domingo, 15 de janeiro de 2023

SOBRE A CASTIDADE MATRIMONIAL - VI

 


Exemplos de mães que cumpriram seu papel na formação moral familiar em busca da santidade

 Santa Mônica, a mãe do grande Santo Agostinho, teve importante papel na conversão do mesmo.  Conta santo Afonso de Ligório: "Santo Agostinho nos ensina que sua mãe, Santa Mônica, vivia em paz com seu marido, apesar de ele ser de um caráter difícil e irascível. Suas vizinhas, em cujas casas reinava frequentemente a discórdia, lhe perguntaram um dia como ela fazia para conservar a paz de que gozava. A Santa lhes respondeu: "Os desagrados que sentis de parte de vossos maridos, estai persuadidas de que não são tanto causados pelos defeitos deles, mas pelos vossos: replicando-lhes, vós amargurareis o humor deles, e caireis assim continuamente na confusão. Quando vejo meu marido de mau humor, não digo nada, suporto-o pacientemente, e rezo a Deus por ele; deste modo, vivo em paz. Fazei assim, e vivereis também vós em paz".

Mais recentemente, São João Batista Vianey, o Cura d'Ars, quando era felicitado por causa de seu prematuro gosto pela piedade, dizia: "Depois de Deus, isto é obra de minha mãe. Como era prudente! A virtude passa facilmente do coração das mães para o coração dos filhos...  Jamais um filho que tem a felicidade de ter uma boa mãe deveria olhá-la ou pensar nela sem chorar". A mãe dele, enquanto se ocupava dos afazeres do lar, instruía seu pequeno filho por meio de palavras simples, com frases infantis. Foi assim que ela lhe ensinou, com o Pater e a Ave Maria, as noções elementares sobre Deus e sobre a alma. Quando iam à Missa, ela ficava ajoelhada no banquinho da família e explicava ao filho os diversos movimentos do Padre. O menino rapidamente tomou gosto pelas cerimônias santas. 

"Mamma Margherita", cujo nome era Margherita Occhiena foi outra mãe que formou de forma extraordinária seu filho, São João Bosco. Margherita Occhiena nasceu em Capriglio, (Asti, norte da Itália), a 1 de abril de 1788. Casada com Francesco Bosco, mudou-se depois para I Becchi. Depois da morte de seu marido, aos 29 anos, teve que tomar conta da família sozinha numa época muito atribulada.

Mulher forte, de ideias claras, de fé rija, muito decidida, seguia um estilo de vida simples e preocupou-se principalmente em dá uma educação católica a seus filhos. Teve que mandar estudar fora ao menor dos filhos, João Bosco, com o objetivo de oferecer-lhe melhores oportunidades e também de trazer mais paz no lar, pois os mais velhos o tratavam muito mal.

Quando São João Bosco foi ordenado sacerdote, em 1848, Margherita resolveu acompanhá-lo, contando ela então com seus 58 anos de idade, e o seguiu em sua missão entre os meninos pobres e abandonados de Turim. Durante 10 anos mãe e filho uniram suas vidas com o início da Congregação Salesiana.  Foi ela de capital importância para São João Bosco absorver os princípios que praticou, especialmente o “Sistema Preventivo” aplicado por ele aos seus pupilos.

É tida como co-fundadora da Família Salesiana, capaz de formar tantos santos, como São Domingos Sávio, Miguel Ruas e outros. Era analfabeta, mas vivia cheia daquela sabedoria que vem do alto e que só a posse de Deus o concede aos justos e santos como ela. Para ela Deus era o primeiro em tudo, consumindo sua vida no serviço divino, na pobreza, na oração e no martírio.

Vejam o conselho que ela dá ao filho logo após sua ordenação sacerdotal: "João, agora és Padre! Agora dirás Missa todos os dias. Lembra-te bem disso: começar a dizer missa é começar a sofrer. Não o perceberás logo; mas um dia, mais tarde, verás que tua mãe tinha razão. Todas as manhãs, tenho certeza, hás de rezar por mim. Não te peço outra coisa. De hoje em diante pensa somente na salvação das almas e não te preocupes absolutamente comigo". Este conselho apenas reflete toda uma educação de décadas que a mãe dera àquele filho, quando incutiu-lhe o espírito de oração e de sacrifícios, de tal forma que o fez tornar-se santo.

