Antes de tudo,
advirto que o termo “Revolução” é utilizado aqui com base na definição do
movimento universal de inversão da ordem descrito pelo Dr. Plínio Corrêa de Oliveira em sua obra “Revolução e Contra-Revolução”.
Atualmente está em
voga uma grande movimentação popular em torno das chamadas redes sociais, a
mídia da internet. Nossos comentários aqui se referem a tais redes de um modo
geral como atuam no mundo. É claro que no caso do Brasil seguem as mesmas
diretrizes, mas com particularidades diferentes, pois vemos que através delas
grandes massas nacionalistas se unem contra o poder ditatorial das
esquerdas. É como se a Revolução
universal viesse dando um passo para trás, despertando forte reação contra o avanço da
esquerda, mas, ao mesmo tempo, proclamando idéias revolucionárias do passado,
como vários jargões oriundos da Revolução Francesa de 1789.
O poder das redes sociais
É indiscutível que
as forças secretas ainda têm domínio sobre os rumos da Revolução, haja vista
seu grande poderio sobre as finanças, a política e os vários ramos da atividade
humana. Por causa desse predomínio sobre os rumos da humanidade a
Revolução continua seu curso, embora rastejando como se fosse uma cobra ferida
em sua cabeça. No entanto, tudo indica que ela não dispõe hoje de líderes
capazes de levar a termo seus objetivos mais radicais. O que se nota é uma
total carência de tais lideres. Falta aquele homem carismático que consiga
carregar multidões atrás de si. De tal forma esta carência de líderes é
evidente que anos atrás um dirigente da ONU se referiu a tal carência, lamentando
que a humanidade andava sem rumos por causa disso. Barack Obama, pensando
talvez que tal líder fosse o Lula chegou a dizer “esse é o cara”. Teria sido a
última esperança revolucionária, hoje mergulhado num mar de ilícitos e completamente
rejeitado pela opinião pública.
Mesmo rastejando e
ferida de morte, que rumos a Revolução tem em mira hoje, sempre dirigida pelas
forças secretas e por hordas de demônios que a cada dia que passa saem dos
infernos com tais fins? O objetivo político final de governo delas sempre foi a república
universal, coisa meio etérea para muitos, mas bem definida para eles: uma
situação em que toda a terra seja dominada por uma entidade comum, mas na
realidade anárquica e destituída do caráter regencial que deve ter todo governo
autêntico. Tal república deveria ser a aplicação prática do poder do corpo
místico do demônio, o qual nunca conseguiria ser implantado em toda a terra
tendo características bem definidas e com finalidades bem explícitas. Isso
causaria uma recusa monumental de todos os homens. Por causa disso a própria
república universal não é uma coisa bem clara para o povo, é algo nebuloso.
Enfim, a ausência
aparente do poder parece ser um de seus últimos lances, e foi uma
característica que a Revolução sempre teve em mira. Era o ponto alto da
Revolução da Sorbonne de 1968: diziam que os objetivos não eram o poder, mas a
destruição deste. Talvez a tática é deixar um vazio de poder na opinião pública
a fim de que esta aspire que seja exercido o mesmo por qualquer revolucionário que
se habilite a tanto.
Será que não ocorre
algo parecido nos dias de hoje? A opinião pública sempre foi manobrada pela
mídia oficial, representada pelas emissoras de rádio e TV e pelas revistas e
jornais. Este predomínio, no entanto, nunca conseguiu fazer com que a maioria
aderisse aos desígnios da Revolução. Pelo contrario, o que se notou foi uma
afastamento completo da opinião pública controlada pela mídia oficial, por
exemplo, do socialismo e do comunismo, embora sempre fossem aberta e
profusamente propagados pelos órgãos de imprensa a peso de ouro. Estas
bandeiras foram abandonadas pela Revolução em prol de algo mais profundo e
inadvertido. De repente descobriram que seria mais abrangente para seus
objetivos que fosse desmontado o poder da mídia oficial (pelo menos na parte de
controle da opinião pública), e em seu lugar surgisse outra, inteiramente
espontânea e do meio popular. Trata-se das redes sociais. A internet passou a
ser o instrumento dos protestos, dos indignados, daqueles que pretendem mudar
os rumos da política de um país, mas não dispõem de meios para isso.
