domingo, 26 de maio de 2019

O DEMÔNIO NÃO TEM PODERES SOBRE O CORPO MÍSTICO DE CRISTO


(Na foto, Bato Palau Y Quer, que defendia o exorcistado como Ordem Religiosa especializada)


O rumoroso caso da possessão nos Estados Unidos ocorrida em 1949

Na edição de 19 de agosto de 1949, o semanário católico “The Catholic Review”, publicou a seguinte notícia procedente de Washington:
“Um garoto de Washington, de catorze anos, cuja história de possessão diabólica foi amplamente noticiada na imprensa na semana passada, foi exorcizado com êxito por um padre, depois de ser recebido na Igreja Católica, segundo se soube aqui.
“O padre envolvido negou-se terminantemente a comentar o caso. Sabe-se, contudo, que várias tentativas foram feitas para libertar o garoto das manifestações.
Um padre católico foi chamado para ajudar. O garoto, quando expressou seu desejo de ingressar na Igreja, com o consentimento dos pais, recebeu instrução religiosa. Mais tarde o padre o batizou e realizou então com êxito o ritual do exorcismo. Os pais do garoto vitimado não são católicos”.
A partir daí a notícia foi divulgada por outros jornais, culminando pela publicação de uma reportagem do “Washington Post” em sua primeira página. Ao ler a reportagem, um estudante da Georgetown University, William Peter Blatty, resolveu estudar o caso e publicou um livro, intitulado “The Exorcist” (O Exorcista).
Posteriormente, o tema tratado no livro foi transformado num filme, rodado somente em 1973 e que teve grande sucesso. Para manter no anonimato as pessoas, foram alteradas várias partes do exorcismo, além dos nomes dos participantes, inclusive e, principalmente, do possesso, transformado numa menina.
Para que houvesse perfeita sintonia dos assuntos abordados no filme com os princípios dogmáticos da Igreja, dois teólogos deram assistência de consultoria ao filme, os padres Thomas Bermingham, S.J. e John J. Nicola.
Conta-se que ocorreram diversos acidentes no local das filmagens, o que motivou o padre Thomas Berminghan a fazer uma bênção especial exorcística naquele local. Depois disso, os acidentes pararam de acontecer...
Posteriormente, no final da década de 80, o editor da revista “National Geografic” Thomas B. Allen, soube da existência de um diário escrito pelos dois exorcistas em questão, onde se detalhou tudo sobre o caso. O padre William W. Bowdern, S.J., o principal exorcista, havia tido o cuidado de mandar registrar num diário todos os fatos no momento em que ocorriam.  O objetivo era fornecer subsídios aos futuros exorcistas sobre a matéria. Contendo 26 laudas, o diário começa no dia 7 de março e termina no dia 19 de abril de 1949.
O jornalista Thomas B. Allen não se contentou com isso e passou a pesquisar sobre o assunto, cujo objetivo era a publicação de um livro. O resultado foi a primeira edição de sua obra, intitulada “Possessed’ (Possesso) em 1993, com versão em português sob o título de “Exorcismo” publicada no ano seguinte pela Editora Nova Fronteira S.A.
Resumimos a seguir os acontecimentos relatados por Thomas B. Allen, principalmente aqueles baseados no diário do sacerdote, especialmente a partir dos momentos finais do exorcismo. Tal relato tem todos os elementos para se mostrarem críveis e de acordo com a doutrina católica sobre o assunto. Um leigo, e provavelmente não católico, ao escrever sobre o tema, baseando-se num diário de um teólogo e exorcista, dá todos os sinais de insuspeição mostrando-se fiei no seu relato. Além disso, não se vê nada que demonstre incompatibilidade entre os fatos narrados e o que diz a Doutrina Católica sobre as possessões diabólicas e seus conseqüentes exorcismos.
Os dados a seguir foram extraídos do livro “Exorcismo”, da Editora Nova Fronteira S.A, a partir dos últimos dias dos relatos publicados:

Exorcismo só surte efeito pelo poder da Santa Igreja
Certa noite, quando recitava as orações do exorcismo, o padre Bowdern foi inspirado pela frase: “...deste servo de Deus, que busca refúgio no seio da Igreja”. Imaginou então que se o garoto fosse batizado, tornando-se portanto católico, estaria sendo protegido sob o manto da Santa Igreja. Desta forma o demônio perderia sua força, pois a Igreja recebeu todo o poder de Jesus Cristo para expulsão dos demônios, mas para isto sua eficiência é maior quando o possesso é católico.