Não restam dúvidas de que "Mamma Margherita" era santa e dotada do dom de discernimento dos espíritos. Tinha agudíssima percepção dos perigos que ameaçavam o filho e sempre lhe prevenia, principalmente na época em que ele sofreu vários atentados e foi avisado por ela.

Desde a infância de Dom Bosco, Mamma Margherita procurou incutir-lhe um verdadeiro horror pela impureza, grande amor á pobreza, entranhado enlevo pelas coisas da Igreja Católica e piedosa devoção à Nossa Senhora. O filho via que sua mãe era uma pessoa de grande temperança, sem febricitações, maus humores ou atitudes extravagantes. Formava seus filhos contando-lhes histórias de guerreiros, príncipes, castelos e princesas. A História Sagrada era contada para eles de forma cativante.  Dom Bosco dizia que era uma boa narradora de histórias para crianças.

Naquela época havia uma falsa idéia de que a Primeira Comunhão só deveria ser dada quando a pessoa ficasse adulta. Ao contrário, Mamma Margherita preparou Dom Bosco desde cedo para receber Cristo Sacramentado. Aos onze anos de idade, compareceu ele perante o Sacerdote para ser interrogado se estava preparado para receber a Sagra Hóstia. O padre ficou surpreso quando soube que a humilde camponesa havia preparado o próprio filho. E no dia da Comunhão, ela não o deixou falar com ninguém antes da Missa, fazendo-o ver que aquele era um dia especial e muito solene para sua alma. Depois, ajudou-o na Ação de Graças e deu-lhes estes conselhos: comungar sempre, dizer tudo na confissão, jamais cometer sacrilégio comungando indignamente e fugir das más companhias como se foge da peste.

Apesar de ser uma pobre camponesa, sabia se manter sempre bem composta no trajar, asseada e com a roupa alinhada. Mantinha uma conversação tão agradável que atraía pessoas de alta projeção social, como o Marquês de Pallavicini e alguns hierarcas famosos, os quais se deliciavam ouvindo-a conversar. A todos recebia com cândida naturalidade.  Seu amor à pobreza era tão grande que fez a seguinte advertência quando soube que o filho queria ser sacerdote: "Se resolver seguir a carreira de padre secular e, por desgraça, tornar-se rico, não lhe farei uma só visita, nunca porei os pés na sua casa".

No leito de morte, Mamma Margherita afirmou a São João Bosco: "Se você soubesse como o amei. Mas na eternidade ainda será melhor. Fiz tudo o que pude. Se algumas vezes pareci severa, foi para o bem. Diga às crianças que trabalhei por elas como uma mãe".  Alguns anos após sua morte, ela apareceu em sonhos ao filho e disse que estava no céu, tendo passado antes pelo purgatório. Depois, concluiu: "Eu o espero, porque você e eu não podemos estar separados".

A 31 de janeiro de 1940, afirmou o Papa Pio XII, referindo-se a ambos: "A mãe que ele teve explica, em grande parte, o pai que foi para os outros".  Mamma Margherita havia falecido no ano de 1856. Através de decreto publicado pela Congregação para a Causa dos Santos o Papa Bento XVI a declarou Venerável no dia 23 de outubro de 2006.  A notícia ocorre a poucos dias de se festejar o sesquicentenário (150 anos) de sua morte,  a 26 de novembro de 2006. Os salesianos afirmam que a Congregação Salesiana nasceu no regaço de Mamá Margherita, que lhes legou sua presença maternal e feminina no Sistema Preventivo da escola de Dom Bosco. Morreu aos 68 anos, em Turim, no dia 26 de novembro de 1856.