Os indignados
E foi assim que
fizeram experiências inéditas, como a “primavera árabe”, os “indignados” da
Europa e o movimento “ocupem wall street” nos EUA. As pessoas se
comunicavam pelos seus celulares, divulgavam suas propostas de revoltas e
depois combinavam sair às ruas para protestar. A coisa pegou, pois muita gente
se sente importante em participar de algo que muda os rumos da política e da
história, nem sempre indo às ruas mas simplesmente publicando o que bem lhe
aprouver, e sem precisar sair de casa. É por isso que há tantas “fakes
news” nas redes sociais, pois aquilo ali é como uma “terra de
ninguém”, onde qualquer um diz o que quer e publica o que bem lhe aprouver sem
qualquer constrangimento ou censura. Foi detonada uma onda de revolução baseada
na liberdade de expressão mais radical e profunda, pois a depender
exclusivamente de cada indivíduo e não da mídia oficial.
E certamente por
causa dessa característica (“terra de ninguém”) alguns aplicativos começaram a
criar rígidas normas de controle social, mas, revelando, por outro lado, um
interesse em privilegiar a esquerda em detrimento da direita ou de pensadores
conservadores. Incrivelmente quase todos estes aplicativos excluíram o ex
presidente Trump, indo completamente de encontro ás próprias leis de liberdade
de expressão existentes nos Estados Unidos. Foi com exagerado rigor que eles
excluíram também todos os cientistas ou políticos que denunciaram os erros
cometidos pela OMS ou pseudo-cientistas durante a pandemia do Covid.
Praticamente era proibido alguém criticar nas redes sociais ou na mídia oficial
as políticas sanitárias, especialmente as de caráter ditatoriais, principalmente
se falassem contra as vacinas.
Precisamos ver
sobre tais prismas a onda conservadora que varre o mundo, demonstrando força
popular tão intensa que andou derrubando alguns regimes socialistas e
comunistas. Foi assim que caiu a URSS ainda no final da década de 80 do século
passado. E os atuais oscilam prestes a cair. Aparentemente, isso é uma coisa boa, pois
conseguimos deitar por terra regimes tão maléficos. Mas, o que vem depois? O
que é que se constrói em cima de um regime socialista ou comunista que cai?
Nada. Geralmente, o caos. É como se a Revolução estivesse dando um passo para
trás para depois dar dois ou três para a frente. Vejam o exemplo do Egito, que
derrubou uma ditadura, mas até hoje o país não se encontrou, e caminha para
outra ditadura. A “primavera árabe” nada trouxe de benefício duradouro nem no
Egito, nem nos outros países onde predominou. De outro lado, as “primaveras”
que derrubam regimes nunca funcionam em certos países, como Cuba, China, Coréia
do Norte, etc., pois estes já caminham para o caos e anarquia da forma como
estão sendo governados, indicando que o movimento é dirigido a certos regimes e
em determinados países.
Agora vejamos o
caso do nosso Brasil. O movimento conservador que hoje domina as redes sociais
está desmantelando a esquerda, e isso é muito bom. Nota-se, inclusive, que as
forças secretas parecem ter interesse nisso, pois a própria maçonaria já andou
se pronunciando de direita. Lutando por uma causa boa, que é a destruição das
esquerdas, a maioria da população não percebe que está para vir depois disso.
Por quê? Porque só se ver o que se quer destruir, mas quase nada sobre as idéias
do que se quer implantar. Falta senso crítico das pessoas para analisar o rumo
que se deve tomar após a queda de um governo de esquerda. E, de modo geral, os princípios
democráticos e republicanos soam como algo muito vazio na cabeça das pessoas,
pois são palavras usadas habitualmente até mesmo por regimes ditatoriais como o
da Coréia do Norte (lá eles se intitulam como “democráticos”).