A família de Robert concordou.  O padre Bowdern mandou então preparar um quarto na sua casa paroquial a fim de acomodar Robert e seu pai. Na noite de quarta-feira, dia 24 de março, Karl Mannehin e o filho mudaram-se para a casa paroquial.  Lá, o padre passou a doutrinar Robert, ensinando-lhe os princípios da doutrina católica e algumas orações.
No primeiro dia, o demônio reagiu violentamente. Estavam presentes no quarto, além dos padres Bowdern e Bishop, o pai de Robert, Halloran e um convidado, o padre jesuíta William A. Van Roo. Quando o padre Bowdern terminou sua preleção, convidou todos a rezar juntos o Credo e os Atos de Fé, Esperança e Caridade.  Em seguida, passou a rezar a ladainha de todos os santos. Neste momento, Robert teve um acesso de possessão. Começou a dar chutes e a cuspir. Tentando a custo segurá-lo, Halloran pede ajuda do padre Van Roo. A certa altura, Robert se faz de vítima e pede para soltar seus braços que estavam doendo. O padre Van Roo, compadecido, soltou o garoto dizendo que não precisava se agir tão violentamente com aquele rapazinho tão franzino. “Não faz sentido segurar os braços dele assim com tanta força...” .  Logo em seguida, o padre Van Roo recebeu o prêmio por sua “bondade”: Robert acertou-lhe um soco no nariz, após ter atingido também o de Halloran. Ambos saíram dali com os narizes sangrando...
O exorcismo prosseguiu com uma seqüência de exibições de força e de manifestações estranhas do franzino Robert.  A certa altura, o demônio gritou:
- Eu estou no inferno! Estou te vendo! Você está no inferno. É 1957...- gritava apontando para o padre Bowderm.
O ardil do demônio quase surtiu efeito, pois o padre ficou um tanto perturbado com aquela “revelação” do futuro.  Recordou-se logo, porém, do que havia sido advertido pelo Ritual, de que o demônio procuraria inventar mentiras com intuito de confundir o exorcista. Era preciso não dar importância a nada do que ele dissesse.  Após uma breve pausa, o sacerdote retornou às orações do exorcismo.
Em outro dia, o demônio escolheu outro padre como vítima. Disse a mesma coisa, que estaria no inferno com ele em tal época: “De que adiante você está aqui? Você estará comigo no inferno em 1957!”.  O pe. Bishop não cita o nome deste sacerdote, mas afirma que mudou de vida após aquela declaração do diabo.

Robert torna-se católico
Após ter sido doutrinado, o batismo de Robert foi marcado para o dia 1o. de abril, uma sexta-feira, primeira do mês. Pairava uma grande dúvida entre os sacerdotes de como os demônios reagiriam, ou para impedir a cerimônia ou para causar qualquer problema naquele dia.  E foi o que ocorreu. Traziam Robert para a igreja o seu pai, que dirigia o carro, seu tio George e sua tia Catherine. A certo momento, manifestou-se o demônio:
- Então vocês vão me batizar? – e soltou tremenda gargalhada. – E estão pensando que vão me expulsar com a Santa Comunhão? Ah, ah, ah.
Repentinamente, Robert meteu a mão no volante e desviou o carro  para a calçada. Tio George, mesmo tomado de surpresa, conseguiu puxar o freio de mão e impedir que o carro batesse num poste. Em seguida, Robert agarrou-se ao pescoço de sua mãe, contido a custo por seu pai. A chave saltou da ignição do carro e foi projetada para o chão. Era evidente que satanás queria impedir que o garoto fosse batizado, mas seu Anjo da Guarda velava por ele e nem todas as ações diabólicas obtiveram êxito.
