
2. Santo
Padre, como se desenvolvia a sua vida no período da formação para o sacerdócio
e que interesses cultivava? Considerando a experiência feita, quais são os
pontos fundamentais da formação para o sacerdócio? Em particular, Maria, que
lugar ocupa nela?
Penso que
a nossa vida, no nosso seminário de Freising, se desenvolvia num modo muito
semelhante ao vosso, mesmo se não conheço exatamente o vosso horário
quotidiano. Iniciava-se, parece-me, às 6.30h ou 7h, com uma meditação de meia
hora, durante a qual cada um em silêncio falava com o Senhor, procurava dispor
o ânimo para a Sagrada Liturgia. Depois seguia-se a Santa Missa, o pequeno
almoço e, durante a manhã, as lições.
À tarde,
eram realizados seminários, tempos de estudo, e depois ainda a oração comum. À
noite, os chamados "puncta", isto é, o diretor espiritual ou o
reitor do seminário, nas diversas noites, falavam sobre como ajudar-nos a
encontrar o caminho da meditação, não nos dando uma meditação já feita, mas
elementos que podiam ajudar cada um a personalizar as Palavras do Senhor que
seriam objeto da nossa meditação.
Este era o
percurso para cada dia; depois naturalmente tinham as grandes festas com uma
bela liturgia, música... Mas, parece-me, e talvez volte sobre este aspecto no
final, é muito importante ter uma disciplina que nos precede e não ter cada
dia, de novo, que inventar o que fazer, como viver; há uma regra, uma
disciplina que me aguarda e me ajuda a viver o dia de modo organizado.
Agora, em
relação às minhas preferências, naturalmente seguia com atenção, na medida do
possível, as lições. Inicialmente, nos dois primeiros anos a filosofia,
fascinou-me, desde o início sobretudo a figura de Santo Agostinho e depois
também a corrente agostiniana da Idade Média: São Boaventura, os grandes
franciscanos, a figura de São Francisco de Assis.
Fascinava-me
sobretudo a grande humanidade de Santo Agostinho, que não teve a possibilidade
simplesmente de se identificar com a Igreja porque era catecúmeno desde o
início, mas teve que lutar espiritualmente para encontrar pouco a pouco o
acesso à Palavra de Deus, à vida com Deus, chegando ao grande sim à sua Igreja.
Este
caminho tão humano, no qual também hoje podemos ver como se começa a entrar em
contato com Deus, como todas as resistências da nossa natureza devam ser
tomadas a sério e depois devam também ser canalizadas para chegar ao grande sim
ao Senhor. Desta forma, fui conquistado pela sua teologia muito pessoal,
desenvolvida sobretudo na pregação. Isto é importante, porque inicialmente
Agostinho desejava viver uma vida meramente contemplativa, escrever outros
livros de filosofia... mas o Senhor não quis, fez dele um sacerdote e um bispo
e, assim, o resto da sua vida, da sua obra, desenvolveu-se substancialmente no diálogo
com um povo muito simples. Ele teve que encontrar sempre pessoalmente, por um
lado, o significado da Escritura e, por outro, ter em consideração a capacidade
do povo, do seu contexto vital, e alcançar um cristianismo realista e ao mesmo
tempo muito profundo.
Depois,
para mim era naturalmente muito importante a exegese: tivemos dois exegetas um
pouco liberais, mas contudo grandes exegetas, também realmente crentes, que nos
fascinaram. Posso dizer que, realmente, a Sagrada Escritura era a alma do nosso
estudo teológico: vivemos a Sagrada Escritura e aprendemos a amá-la, a falar
com ela. Depois, já falei da Petrologia, do encontro com os Padres. Também o
nosso professor de dogmática era então muito famoso, tinha alimentado a sua
dogmática com os Padres e com a Liturgia. Um aspecto muito central para nós era
a formação litúrgica: naquele tempo ainda não havia cátedras de Liturgia, mas o
nosso professor de Pastoral deu-nos grandes cursos de liturgia e ele, na época,
era também Reitor do seminário e assim, liturgia vivida e celebrada e liturgia
ensinada e refletida caminhavam juntas.
Eram
estes, juntamente com a Sagrada Escritura, os pontos principais da nossa
formação teológica. Por isto estou sempre grato ao Senhor, porque juntos são
realmente o centro de uma vida sacerdotal.
Outro
interesse era a literatura: era obrigatório ler Dostoievski, era a moda do
momento, depois tinham os grandes franceses: Claudel, Mauriac, Bernanos, mas
também a literatura alemã; havia ainda uma edição alemã de Manzoni: na época eu
não falava italiano. Desta maneira também formámos, neste sentido, o nosso
horizonte humano. A música era também um grande amor, assim como a beleza da
natureza da nossa terra. Com estas preferências, com estas realidades, num
caminho nem sempre fácil, fui progredindo. O Senhor ajudou-me a chegar ao sim
do sacerdócio, um sim que me acompanhou todos os dias da minha vida.
(VISITA
AO PONTIFÍCIO SEMINÁRIO MAIOR ROMANO
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
POR OCASIÃO DA FESTA DE NOSSA SENHORA DA CONFIANÇA - ENCONTRO DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
COM OS SEMINARISTAS - Sábado 17 de Fevereiro de 2007)
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