Um detalhe
importante: o Brasil, pela forma como está organizado legalmente, é um país
quase ingovernável. Tanto um governo de esquerda quanto de direita
pouco conseguiria fazer em prol de seus ideais. A prova disso é que o PT passou
tantos anos no governo e não conseguiu implantar um regime inteiramente
socialista. Conseguiu algo, mas muito pouco em comparação daquilo que são seus
planos. O próprio ex governador da Bahia, Jaques Wagner, lamentou isso, achando
que deveriam ter sido mais radicais e implantado completamente um regime tipo
Cuba. Ora, se o país está assim, ingovernável, qualquer um que
assuma o poder não conseguirá atingir completamente seus objetivos políticos,
pelo menos de uma maneira durável. O mais provável é que prevaleça aqui a mesma
situação da Venezuela, onde dois governos se digam autênticos e a situação
nunca seja solucionada. As elites políticas se dividem entre si, num
entrechoque pelo poder, sem levar em consideração o que pensa e quer a
população, e terminam por instaurar o caos.
Como fazer uma revolução pacífica
O manual que segue
o pessoal dirigente dos sites e dos grupos de comunicação na internet é o
mesmo. Pode-se ver que é o mesmo por causa da unidade no modo de proceder. O
mais famoso destes manuais foi um publicado pelo americano Gene Sharp, e está
disponível para qualquer um pela internet. Lá, o autor dá regras de “como fazer
uma revolução pacífica”. Prestem atenção, por exemplo, que os grupos que saem
às ruas têm o cuidado de não pertencer (ou não demonstrar que pertencem) a
nenhum partido ou representação oficial; todas as manifestações devem ser
pacíficas, isto é, sem quebrar nada, sem agredir ninguém; notem que os blacks
blocs já não saem às ruas, nem se fala mais neles. Faz-se apologia aberta de
usar as redes sociais e desprezam a mídia oficial, a qual, por seu lado faz o
papel contrário de denegrir as manifestações populares. É uma demonstração de
que as redes sociais aglutinam muito mais do que a mídia oficial, atraindo
milhões em torno de seus ideais. Ideais que já existiam na mente de cada um,
mas faltava quem hasteasse a bandeira e os levasse a termo. Basta ver a
quantidade de canais que se cria diariamente na internet onde o principal
objetivo é formação de uma corrente de opinião: todos seguem o mesmo esquema de
ação e parecem-se muito uns com os outros, isto é, seguem o mesmo manual,
embora se digam que são espontâneos.
Enfim, onde vamos
parar? Sim, vamos parar em bom porto. Não por causa dos mentores de
tal revolução, mas por causa do bom senso que deve predominar na população. Mal
imaginavam os idealizadores de tal movimento revolucionário que a opinião
pública sadia e nacionalista iria crescer tanto e se solidificar, constituindo
num cerne duro capaz de dar novos rumos à nação. Espera-se que não seja o caos
e a anarquia que predomine, pois nosso povo, de tradições cristãs, tem
propósitos tão grandiosos que deverá impulsionar doravante nossos governantes
para a construção de um Brasil novo e completamente contra-revolucionário.
Mesmo que as esquerdas vençam não têm mais condições de implantar seus
programas mais radicais, ou serão obrigados e deixar o cargo
e recuarão sempre, porque finalmente temos já formada uma opinião
pública visceralmente oposta a tais programas. Acredito que esta opinião
pública tão coesa e sadia tenha sido fruto do Anjo do Brasil, trabalhando com
nossos santos e fundadores para a formação de uma nova sociedade que antecede o
Reino de Maria. As redes sociais foram meros veículos para a divulgação de tal
mentalidade.
A revolução da Sorbonne ainda
persiste?
O “modelo” da
Revolução da Sorbonne (Paris, maio de 1968) foi facilmente disseminado pelo
mundo. Com base naquela matriz ideológica, diversos grupos realizaram ações
revolucionárias em várias partes do planeta. A técnica de conduzir a opinião
pública é sempre a mesma. O sucesso obtido naquela revolução tem inspirado
muita gente a repetir a façanha.
