A 3 de junho a Igreja celebra a memória de São Carlos Lwanga e companheiros mártires, 22 jovens que deram a vida no fim do séc. XIX com a coroa de um duplo martírio: a do pudor e a da religião. São mártires da Fé e da Castidade. Carlos Lwanga foi o líder dos mártires, todos eles mortos a mando de Muanga II (1884–1888) do Reino de Buganda, atual Uganda. São Carlos nasceu na região de Singo em 1860 e pertencia ao clã negabi. Numa visita à capital em 1880, interessou-se pelos ensinamentos dos missionários católicos e começou a frequentar suas aulas, juntando-se a um grupo de cristãos recém-batizados.
Com a ascensão ao trono de Muanga II em 1884, foi à corte e entrou no serviço real. Para tal, se fez passar
por membro do clã colobo de Maulugungu, pois os negabis, de onde se originara,
eram tradicionalmente vetados na corte real. Por sua personalidade, foi nomeado
como encarregado geral dos pajens e ganhou a confiança e afeto daqueles sob seu
comando. Diz-se também que era bom em luta livre, que era o esporte palaciano
mais popular. Designaram-lhe o dever sobre os pajens no que diz respeito à
instrução, guia e proteção de más influências na corte. Em 15 de novembro de
1885, ele e outros jovens foram à missão católica e foram batizados. Poucos
dias depois, no começo de dezembro, várias vezes Muanga, que era homossexual,
intimidou os pajens com os quais queria obrigar ao pecado infame.
Após incêndio no palácio real em 22 de fevereiro de
1886, Lwanga mudou-se temporariamente para a sua cabana de caça em Munionio às
margens do lago Vitória. Ali, continuou protegendo os pajens e, perante a previsão
próxima do martírio batizou mais cinco catecúmenos. Muanga havia decidido acabar
com a presença cristã em Uganda, e uma das principais razões era sua paixão
homossexual, que não era aceita pelo cristianismo. Um pajem de dezessete anos
chamado Dionísio foi apanhado pelo rei ensinando religião. De próprio punho
Muanga atravessou seu peito com uma lança, deixou-o agonizando por toda uma
noite e só permitiu sua decapitação na manhã seguinte. Usou o exemplo para
avisar que mandaria matar todos os que rezavam, isto é, os cristãos.
O rei possuía um grande harém masculino,
composto pelos pajens de sua corte, que, segundo as tradições do reino, estavam
obrigados a satisfazer todos os desejos do monarca. Pagão de mente e coração,
além de um pervertido moralmente, Mwanga não podia compreender a doutrina
cristã sobre a moral sexual. Por isso, em 1886, o rei deu um ultimato a todos
os pajens que se professavam católicos: ou renegar a fé, submetendo-se a seus
caprichos sexuais, ou a morte. Sem temer as ameaças do rei, e entregando seus
corpos antes a Deus que ao pecado, São Carlos e seus companheiros preferiram
suportar quaisquer tribulações e a própria morte do que trair a Fé e a moral
cristã..
Compreendendo a gravidade da situação, Carlos
Lwanga reuniu todos seus pupilos e fez com que rezassem juntos, batizou os que
ainda não haviam recebido o batismo e prepararam-se para um final trágico.
Nenhum desses jovens, cuja idade não passava de vinte anos, alguns com até
treze anos de idade, arredou pé de suas convicções e foram todos encarcerados
na prisão em Namugongo, a setenta quilômetros da capital, Kampala.
São Carlos Lwanga foi o primeiro a ser executado
para servir de exemplo aos demais. O enrolaram numa esteira de junco com canga
de escravos no pescoço. Para que sofresse mais, o fogo foi aceso embaixo de
seus pés e pernas, que queimaram até o osso antes das chamas atingirem o resto
do corpo. Ao ser insultado, respondeu que "estão me queimando, mas é como
se estivessem jogando água sobre meu corpo". Depois permaneceu quieto, em
oração, e antes de morrer exclamou em voz alta Katonda (Meu
Deus). Nesse momento, os mártires cristãos recebem consolo dos Santos Anjos e
suportam com resignação e coragem a dor do martírio. Não se ouve dizer que
manifestou qualquer sinal de revolta ou desespero; pelo contrário, foi tomado
por uma grande tranquilidade e calma de espírito perante tanto tormento. No dia
seguinte, os vinte e um jovens, que eram seus discípulos, foram também
cruelmente executados, e mortos também com a mesma paz na alma.
Os vinte e dois mártires de Uganda foram
beatificados em 1920. Carlos Lwanga foi declarado “Padroeiro da Juventude
Africana” em 1934. Trinta anos depois, o papa Paulo VI canonizou esse grupo de
mártires. O mesmo pontífice, em 1969, consagrou o altar do grandioso santuário
construído no local onde fora a prisão em Namugongo, na qual os vinte e um
pajens, dirigidos por Carlos Lwanga, rezavam aguardando a hora de testemunhar a
fé em Cristo.
(EXTRAÍDO DE “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs. 241/242,
inédita, cujo texto pode ser obtido através do meu email juracuca@gmail.com )
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