O Templo que a maçonaria quer edificar,
segundo o plano que J. J. Rousseau traçou no seu “Contrato Social”, é pois, o Estado soberano, senhor de todas as coisas,
nele absorvendo todos os direitos, assim os dos indivíduos como os da família,
os das associações como os da Igreja.
Aí está, dir-se-á, uma utopia e uma pretensão
tão monstruosas quanto irrealizáveis. Não para os maçons; para os
revolucionários é o ideal, e um ideal em direção ao qual nos fazem caminhar a
largos passos.
J.J. Rousseau disse que em virtude do
contrato social – que ele imagina estar na base da sociedade, contrariamente à
história e contrariamente à natureza humana, que nada podem fazer – todos os
homens pertencem totalmente à coletividade, suas pessoas e suas forças , seus
direitos e seus bens. É o que os maçons querem realizar; é exatamente a isso
que a Revolução quer chegar; e isso e somente isso que pode dar a explicação do
modo de ser e de agir do Estado contemporâneo relativamente a tudo e a todos.
Em todas as coisas ele se esmera em restringir os direitos individuais: seu
desígnio é suprimi-los inteiramente.
Antes de tudo e sobretudo, o cidadão não tem
o direito de ser cristão. “Nada, diz Taine, interpretando o pensamento
fundamental do Contrato Social, nada é mais contrário ao espírito social do que
o cristianismo... Uma sociedade de
cristãos não seria mais uma sociedade de homens, porque A PÁTRIA DO CRISTÃO NÃO
É DESTE MUNDO”. É necessário reconduzir o cristão aqui para baixo, é preciso
limitar seus pensamentos à busca dos interesses terrenos, é preciso que ele pertença
por inteiro à sociedade à qual ele foi dado por inteiro. Assim, vê-se o
católico tratado como inimigo do Estado maçônico.
O cidadão não tem o direito de ser proprietário.
Tudo o que ele tem, assim como tudo o que ele é, tornou-se um bem social.
Assim, vemos o direito de propriedade desaparecer pouco a pouco ante as
usurpações do socialismo de Estado. Os impostos crescem e se multiplicam sem
cessar. A utilidade pública expropria com uma consciência a cada diz mais
leviana. As leis ensaiam a repartição dos ganhos entre patrões e empregados. O
Estado age como parte financeiramente interessada nas vendas e doações, e
sobretudo nas sucessões. Ele fala agora em impostos sobre o rendimento e em
impostos progressivos, destinados a nivelar as propriedades, e igualar as
fortunas, ou melhor, a fazer com que o Estado se torne o único
proprietário. Já no século XVIII ele se
apossou de toda a propriedade eclesiástica, e hoje mesmo ele põe a mão sobre
aquela que foi reconstituída no século passado. Amanhã se apoderará da mesma
maneira dos instrumentos de trabalho: minas, fábricas, campos, tudo será
nacionalizado.[i]
Não são somente os bens que o Estado
reivindica, como pertencentes á coletividade, mas as forças de cada um: “Cada
membro da sociedade pertence a ela, ele e todas as suas forças”. Será preciso
também, sob esse aspecto, que o Estado chegue a atribuir a cada um as funções
que ele deverá exercer na sociedade, sob sua vigilância e em seu benefício. Os
monopólios do Estado, que vão da instrução pública à fabricação do fumo e dos
fósforos, e o funcionalismo que pouco a pouco se estende a tudo, constituem um
encaminhamento rumo a essa escravidão universal.
Para alcançar esse fim, importa sobretudo
apoderar-se das forças nascentes, das gerações que surgem. Assim, a primeira
preocupação do Estado revolucionário é se apossar da infância.[ii] “As crianças, dizia
Danton, pertencem à República antes de pertencerem a seus pais; o egoísmo dos
pais poderia ser perigoso para a República. Eis porque a liberdade que lhes
deixamos não vai ao ponto de educarem seus filhos de outra maneira que não
segundo a nossa vontade”; e Jules Ferry, no discurso que pronunciou em 1879
para obter a aprovação do famoso artigo VII: “Existe um pai de família que os
compreende a todos: é o Estado”. Temos ouvido essas palavras serem repetidas à
saciedade depois que novos projetos de lei querem colocar em absoluta segurança
os preceptores e as “preceptoras” encarregados pelo Estado de introduzir nas
almas juvenis os dogmas maçônicos.
