O que significa não lutar a sós?
A necessidade de uma ajuda sobrenatural
Temos em nosso auxílio uma proteção
sobrenatural, sobre-humana, que é a proteção de Nossa Senhora.
A Ela foi dado conhecer a alma de cada homem
de uma forma que ninguém jamais conheceu. A Santíssima Virgem vê até o mais
íntimo da alma de cada um de nós, com tal amor, bondade e desejo de ajudar, que
isso A levou a consentir nos padecimentos pelos quais seu Divino Filho passou.
Como Nosso Senhor era filho de Nossa Senhora
e do Divino Espírito Santo, o Padre Eterno pediu o consentimento d’Ela para a
consumação da Paixão de seu Divino Filho. O Padre Eterno não quis fazer algo
sem atender ao consentimento d’Ela.
A pergunta feita por Ele a Nossa Senhora
possivelmente foi a seguinte:
“Esse Filho, a quem quereis tanto e que é
Filho do próprio Espírito Santo, vai ser morto para a salvação de todo o gênero
humano. Vós quereis entregá-Lo para a salvação da humanidade? Se quiserdes, Ele
sofrerá como nunca ninguém antes, nem depois d’Ele, terá jamais sofrido. Uma
enormidade de tormentos e de aflições se abaterá sobre Ele. Mas se Vós
quiserdes, Ele não passará por essas dores, mas os homens não se salvarão e
irão para o Inferno. Quereis?”
E Ela respondeu: “Quero!”
Respondeu tendo em vista cada homem, seus
pecados e ingratidões.
Para que fôssemos limpos de nossos pecados e resgatados da culpa original, o Filho d’Ela padeceu enormes tormentos, também para que tivéssemos a força necessária para nossa “batalha” no decorrer da vida.
Sempre que pedirmos a proteção d’Ela, obteremos
Nunca nos faltarão as forças, pois sempre que
peçamos a proteção d’Ela, obteremos.
É preciso pedir, pois é insuficiente cobrar a
Deus: “Vós prometestes que a tentação nunca seria maior do que as forças para
combatê-la, porém agora eu não tenho forças”. A resposta de Deus será:
“Esforce-se apenas um pouco que o resto virá.”
Além de esforçar-se é preciso pedir forças a
Nossa Senhora.
Portanto, é preciso ter em relação a Ela uma
devoção comparável à de São Luís Grignion de Montfort, compreendendo que Ela é
medianeira de todas as graças, e todos os pedidos feitos ao Padre Eterno Lhe
são agradáveis quando feitos por meio da Santíssima Virgem.
Quando Deus atende a um pedido feito por
qualquer homem, Ele o faz através de Nossa Senhora, porque o pedido foi
endossado e feito por Ela. Esta é a causa pela qual somos atendidos.
Há uma oração lindíssima – a qual recomendo rezarem – que recorda o desvelo e a mediação de Nossa Senhora para com todos os homens: é o Memorare (Lembrai-vos).
A lindíssima oração
do Memorare
“Lembrai-Vos,
ó piíssima Virgem Maria...”
Cada palavra tem sua aplicação. O que quer
dizer, “piíssima”? Piedosa, tem como superlativo piedosíssima. Mas resume-se
dizendo “piíssima”. “Piedosa”, neste caso, não quer dizer rezar muito, mas sim,
largamente piedade e compaixão dos outros. Poder-se-ia dizer: “Lembrai-Vos, ó
compassivíssima Virgem Maria”, que tem muita compaixão, que perdoa muito.
“...que
nunca se ouviu dizer...”
A oração começa por essa afirmação, “nunca se
ouviu dizer”, ou seja, em nenhum tempo ou lugar, em toda a Terra, alguém, tendo
pedido alguma coisa a Ela, foi desamparado.
“...que
tendo alguém recorrido à vossa proteção, implorado a vossa assistência,
reclamado o vosso socorro, fosse por Vós desamparado...”
Ou seja, “quem, pedindo vossa proteção,
implorando que Vós o acompanheis, ,que olheis para ele, que o sigais, Vós
sempre atendeis. Lembrai-Vos disso no meu caso, para que não seja eu a primeira
exceção na história de vossa glória”. É uma linda proclamação. Em nenhuma época
do mundo a Virgem Maria deixou de atender àqueles que pedem a Ela, em nenhum
caso, em nenhuma circunstância.