Todos perceberam que aquilo era uma ação satânica, e todos se uniram para cumprir sua missão e levá-lo para o batismo. Tio George e o pai agarraram o garoto com força e o tiraram de dentro do carro. Em seguida, mandaram que Catherine assumisse o volante. Assim, Robert foi introduzido novamente no carro e levado à força, imobilizado pelos dois homens. Novamente a caminho, o possesso ainda tentou novamente agredir a motorista mas foi firmemente impedido pelos dois homens.
Quando o padre Bowdern soube que Robert havia chegado naquelas condições, não permitiu que o mesmo fosse levado para o interior da igreja, temendo alguma profanação.  Levaram-no para a casa paroquial, onde seria batizado. Quando entrou na casa, fez-se mais violento ainda, lutando contra os homens que o agarravam e lançando uma cusparada atrás da outra.  Era preciso mais alguém para ajudá-los e foi chamado um servente do padre que servia no local.
Ninguém objetou que não se podia batizar alguém com violência, contra a sua vontade, pois naquele momento a vontade de Robert (manifestada antes por diversas vezes) era ser batizado. O que se manifestava nele não era sua vontade, mas a de satanás.  Chegada a hora da cerimônia, o padre Bowdern fez a pergunta prevista no Ritual:
- Renuncias a Satanás, suas obras e seus misteres?
Não houve resposta, mas uns grunhidos malcriados. O garoto apenas se contorcia, tentando desvencilhar-se dos homens e cuspindo a todo instante nos rostos deles.  O padre Bowdern repetiu a pergunta, em voz alta e autoritária, e por um instante o demônio perdeu sua influência na mente do garoto, que respondeu:
- Eu renuncio a Satanás...
Embora tivesse falado baixinho, era o que o padre esperava para crer que a vontade dele era aquela. Embora o possesso continuasse reagindo violentamente nas mãos dos que o continham, o padre prosseguiu a cerimônia do batismo.  Quando, finalmente, pronunciou as palavras do batismo: “Ego te baptizo, etc.”, o possesso reagiu com mais violência ainda. O padre lançou-lhe várias vezes água benta sobre a cabeça, tentando concluir a cerimônia, a qual levou mais de quatro horas.
Terminado o batismo, o padre iniciou imediatamente as orações do exorcismo. Novamente, o demônio fez de tudo para que a mesma não prosseguisse, seja através de gritos, de contorções, ou de cusparadas do possesso nos rostos das pessoas. Quando tudo terminou, o padre Bowdern procurou o padre Bishop para analisarem conjuntamente o caso.  Chegaram à conclusão de que aquele batismo, sim, tinha tido os efeitos, e não o que o garoto recebera anteriormente dos luteranos, pois o demônio reagira constantemente para que o mesmo não fosse efetivado. Isto porque aqueles padres ainda tinham uma crença de que alguns luteranos houveram recebido o verdadeiro batismo. Se o batismo anterior tivesse sido válido, não haveria razão para o demônio reagir tão violentamente para não ser feito o batismo católico...
Finalmente, o demônio começa a agir mais às claras. Sabendo que Robert era agora um batizado, um católico protegido pelos carismas da Igreja, satanás tornou-se de uma violência incomum, superando em tudo as anteriores. No dia seguinte, a possessão já se manifestava em plena luz do dia, coisa que anteriormente ocorrera rarissimamente, pois o demônio sempre agia quando o garoto estava sonolento, com a mente fraca.

Comunhão – mais um passo para o exorcismo ser eficaz
A luta contra o poder das trevas agora era em plena luz do dia. Logo ao acordar, no dia seguinte, Robert se manifestou com violência, debatendo-se e contorcendo-se na cama, atirando travesseiro no globo de luz do teto e quebrando-o, além de uma bacia da louça.   O padre Bowdern resolveu agir rapidamente, pois pretendia ministrar-lhe a Sagrada Comunhão antes que a possessão se tornasse mais violenta.
Os padres esperaram que o garoto voltasse à calma para só então prepara-lo para a Primeira Comunhão. Ensinaram-lhe todas as preces, inclusive o exame de consciência, embora fosse desnecessária a Confissão: tendo sido batizado recentemente, a Igreja dispensava a Confissão pois o batismo o livrara de todos os pecados acaso cometidos.  Mesmo assim, o padre Bowdern interrogou a consciência do garoto, pois ele queria ter a certeza de que ela estava limpa de qualquer pecado que pudesse tornar sacrílega a comunhão.