É exatamente sob esse ponto de vista do
direito exclusivo do Estado sobre toda a juventude que vemos o Estado moderno
se colocar. Sua legislação estudou-a melhor, apertou-a mais, suas leis mais
intangíveis são aquelas que tendem a suprimir toda liberdade de ensino, a
reuni-la sob a férula do Estado, a abandonar à sua educação as crianças de todas as famílias, da escola
dita maternal às faculdades. Inicialmente, é de seu interesse formar as
vontades através das quais ele perdura, preparar os votos que o manterão, implantar
nas almas as paixões que lhe será favoráveis, idéias que secundarão a
construção do Templo. Não tem ele o dever de petrificar as gerações, de modo a
torná-las aptas ao mais perfeito funcionamento do pacto social? “A educação nas
regras prescritas pelo soberano (pelo povo soberano) é uma das máximas
fundamentais do governo popular”, diz J. J. Rousseau. É através dela que se
forma o cidadão, “é ela que deve dar às almas uma forma nacional”; “as boas
instituições nacionais são aquelas que melhor sabem desnaturar o homem,
esvaziar sua existência absoluta para dar-lhe uma existência relativa a
transportar o eu para a unidade comum”.[iii]
Desnaturar o homem! Que palavra poderia
melhor exprimir o que a seita pretende, o que ela faz nas escolas do Estado?
Para conseguir realizar seu desígnio sem
muita oposição, ela começou por dar à juventude a instrução gratuita, hoje ela
acrescentou a isso a alimentação e o vestuário, assim nos colégios como nas
escolas primárias, esperando com isso ter os interesses como seus cúmplices.
Não se diga que o direito que a Igreja recusa
ao Estado Ela o reivindique para Si própria. Não, a Igreja respeita os direitos
da liberdade natural a ponto de que se um pai, uma mãe não pertencem, pelo
batismo, à Sua jurisdição, Ela se considera como que impedida de intervir na
educação da criança até que ela alcance a idade de se pronunciar segundo sua
própria consciência. A Igreja considera como um atentado contra o direito
natural a educação do filho menor na religião cristão contra a vontade
expressa de seus pais não batizados. Ela
não permite que se o batize. E mesmo quando o filho católico de pais católicos
chega á maioridade, Ela não o admite à profissão religiosa sem a permissão
deles, se ele lhes é necessário ao sustento.
O Estado maçônico compreende que as crianças
não poderão ser completamente dele enquanto tiver abolido a família; enquanto
ela subsistir, o grito da natureza protestará contra a sua intrusão. Por esta
razão ele tende à supressão do casamento. Segundo o pensamento dos sectários, o
casamento civil e o divórcio são etapas que devem conduzir ao amor livre, e por
conseguinte ao Estado, único pai nutrício, único educador das gerações
vindouras.
A abolição da família, a supressão da
propriedade, o aniquilamento da Igreja e o sufocamento de qualquer associação
que não seja o Estado, “todos esses artigos, diz Taine, são conseqüências
forçosas do contrato social. No momento em que, entrando num corpo, eu não
reservo nada de mim mesmo, somente por isso renuncio a meus bens, a meus
filhos, à minha Igreja, às minhas opiniões. Deixo de ser proprietário, pai,
cristão, filósofo. É o Estado que me substitui em todas essas funções. No lugar
da minha vontade há a vontade pública, quer dizer, em teoria, o arbítrio rígido
da assembléia, da fração, do indivíduo que detém o poder”.
Tal é o “Templo” que a maçonaria está
construindo; nele ela já nos fez entrar, passo a passo, antes de concluí-lo;
nele ela pretende abrigar as gerações vindouras e a humanidade inteira.
O empreiteiro que assumiu a construção desse
Templo foi o regime parlamentar. O povo soberano escolheu delegados,
investiu-os de todo o poder. Eles se reúnem, a maioria é tida como expressão da
vontade geral, e essa vontade faz lei. Essa lei pode atingir tudo; e em todas as
coisas ela cria o direito, sem considerar quem ou o que quer que seja, nem
mesmo Deus, nem mesmo as exigências da natureza humana.
Há já um século, para construir esse Templo,
diz Taine, fizeram três mil decretos; e para pô-los em vigor substituíram o
governo da força pelo governo da lei. O cadafalso presidiu a reedificação da
sociedade, àquilo que tinha sido chamado de “renovação do princípio da
existência humana”.
As coisas não acontecerão de maneira
diferente se a nova experiência, a que assistimos, for levada até o fim. O
alemão que foi o doutor dos jacobinos e que se conservou como doutor dos
maçons, traçou perfeitamente o caminho que aqueles seguiram e no qual estes
estão engajados.