Santa Clotilde, esposa de Clóvis, rei dos francos (séc. V e VI), era muito obediente e submissa a seu marido; e assim conseguiu ganhá-lo para Cristo. Costumava ela dizer: "Deixei minha própria vontade esquecida na casa de meus pais. Aqui não tenho outra que a de meu marido". Por isso Clóvis disse mais de uma vez: "Eu venci cem batalhas, mas fui vencido por Clotilde".

Santa Hedviges (séc. XIII), era de sangue real (Condessa, filha do Conde Bertoldo, duque de Caríntia, margrave de Meran e conde do Tirol) e foi tornada mais ilustre ainda pela inocência e pureza de sua vida. Normalmente se tem idéia de que toda santa ou santo provém de uma Ordem religiosa. No entanto, existem muitos santos leigos,  às vezes até casados e pais de família. Ou, melhor dizendo, santas casadas e mães de família. Santa Hedviges tinha apenas 12 anos quando seus pais a casaram com Henrique, duque da Polônia. Foi santo este casamento; dele nasceram  seis filhos que ela educou no temor de Deus.

Aos vinte anos, de comum acordo com seu esposo, tomou a resolução de viver em completa continência, e ambos fizeram votos neste sentido perante a autoridade eclesiástica local. Com permissão de seu esposo, Santa Hedviges dedicava os dias de festa, bem como a Quaresma, a exercícios de mortificações. Um de seus lemas era: "Quanto mais ilustre for pela origem, tanto mais a pessoa se deve distinguir pela virtude, e quanto mais alta a posição social, tanto maior obrigação se tem de edificar o próximo pelo bom exemplo". Este lema ela fazia cumprir em ações, era parte de sua vida, e foi exemplo vivo ao esposo e filhos.

 

Santa Isabel de Portugal foi outra santa de sangue real, rainha de Portugal, uma perfeita mãe de família. Demonstrou-o pelo terno afeto e submissão de que deu provas a seu indigno esposo, que a perseguiu tenazmente, para o qual conseguiu com suas orações a graça de uma santa morte. Maior desvelo ela manifestou pelos filhos que lhe foram rebeldes, aos quais ela sempre dedicou esmerado cuidado em ministrar uma educação cristã. 

É considerada a mais querida e popular rainha de Portugal. Com doze anos apenas, veio para Portugal, tendo se casado em Trancoso com Dom Dinis. Trazia consigo a fama de excepcionais virtudes que a natureza acrescentara aos dotes físicos de uma beleza pouco vulgar, calma e equilibrada. Tão maravilhado ficou o rei-poeta que logo lhe fez tantas doações de senhorios e terras como nenhuma outra rainha portuguesa até então possuíra . Uma antiga “Relação” descreve do seguinte modo a benemerência desta mulher sem par: mandava Santa Isabel vestir os esfarrapados que avistava, visitava os enfermos ulcerosos, punha sem repugnância as mãos sobre as cabeças dos doentes e fazia-os tratar pelos seus médicos e enfermeiros. Distribuía nos dias solenes do ano numerosos socorros pelos domicílios, às pessoas necessitadas e a muitos mosteiros, tanto no reino como no estrangeiro.

Procurava com ardor dissolver as discórdias que haviam entre as casas nobres. Tentava por todos os modos proteger donzelas e viúvas para que a miséria não as lançasse na perdição. Os seus costumes eram em tudo modestos , humildes e castos .

Porem esta mulher que toda a vida tentou distribuir e dar amor, não foi correspondida inteiramente por seu esposo. Quantas vezes esquecida pelo marido,  Santa Isabel procurou manter sempre uma serenidade exemplar e tratou frequentemente de apaziguar os ódios e lutas que as intrigas palacianas acendiam nos filhos, especialmente o futuro rei Afonso IV. O próprio milagre das rosas aconteceu numa época em que Dom Dinis decidira pôr cobro àquilo que dizia ser um esbanjamento do tesouro público por sua mulher.