Hoje, no entanto, tudo indica que as diversas revoluções similares que explodem em várias partes do globo conduzem a uma tentativa de universalizá-la mais ainda. Sendo universal, é necessário que haja unidade, pelo menos entre os agentes revolucionários. Por enquanto, a universalidade está nos meios e nos métodos de ação, mas tende a sê-lo também no campo ideológico, dos propósitos. Somente a unidade fará com que se obtenha mais êxito universal.
Quanto aos métodos,
tivemos, por exemplo, as diversas manifestações de descontentamentos eclodidas
entre os árabes e na Europa, depois transplantadas para os Estados Unidos da
América e os países sul-americanos. Para atrair a simpatia do público
revestiram-nas com o título de “indignados” e “primavera árabe”. Como o ato de
indignar-se não identifica em si disposição para a revolução e o caos, mas uma
atitude de revolta contra as injustiças, logo os revolucionários atraíram a
simpatia de certo público e conseguiram, inclusive, derrubar alguns governos
ditatoriais. Com uso das armas, inclusive. Na Europa, é claro, tinha que ser
diferente. E nos Estados Unidos mais ainda, com outra roupagem, outros nomes,
mas com propósitos meio indefinidos, próprios desse tipo de revolução. Dentro
do grupo “Ocupem Wall Street”, como não poderia deixar de ser, o tema principal
é a guerra contra os bancos e o capitalismo dito “selvagem”, uma velha e
surrada tese marxista de luta de classes.
E agora a
coordenação desse movimento está muito mais ao alcance de todos, pois,
diferentemente de maio de 68, temos a internet com as redes sociais que
divulgam celeremente as ordens, os contatos, as decisões e os programas
predeterminados.
O "milagre" da “Revolução
Espontânea”
A espontaneidade está produzindo um dos maiores “milagres” da História.
Em primeiro lugar, produziu o milagre da “geração espontânea” do Universo, hoje
um dogma evolucionista sempre presente não só entre pseudo-cientistas mas na
cabeça de muitos leigos e da quase unanimidade da mídia. Ora, se o universo
surgiu por “geração espontânea”, por que não também as revoluções?
E foi assim que, segundo essa mentalidade, o Protestantismo, a Revolução
Francesa e o Comunismo brotaram espontaneamente do chão e produziram essa
monstruosa Revolução que hoje campeia pelo mundo moderno. Foi dessa forma
também que brotou a revolução da Sorbonne de 1968, uma das mais “espontâneas”
de toda a História, aliás a que mais se caracterizou por uma suposta
espontaneidade. É uma qualidade que daria crédito e autenticidade ao movimento.
Por último, tivemos
a revolução dos “indignados” (ou dos indignos), produzida e gerada
“espontaneamente” em vários países do mundo. As palavras mágicas são
“democracia”, “liberdade”, “o poder emana do povo”, etc.
Sempre com o
caráter de “espontaneidade”, marcam uma data para se iniciar uma marcha de
protestos e, coincidentemente, a “espontaneidade” registra também hora, data,
local do encontro, e até mesmo algumas características que as manifestações
devem ter, como, por exemplo, ser composta de “jovens”, de estudantes, de
operários, etc., etc.
É tão bela e
admirativa essa “espontaneidade” que a revista “Veja” a elogia, numa de suas edições
(no ano de 2014, quando estes movimentos estavam no auge) em que propaga a
manifestação dos “indignados” brasileiros contra a corrupção. A revista só não
explica como é que, “espontaneamente”, a manifestação teve forum de debates na
internet, local, data e hora para ser feita, além de se caracterizar unicamente
como um movimento apolítico (quer dizer, sem partido) e dirigido contra os
corruptos. E, depois, teve a mídia que “espontaneamente” vai lhe colocando no
foco dos acontecimentos. É muita “espontaneidade” para um movimento tão bem
organizado e de caráter universal... Hoje, como a bandeira de tais indignados
passou completamente para a direita brasileira, e como a mídia é toda infestada
de esquerdistas, eles solenemente desconhecem tais manifestações. Só quem fala
nelas são os próprios direitistas em seus canais de vídeos e outros veículos
virtuais.