Para a Primeira Comunhão, além do padre Bishop foi chamado em auxílio mais dois sacerdotes.  Foi ministrada a absolvição condicional a Robert e, estando o mesmo calmo, parecia que tudo correria sem maiores problemas.  Quando o padre iniciava as preces preparatórias para a Comunhão, Robert começou a ficar inquieto e a mexer-se. Logo, os auxiliares o seguraram temendo o pior. Robert oferecia pouca resistência. Assim, o sacerdote aproximou-se com a Hóstia sob o queixo do possesso com intuito de introduzi-la na boca.
Mas, quando o padre tentou aproximar a Hóstia da boca de Robert a reação diabólica fez-se logo sentir. O primeiro fragmento de Hóstia foi cuspido da boca, o qual logo foi apanhado pelo sacerdote num dos sacramentais e guardado com cuidado.  Por duas horas seguidas, o padre tentava dar a comunhão e o possesso a recusava com violência.  Neste instante, o padre O’Flaherty, jesuíta, teve uma idéia: como era o primeiro sábado do mês, dia consagrado ao atendimento do pedido de Nossa Senhora de Fátima, rezar o rosário, confessar e comungar (que sempre faziam os padres na capela jesuíta da Faculdade), sugeriu que rezassem antes o Rosário.
Enquanto os padres iam rezando o Rosário, com as jaculatórias de Fátima e outras orações conhecidas, Robert foi aos poucos se acalmando. Nossa Senhora de Fátima cumpria sua promessa e protegia aquela alma. Até que, finalmente, após a conclusão do Rosário, estando o possesso completamente sereno e sem manifestações diabólicas, o padre Bowdern aproximou a Sagrada Hóstia de sua boca pela quinta vez, sem que houvesse qualquer reação contrária. Robert engoliu a Hóstia placidamente. Havia feito sua Primeira Comunhão. A igreja havia ganho mais uma batalha contra Satanás.
A partir daquele momento tudo iria mudar. Segundo comentário dos padres, a partir daquele dia Robert começou a ficar consciente de seu estado. Até o dia de seu batismo e Primeira Comunhão, ele não se recordava de nada do que havia acontecido nos momentos de transe. A partir de agora, relembrava-se de tudo e sabia que passava por uma possessão diabólica. O demônio começou, então, a tentá-lo com a loucura, pois deixando-o louco seria mais fácil controlar sua mente e continuar possuindo-o.  Mas Nossa Senhora velava por Robert, agora mais do que nunca, seu filho e protegido, porque tornara-se católico e continha Nosso Senhor Jesus Cristo em seu peito.
A parte protestante da família, embora sem crer com a Fé verdadeira, confiava em que o garoto se veria livre da possessão, pois agora percebiam que a Igreja Católica, sim, tinha poderes para expulsar os demônios.  Tinham apoiado a própria conversão do garoto sabendo que era necessária para conseguir o que almejavam. O seu protestantismo, embora relaxado e liberal, nada lhes oferecia de seguro e não lhes transmitia nenhuma confiança.
Mas o sofrimento da família não terminaria logo. Ainda duraria vários dias, com idas e vindas dos padres, sessões constantes de exorcismos, mas sempre dando a todos sinais de que venceriam. Agora que Robert era católico, o demônio se manifestava com mais fúria. Por isso, o padre Bowdern convenceu a família de que o garoto deveria ser internado num lugar seguro e isolado, onde os exorcismos pudessem ser feito com mais segurança. Aliás, isto estava devidamente recomendado no Ritual. Finalmente, a família concordou.
Após buscas infrutíferas em hospitais e casas paroquiais, finalmente a direção do Alexian Brothers Hospital aceitou interná-lo.  No dia 10 de abril, um Domingo de Ramos, ele foi hospedado numa sala do quinto andar aquele hospital. Lá o novo hóspede foi recebido carinhosamente pelos frades alexianos. Nem todos, mas principalmente, os diretores do Hospital, sabiam a finalidade daquela internação.

