domingo, 1 de novembro de 2020

TRÊS HORAS NO PURGATÓRIO

 




 “Sol de Fátima” publicou o testemunho de Frei Daniele, companheiro inseparável do Padre Pio. Este interessante relato sobre a experiência de Frei Daniele e o Purgatório, e posterior ressurreição do mesmo, foi transformado em livro pelo Padre Remigio Fiore, cujo título é, em italiano, “Omagio a Fray Daniele”. Aprovação eclesiástica de Monsenhor Serafino Spreafico, bispo capuchinho, em 29.7.1998, Convento de Santa Maria de las Gracias, San Giovanni Rotondo Foggia.

 Eis a tradução do relato de Frei Daniele, extraído do italiano.

 “Tenho levado minha vida fazendo o trabalho que me correspondia: de porteiro, sacristão, pedir esmolas e cozinheiro. Com freqüência saía com a mochila às costas para pedir esmolas de porta em porta. Fazia compras todos os dias para o convento. Todos me conheciam e me queriam bem. Sempre que comprava alguma coisa me faziam descontos, e aquelas poucas liras que recolhia, em vez de entregá-las ao superior as conservava para a correspondência, minhas pequenas necessidades e também para ajudar os militares que batiam à porta do convento.

Logo depois da guerra, encontrava-me em San Giovanni Rotondo, minha terra natal, no mesmo convento do Padre Pio. Pouco tempo depois comecei a sofrer algumas dores no aparelho digestivo e fui a uma consulta médica, e o médico me diagnosticou um mal incurável, um tumor.

Pensava já na morte e fui contar tudo ao Padre Pio, o qual – depois de me haver escutado – bruscamente me disse; “Opera-te!” Fiquei confuso a reagindo lhe disse: “Padre, não me vale a pena. O medico não me deu nenhuma esperança. Agora sei que devo morrer”.  “Não importa o que te disse o médico: opera-te, porém em Roma em tal clínica e com tal professor”.

O Padre me disse isto com tal força e com tanta segurança que lhe contestei: “Sim, Padre, o farei”. Então ele me olhou com doçura e, comovido, acrescentou: “Não temas, estarei sempre contigo”.

Na manhã seguinte saí de viagem para Roma, e estando sentado no tem percebi ao meu lado uma presença misteriosa: era o Padre Pio que mantinha a promessa de estar comigo.

Quando cheguei a Roma soube que a clínica era “Regina Elena” e que o professor chamava-se Ricardo Moretti. Pelo entardecer ingressei na clínica. Parecia que todos me esperavam, como se alguém houvesse anunciado minha chegada e me acolheram imediatamente.

Às 7 da manhã estava já na sala de operações. Prepararam-me a intervenção. Apesar da anestesia, permaneci desperto e me encomendei ao Senhor com as mesmas palavras que Ele dirigia ao Pai antes de morrer: “Pai, em tuas mãos encomendo meu espírito”.

Começaram os médicos a intervenção e eu ouvia tudo o que diziam. Sofria dores atrozes, mas não me lamentava, pelo contrário, estava contente de suportar tanta dor que oferecia a Jesus, já que aqueles sofrimentos purificavam minha alma de meus pecados. Instantes depois adormeci.

Quando recobrei a consciência disseram-me que havia estado três dias em coma antes de morrer.  Apresentei-me perante o Trono de Deus. Via a Deus, mas não como juiz severo, senão como Pai afetuoso e cheio de amor. Então compreendi que o Senhor havia feito tudo por amor, e fazia-o por mim desde o primeiro ao último instante de minha vida, amando-me como se fosse a única criatura existente sobre a terra.

Não obstante, dei-me conta também de que não somente não havia me mudado este imenso amor divino, senão que o havia descuidado totalmente. Fui condenado a passar duas ou três horas no Purgatório.

Mas, como? – perguntei-me – somente duas ou três horas? E depois poderei permanecer para sempre próximo a Deus, eterno amor? Dei um pulo de alegria e me senti como filho predileto. A visão desapareceu e encontrei-me já no Purgatório.

As duas ou três de Purgatório foram dadas sobretudo por havia faltado ao voto de pobreza, quer dizer, por haver conservado para mim umas poucas liras,como disse antes.