Dom Dinis foi avisado por um homem do Paço que no dia seguinte, contrariando as ordens reais, sairia Isabel com ouro e prata para distribuir aos pobres. Exaltado, Dom Dinis resolveu imediatamente que no outro dia iria surpreender a rainha quando ela fosse sair com o seu carregamento de esmolas. Na manhã seguinte, uma gélida manhã de janeiro, estava já D. Isabel com as aias no jardim trazendo a ponta do manto recolhida e cheia de moedas quando lhe surgiu el-rei fingindo-se encontrado.  Empalideceu a Rainha conhecendo como conhecia os acessos do marido, receosa do que diria se descobrisse o dinheiro que trazia.

Saudaram-se, contudo, cortêsmente, e Dom Dinis perguntou:

- Aonde vais senhora, tão cêdo?

- Armar os altares de Santa Cruz, meu senhor!

- E que levais no regaço, minha rainha?

Houve um instante de hesitação antes que a rainha lhe respondesse:

- São rosas, senhor! 

- Rosas, senhora rainha.- gritou irado Dom Dinis - rosas em janeiro ?! Quereis, sem duvida, enganar-me!!

Digna e muito lentamente, largando a ponta do manto, respondeu Santa Isabel:

- Senhor, não mente uma rainha de Portugal.

E todos viram cair-lhe do manto, do local onde sabiam só haver moedas, uma chuva belíssima de rosas brancas de impar beleza.

Santa Isabel da Hungria, nascida em 1207, aos quatro anos foi prometida em casamento ao duque Luís IV, da Turíngia, com quem casou-se aos 14 anos de idade. Constituíam os dois um casal muito unido, tendo Isabel influído muito no espírito de seu esposo para a prática da caridade cristã.  Seu esposo morreu numa Cruzada, a caminho da Terra Santa, pouco depois de haver nascido sua última filha.  A santa entregou-se, então, à prática desinteressada da caridade, o que motivou o ódio de seus familiares. Embora sofrendo perseguições, conseguiu realizar seu grande desejo, que foi a construção de um hospital em honra de São Francisco. Dedicou o resto de sua vida aos pobres, falecendo aos 24 anos de idade como terciária da Ordem franciscana.

Santa Margarida, rainha da Escócia, foi outra maravilhosa mãe e esposa cristã que nos legou um grande exemplo de vida. Quando nasceu, em torno do ano 1046, sua família vivia no exílio, provavelmente na Hungria.  Seu tio-avô, Santo Eduardo, subiu ao trono na Inglaterra, permitindo-lhes voltar para a pátria. Novo exílio ocorreu quando subiu ao trono Guilherme da Normandia, desta vez para a Escócia.  Foram ali bem recebidos pelo rei, Malcome III, que pediu a mão de Margarida em casamento.  Nasceram-lhe oito filhos: os príncipes Eduardo, Etelredo, Edmundo, Edgardo, Alexandre e Davi, e as princesas Edite e Maria. Dois de seus filhos, Edite (que chegou a ser rainha-consorte da Inglaterra) e Davi, eram venerados como santos pelo povo inglês.

O rei Malcome III era de costumes um tanto rudes, mas não tinha más inclinações: venerava tanto os livros de que sua esposa se servia mais para suas orações que os beijava e acariciava. O rei gostava de ouvir os conselhos da rainha na administração dos problemas de seu reino, seguindo-os sempre. Mesmo assim,  ela precisou discutir com o rei durante três dias para convencê-lo a admitir os costumes da Santa Igreja na Escócia e reprimir certos desvios, como o descuido das obrigações sacramentais, a celebração da Santa Missa acompanhada de ritos pagãos ou profanos e o costume de realizar casamentos entre parentes.