Batalhas finais
Robert foi instalado num quarto especial, no quinto andar do hospital alexiano, onde os exorcismos deverão ser feitos até o final. Estávamos no Domingo de Ramos, dia 14 de abril de 1949. Um ostensório de ouro com uma Hóstia consagrada foi posto entre duas velas acesas na capela. Frades alexianos foram destacados para fazer vigília, dia e noite, perante o Santíssimo Sacramento ali exposto, a fim de que os exorcismos obtivessem êxito.
Pouco depois das sete horas daquele dia, entrou no quarto de Robert a equipe do exorcismo, composta dos padres Bowdern, Van Roo, O’Flaberty e Bishop.  O padre Bowdern cumprimentou rapidamente o garoto e resolveu ir direto às orações do exorcismo, tomando a iniciativa antes que o menino fosse tomado de algum acesso.
Havia a esperança de que na Semana Santa o demônio perdesse sua força e o exorcismo finalmente surtisse os efeitos finais. De sorte que durante todo o tempo das orações, sejam as do exorcismo, ou mesmo durante o rosário, o garoto permaneceu calmo e sem manifestar a presença satânica. Lá pelas onze horas da noite, Robert adormeceu.
O padre Bowdern resolveu ir mais além e acordou o garoto para lhe ministrar a Sagrada Comunhão. Surpreendentemente, Robert comungou sem manifestar qualquer reação contrária. Depois, voltou a dormir placidamente.
A partir da segunda-feira, a vida de Robert passou a ser diferente. Os frades alexianos haviam feito um programa de atividades para deixá-lo ocupado o dia inteiro.  De manhã, ele tinha que arrumar sua própria cama. Depois, tomava o café e caminhava pelo pátio, sempre acompanhado de um religioso. No decorrer do dia davam-lhe aulas de Catecismo e livros para ler.
De outro lado, o ambiente do Hospital era impregnado de espiritualidade católica. Além da capela, em todos os quartos havia um crucifixo. De manhã e à tarde, orações conduzidas pelo capelão eram irradiadas pelo serviço de alto-falantes do hospital. Os frades internos tinham, naquele tempo, uma vida espiritual mais intensa: além de seus trabalhos, os frades viviam mais da prece e da meditação, geralmente perante o Santíssimo; são proibidas conversações ociosas e visitas de frades às celas dos outros, além de só saírem à rua acompanhados. Toda sexta-feira os frades jejuam: neste dia todos acordam mais cedo, pois antes da missa rezam várias orações especiais para aquele dia.
No segundo dia, 15 de abril, Segunda-Feira da Paixão, a equipe do exorcismo voltou novamente à noite. Após pronunciar as orações do exorcismo previstas no Ritual, o pe. Bowdern começou a rezar o Rosário. Mal os padres começaram a segunda dezena e Robert deu um grito de dor e levou as mãos ao peito. Um sacerdote abriu a bata que cobria seu peito e viu ali uma estranha mancha rubra. Quando as orações se reiniciaram, Robert gritou novamente por repetidas vezes. Foi aí então que todos viram em seu peito a palavra SAÍDA formada por manchas de sangue.  A mesma palavra foi vista em outras partes do corpo.
Um dos padres declarou depois: “As marcas surgiam sem mais nem menos. Às vezes eram vergões sem sentido, e muito, muito vermelhos, como se causados por espinhos, por coisas assim, que se espalhavam por todo o corpo.  Num momento, eu olhava e não via nada, mas no momento seguinte, quando olhava outra vez, já estavam lá de novo. Talvez a intervalos de dez a quinze segundos”.
Como o garoto continuasse a gritar, o padre Bowdern resolveu lhe dar a Santa Comunhão a fim de fortalecê-lo.  Pela simples menção da palavra Comunhão, o demônio enfureceu-se mais ainda e Robert começou a se agitar com violência. Foi necessário que os padres agissem com força, chegando a amarrá-lo na cama. Em seguida, os exorcistas viram que as palavras agora mudavam, começou a surgir a palavra INFERNO pelo corpo.  Sabendo que o demônio ficara furioso pela simples menção da palavra Comunhão, o padre Bowdern pressentiu quanto ele temia o Santíssimo Sacramento. Desta forma, passou a repeti-la com freqüência até que se acalmasse.
