O primeiro parlamento que pode se dizer “republicano” da era moderna foi a famosa assembleia dos deputados durante a Revolução Francesa de 1789. Foi ele assim descrito por um grande estudioso daquela revolução:
A Vontade Geral não é a vontade do maior número, mas sim a vontade dos puros, que são os encarregados de elucidar a nação sobre os seus verdadeiros desejos e a sua verdadeira felicidade (Saint-Just)”.
(“Revolução Francesa”, de Pierre Gaxote, Livraria Tavares Martins, Porto, págs Pierre Gaxote, pág. 277)
Como funcionava a Assembléia Legislativa
“Na
Legislativa falava-se muito. De 745 deputados, 400 são advogados, isto é, 400
moinhos de palavras, dos quais uns 20 ressoam sempre em conjunto. As sessões da
Constituinte eram desordenadas; as da Legislativa são anárquicas. Imaginemos,
diz uma testemunha ocular e habitual, “uma sala de colégio onde questionem
centenas de estudantes ,a ponto de, a todo instante, se pegarem pelos cabelos.
O vestuário mais que descuidado, os movimentos arrebatados, a passagem brusca
dos clamores aos insultos – tudo isto constituía um espetáculo que não se pode
comparar nem pintar”. As tribunas cospem sobre os oradores moderados. Grupos de
homens e mulheres são autorizados a atravessar a sala, soltando gritos e
ameaças. Admitem-se na teia todas as delegações e todas as manifestações, sejam
elas indecentes ou pueris. É um barulho contínuo, realçado com intermédios de
vaias e apupos.
Apenas
os grandes oradores conseguem impor silêncio e fazer-se ouvir, pelo menos de
entrada. No entanto, nunca houve tão grande embriaguez de palavras, discursos
tão pomposos e uma retórica tão oca. O “bric-a-brac” das “canciones (arengas)
soa ali com um ruído de ferro velho. O círculo de Pompílio, os Gracos, os
fachos de himineu, Brutos, Catão, o tormento de Cévola, a plebe retirada para o
Monte Sagrado, Catilina, Cincinato e sua charrua, Saturno devorando os filhos,
o Senado vendendo o campo onde acampava Aníbal, todas as velhas reminiscências
escolares se precipitam do alto da tribuna, entremeadas com ninharias solenes,
prosopopéias, apóstrofes aos deuses e citações do “Contrato Social”.
(“ Revolução Francesa”, de Pierre Gaxote, Livraria Tavares Martins, Porto, págs Pierre Gaxote, págs. 161/162)
Há
alguma diferença entre o parlamento acima descrito e os que existem hoje nas
modernas repúblicas espalhadas pelo mundo? Por exemplo, é diferente da nossa
Câmara dos Deputados e do nosso Senado? Quer dizer, a Revolução Francesa fez
escola e tem seguidores fanáticos até os dias de hoje.
[1]
Foi a convocação dos Estados Gerais (uma espécie de assembléia constituinte da
monarquia) que deu início à Revolução propriamente dita.
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