Logo depois da guerra, encontrava-me em San Giovanni
Rotondo, minha terra natal, no mesmo convento do Padre Pio. Pouco tempo depois
comecei a sofrer algumas dores no aparelho digestivo e fui a uma consulta
médica, e o médico me diagnosticou um mal incurável, um tumor.
Pensava já na morte e fui contar tudo ao Padre Pio, o qual –
depois de me haver escutado – bruscamente me disse; “Opera-te!” Fiquei confuso
a reagindo lhe disse: “Padre, não me vale a pena. O medico não me deu nenhuma
esperança. Agora sei que devo morrer”.
“Não importa o que te disse o médico: opera-te, porém em Roma em tal
clínica e com tal professor”.
O Padre me disse isto com tal força e com tanta segurança
que lhe contestei: “Sim, Padre, o farei”. Então ele me olhou com doçura e,
comovido, acrescentou: “Não temas, estarei sempre contigo”.
Na manhã seguinte saí de viagem para Roma, e estando sentado
no tem percebi ao meu lado uma presença misteriosa: era o Padre Pio que
mantinha a promessa de estar comigo.
Quando cheguei a Roma soube que a clínica era “Regina Elena”
e que o professor chamava-se Ricardo Moretti. Pelo entardecer ingressei na
clínica. Parecia que todos me esperavam, como se alguém houvesse anunciado
minha chegada e me acolheram imediatamente.
Às 7 da manhã estava já na sala de operações. Prepararam-me
a intervenção. Apesar da anestesia, permaneci desperto e me encomendei ao
Senhor com as mesmas palavras que Ele dirigia ao Pai antes de morrer: “Pai, em
tuas mãos encomendo meu espírito”.
Começaram os médicos a intervenção e eu ouvia tudo o que
diziam. Sofria dores atrozes, mas não me lamentava, pelo contrário, estava
contente de suportar tanta dor que oferecia a Jesus, já que aqueles sofrimentos
purificavam minha alma de meus pecados. Instantes depois adormeci.
Quando recobrei a consciência disseram-me que havia estado
três dias em coma antes de morrer.
Apresentei-me perante o Trono de Deus. Via a Deus, mas não como juiz
severo, senão como Pai afetuoso e cheio de amor. Então compreendi que o Senhor
havia feito tudo por amor, e fazia-o por mim desde o primeiro ao último
instante de minha vida, amando-me como se fosse a única criatura existente sobre
a terra.
Não obstante, dei-me conta também de que não somente não
havia me mudado este imenso amor divino, senão que o havia descuidado
totalmente. Fui condenado a passar duas ou três horas no Purgatório.
Mas, como? – perguntei-me – somente duas ou três horas? E
depois poderei permanecer para sempre próximo a Deus, eterno amor? Dei um pulo
de alegria e me senti como filho predileto. A visão desapareceu e encontrei-me
já no Purgatório.
As duas ou três de Purgatório foram dadas sobretudo por
havia faltado ao voto de pobreza, quer dizer, por haver conservado para mim
umas poucas liras,como disse antes.
Eram umas dores terríveis que não sabia de onde vinha, mas
as sentia intensamente. Os sentidos com os quais havia ofendido mais a Deus
neste mundo, os olhos, a língua... experimentava muita dor e era uma coisa
incrível porque ali embaixo, no Purgatório, a gente se sente se tivesse corpo e
conhece ou reconhece aos demais como acontece no mundo.
Entretanto, embora não houvesse passado mais que alguns
instantes com aquelas penas, parecia-me já que fosse uma eternidade. O que mais
faz sofrer no Purgatório não é tanto o fogo – também muito intenso – mas aquele
sentir-se afastado de Deus – e o que mais aflige é haver tido todos os meios a
disposição para a salvação e não haver sabido aproveitar-se deles.
Foi então quando pensei ir a um irmão de meu convento para
lhe pedir que rezasse por mim que estava no Purgatório. Aquele irmão ficou
maravilhado porque sentia minha voz mas não me via, e me perguntou: “Onde
estás, porque não te vejo?”
Insisti, e vendo que não tinha outro meio para chegar até
ele, mas meus braços se cruzavam mas não chegava. Somente então dei-me conta de
que estava sem corpo. Contentei-me com insistir para que rezasse muito por mim
para que saísse do Purgatório.
Mas como? – dizia para mim mesmo – não deveria permanecer
somente duas ou três no Purgatório? E já transcorreram trezentos anos? Pelo
menos assim me parecia. De repente se me apareceu a Bem-aventurada Virgem Maria
e lhe pedi insistentemente, lhe suplique, dizendo-Lhe:
“Oh Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, consegue-me do
Senhor a graça de voltar à terra para viver e trabalhar somente por amor de
Deus!”
Acudi também ao Padre Pio e igualmente supliquei-lhe: “Por
tuas atrozes dores, por tuas benditas chagas, padre Pio, roga por mim a Deus
para que me liberte destas chamas e me conceda continuar o Purgatório na
terra”.
Depois não vi nada mais, ,mas me dei conta de que o Padre
falava à Virgem. Alguns instantes depois se me apareceu novamente a Bem-aventurada
Virgem Maria; era Santa Maria das Graças, mas estava sem o Menino Jesus,
inclinou a cabeça e me sorriu. Naquele mesmo momento voltei a tomar posse de
meu corpo, abri os olhos e estendi os braços. Depois, com um movimento brusco,
libertei-me do lençol que me cobria. Estava contente, havia recebido a graça. A
Santíssima Virgem havia me escutado.
Imediatamente depois, os que velavam e rezavam,
assustadíssimos, se precipitaram para fora da sala a buscar enfermeiros e
doutores. Em poucos minutos a clínica estava abarrotada de gente. Todos
acreditavam que eu era um fantasma e decidiram fechar bem as portas e
desaparecer, por certo temor aos espíritos.
Pela manhã seguinte levante-me e sentei-me numa cadeira.
Apesar de que a porta estivesse cuidadosamente vigiada, alguns lograram entrar
e me pediram que lhes explicasse o que me havia sucedido. Para lhes
tranqüilizar, disse-lhes que estava chegando o médico de plantão, ao qual tinha
que dizer o que me havia passado. Correntemente, os médicos não chegavam antes
das dez, mas naquela manhã não eram nem sete, e disse aos presentes:
“Olhai que o médico está chegando; agora está abastecendo o
carro em tal posto”. Mas ninguém me
acreditava. E eu continuava dizendo-lhes:
“Agora está atravessando a avenida, leva a jaqueta sobre o
braço e passa a mão pela cabeça como se estivesse preocupado, não sei o que
tem”.
Mas ninguém dava crédito a minhas palavras. Então disse:
“Para que me acrediteis, que não minto, os confirmo que agora o médico está
subindo no elevador e está para chamar à porta”. Apenas havia terminado de
falar, abre-se a porta e entra o médico ficando todos os presentes
maravilhados. Com lágrimas nos olhos o doutor disse:
“Sim, agora creio em Deus, creio na Igreja e creio no Padre
Pio”.
Aquele médico que antes não acreditava e cuja fé era como
água de rosas, confessou que àquela noite não havia conseguido fechar os olhos
pensando na minha morte, que ele havia comprovado, sem dar mais explicações.
Disse que apesar do atestado de óbito que havia feito, voltava para
certificar-se do fato, pois lhe sucedera naquela noite muitos pesadelos, porque
aquele morto (que era eu) não era um morto como os demais e que efetivamente
não havia se enganado”.
Fonte:
Nenhum comentário:
Postar um comentário