Mas, aconteceu o contrário, o demônio se enfurecia mais ainda. Numa das vezes em que o padre Bowdern tentava aproximar a Sagrada Hóstia, o possesso o agrediu.  Os padres, então, reforçaram as tiras que o amarravam na cama. O demônio conseguiu, logo depois, curvar o corpo do garoto de tal maneira que a parte posterior da cabeça encostou nos seus calcanhares. Mesmo assim, o padre exorcista não esmorecia, insistia em pronunciar as palavras que o demônio mais odiava, enquanto rezava as preces do exorcismo.
Vendo que era inútil tentar ministrar a Sagrada Comunhão ao possesso, pois corria o risco de profanar as sagradas espécies, o padre resolveu que ele receberia uma comunhão espiritual.  Para tanto, mandou que Robert fosse pronunciando as palavras: Eu quero receber Jesus na Santa Comunhão. Mas quando pronunciou a palavra “Comunhão”, uma torrente de cólera se apossou do menino. Seus gritos e blasfêmias deixaram alguns frades alexianos, ainda não acostumados com aquilo, com os nervos à flor da pele.  Por toda aquela ala do hospital, os gritos do garoto foram ouvidos por pacientes e enfermeiros. Como era a ala dos doentes mentais mais perigosos, todos já se tinham acostumado a ouvir gritos e berreiros, por isso não estranhando o que acontecia.
Aos poucos Robert foi se acalmando, até que caiu num sono profundo.  O padre Bowdern deu por concluído as funções naquela noite e mandou abrir a porta para que todos saíssem. Não foi registrada a hora.
As sessões de exorcismo se repetiram, ininterruptamente, nos dias seguintes.
Na noite de terça-feira, dia 16 de abril, nada de novidade, tudo correndo como nos dias anteriores. Imperiosamente, o exorcista ordenou que o demônio dissesse seu nome e o dia e a hora da partida. Ao que respondeu o mesmo: “Eu sou o diabo”. Mas não disse o dia e a hora da partida. Nessa noite não apareceram as marcas no corpo do possesso.
Como as reações do demônio eram mais à noite, quando a mente do garoto estava mais fraca e sujeita ao domínio diabólico, pediu o padre Bowdern que o capelão ministrasse a Comunhão pela manhã. Realmente, durante todo o dia o menino se mostrava de uma forma normal, calmo e sem sinais de possessão.  Depois de comungar, seguia-se um dia de trabalhos, leituras, etc.

Os demônios agem sobre o ambiente
Desesperado, satanás começou a agir sobre o ambiente para tentar afastar os frades e o exorcista de Robert. As pessoas começaram a sentir um estranho frio, de tal sorte que precisaram usar roupas adequadas. Em seguida, apareceu um mau cheiro, um fedor insuportável. O exorcista, o padre Bowdern, era quem mais sentia tais sensações estranhas. Declarou ele depois que o mau cheiro que exalava no quarto era quase insuportável. De outro lado, a barriga de Robert inchava misteriosamente e suas feições se retorciam tanto que pareciam de outra pessoa.
Satanás percebia o que havia de bom e ruim nas almas das pessoas que entravam naquele quarto. E assim, sabia quem estava em pecado mortal ou em estado de graças. Quando um médico entrou no quarto e o possesso não reagiu, isto foi um sinal para o padre Bowdern de que ele não estivesse em estado de graça.  O sacerdote chamou o médico e disse-lhe o que pensava, sugerindo que o mesmo fosse confessar-se antes de entrar ali, pois o demônio poderia contar seus pecados aos outros para afastá-lo.  O médico foi confessar-se e voltou alguns minutos depois, sendo recebido pelo possesso com berros. 
Passou-se o Domingo de Páscoa e nada dos demônios irem embora. Na segunda-feira, o clima ficou mais tenso ainda. Durante o dia, o possesso agredia e gritava, cuspia, blasfemava, enfim, o demônio se manifestava a todo instante. Quando os frades chegaram com a Comunhão, não tiveram coragem de oferecê-la, mas tentaram apenas que o mesmo fizesse a comunhão espiritual.  Surpreendentemente, o próprio garoto repetiu as palavras “Eu quero receber Jesus na Santa Comunhão”. Em seguida caiu exausto na cama. Mas, antes disto, os frades ouviram também uma outra voz dizer: “Só saiu um demônio. Robert tem de fazer nove comunhões para que eu saia também”.
