Não somente como esposas, mas como mães
exemplares, temos inumeráveis exemplos de mulheres que se destacaram e deram o
tom na formação da elite de seu tempo. Santa Mônica e Santa Helena, além de
muitas outras, deram a nota cristã ainda no começo do Cristianismo. Mas,
estabelecida a Igreja sobre fortes alicerces, principalmente na Idade Média,
cresceu de importância a atuação da esposa e mãe cristãs na formação da elite
católica. Também podemos citar as grandes rainhas santas, Isabel de Portugal e
Isabel da Hungria.
Algumas delas se destacaram pela sua
atuação silenciosa dentro do lar e outras ao lado de grandes homens. E isto não
se deu somente no império da Civilização Cristã mas até no decadente século XX.
Um exemplo foi a esposa de Winston Churchill. É desta forma que Dr. Plínio
Corrêa de Oliveira comenta sobre a personalidade de Lady Clementine Churchill:
“Conversando
certa vez sobre Churchill com o arquiduque Otto de Habsburg, dele ouvi um
lúcido comentário. Está na ordem das coisas – dizia ele – e até entre os
vegetais, que de vez em quando apareçam, nesta ou naquela variedade, espécimes
gigantescos. São fenômenos da natureza. Churchill foi um deles. Ora – e sou eu
que passo agora a comentar novamente – se fica
bem a um homem ser um gigantesco
fenômeno da natureza, é difícil para uma mulher sê-lo também. O gigantismo não
é compatível com o charme feminino.
“Quando,
pois, me pus a analisar com curiosidade a foto da esposa do “fenômeno da
natureza”, perguntava-me se e como ela estava à altura do grande estadista. E
bem antes de concluída, minha análise se transformara numa indiscutível
admiração.
“Grande
de rosto e de porte, com um não-sei-que de nobremente aquilino no olhar e no
perfil, Lady Churchill reunia entretanto todas as graças genuinamente
femininas. Sua educação aristocrática lhe comunicara um charme evidente. Sua
imponência coexistia elegantemente com uma afabilidade atraente. Apesar de vistosa,
era sumamente discreta. E sabia ser inteligente sem em nada disputar a seu
brilhante esposo os olhares do público. No equilíbrio de tantas qualidades
quase opostas, tudo era “degagé” e nada era “recherché”.
“Nos
quadros representando certos grandes homens do passado, os pintores se
compraziam em realçar o personagem colocando perto dele, em segundo plano,
alguma coluna com um belo jarro de flores. Ou alguma nobre cortina. Tal foi
Lady Clementine Churchill: o fundo de quadro magnífico que realçava um esposo
tão notável que parecia nada haver que o pudesse realçar.
“Na
semana que finda, li portanto com emoção a notícia de que falecera a baronesa
Churchill (Elisabeth II lhe concedera este título após a morte do esposo).
“Não
posso ocultar, porém, que a essa emoção se associou um espanto rapidamente
transformado em indignação.
“”A
“Folha de São Paulo” foi o jornal de
nossa cidade que mais dados publicou sobre a vida de Lady Churchill.
Realçou-lhe a perfeita união com o esposo, a íntima cooperação até na obra
intelectual deste, e acabou por revelar que essa grande dama terminara sua vida
na penúria, obrigada, para saldar seus modestos gastos, a vender até quadros
pintados pelo falecido “premier”.
“”Assim
é o Estado moderno. No início do século XVIII, Jonh Churchill ganhou para a
Inglaterra várias batalhas. Por isto, foi elevado a Duque de Malbourough e
dotado com os abundantes recursos que lhe permitiram construir o magnífico
castelo de Blenheim, mansão até hoje de um de seus descendentes. No século XX,
a glória de Jonh Churchill foi superada por um inglês da estirpe dele, isto é,
por Winston, que não fez nada mais nada menos do que salvar a Inglaterra. E sua
esposa morre na penúria!”
(artigo publicado na “Folha de São Paulo”, 19/12/1977)
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