Santa Margarida conseguiu também introduzir a pompa, solenidade e e grandeza na corte escocesa: mandou vir do estrangeiro os vestuários mais variados e ricos, instruindo também o rei para que andasse sempre acompanhado de guardas de honra vestidos digna e pomposamente.  A rainha também era assídua e incansável na oração e caridade:  à noite costumava levantar-se para rezar e nas matinas rezava as orações da Santíssima Trindade, da Santa Cruz e de Nossa Senhora, o ofício dos defuntos, o saltério inteiro (ainda não havia o costume de se rezar o rosário) e as laudes. Geralmente pela manhã, lavava os pés de seis pobres e servia nove órfãos, indo descansar um pouco, mas, logo depois, ajudada pelo próprio rei servia refeições a 300  pobres. Assistia diariamente a cinco ou seis missas. Trabalhou também incansavelmente para a libertação de vários prisioneiros ingleses detidos na Escócia e mandou construir hospedarias para os viajantes. Faleceu no dia 16 de novembro de 1093, sendo um exemplo de santidade para seu esposo, seus filhos e seu povo.

Santa Brígida, de descendência nobre, foi casada com o príncipe de Nírice, chamado Ulf. Ela o levou, pelos exemplos e pela persuasão de suas palavras, a imitar a piedade de sua vida. Pôs todo o coração em educar seus filhos, todo o seu zelo em socorrer os pobres e os doentes, aos quais tinha costume de oscular os pés em sinal de humildade e como provas de amor a Deus.

Santa Francisca Romana (séc. XV) foi outra que recebeu o Sacramento do matrimônio.  Casada desde os doze anos de idade, conviveu com seu esposo, o aristocrata Lourenço de Ponziani, durante mais de 40 anos. Em toda a sua vida praticara tais obras de alta perfeição que a tornaram objeto de complacência do Céu, ao mesmo tempo que as doces qualidades de seu coração lhe asseguravam a ternura e a admiração de seu esposo e de seus filhos, que foram três.

Beata Anna Maria Taigi, nasceu na cidade de Siena, a 29 de maio de 1769, e faleceu em Roma, a 09 de junho de 1837. Contava apenas cinco anos de idade quando foi tomada por um êxtase, os quais duraram quase toda sua vida. Recebeu primorosa educação religiosa e doméstica. Aos vinte anos casou-se com Domenico Taigi, um criado da nobre família dos Chigi, com quem conviveu durante quarenta e oito anos, e do qual teve sete filhos. Sentindo forte atração para a vida religiosa, mas sendo casada, foi admitida na Ordem Terceira das Trinitárias. Durante muitos anos a Santa foi privilegiada com êxtases e visões sobrenaturais. Admite-se que seus sofrimentos místicos a fez vítima expiatória, e toda a sua santificação deu-se no convívio de seu lar.

Sofreu muito por causa das rabugices de seu marido, o qual sempre entrava em casa irritado. Vivia se amaldiçoando por achar que tinha sido enganado pela esposa, mas a Santa fugia do confronto e o tratava com amabilidade.  Era serena, afetuosa, ordenado nas suas coisas e sempre alegre. Educou bem os filhos.  Todos os sete, sem exceção, declararam depois que tinham tido uma infância feliz ao lado dela.

Declarou Domenico, seu esposo:

“Quando chegava em minha casa encontrava-a cheia de gente desconhecida que vinha consultar minha mulher. Porém ela tão pronto me via, deixava quem quer que fosse, seja monsenhor ou alguma grande senhora, e vinha atender-me, a servir-me a comida, e a ajudar-me com esse imenso carinho de esposa que sempre teve para comigo. Para mim para meus filhos, Ana Maria era a felicidade da família. Ela mantinha a paz no lugar, apesar de que éramos bastantes e de muito diferentes temperamentos. A nora era muito mandona e autoritária e a fazia sofrer bastante, porém jamais Ana Maria demonstrava ira ou mal gênio. Fazia as observações e correções que tinha que fazer, porém com a mais estrita amabilidade. Às vezes eu chegava à casa cansado e de mal humor e estalava em arrebatações de ira, porém ela sabia tratar-me de tal maneira bem que eu tinha que acalmar-me em poucos instantes. Cada manhã nos reunia a todos em casa para uma pequena oração, e cada noite nos voltava a reunir para a leitura de um livro espiritual. Aos meninos os levava sempre à Santa Missa aos domingos e se esmerava muito em que recebessem a melhor educação possível’

 

... e também de ser esposa

“Quantas famílias chegaram assim, pelas mulheres, ao mais alto grau de consideração e prosperidade, e também quantas famílias decaídas foram reerguidas por elas!

