segunda-feira, 28 de novembro de 2016

O PAPEL DA MULHER NA FORMAÇÃO DAS ELITES



Não somente como esposas, mas como mães exemplares, temos inumeráveis exemplos de mulheres que se destacaram e deram o tom na formação da elite de seu tempo. Santa Mônica e Santa Helena, além de muitas outras, deram a nota cristã ainda no começo do Cristianismo. Mas, estabelecida a Igreja sobre fortes alicerces, principalmente na Idade Média, cresceu de importância a atuação da esposa e mãe cristãs na formação da elite católica. Também podemos citar as grandes rainhas santas, Isabel de Portugal e Isabel da Hungria.
Algumas delas se destacaram pela sua atuação silenciosa dentro do lar e outras ao lado de grandes homens. E isto não se deu somente no império da Civilização Cristã mas até no decadente século XX. Um exemplo foi a esposa de Winston Churchill. É desta forma que Dr. Plínio Corrêa de Oliveira comenta sobre a personalidade de Lady Clementine Churchill:
“Conversando certa vez sobre Churchill com o arquiduque Otto de Habsburg, dele ouvi um lúcido comentário. Está na ordem das coisas – dizia ele – e até entre os vegetais, que de vez em quando apareçam, nesta ou naquela variedade, espécimes gigantescos. São fenômenos da natureza. Churchill foi um deles. Ora – e sou eu que passo agora a comentar novamente – se fica  bem  a um homem ser um gigantesco fenômeno da natureza, é difícil para uma mulher sê-lo também. O gigantismo não é compatível com o charme feminino.
“Quando, pois, me pus a analisar com curiosidade a foto da esposa do “fenômeno da natureza”, perguntava-me se e como ela estava à altura do grande estadista. E bem antes de concluída, minha análise se transformara numa indiscutível admiração.
“Grande de rosto e de porte, com um não-sei-que de nobremente aquilino no olhar e no perfil, Lady Churchill reunia entretanto todas as graças genuinamente femininas. Sua educação aristocrática lhe comunicara um charme evidente. Sua imponência coexistia elegantemente com uma afabilidade atraente. Apesar de vistosa, era sumamente discreta. E sabia ser inteligente sem em nada disputar a seu brilhante esposo os olhares do público. No equilíbrio de tantas qualidades quase opostas, tudo era “degagé” e nada era “recherché”.
“Nos quadros representando certos grandes homens do passado, os pintores se compraziam em realçar o personagem colocando perto dele, em segundo plano, alguma coluna com um belo jarro de flores. Ou alguma nobre cortina. Tal foi Lady Clementine Churchill: o fundo de quadro magnífico que realçava um esposo tão notável que parecia nada haver que o pudesse realçar.
“Na semana que finda, li portanto com emoção a notícia de que falecera a baronesa Churchill (Elisabeth II lhe concedera este título após a morte do esposo).
“Não posso ocultar, porém, que a essa emoção se associou um espanto rapidamente transformado em indignação.
“”A “Folha de São Paulo”  foi o jornal de nossa cidade que mais dados publicou sobre a vida de Lady Churchill. Realçou-lhe a perfeita união com o esposo, a íntima cooperação até na obra intelectual deste, e acabou por revelar que essa grande dama terminara sua vida na penúria, obrigada, para saldar seus modestos gastos, a vender até quadros pintados pelo falecido “premier”.
“”Assim é o Estado moderno. No início do século XVIII, Jonh Churchill ganhou para a Inglaterra várias batalhas. Por isto, foi elevado a Duque de Malbourough e dotado com os abundantes recursos que lhe permitiram construir o magnífico castelo de Blenheim, mansão até hoje de um de seus descendentes. No século XX, a glória de Jonh Churchill foi superada por um inglês da estirpe dele, isto é, por Winston, que não fez nada mais nada menos do que salvar a Inglaterra. E sua esposa morre na penúria!”


(artigo publicado na “Folha de São Paulo”, 19/12/1977)


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