Se alguém tem a infelicidade de pecar, ou de
possuir um vício, ou uma atitude moral – ou imoral – que se repete, não há
problema: basta rezar e pedir, porque Nossa Senhora acabará tendo pena.
“Animado
eu, pois, com tal confiança, a Vós, ó Virgem entre todas singular...”
Quer dizer: “Vós sois mais Virgem do que
todas as virgens, sois a Santa Virgem das virgens”. Pois Ela está para as
virgens como as virgens estão para as que não são virgens. Nenhuma virgem do
mundo teve a virgindade d’Aquela que foi virgem, antes, durante e depois do
parto.
Como pôde Nosso Senhor ter nascido sem violar
a virgindade de sua Mãe?
É um mistério que a Onipotência de Deus pode
fazer facilmente.
“...como
Mãe recorro e de Vós me valho...”
É como dizer: “Eu me dirijo a Vós como a
minha mãe”.
Há algo emocionante, que não raras vezes se
dá: os feridos no campo de batalha durante uma guerra padecem, muitas vezes,
durante horas e horas, com dores, sangrando, sentindo fome, sede e cansaço.
Ficam abandonados. Naturalmente, nesse apuro eles gritam. A maior parte dos
gritos é pela mãe! São homens ás vezes
que perderam a mãe quando eram pequeninos, porém, na da morte, é pela mãe que
eles bradam.
Ninguém é capaz de amar tanto a alguém,
quanto uma boa mãe ama o seu filho.
Mesmo sendo o último dos homens, não há
problema, pois Nossa Senhora é a mais alta e a mais excelsa de todas as mães. A
compaixão d’Ela vale mais do que os castigos merecidos por nossos pecados. Se
nossos pecados são um abismo, a compaixão de Nossa Senhora é uma montanha muito
maior do que esse abismo.
“...e
gemendo sob o peso dos meus pecados, me prostro aos vossos pés...”
O Memorare é, por definição, a oração de um
pecador. Por isso a oração termina dizendo: “...gemendo sob o peso de meus
pecados me prostro a vossos pés”. É um pecador que está gemendo sob o peso de
seus pecados, mas posto aos pés da Virgem Santíssima. Portanto, se temos a
desgraça de estar em pecado, não deixemos de rezar essa oração com confiança,
porque é a oração do pecador: “E gemendo sob o peso dos meus pecados me prostro
aos vossos pés”.
“Não
desprezeis as minhas súplicas, ó Mãe do Verbo de Deus humanado...
O coração da mãe está sempre aberto para
perdoar e afagar o filho.
“Minha Mãe – Vós sois a Mãe de Jesus Cristo,
o Verbo que se fez homem, mas a minha também -, não desprezeis as minhas
súplicas. Elas bem podem ser desprezadas, pois são súplicas, por si mesmas, inválidas.
Porém, não as desprezeis, porque sou vosso filho e um filho pode pedir isso a
sua mãe.”
“...mas
dignai-Vos de as ouvir propícia...”
Tem-se a impressão de que Nossa Senhora vai
se inclinar bondosamente e ouvir a oração.
“...e
alcançar o que Vos rogo. Assim seja.”
O que se está pedindo? Pode ser a emenda de
um defeito, de um vício, a aquisição de uma virtude. Tomando em consideração
tudo quanto a Igreja ensina sobre Nossa Senhora, temos todos os motivos para
crer que Ela vai obter o que rogamos. Devemos pedir tudo à Santíssima Virgem
com muito empenho e ardor, mas, sobretudo algo que sobremaneira A agrada: a
graça de sermos bons.
O que Ela quer de nós é que estejamos na graça de Deus e cheguemos ao Céu. Pedir forças para nossa salvação é pedir aquilo que as santas mãos de Maria estão transbordando para nos conceder.
Nossa Senhora é a Onipotência Suplicante
Pelo que foi dito sobre Nossa Senhora,
conclui-se que a devoção a Ela é de suma importância. Se Deus é tão perfeito,
tão supremo, e nós, homens, tão insignificantes, caso não houvesse uma ligação
entre Deus e os homens - que é Nossa Senhora – Ele não nos ouviria. A Justiça,
a Pureza, a Santidade d’Ele, postas em contato com as misérias humanas, Lhe
causariam horror.
