O texto abaixo é de Dr. Plínio Corrêa de Oliveira:
“Não daríamos por concluída nossa tarefa sem uma
observação a respeito dos bailes. É de
toda a evidência, e até uma banalidade, que dançar não constitui, em si, um
mal, mas que as circunstâncias que podem existir concretamente fazem, em geral,
da dança um mal bastante grave.
Fala-se tanto - e com quanta razão! - da doçura de
São Francisco de Sales. O conselho que o Santo Doutor dar a respeito da dança é
concludente, e mostra como lhe pareciam perigosas as danças de seu tempo:
"Falo-vos dos bailes, Filotéia, como os
médicos falam dos cogumelos; os melhores de nada valem, dizem eles; e eu vos
digo que os melhores bailes não são bons. Se por qualquer motivo de que não conseguirdes desculpar-vos, vos
for necessário ir ao baile, velai por que vossa dança seja decente. Dançai
pouco, e poucas vezes, pois que do contrário correreis o risco de voas afeiçoar
à dança... e outras recreações que
dissipam o espírito de devoção, tornam langorosas as forças, tornam tíbia a
caridade e despertam na alma mil variedades de mal afetos; eis porque é
necessário servir-se delas com grande
prudência". De que maneira dançar? São Francisco de Sales o explica:
"com decoro, dignidade e boa intenção". Que diria o Santo Doutor de
certas danças modernas, como a "conga", em que os pares formam longos
cordões pelo salão, segurando-se uns aos outros, gesticulando e gritando como
crianças? Encontraria ele um meio de se dançar "com decoro" e
dignidade a "conga", quando já lhe parecia isto problemático quanto
ás danças suaves, artísticas e delicadas de seu tempo?
Certamente não. Muitas pessoas entendem que, porque
São Francisco de Sales autorizou, em tese, que se fosse a bailes, fazendo-o
embora muito a contra-gosto e cheio de apreensão, se deve com a maior
liberalidade estender a quem quer que seja esta autorização. Estas pessoas
tomariam o cuidado de aconselhar aos que dançam que façam uso de certos
pensamentos salutares durante a dança? E teriam a coragem de aconselhar os
pensamentos que São Francisco de Sales
menciona? Quais são eles? "Pensai,
diz o Santo, nas almas que ardem no inferno por causa das faltas que cometeram
nos bailes; pensai nos santos religiosos que, enquanto vos divertis, cantam os
louvores a Deus; pensai nos homens que no mesmo momento estão sofrendo ou
morrendo; pensai
Vale para quaisquer espécie de reuniões dançantes
esta importante observação que faz, em uma interessante monografia sobre
"Os Católicos e as novas danças", o insigne dominicano Pe.
Vuillermet, O.P., de cuja obra extraímos quase todas as nossas citações sobre
danças:
"É raro que as danças frequentes e regulares
se conservem como simples distração. Elas se tornam, pelo contrário, e é esta a
observação de quase todos os moralistas, uma ocasião de intimidade e de
encontros para pessoas que acham assim um meio fácil e aparentemente
insuspeito, de dar à sua paixão um alimento de que são sempre ávidas. E mesmo
quando não existe este desejo inicial, não é certo que a frequência dos mesmos
encontros faz nascer a paixão, tanto mais quanto estes encontros são muitos
perigosos porque prolongados? Dança-se hoje durante toda uma festa com a mesma
pessoa, o que seria outrora uma grave incorreção; e, depois de ter desaparecido
a primeira cerimônia, e quando a familiaridade se vai introduzindo entre o
jovem e seu par, não é certo que o pudor se vai debilitando? Não se faz mais a
fiscalização dos sentimentos, e insensivelmente os pensamentos e desejos que
outrora teriam revoltado a consciência se aclimatam na inteligência e no
coração. - Considero, pois, que estas danças frequentes com a mesma pessoa são
extremamente perigosas".
Depois de considerações mais indulgentes quanto a
pequenas reuniões dançantes absolutamente esporádicas e improvisadas na
intimidade de uma família, que entretanto "conservam numerosos
inconvenientes que decorrem da sua
natureza", o autor acrescenta a seguinte conclusão: "teoricamente a
dança não é imoral... e só se pode tornar tal acidentalmente. Mas não posso
negar que, na prática, o acidental seja o mais frequente. As pessoas que
pecam por ocasião da dança são incomparavelmente mais numerosas do que as que
não pecam. A causa deste fato está, em parte, na diminuição da Fé e no
abandono dos exercícios de piedade, e de
outra parte no relaxamento dos costumes que faz com que hoje em dia se
permitam, na dança, tais liberdades que é muito raro que a virtude não fracasse
durante ela". Estas linhas são de 1924. Que diria o autor das danças de
1942!
Em
"O tango, o fox-trot e outras danças análogas
são diversões imorais em si mesmas. Elas estão proibidas pela própria consciência, por toda parte e sempre,
anteriormente às condenações episcopais e independentemente delas". E Bento XV, na Encíclica "Sacra prope
diem" diz: "estas danças exóticas e bárbaras , recentemente
importadas nos círculos mundanos, mais chocantes umas que as outras, são o que
há de mais próprio para banir todos os vestígios de pudor". Muitas destas
danças provinham das mais baixas camadas de indígenas americanos, e delas disse
Das danças modernas, muitas das quais evidentemente
adaptadas e importadas dos "bas-fonds" das velhas danças pagãs de
negros norte-americanos, que se poderia dizer?
Quanto aos bailes infantis, porque não reproduzir
aqui, como afirmação do que com tanta eloquência disseram nossos Bispos, o que
escreveu Luís Veuillot? "Estes bailes infantis são, diz-se, um espetáculo
encantador. Sim, para os olhos."