Essa mídia parcial
de esquerda só fala das manifestações de direita quando há algum ato de
violência entre eles, pois sempre querem ligar inopinadamente o movimento ao
fascismo e outros movimentos socialistas do passado e desta forma mover a
opinião pública contra eles. A coisa ocorre porque alguns deles, ou mesmo anarquistas
infiltrados, aqueles mesmos que vivem num mundo virtual a procura de algo para
sair de seu “autismo consentido” para o mundo real, o qual eles odeiam porque
não o suportam, se aproveitam para “espontaneamente” botar fogo em tudo,
queimar veículos, depredar lojas, jogar pedras na polícia, e aí ameaçam
estragar o movimento. Que deve ser espontâneo e pacífico, não deve assustar.
Os “excessos”,
dizem, não fazem parte dessa impressionante “espontaneidade”, pois em geral são
cometidos por grupos isolados e radicais. Mas o que vemos é que os excessos são
muito comuns exatamente por serem autenticamente espontâneos, agora de verdade.
A Revolução e a auto-regência dos
seus lideres
Auto-reger-se é a
capacidade que todo homem tem de governar-se a si mesmo. Um líder
revolucionário, apesar de em geral ter que ser carismático, perde sua
auto-regência ao se entregar inteiramente às paixões revolucionárias. Estas
paixões, virulentas e irracionais, tendem a obscurecer o “lumen rationis”(a luz
da razão), transformando-os em meros autômatos. Também os líderes podem ser
influenciados pela tendência a agir por impulsos. É mais cômodo. Desta forma,
as lideranças revolucionárias hoje são raras, pois falta-lhes o que denominamos
de “disponibilidade revolucionária”, necessária para “tocar” a massa para a
ação. Um líder perde sua capacidade de liderança quando perde também sua
auto-regência, é sabendo governar-se que se governa os outros com eficiência. Um
dos recursos que a Revolução pode usar, nesse caso, é da ação integrada,
liderada não por um individuo mas por um grupo, um “comitê”. Recurso já usado
na Sorbonne para se dá a idéia de que as decisões não são individuais, mas
coletivas. Mas esse grupo precisa se utilizar de recursos com que possa mover a
“massa” na direção revolucionária. E em geral usam do logro para iludir os
incautos. Hoje temos muitos lideres que comandam grupos de elites, mas não se
fala em líderes populares como antigamente.
Vitória dos radicais?
A situação em que
se encontra o Brasil, como no resto do mundo, é comparável à de um doente em
que uma terrível doença ataca todos os órgãos e cujas células começam a morrer
e dizimar umas as outras. Os principais órgãos, formados pelas elites
políticas, trabalham enfermos desde a proclamação da república em 1889, causando
um tremendo mal-estar em todo o corpo social. O qual jaz doente sem encontrar
em si mesmo solução para seu caso. E o pior: não há um médico que possa aplicar
naquele corpo gangrenado uma medicação eficiente, pois o doente se recusa a ser
medicado. Por que recusa? Porque perdeu o senso de orientação, o sendo de
direção para lhe nortear e guiar seus passos. Não se busca mais os caminhos
normais para a solução dos problemas, e por isso se vai atrás da cura em
fórmulas mágicas da panaceia anarquista. Todos gritam ao mesmo tempo, pedindo
tudo ao mesmo tempo, sabendo que tais gritos não vão solucionar seus problemas.
Dentro deste
panorama, pergunta-se: quais os próximos passos desta revolução que se faz
espontânea e se diz ter nascida do povo? Não se pode vislumbrar os próximos
passos a não ser num exercício de imaginação, ou de quase adivinhação. O passo
mais ousado seria dado pelos radicais, ao se posicionar e acampar, se instalar,
numa praça, numa rua, numa cidade, e a partir daí, com a conivência, se possível,
das autoridades, formar “comandos” com os quais precisam continuar avançando. Mas,
avançar para onde? Com que objetivo? Somente cumprir o chavão de “o poder emana
do povo” não leva a nada. Quer dizer, leva ao caos e à anarquia, pois falta
coordenação, falta liderança e unidade de propósitos, já que este “poder” do
povo tem que ser exercido por alguém ou algum grupo que o lidere. E tem que ter
um objetivo bem definido.