No ritual que Weishaupt compôs para as cerimônias de iniciação nos
diversos graus do iluminismo, ele faz dizer ao iniciado através de Hierofante:[iv]
“Ó irmão, ó meu filho, quando, aqui reunidos,
longe dos profanos, nós consideramos a que ponto o mundo está entregue aos maus
(aos soberanos e aos padres), poderíamos contentar-nos em suspirar? – Não,
irmão, apoiai-vos em nós. Procurai colaboradores fiéis; eles estão nas trevas
(nas sociedades secretas); é aí que, solitários, silenciosos, ou reunidos em
círculos pouco numerosos, crianças dóceis, eles levam avante a GRANDE OBRA,
conduzidos por seus chefes...
“Os padres e os príncipes resistem a esse
grande projeto; temos contra nós as constituições políticas dos povos. Que
fazer nesse estado de coisas?,... É necessário atar insensivelmente as mãos dos
protetores da desordem (os reis e os padres) e governá-los sem parecer
dominá-los. Numa palavra, é preciso estabelecer um regime dominador universal,
sob forma de governo, que se estenda sobre todo o mundo... É preciso, pois, que
todos os nossos irmãos, educados da mesma maneira, estreitamente ligados uns
aos outros, não tenham senão um mesmo objetivo. Ao redor dos Poderes da terra é
preciso agrupar uma legião de homens infatigáveis, e dirigindo por toda a parte
seus trabalhos, seguir o plano da ordem para a felicidade da humanidade”.[v]
E
em outro lugar: “Como o objeto de nosso desejo é a revolução universal, todos
os membros dessas sociedades (secretas) que tendem ao mesmo fim, apoiando-se
uns aos outros, devem procurar dominar invisivelmente e sem aparência de meios
violentos, não a parte mais eminente ou a menos distinta de um só povo, mas os
homens de qualquer estado, de todas as nações, de todas as religiões. Soprar
por toda a parte o mesmo espírito; no maior silêncio e com toda a atividade
possível, dirigir todos os homens esparsos sobre toda a face da terra em
direção ao mesmo objetivo. Uma vez estabelecido esse império pela união e pela
multidão dos adeptos, que a força suceda ao império invisível; atai as mãos de
todos os que resistem, subjugai a maldade em seu germe, esmagai tudo o que
resta de homens que não tiverdes podido convencer”. (Barruel, t. III, cap. II e IX)
Foi exatamente assim que o compreenderam os
homens de 93. Jean-Bon-Saint-André dizia que “para estabelecer solidamente a
República era necessário reduzir a população à metade”. Geoffrey julgava que
isto era insuficiente: ele queria deixar na França apenas cinco milhões de
cidadãos. “É preferível fazer da França um cemitério a não regenerá-la segundo
nosso modo”, dizia Carrier. Eles fizeram dela um cemitério e não puderam
regenerá-la à maneira deles. O insucesso não desencorajou seus sucessores. “A
França regenerada, diz o I:. Buzot, ainda não alcançou o grau de perfeição que
exigem as doutrinas da franco-maçonaria e o gênio dos filósofos. Mas o
movimento foi dado, ARREBATADOR, IRRESISTÍVEL; A GRANDE OBRA SE REALIZARÁ” (“Tableau Philosophiqu, Historique et Moral de la Franc-Maçonnerie”).Eles pretendem
realizá-la não somente na França, mas no mundo inteiro. “É preciso, disse
Weishaupt, estabelecer um dominador universal, uma forma de governo que se
estenda sobre todo o mundo”. Eles trabalham para isso, como veremos. Esse
regime dominador cujo estabelecimento eles buscam, chamam-no de regime da
democracia, ou república universal.
A teoria de J. J. Rousseau sobre as origens
da sociedade, sua constituição racional, o que ela será quando o contrato
social tiver produzido suas conseqüências, não permaneceu em estado
especulativo. Faz um século que nós nos aproximamos a cada dia do termo que ele
designou para nós, no qual não haverá mais propriedade, nem família, nem Estado
independente, nem Igreja autônoma. Sobre o lugar que as ruínas produzidas pela
Revolução deixaram livre, Napoleão I construiu, “com areia e cal, diz Taine, a
nova sociedade, segundo o plano traçado por J. J. Rousseau. Todas as massas da
grande obra, Código Civil, universidade, Concordata, administração municipal e
centralizada, todos os detalhes da arrumação e da distribuição concorrem para
um efeito de conjunto que é a onipresença do governo, a abolição da iniciativa
local e privada, a supressão da associação voluntária e livre, a dispersão
gradual dos pequenos grupos espontâneos, a interdição preventiva das longas
obras hereditárias, a extinção dos sentimentos pelos quais o homem vive além
dele mesmo, no passado e no futuro. Nessa caserna filosófica – nesse TEMPLO,
dizem os maçons – nós vivemos há oitenta anos”. (“La Révolution”, III,
p. 635) A
grande obra avança, ela terminará tanto melhor quanto sua continuação está nas mãos
da multidão e de seus mandatários, quer dizer, dos cegos e dos irresponsáveis.
O indivíduo recua diante das últimas
conseqüências de seus erros quando ele vê onde eles o conduzem. Um povo
entregue a si mesmo, como é todo povo submisso ao regime republicano, não pode
fazê-lo. São os mais lógicos que se fazem ouvir pelas multidões, sobretudo
quando essa lógica está de acordo com as paixões e promete à massa a posse dos
bens que ela cobiça: são estes que o sufrágio universal leva ao poder. E se os
que chegam primeiro se espantam e não ousam realizar o programa, são
suplantados por outros, e por outros ainda, até que venham aqueles que
resolutamente se entregam ás grandes obras que os princípios condenam. Já vimos
os oportunistas varridos pelos radicais; estes desaparecem diante do
socialistas, e do seio do socialismo se levantam os anarquistas, os niilistas e
os catastrophards”.[vi]
Winter, no seu livro “Le Socialisme
Contemporain”, faz uma observação cujo
bom fundamento ninguém pode negar.
“Retirai Deus e a vida futura, e o homem sem
Deus se acha colocado, com suas paixões, em face da vida mortal, com a
desigualdade das condições e a desigualdade do prazer. Esse homem pedirá o
banquete da vida que suas paixões reclamam. Ele sentirá as barreiras que a
sociedade atual, baseada sobre a fé em Deus e na vida futura, opõe às suas
paixões; ele se irritará contra o obstáculo; e o ódio social, com todos os
ódios que o acompanham, entrará na sua alma”. Em quantos corações esse ódio
ruge atualmente! Ele incita as massas a se precipitarem, tão logo isso possa
ser feito, sobre o que resta da ordem social! E isso por toda a Europa, e não
somente no Velho Mundo, nas Américas e na Oceania; e não somente entre os
miseráveis, mas entre os intelectuais! Basta citar Elisée Reclus na França,
Karl Marx na Alemanha, Bakounine e o príncipe Krapotkine na Rússia, Most nos
Estados Unidos, etc., etc. Todos são concordes em dizer que o dogma da
soberania do povo exige: 1º uma revolução política, que leva ao poder as massas
populares através do sufrágio universal; 2º uma revolução econômica, que
introduzirá a propriedade comum; 3º uma revolução democrática, que suprimirá os
pais e entregará os filhos à República. [vii]
Caminhamos para isso.
Qual o homem inteligente que não se
aterroriza com as ruínas já amontoadas em toda a ordem de coisas, e que,
ouvindo os clamores de súcias prestes a se lançarem sobre o que resta da ordem
social, não levante, na hora atual,
essas terríveis questões:
Os bens que o Criador colocou à disposição
dos homens, mas que o trabalho, a ordem, a temperança, a economia repartiram
entre as famílias, serão ainda amanhã propriedade dos que assim os adquiriram,
ou serão universalmente possuídos pelo Estado, que distribuirá seus frutos
segundo as leis que lhe aprouver fazer?
Amanhã haverá ainda, entre o homem e a
mulher, casamento, quer dizer, contrato passado sob o olhar de Deus e por Ele
sancionado, união sagrada e indissolúvel? Haverá ainda a família com a
possibilidade de transmitir a seus filhos não somente seu sangue, mas sua alma
e seus bens?
Amanhã, que será da França? No que se
transformará a Europa? Reduzida a estado de poeira pela democracia não será ela
uma presa fácil para a franco-maçonaria internacional e judaica que caminha
para a conquista do mundo, e já calcula o número de anos ainda necessários para
fazer de todos os Estados uma República universal?
Eis o que está sendo preparado pelo movimento
das idéias e dos fatos que povoam os espíritos
dos quais somos testemunhas.
Se o curso das coisas atuais não tivesse suas
fontes no passado longínquo, poderíamos apavorar-nos menos, acreditar que não
há em tudo isso senão fatos acidentais. Mas não é assim. O estado atual,
repleto do futuro que acabamos de descrever, é o produto natural de uma idéia,
lançada como um grão sobre nosso solo há cinco séculos. Ela germinou. Vimos
seus primeiros rebentos sair da terra; eles foram cultivados secreta e
cuidadosamente por uma sociedade que, já por várias vezes, serviu ao mundo seus
frutos prematuramente colhidos; hoje ela os vê chegar à maturação: frutos de
morte que carregam a corrupção para os próprios fundamentos da ordem social.
A França revolucionária recebeu do Poder das
Trevas a missão de manifestar ao mundo aquilo que a Renascença concebeu, aquilo
que a franco-maçonaria criou. Parece que se quis simbolizá-lo nas moedas. Essa
mulher desgrenhada, com o barrete frígio à cabeça, que, sob os auspícios da
República, lança a todos os ventos os grãos da liberdade, da igualdade e da
fraternidade, sob os raios de um sol levante chamado para aclarar o mundo com
um dia novo, bem representa a maçonaria que confia a todos os sopros da opinião
as idéias que preparam os espíritos para a aceitação da nova ordem, ordem que
há tanto tempo ela projeta estabelecer no mundo.
(Tradução extraída da obra “La Conjuration Antichrétienne – Le Temple
Maçonique voulant s’élever sur les ruines de l’Église Catholique” – Mons. Henri
Delassus – tomo 2 págs. 551/564)
Dados
sobre os principais personagens acima citados:
Jean-Jacques Rousseau, ou, J. J. Rousseau,
principal filósofo da Revolução Francesa, é autor do ensaio “Contrato Social”,
obra que até hoje serve de base para constituições políticas de vários países
republicanos.
Taine, ou Hippolyte
Adolphe Taine,
escritor francês, expoente do positivismo no século XIX; crítico e historiador,
tem várias obras ditas filosóficas em que analisa o processo revolucionário e
histórico, dentre outras a série Les Origines de
la France contemporaine.
Jules Ferry, jornalista e político
francês do século XIX, maçom e republicano,
positivista (seguidor de Comte) e anticlerical, chegou a ser ministro da
educação, ocasião em que laicizou o ensino na França. Perseguiu a Igreja
conseguindo dissolver a Companhia de Jesus.
Danton – Georges
Jacques Danton, advogado,
político revolucionário fanático, foi um dos principais instigadores das turbas
que agitaram Paris a partir de 1789.
Adam Weishaupt , racionalista e iluminista alemão, jurista, é
considerado o fundador da seita secreta gnóstica chamada “Iluminati”. Foi
iniciado na loja maçônica “Theodor zum guten Rath”, de Munique. Seu projeto
previa que os “Iluminati” clareassem a compreensão pelo sol da razão, assim
dissipando as nuvens da superstição e do preconceito.
Jean-Bom-Saint-André, político
revolucionário de 1789 na França; era jesuíta, mas tornou-se protestante e
chegou a ser pastor. Teve várias atuações revolucionárias, ora moderadas, ora
avançadas, recebendo missões até no exterior, já no tempo de Napoleão.
Piotr Alexeyevich Kropotkin, nasceu príncipe,
mas rejeitou o título de nobreza, escritor e geógrafo, foi um dos criadores do
anarquismo (em 1868), juntamente com Bakunin, daí surgindo, também, o
anarco-comunismo.
Mikhail
Aleksandrovitch Bakunin, teórico político, acompanhou Kropotkin como um dos
principais expoentes do anarquismo. A tese era de um comunismo mais avançado do
que a ditadura do proletariado, com a total ausência de governo.
NOTAS:
[i] É
de se notar que a franco-maçonaria não mais hesita em se declarar socialista e
mesmo coletivista. O I:. Bonnardot, que foi nomeado, em 1901, Grâo-Mestre da
Grande Loja da França, propôs ao Congresso das Lojas do Centro, realizado em
Cien, em 1894, em nome da 3ª Comissão, fosse proclamado o princípio da
propriedade coletiva. Seu relatório foi submetido à consideração da Convenção
do esmo ano. A maior parte das lojas parisienses tornou-se
socialista-reformista. A grande maioria das lojas dos Departamentos
seguiram-nas; um certo número já é coletivista. O próximo programa de ação da
franco-maçonaria, para nos cingirmos apenas á loja La Fidélité de Lille, foi
assim definido por seu orador, em 8 de julho de 1900:”Combatemos todas as
idéias teológicas; há ainda um deus a combater, o deus capital”. (Ver a petição
contra a franco-maçonaria, na 11ª Comissão de Petições da Câmara dos Deputados,
PP. 51 e 75).
[ii] “As
crianças do sexo masculino são educadas, dos cinco aos dezesseis anos, pela
pátria. São vestidas em todas as estações. Deitam sobre esteiras e dormem oito
horas. São alimentadas em comum com raízes, frutas, laticínios, pão e água. Não
comem carne antes de dezesseis anos completos. Dos dez aos dezesseis anos sua
educação é militar e agrícola. São distribuídas em companhias de sessenta, etc.
Todas as crianças conservarão o mesmo traje até os dezesseis anos; dos
dezesseis aos vinte e um, terão traje de operário; de vinte e um a vinte e
seis, traje de soldado, se não forem magistrados”. (Projeto de lei segundo as
instruções de Saint-Just).
Em 12 de abril de
1903, no Congresso das Lojas da África do Norte (Argélia), os II:.
Collin e Marchetti exprimiram este desejo:
“Que um dispositivo, assim concebido, seja
acrescentado ao Código Civil: Proibições formais serão feitas aos pais
ascendentes ou que tenham quaisquer direitos, de dar ou ensinar a seus filhos,
pupilos ou descendentes uma religião, qualquer que seja, SOB PENA DE
DESTITUIÇÃO DO PÁTRIO PODER e de poder legal. E que em caso de infração, devidamente
verificada, os filhos, pupilos ou descendentes, sejam retirados ou confiados ao
Estado, às custas dos pais ou ascendentes”.
No ano precedente, na Convenção de Paris, uma loja da
França, a Themis, tinha emitido um desejo pouca coisa diferente:
“Quando uma criança, de oito anos completos ou mais,
não estiver freqüentando a escola, os pais e pessoas responsáveis poderão ser
destituídos do pátrio poder”.
Condorcet foi o primeiro a oferecer à Assembléia
Legilativa, em 1792, um plano de educação nacional. Sob a Convenção outros em
grande número o seguiram. Os mais conhecidos são os planos de Saint-Just,
Lakamal, Michel Lepelletier, este acolhido e apresentado à Convenção por
Robespierre. Meninos e meninas deviam ser educados em comum até a idade de onze
e doze anos, às expensas da República, sob a Santa lei da igualdade.
[iii] J. J. Rousseau, citado por Taine, L’ancien Régime, p. 324.
[iv] Hierofante é o termo usado para designar os sacerdotes da alta hierarquia dos mistérios da Grécia e do Egito. É o sacerdote supremo, que pode ser chamado também de Sumo Sacerdote.
[v] A
felicidade a que o iluminismo deve fazer chegar a humanidade está assim exposta
nesse mesmo discurso: “A fonte das paixões é pura; é necessário que cada qual
possa satisfazer as suas nos limites da virtude e que nossa ordem forneça os
meios para isso”. A virtude! A felicidade da humanidade! Basta que a seita abra
a boca para que dela logo saiam a hipocrisia e a mentira.
[vi] “Catastrophards”
é o nome que a si mesmo deram, perante o Tribunal de Sena, aqueles que fizeram
a revolta de 2 de março de 1901.
[vii] Em
outubro de 1882 inaugurou-se um grupo escolar em Ivry-Sur-Seine. Entre os
assistentes “oficiais” contava-se grande número de representantes das lojas
maçônicas. O I:. C. Dreyfus pronunciou a alocução; nela encontramos estas
palavras:”É a franco-maçonaria que prepara as soluções que a democracia faz
triunfar. Assim como nossos gloriosos ancestrais de 1789 inventaram a igualdade
civil dos homens perante a lei (sabemos como ela é praticada), assim como
nossos antecessores de 1848 realizaram a igualdade política dos cidadãos
perante a urna do sufrágio universal, assim a maçonaria deve preparar, para o
fim do século XIX, a igualdade social, que restabelecerá o equilíbrio de forças
econômicas e trará de volta a união e a concórdia para o seio de nossa
sociedade dividida”. (Citado pelo “Le Monde” de 4 de outubro de 1882). Estamos, pois, na Revolução econômica; a
democrática, que deve segui-la e que entregará as crianças, de corpo e alma, à
República, está bem avançada.
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