(casamento místico entre Santa
Catarina e o Menino Jesus)
Após verificarmos os exemplos da resistência de
personagens bíblicos, de santos e de
outros cristãos, que se esmeraram não somente contra as tentações de impureza, mas
na prática exímia e heroica de tão excelsa virtude da Castidade, veremos agora
alguns casos de castigos que visaram claramente punir os pecados contra aquela
angélica virtude.
Antes de tudo, convém que se leia o texto
Eis o texto de Santa Catarina:
"Tenho te mostrado, queridíssima filha minha,
uma pequena parte da vida dos que vivem em religião, em que miséria se acham na
ordem, vestido com roupas de ovelhas sendo lobos.
Agora volto aos clérigos e ministros da Santa
Igreja, lamentando-me contigo de seus pecados, ademais dos que te tenho
narrado, e das três colunas dos vícios de que te falei em outra ocasião,
queixando-me contigo deles, ou seja, da imundície da inchada soberba, pois por
ela vendiam a graça do Espírito Santo.
Cada um destes três pecados dependem um do
outro. O fundamento das três colunas é o
amor a si mesmos. Enquanto elas se mantêm em pé, são suficientes para manter a
alma fixa e obstinada em qualquer outro vício.
Por isso te disse que todos os vícios têm sua origem no amor-próprio,
pois do amor a si mesmos nasce o principal de todos, que é a soberba. O soberbo
se acha privado da dileção da caridade, e da soberba procedem a imundície e a
avareza.
Agora te digo, filha queridíssima: olha com quanta imundície têm manchado seu corpo
e seu espírito. Ainda te quero dizer algo mais para que conheças melhor a fonte
de minha misericórdia e tenhas compaixão dos miseráveis a quem se faz
referências. Têm alguns tão convertidos em demônios, que não só não guardam
reverência ao sacramento nem estimam a excelência do estado em que os tenho
posto por minha bondade, senão que, como totalmente desmemoriados por causa do
amor que têm a uma determinada criatura, ao não poder lograr o que desejam, se
darão aos encantamentos demoníacos[1].
Com o sacramento que os tenho dado farão bruxarias para satisfazer seus
miseráveis desejos e pensamentos desonestos e os porão
Oh caríssima filha! A carne, que está sobre os
coros dos anjos pela união da natureza divina com vossa natureza humana, a
entregam a tanta miséria! Oh homem abominável e desgraçado; não homem senão
besta! Tua carne, ungida e consagrada a Mim, a entregas tu às meretrizes e até
a algo pior. Tua carne e a de todo o gênero humano, a que Adão havia chagado
com seu pecado, foi livrada da chaga no madeiro da cruz pelo chagado corpo de
meu Filho unigênito. Oh miserável! Ele te tem dado honra, e tu procuras
vergonha? Te hás curado pelas chagas de seu corpo, e ainda mais, te tem feito
ministro, e tu o feres com lascivos e desonestos pecados! O bom Pastor tem
banhado as ovelhas em seu sangue, e tu as manchas para que não estejam limpas e
fazes o possível para introduzi-las no lodo? Deves ser exemplo de honestidade e
o és da desonestidade?
Tens inclinado todos os membros de teu corpo para
que obrem miseravelmente e a fazer o
contrário do que por ti tem feito minha Verdade. Eu permiti que Lhe fossem
vendados os olhos para iluminar-te, e tu, com os teus lascivos, lanças flechas
envenenadas à tua alma e ao coração daquelas a quem olhas com tanta malícia.
Permiti que Lhe dessem fel e vinagre, e tu, como besta indômita, te comprazes
nos alimentos delicados, fazendo de teu ventre um deus. Em tua língua desonesta
há palavras impuras e vãs. Com ela estás obrigado a corrigir ao próximo, a proclamar
minha palavra, a recitar o Ofício com o coração e a boca, e não ouço mais que
pestilência, jurando e perjurando como se fosses um bufarinheiro, e muitas
vezes blasfemando. Permiti que Lhe fossem atadas as mãos para livrar-te das
ataduras do pecado a ti e todo o gênero humano. Tuas mãos estão ungidas e
consagradas para administrar o santíssimo sacramento, e tu as usa torpemente em
miseráveis toques. Tudo o que se faz com tuas mãos está corrompido e dirigido
ao demônio. Oh miserável! Te coloquei em tão grande dignidade para que me
sirvas unicamente a Mim e a toda criatura racional.
Eu quis que Lhe fossem traspassados os pés e aberto
o costado, fazendo de seu corpo escada, para que visses o segredo do coração. O
coloquei como adega aberta onde podias ver e gozar do inefável amor que vos
tenho quando achais e vês minha natureza divina unida à vossa, que é humana.
Aqui vês o sangue que vós administrais, que é dado como banho limpar vossas
maldades. Tens feito de teu coração templo do demônio. Teu afeto, simbolizado
nos pés, não tem nada a oferecer senão corrupção e vitupério. Os pés de teu afeto não levam a alma a outro
lugar que aos lugares do demônio. De modo que todo teu corpo fere ao de meu
Filho, porque fazes o contrário do que Ele tem feito e do que todas as
criaturas estais obrigados a fazer.
Os membros de teu corpo têm recebido seu castigo,
porque as três potências se acham unidas nele em nome do demônio, quando
deveriam estar reunidas em Meu nome.
Tua memória deveria estar cheia dos benefícios que
de mim tens recebido, e o está de desonestidades. Com a luz da fé deverias por
os olhos de teu entendimento em Cristo crucificado, de quem te tenho feito
ministro, e tu os tem posto nas delícias, posição social e riquezas do mundo,
com mísera vaidade. Teu afeto deveria amar-Me sem intermediário algum, e tu o
hás posto miseravelmente em amar as criaturas e em teu corpo, e até amas a teus
animais mais que a Mim. Que é que me o demonstra? A impaciência que tens comigo
se te tiro o que tu amas, o desagrado que encontras no próximo quando te parece
receber algum prejuízo temporal dele.
Quando o odeias e maldizes, te aparta de meu amor e do seu. Desventurado
de ti se, feito ministro do fogo de minha caridade, tu, por teus próprios e
desonestos prazeres, perdes essa caridade pelo pequeno dano que recebes de teu
próximo!
Oh filha queridíssima! Esta é uma das três
miseráveis colunas de que falei".[2]
(Extraído de “A FELICIDADE ATRAVÉS DA CASTIDADE”, págs.
248/251 – O texto integral desta obra poderá ser obtido enviando mensagem para
meu email juracuca@gmail.com )
[1] Seriam as "missas
negras", onde se ultrajam a Hóstia consagrada?
[2] "Obras de Santa Catalina de Siena" - BAC -
págs. 299/301.
Nenhum comentário:
Postar um comentário