Veio-me a
propósito, novamente, a lembrança do que ocorreu na Revolução da Sorbonne de
1968. Os moderados ou “pacifistas”(pelo menos na aparência), liderados pelo
estudante francês-alemão Daniel Cohn-Bendit (que depois virou político da
ecologia), deixaram o movimento “morrer” por falta de fôlego, mas os radicais
avançaram. Tanto que chegaram a se estruturar em grupos terroristas, como
aconteceu com dois deles ao formar as “Brigadas Vermelhas” e o “Baden-Meinhof”,
que atuaram na Itália e Alemanha respectivamente. Eram todos universitários e
um dia chegaram a ser doutores. Mas não pararam por aí. Um grupo mais feroz deu
seu apoio ao “Khmer Vermelho”. Como se sabe o “Khmer Vermelho” foi o grupo
guerrilheiro mais violento que já houve, tendo eliminado mais de 2,5 milhões de
pessoas no Camboja quando assumiu o poder daquele país. Um dos filósofos que
muitos julgavam “moderados” em 1968 era Jean-Paul Sartre, mas este chegou a
condenar o terrorismo apenas na Europa, apoiando os grupos armados que havia no
Brasil. Ao visitar um ativista do grupo Baden-Meinhof na cadeia, chegou a
declarar que o “terrorismo era justificável no Brasil”, mas não na Europa. Por
analogia, era justificável também na Ásia, no Camboja.
Os “maria-vai-com-as-outras”
A palavra
"personalidade" se refere à pessoa, logo ela se aplica a determinado
indivíduo e não a grupos de pessoas. Desta forma, soa muito mal o título de
"Personalidade do Ano" que a revista "Time" resolveu
brindar ao movimento denominado "Indignados" em 2011.
A atribuição dada
pela revista àquele movimento é uma suposta homenagem à chamada primavera
árabe, e ao fracassado movimento dos indignados que ganhou voz na Europa e
Estados Unidos.
A notícia diz que,
"trazendo o protesto para a capa da última edição, a "Time"
pretendeu homenagear todos aqueles que fizeram a revolução no mundo árabe, e
que deram início a importantes reformas políticas, econômicas e sociais em
países como o Egito, a Líbia ou a Tunísia". Por detrás deste palavreado
oco, há uma insinuação: a de que os "indignados" já conseguiram mudar
aqueles países, o que não é verdade. O Egito continua em guerra civil, com um
governo inseguro e cheio de revoltas; a Líbia está numa obscura situação, que
ninguém sabe que tipo de regime vai emergir, talvez até uma ditadura pior do
que a foi vencida; o mesmo diga-se da Tunísia. Já está ficando patente que a
chamada "primavera árabe" foi um fiasco, se se pretende que a mesma
tenha trazido democracia para aqueles povos.
Por outro lado,
pretende ser também uma homenagem aos manifestantes do Ocidente, que dizem
lutar contra a crise econômica. A "Time" recorda, assim, os
manifestantes gregos, espanhóis, portugueses, britânicos, mas também o
movimento "Occupy Wall Steet", que marcou os Estados Unidos, e
repercutiu em vários outros países. Além, é claro, de vários grupelhos que se
espalharam pelo mundo ocidental, até na América do Sul, simplesmente imitando
uns aos outros.
No entanto, o que
se percebe entre as pessoas que participam de tais movimentos é uma verdadeira
falta de personalidade, pois, em geral, agem como se fossem “maria-vai-com-as-outras”
seguindo qualquer um que esteja no comando das ações. E por causa dessa
vulnerabilidade os moderados ou pacifistas são facilmente infiltrados por
radicais, às vezes até de correntes contrárias que se misturam no meio do
inimigo para fazer um trabalho sujo de praticar vandalismos e “queimar” o
movimento perante a opinião pública e as autoridades.
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