Eram umas dores terríveis que não sabia de onde vinha, mas as sentia intensamente. Os sentidos com os quais havia ofendido mais a Deus neste mundo, os olhos, a língua... experimentava muita dor e era uma coisa incrível porque ali embaixo, no Purgatório, a gente se sente se tivesse corpo e conhece ou reconhece aos demais como acontece no mundo.

Entretanto, embora não houvesse passado mais que alguns instantes com aquelas penas, parecia-me já que fosse uma eternidade. O que mais faz sofrer no Purgatório não é tanto o fogo – também muito intenso – mas aquele sentir-se afastado de Deus – e o que mais aflige é haver tido todos os meios a disposição para a salvação e não haver sabido aproveitar-se deles.

Foi então quando pensei ir a um irmão de meu convento para lhe pedir que rezasse por mim que estava no Purgatório. Aquele irmão ficou maravilhado porque sentia minha voz mas não me via, e me perguntou: “Onde estás, porque não te vejo?”

Insisti, e vendo que não tinha outro meio para chegar até ele, mas meus braços se cruzavam mas não chegava. Somente então dei-me conta de que estava sem corpo. Contentei-me com insistir para que rezasse muito por mim para que saísse do Purgatório.

Mas como? – dizia para mim mesmo – não deveria permanecer somente duas ou três no Purgatório? E já transcorreram trezentos anos? Pelo menos assim me parecia. De repente se me apareceu a Bem-aventurada Virgem Maria e lhe pedi insistentemente, lhe suplique, dizendo-Lhe:

“Oh Santíssima Virgem Maria, Mãe de Deus, consegue-me do Senhor a graça de voltar à terra para viver e trabalhar somente por amor de Deus!”

Acudi também ao Padre Pio e igualmente supliquei-lhe: “Por tuas atrozes dores, por tuas benditas chagas, padre Pio, roga por mim a Deus para que me liberte destas chamas e me conceda continuar o Purgatório na terra”.

Depois não vi nada mais, ,mas me dei conta de que o Padre falava à Virgem. Alguns instantes depois se me apareceu novamente a Bem-aventurada Virgem Maria; era Santa Maria das Graças, mas estava sem o Menino Jesus, inclinou a cabeça e me sorriu. Naquele mesmo momento voltei a tomar posse de meu corpo, abri os olhos e estendi os braços. Depois, com um movimento brusco, libertei-me do lençol que me cobria. Estava contente, havia recebido a graça. A Santíssima Virgem havia me escutado.

Imediatamente depois, os que velavam e rezavam, assustadíssimos, se precipitaram para fora da sala a buscar enfermeiros e doutores. Em poucos minutos a clínica estava abarrotada de gente. Todos acreditavam que eu era um fantasma e decidiram fechar bem as portas e desaparecer, por certo temor aos espíritos.

Pela manhã seguinte levante-me e sentei-me numa cadeira. Apesar de que a porta estivesse cuidadosamente vigiada, alguns lograram entrar e me pediram que lhes explicasse o que me havia sucedido. Para lhes tranqüilizar, disse-lhes que estava chegando o médico de plantão, ao qual tinha que dizer o que me havia passado. Correntemente, os médicos não chegavam antes das dez, mas naquela manhã não eram nem sete, e disse aos presentes:

“Olhai que o médico está chegando; agora está abastecendo o carro em tal posto”.  Mas ninguém me acreditava. E eu continuava dizendo-lhes:

“Agora está atravessando a avenida, leva a jaqueta sobre o braço e passa a mão pela cabeça como se estivesse preocupado, não sei o que tem”.

Mas ninguém dava crédito a minhas palavras. Então disse: “Para que me acrediteis, que não minto, os confirmo que agora o médico está subindo no elevador e está para chamar à porta”. Apenas havia terminado de falar, abre-se a porta e entra o médico ficando todos os presentes maravilhados. Com lágrimas nos olhos o doutor disse:

“Sim, agora creio em Deus, creio na Igreja e creio no Padre Pio”.

Aquele médico que antes não acreditava e cuja fé era como água de rosas, confessou que àquela noite não havia conseguido fechar os olhos pensando na minha morte, que ele havia comprovado, sem dar mais explicações. Disse que apesar do atestado de óbito que havia feito, voltava para certificar-se do fato, pois lhe sucedera naquela noite muitos pesadelos, porque aquele morto (que era eu) não era um morto como os demais e que efetivamente não havia se enganado”.

 (SOL DE FATIMA, número 188, pagina 26-27. noviembre-diciembre, 1999),

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