Em seguida, a voz casquinou dizendo: “Só isso não basta. Ele tem de dizer uma palavrinha. Aliás, uma palavrona. Ele tem de fazer nove comunhões. Esta palavra ele nunca vai dizer. Eu continuo dentro dele. Posso nem sempre ter o mesmo poder, mas nele estou. Ele nunca dirá esta palavra”.  Evidente que o demônio diz estas coisas para confundir as pessoas. Algo de verdadeiro pode haver no que disse, mas sempre diz com intenção de confundir as pessoas. Os frades ficaram confusos e interrogativos: que palavra seria esta?

São Miguel expulsa o demônio
Após vários dias e noites de sofrimentos, os frades alexianos viram finalmente um sinal de que satanás iria embora. Robert estava agitadíssimo, agressivo e difícil de controle, mas os exorcistas continuavam normalmente seu ofício, apesar das cusparadas nos olhos, do mau cheiro nauseante e do clima de medo. Eis que, certo dia, após o padre Bowdern terminar as orações exorcísticas, ouve uma voz diferente bradando:
- Satanás, Satanás! Sou São Miguel e te ordeno, a ti e aos demais espíritos malignos, abandonar este corpo em nome do Senhor. Imediatamente! Agora!”
Logo após, Robert ainda se contorceu durante alguns minutos, mas logo se acalmou. Para todos os efeitos, o demônio tinha ido embora. Mas o exorcista ainda precisava de mais uma prova, um sinal claro e indubitável de que realmente ele não mais voltaria. Minutos depois, Robert contou o sonho que tivera:
Havia tido um sonho, mas parecia ser mais real do que sonho. Ele via uma figura muito bonita, de cabelo ondulado e solto, em pé sobre uma luz branca e brilhante. A vestimenta daquela figura era também alvíssima. Robert percebeu que se tratava de um Anjo sob a forma corpórea. Na mão direita o Anjo segurava uma espada ardente; com a esquerda apontava para um fosso ou uma gruta, onde satanás se mantinha entre chamas, cercado de vários outros demônios. Robert pôde sentir o calor do fogo do inferno.
Satanás, com loucas gargalhadas, avançava para o Anjo e tentava dar-lhe combate. Mas o Anjo se virou para Robert, sorriu, encarou logo a seguir o diabo e pronunciou a palavra “Dominus”. Satanás recuou para o inferno.  Ao sumirem os demônios, Robert sentiu um puxão no estômago, parecendo que algo desprendia de seu corpo, deixando-o calmo e feliz.
Mas, o sinal? Ainda faltava o sinal que comprovasse que o demônio tinha ido embora.  No dia seguinte, uma explosão semelhante a um tiro de canhão ecoou pelo hospital. Todos a escutaram e ficaram perplexos. Alguns correram para a escada, outros para o elevador, outros tiveram a idéia de ir até o quinto andar para ver o que ocorria. Quando entraram no quarto, viram Robert calmo, sorrindo e tranqüilo.  O forte barulho da explosão ecoou pelos corredores e amedrontou funcionários, enfermeiros, médicos, frades e pacientes. Mas ninguém nunca soube, na verdade, de onde veio aquele estampido.
Era o sinal que o padre Bowdern havia pedido para confirmar que o demônio havia deixado sua vítima e voltado para o inferno. A possessão havia durado mais de 90 dias, mas finalmente a Santa Igreja triunfou: não só Robert, mas seus pais e alguns parentes se tornaram católicos, e o caso serviu para mostrar que somente a Santa Igreja Católica tem poder sobre os demônios.

E a vida  volta à normalidade
Que vida levou o ex-possesso depois de tudo isto? A vida normal de qualquer pessoa, pois sua memória não registra os fatos das ações praticadas pelo demônio. Auxiliado pelos jesuítas, Robert estudou, educou-se e cresceu sob o bafejo da Santa Igreja Católica. Quando chegou a idade madura, casou-se, constituiu família e, preferindo o anonimato (por orientação dos padres), não se sabe de nada sobre seu futuro a não ser que foi pai de família exemplar.






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