"Mas que triste cena, quando atendermos aos
murmúrios da razão. Meninas de oito anos fazem a aprendizagem da vaidade e da
faceirice; elas já são hábeis na arte do sorriso, da pose, das atitudes, das
inflexões musicais da voz. Os meninos tomam porte e expressões fisionômicas
variadas, segundo as indicações maternas: tomam
expressão cavalheiresca, pensativa ou importante; outros se fazem de
espertos ou melancólicos, conforme lhes fique melhor. As mães aí estão
radiosas. Mas a cena é feia. Percebe-se que os personagens do baile em
miniatura foram profanados na flor de sua simplicidade graciosa e ingênua,
desde o berço. A impressão de uma pessoa razoável, testemunhas de uma destas
festas chamadas de inocência, era de que se experimenta um desejo ardente de
chibatear, a torto e a direito, toda a pirralhada" (Luís Veuillot, "L'Univers, 28.12.1858).
Para encerrar, vejamos o que a este propósito fez
aquele que a Santa Igreja aponta como modelo de todos Párocos modernos.
Extraímos nossas citações da
magnífica obra de Mons. H. Convert, "Le Saint Curé D'Ars et le Sacrement
de Pénitence", ed. Ammenuel Vitte, 1931, pgs. 18-21).
"Tanto o interesse geral do rebanho confiado à
guarda de M. Vianney quanto o de certas almas mais particularmente expostas a
perder-se exigia o desaparecimento de uma tão perniciosa desordem (as danças).
Ele refletiu nisto, e, desde então, se resolveu a aplicar, ao pé da letra, os
princípios da Teologia Moral sobre os pecadores ocasionais e os reincidentes,
com uma grande bondade, mas também com uma energia de bronze, que nada faria
recuar. Ele recusou, com efeito, a absolvição, mesmo no tempo pascal, a todas
as pessoas que haviam dançado, ainda que fosse uma vez, no decurso do ano; e,
enquanto ele "julgava provável que elas tornariam a cair no seu
pecado", afastava-as da participação nos sacramentos. Elas podiam vir
confessar-se, e, de fato, a maior parte
continuava a vir; ele as encorajava, exortava-as a mudar de vida, mas não as
absolvia. "Se não vos corrigis, lhes dizia, estais condenados!"
"Este procedimento, como se pode conceber,
suscitou muitas recriminações; comentou-se abertamente, e de todas as maneiras,
de que o Sr. Cura "não era cômodo"; comparou-se o seu método com o de
seus confrades mais indulgentes; qualificou-se o Cura D'Ars de
"escrupuloso, de ingrato" (no idioma da região, ingrato quer dizer
aborrecido, desagradável). Certas pessoas foram confessar-se nas paróquias
vizinhas; ele lhes retrucou que elas tinham ido buscar "um passaporte para
o inferno". Entre si, estas pessoas o acusavam, dizendo: "Ele quer
fazer com que nós prometamos coisas que não podemos cumprir; ele quereria que
fôssemos santos, e isto não é muito possível no mundo. Ele quereria que nós
jamais puséssemos os pés na dança, e que
jamais frequentássemos os "cabarets" e os jogos. Se tudo isto fosse
necessário, jamais faríamos a Páscoa..."
Contudo, "não se pode dizer que não mais se voltará a estes
divertimentos, pois que não se sabem as ocasiões que se poderão deparar". A
esta argumentação interesseira, ele replicou: "O confessor, enganado, por
vossa linguagem artificiosa, vos dá a absolvição, e vos diz: "Sede bem
comportados! "Por mim, eu vos digo que fostes calcar aos pés o sangue
adorável de Jesus Cristo, que fostes vender vosso Deus como Judas o vendeu aos
seus carrascos".
"Que ganhou o Cura D"Ars com tal método?
Muitos jovens de ambos os sexos ficaram excluídos dos sacramentos durante anos
inteiros... É verdade. Poder-se-á pensar, poder-se-á dizer que foi um mal? De
outro modo, eles os teriam recebido nula, senão sacrílegamente; eles teriam
aliado as práticas da vida cristã e as desordens do coração; a paróquia teria
parecido convertida, sem o estar na realidade; as pompas de Satanás estariam
sempre prestigiadas, o príncipe das trevas teria ficado o verdadeiro senhor da
situação. Ora, o Cura D"Ars queria
que, de seu rebanho, Jesus Cristo fosse rei sem contraste. Por Jesus Cristo ele
se empenhou numa guerra de mais de vinte anos, disputando palmo a palmo o
terreno ao inimigo, sacrificando na batalha seu repouso, e, mesmo
transitoriamente, sua reputação, derramando seu sangue aos borbotões quase
todos os dias, extenuando-se de fadigas e de jejuns. A vitória foi, por fim,
completa, definitiva; a piedade e a virtude puderam florescer à vontade sobre
esta terra purificada e conquistada para seu único Mestre, e ainda hoje continuamos
a saborear os seus frutos.
"De resto, digamo-lo de passagem, não foi
somente frente às danças que apareceu a firmeza do Cura D'Ars. "O pecador
que não se rendia às suas ternas admoestações - assim depôs seu coadjutor -
encontrava-o inflexível em manter as regras e esbarrava numa barreira
infrangível".
Acrescenta em nota o mesmo autor: "As danças
foram logo abolidas na paróquia, embora experimentasse reaparecer de longe
(Extraído de “A Felicidade Através da Castidade” - Págs.
176/280 – O texto completo desta obra pode ser obtido enviando mensagem para
meu e.mail juracuca@gmail.com )
[1] "Em
Defesa da Ação Católica" - Plínio Corrêa de Oliveira – Artpress Papeis e Artes Gráficas Ltda, págs. 255/260.
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