(Cometários de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira sobre a Santíssima Virgem Maria)
Ocorreu-me a idéia de fazer um “Ambientes,
Costumes e Civilizações”, procurando exprimir os imponderáveis existentes no
quadro de Madonna Del Miracolo, ou
Nossa Senhora do Milagre.
A figura é muito semelhante à de Nossa
Senhora das Graças, um pouco alterada.
Maria Santíssima está vestida como se
trajavam as senhoras no tempo de sua existência terrena: uma túnica grande e
uma capa. Esta é azul-celeste, a cor de Nossa Senhora; a túnica é de um
discreto rosado, enquanto que nas imagens de Nossa Senhora das Graças costuma
ser branca. Ela está com a fronte encimada por uma coroa, o que as imagens de
Nossa Senhora das Graças geralmente não têm. Um círculo de doze estrelas serve
a Ela de resplendor. É uma alusão à aparição de Nossa Senhora no Apocalipse.
Como se pode notar, Ela não está esmagando a cabeça da serpente. Das suas mãos
partem raios em abundância, que significam as graças por Ela concedidas.
Misto de grandeza e
misericórdia
Sua fisionomia é discretamente sorridente.
Maria Santíssima não está propriamente sorrindo, mas olhando para a pessoa que
está ajoelhada diante d’Ela, de um modo muito afável, acolhedor, com uma enorme
vontade de atender o pedido, de ajudar. Mas, ao mesmo tempo – e as coisas se
completam bem – Ela é muito régia, não só por causa da coroa, mas ainda que se
Lhe tirassem a coroa. Notem o porte d’Ela. Tem-se a impressão de que é uma
pessoa alta, esguia, muito bem proporcionada, e qualquer coisa de imponderável
da consciência de sua própria dignidade aí transparece. Quer dizer, percebe-se
que é uma Rainha, muito menos pela coroa do que pelo seu todo; enfim, pelo
misto de grandeza e de misericórdia que d’Ela emanam.
Efeito apaziguador
Parece-me que o elemento mais tocante dessa
imagem é algo de inexprimível, que, à primeira vista, não encontra sua
explicação em nenhum elemento concreto do quadro. Não só por causa do sorriso,
mas é um todo que vou tentar depois explicar; essa imagem trás consigo qualquer
coisa de apaziguador. Quem olha para essa estampa tende a ficar apaziguado, sereno,
tranqüilizado, como quem tem as suas más paixões em agitação acalmadas, suas
angústias favorecidas por uma distensão, por certa calma, como se ouvisse: “Meu
filho, Eu dou jeito em tudo, Eu arranjo tudo, não se impressione,, haverá um
modo. Eu estou aqui ouvindo-o; você precisa de tudo, mas Eu posso tudo, e o meu
desejo é de lhe dar tudo. Portanto, não tenha dúvida, espere mais um pouco. Mas
superabundantemente você terá o que Eu
quero”.
Acima de tudo, a imagem – a meu ver, este é
seu elemento mais apaziguador e encantador – tem qualquer coisa indicando que
Nossa Senhora Se oferece à pessoa que está diante d’Ela, dizendo-lhe: “Meu
filho, Eu sou toda sua, você pode pedir o que quiser. Eu para você não tenho
reservas, recuos, recusas e nem recriminações pelos seus pecados. Eu o estou
olhando num estado de alma, numa disposição de ânimo, por onde você de Mim
consegue tudo o que você pedir e muito mais ainda”.
A estampa deixa isso tudo em certo mistério;
mas um mistério suave, diáfano, mais ou menos como o de um dia com céu muito
azul em que se pergunta o que haverá para além do azul; não é um mistério
carregado, de um dia nublado, onde se indaga o que existirá por detrás das
nuvens. Maria Santíssima como que diz o seguinte: “Se você conhecesse o dom de
Deus, se soubesse quanta coisa Eu tenho para lhe dar, e que maravilhas há em
Mim... Eu transbordo do desejo de lhas conceder. Como você compreenderia bem o
que Eu sou se quisesse abrir os olhos para essas maravilhas!”