Mas Ele mesmo, com suma bondade, criou
vínculos que nos atariam a Ele. Encarnando-se no claustro virginal de Maria
Santíssima, Ele se fez homem. Sendo Nossa Senhora Mãe espiritual de todos os
homens, pedindo a Ele por nós, Ela assemelha-se a uma mãe que pede a um irmão,
em benefício do outro. O irmão não pode resistir. Desta forma, Nossa Senhora é
chamada pelos teólogos “Onipotência suplicante”.
Ela suplica. Porém, sendo sua oração sempre
atendida, ao mesmo tempo em que suplica, é onipotente.
É notório que Ela atende ao que pedimos. Desta forma, nós, que não merecíamos ser ouvidos por Deus em nossos pedidos, por causa d’Ela acabamos por merecer.
Mãe de compaixão sem limites
Torna-se muito clara a doutrina acima
exposta, tomando-se em consideração, por exemplo, uma mãe que tenha dois filhos:
um filho juiz e um criminoso. Se coubesse ao filho juiz julgar o que é
criminoso, a boa mãe certamente se dirigiria ao juiz e diria: “Meu filho, sei
que tu és juiz a ti cabe aplicar a justiça. Os defeitos deste teu irmão são
tais que merecem a pena de morte. Entretanto, em justiça – tu, juiz, me deves a
vida – poupai a vida deste meu filho que merece a morte, por pedido daquela que
te deu a vida.”
A maior das prerrogativas de Nossa Senhora é
ser Mãe de Deus. Tudo aquilo que um filho possa dar à sua mãe, Deus deu a Ela.
O valor da súplica de Nossa Senhora é tão
grande que os teólogos afirmam: todas as orações de todas as criaturas devem
passar por Nossa Senhora, caso contrário, não chegam a Deus. De modo que –
dizem eles – se todos os anjos e santos do Céu pedissem algo a Deus sem ser por
intermédio d’Ela, não seriam atendidos. Entretanto, Nossa Senhora, pedindo
sozinha, é atendida.
Essa é a Mãe de uma doçura sem nome e uma compaixão sem limites. Uma mãe que tem tanta pena de seus filhos que, na hora de um filho ruim ser julgado, obtém para ele a salvação.
Aos pés da cruz, intercedendo pelo bom ladrão
É célebre a tocante passagem do Evangelho na
qual Nosso Senhor crucificado está entre dois ladrões. Estes últimos
conversavam entre si, e o mau ladrão blasfemava contra Nosso Senhor.
O bom ladrão replicou: “Nós merecemos o
castigo que estamos sofrendo e por isso vamos morrer. Mas Este é um justo e não
merece tal suplício. Por isso, não fales mal d’Ele.”
Pediu a Deus perdão pelos pecados que
cometeu.
Jesus disse a ele: “Tu, hoje, comigo estarás
no Paraíso”.
Foi a primeira canonização da História! “Hodie mecum cris in Paradiso”.
Nossa Senhora estava aos pés da cruz.
Certamente Ela estava rezando pelos ladrões. Nosso Senhor, do alto da cruz,
recebeu essa oração e deu graças extraordinárias a ambos. Um deles, por ser
ruim as rejeitou; o outro, porém, correspondeu a elas e pediu perdão. A graça
da conversão que o bom ladrão recebeu foi tão abundante que Nosso Senhor, ao
descer para o limbo a fim de levar para o Céu as almas dos justos que lá se
encontravam, levou também a alma dele.
Eu julgo que, se não fosse a oração de Nossa
Senhora, nada teria acontecido.
Assim é possível compreender a importância da
devoção a Nossa Senhora. Tal devoção é leve, cheia de esperança, de perdão e de
afeto materno; constitui a alegria de nossas almas. Sem a devoção a Nossa
Senhora, nossa vida de católico seria soturna.
(Plinio Corrêa de Oliveira - Extraído da revista “Dr. Plínio”, de setembro
de 2009, págs. 7/15. - Conferências
de 21/9/2001 e 3/3/1992)
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