No século XVI, Luís de Gonzaga estava prestes a entrar em falência. A sua mulher, Henriqueta de Clèves, assume o governo da Casa e restabelece a ordem. Outra mulher, Joana de Schomberg, irmã do segundo dos marechais deste nome, verificando a ruína das finanças do marido, disse: “Verei eu mesma e examinarei com cuidado todos os nossos negócios, de acordo com a capacidade que Deus me der. Antes de começar, procurarei elevar o meu coração ao Espírito Santo, para Lhe pedir o dom do conselho e da força, a fim agir em tudo com prudência e firmeza”.  Santa Joana de Chantal foi posta pelo seu casamento numa casa “com negócios muito enredados”. Começou a reparar o mal na própria manhã seguinte à das núpcias. “Habituou-se a acordar muito cedo, e já tinha colocado ordem na casa e enviado os empregados para o trabalho, quando o seu marido se levantava...”

Em todos os meios sociais encontramos exemplos semelhantes.

“Nas famílias operárias – diz Augustin Cochin – a figura dominante é a da mulher, a da mãe; tudo depende da sua virtude e acaba por ser modelado por ela. Ao marido compete o trabalho e as rendas da casa; à mulher, os cuidados e a direção interior; o marido ganha, a mulher poupa; o marido alimenta os filhos, a mulher educa-os; o marido é o chefe da família, e mulher é o seu elo de união; o marido é a honra do lar, a mulher, a sua bênção”

A feliz influência da mulher cristã estende-se muito além do lar.

“Deus suscitou entre nós – escreveu o visconde de Maumigny – numerosas gerações de mulheres piedosas, às quais devemos o nosso caráter nacional, como Roma deve o seu aos grandes Papas. Ele deu-nos as Clotildes, e as Batildes, as Radegundas e as Brancas, as Isabeis e as Joanas e, nestes últimos séculos, piedosas rainhas dignas delas. As pastoras rivalizam com as princesas. Uma legião de santas mulheres de todas as classes e condições – das donzelas de Vaudouleurs e de Nanterre, a Germaine de Pibrac e a Benoîte du Laus – difundem em toda a parte a doce influência de Maria, seu modelo.

“Assim, enquanto a salvação da Itália vem, antes de tudo, dos seus grandes Pontífices, para nós veio sobretudo do apostolado das mulheres. No século XVIII, reis e magistrados, sábios e até Pontífices repousavam numa despreocupada apatia; mas as mulheres permaneciam heroicamente fiéis. E quando os homens diziam: Não conheço este Homem, o seu reino não é deste mundo, as mulheres seguiam a Cristo e ao seu Vigário sem desfalecer até ao Calvário.

Devemos às nossas mães e irmãs o fundo de honra e devotamento cavalheiresco que é a vida da França. Devemos-lhes a fé católica. Discípulas da Rainha dos Apóstolos e dos Mártires, as mulheres transmitiram aos filhos o que lhes ia no coração.

“Em França, as mulheres são a alma de todas as boas obras; do Óbulo de São Pedro até a Propagação da Fé; e foi o entusiasmo das mães e das irmãs que conduziu a Roma os defensores da Santa Sé. Conheço mais de um jovem que estaria entre os zuavos, se tivesse seguido o conselho da sua mãe, mas não conheço um só cuja mãe que o tivesse impedido. O pai poderia fraquejar, mas a mãe nunca: nem antes, nem durante, nem depois. Um filho mutilado era o seu orgulho e quando, diante do cadáver do mártir, Deus lhe dizia no fundo do coração: O teu filho está comigo, a gratidão sufocava a sua dor. Mais que o sangue do filho, ela amava a glória dele

“Maria, o modelo das mães, tinha-lhes ensinado como se pode chegar a sacrificar um filho único por Deus e pela Igreja. Ao ouvir a narração dessas imolações sublimes, Pio IX comentava: Não, a França que produziu tais santas não há de perecer!