Esse apaziguamento que Ela comunica é uma espécie
de primeiro passo para a pessoa que queira se deixar maravilhar. Recebendo esta
misteriosa ação da graça, ela começa a admirar e perguntar o que a imagem está
exprimindo.
Felicidade da pureza
e da despretensão
Ela exprime uma excelsa impressão de pureza
que quase ofusca, mas não de um ofuscamento que machuca. É tanta pureza que, no
início, nem nos lembramos bem de pensar nesta virtude; de tal maneira é pura
que, por assim dizer, transcende a pureza.
Contemplando essa estampa, a pessoa não só
admira essa pureza, mas ela lhe comunica algo do prazer de ser pura. Muitos têm
a ilusão de que a felicidade está na impureza; essa imagem faz com que se
compreenda a inefável felicidade que a pureza dá, perto da qual toda felicidade
da impureza é lixo, tormento, aflição. Nossa Senhora está inundada de
felicidade, a qual é inseparável de sua pureza.
Outra coisa é a humildade. Maria Santíssima
está aqui como Rainha, mas em sua atitude Ela faz abstração de toda a sua
superioridade sobre a pessoa que reza diante d’Ela. E trata-a como se fosse,
não digo de igual a igual, mas uma pessoa que tem proporção com Ela; quando
nenhum de nós, e nenhum santo, tem proporção com Ela. Nossa Senhora é
completamente fora de proporção em relação a todo mundo; entretanto Ela se coloca
assim tão acessível!
Além disso, percebe-se que se Lhe aparecesse
Nosso Senhor Jesus Cristo, Ela está toda feita para se ajoelhar e adorar. Nada
existe n’Ela que contenha uma repulsa a reconhecer o que é mais alto. Pelo
contrário, uma alegria: “Que maravilha! Apareceu quem é mais do que eu.”
Compreende-se, então, o modo elevadíssimo de Maria Santíssima olhar para Aquele
que é Filho d’Ela e, ao mesmo tempo, infinitamente mais do que Ela.
Debaixo desse ponto de vista, n’Ela há, entre
outros traços, uma comunicação do prazer da humildade, da despretensão.
Vemos, então, de um lado, a felicidade
inefável da despretensão. E de outro, a felicidade inefável da pureza.
Maria Santíssima e a
Contra-Revolução
Diante de um mundo que o demônio vai
arrastando para o mal, pelo prazer da impureza e do orgulho, Nossa Senhora nos
comunica o gosto pela despretensão e pureza, como que dizendo suavíssimamente,
sem pito nem recriminação: “Meu filho você não se lembra dos tempos primitivos
de sua inocência? Não se lembra de como você era antes de ter pecado? De como
havia coisas boas em você? Olhe para Mim, abra sua alma, Eu restauro tudo isso.
Venha! No caminho que conduz a Mim só existe perdão, bondade e atração. Venha
logo!”
Não é difícil estabelecer uma relação entre
esses dois traços e a Contra-Revolução. Maria Santíssima está aqui
representada, não no seu aspecto belicoso, esmagando a cabeça da serpente, mas
no seu lado materno, enquanto Ela procura tirar, pelo sorriso, das garras da
Revolução aqueles que esta vai vitimando. E dessa maneira fazendo uma altíssima
obra de Contra-Revolução.
Um espírito que se deixa influenciar por essa
imagem fica sumamente propício à admiração, a admitir a hierarquia das coisas
mais altas sobre ele; e a querer, pela sua própria dignidade, que todas as
coisas abaixo dele também estejam em hierarquia. É uma coisa inteiramente
evidente; entra pelos olhos.
Debaixo desse ponto de vista, sem querer
dizer que esta imagem seja a de Nossa
Senhora da Contra-Revolução, porque seria forçar a nota, poderíamos afirmar,
entretanto, que, para quem luta pela Contra-Revolução, o quadro é de uma
altíssima expressão quanto a um dos aspectos da Mãe de Deus, na sua permanente
Contra-Revolução, até chegar o fim do mundo.
(Extraído
de conferência de 20/01/1976)
Transcrito
da revista “Dr. Plínio”, edição 159, de junho de 2011, pp14/16
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