“A primeira vez que a heróica viúva do grande zuavo Pimodan viu o Papa, não lhe disse: Santo Padre, devolvei-me o marido!, mas antes: Oh! Dizei-me que ele está no Céu! E quando Pio IX respondeu: Já não rezo por ele, ela não perguntou mais nada, pois entendeu que era viúva de um mártir, e isso bastava.

“As mulheres são a alma de tudo o que moveu a França e o mundo. Em Castelfidardo, os zuavos combatiam sob o olhar das suas mães, presentes no seu pensamento e sob os muros do santuário onde a Rainha dos Mártires gerou o Rei dos Mártires. Ao avançar contra o inimigo, repetiam todos esta frase de um deles: A minha alma a Deus, o meu coração à minha mãe, o meu corpo a Loreto.  À mãe deles e a Maria, que a todos inspirava, reverte a glória da batalha. Como outrora os cavaleiros, como mais tarde os vandeanos, foi ao colo das mães que eles aprenderam a dar a vida por Deus, pela Igreja e pela Pátria”.

Num dos seus interessantes estudos, Faivière mostra como a civilização moderna se liga nas suas origens à antiguidade greco-latina: “Se por um lado o Evangelho as diferencia, também as une, por causa da afinidade existente entre elas. Essa afinidade vem do fato de que a Grécia e Roma, contrariamente ao que acontecia no Oriente, não tinham excluído a mulher da vida social, de modo que o gênio feminino tomara parte no desenvolvimento da sua civilização.  Por isso mesmo, esta tornou-se mais apta do que as civilizações orientais para receber a influência do Evangelho”.

Os germanos, ao estabelecer-se no império romano, trouxeram consigo o respeito supersticioso que tinham pela mulher. A Igreja purificou este sentimento, levou os homens a estimar a pureza dos costumes – abrindo assim sobre o mundo os tesouros do coração e da inteligência da mulher – multiplicou os recursos e o campo de ação do progresso.

“É da mulher – diz Favière – que as nações cristãs alcançaram o dom da piedade, é delas que receberam a faculdade das emoções comunicativas que sacodem as multidões, a capacidade de despertar súbita e irresistivelmente os povos, colocando-os acima de si mesmos, dos seus interesses mercantis e do seu repouso, para os lançar na via das aventuras sublimes que são as grandes etapas da humanidade.

“A mulher associou-se à obra do progresso, não somente pelo coração; ela elevou a civilização cristã acima de tudo o que mundo tinha visto até então, não só pelo seu entusiasmo e impulso, mas também pela sua inteligência.  A inteligência rápida e instintiva da mulher sobre o mundo moral supera a  inteligência masculina...  Ela cultiva na família o senso do bem, dando-lhe o entendimento das verdades primeiras, ensinando-as pelos seus atos e juízos, pelas manifestações da sua estima, ou pela sua repreensão”.

Há poucos homens entre nós, nestes dois últimos séculos, que, mesmo sem querer, não se tenham deixado envolver pela Revolução. As mulheres, pelo contrário, têm o instinto da verdade como o da caridade. Qualquer apostasia, qualquer traição, qualquer fraqueza de espírito ou de coração encontra nelas juízes inflexíveis. Elas amam a Igreja e a Pátria, a Cristo e sua Mãe. Amam-nos mais que a si mesmas, mais que as riquezas, mais que os próprios filhos. E este amor é para elas uma ciência. Elas são, entre nós, o grande apoio da sociedade e da Igreja. A Revolução sabe bem disso. Ela conhece o número de irmãos, de filhos e de maridos preservados, afastados das sociedades secretas por simples operárias, por simples camponesas. Sem cessar, o revolucionário é encurralado por essa guerra feminina. Daí as suas queixas, as suas conspirações para perverter o coração da mulher” .

(Extraído de “A Felicidade Através da Castidade”, -Págs. 296/306 – Desejando receber o texto integral desta obra enviar mensagem para meu e.mail juracuca@gmail.com )

 


Nenhum comentário: