sexta-feira, 13 de novembro de 2020

O MENINO JESUS EXORCIZA POR ONDE PASSA

 


O caráter exorcístico da ação apostólica de Nosso Senhor já se manifesta com fatos ocorridos desde sua infância. É fato notório, confirmado pela Tradição e por documentos históricos (embora não referidos pelos Evangelistas) que todos os demônios eram expulsos no Egito por onde passava o Menino Jesus. Nem sempre tais exorcismos são aqueles do tipo clássico, que Nosso Senhor praticou em sua vida pública, mas a simples expulsão dos demônios de lugares, de ídolos, etc., pois Deus não permitiria Se estar presente onde houvesse adoração de criaturas inferiores e possuídas pelos demônios. É preciso notar que na viagem ao Egito estava presente não somente a Cabeça do Corpo Místico de Cristo, o próprio Menino Jesus, mas seu corpo místico então formado por Nossa Senhora e São José.

E a região para onde foram era predominantemente pagã. A cidade de Heliópolis, chamada na Bíblia de On, havia sido capital do Egito durante a 5ª. Dinastia (por volta de 2.500 a.C.). Com a dominação persa e a influência grega é que mudou o nome para Heliópolis: a cidade do sol.  Segundo crença antiga difundida pela gnose, ali havia sido o local da criação do mundo, onde o oceano primordial fez jorrar o outeiro, o morro, ou seja, a primeira terra. Neste local teria surgido o primeiro demiurgo, ou deus, Rá, um dos mais antigos faraós divinizados.  Rá deu luz à Shu, o ar, e Tfnut, a umidade, que engendraram a terra. Grande parte da mitologia dos deuses gregos surgiram destas lendas.  Apolo, deus grego, é tido também como “deus do sol que conduz diariamente o carro do sol de um extremo a outro do céu”.

Os chamados Evangelhos Apócrifos da Infância de Jesus contam que ao chegar a Sagrada Família na entrada da cidade de Heliópolis, antro propulsor da idolatria naquele país, os demônios gritavam de dentro dos ídolos: “Fujamos daqui que vem chegando um grande rei com grande e poderoso exército!”  O rei era o Menino Jesus, e o exército era formado pelos coros angélicos que O acompanhavam onde quer que fosse. Embora os referidos “evangelhos”  não sejam reconhecidos como canônicos pela Igreja, eles costumam ser citados como fontes de piedade cristã, apesar de conter alguns exageros destinados a estimular o legendário e maravilhoso, a exemplo da “Legenda Dourada” de Santiago de la Vorágine.

Eis um dos relatos do referido “Evangelho”:

“...E considerava atentamente aquela imagem incrustada no templo em ouro e em prata, por cima da qual havia uma inscrição: Este é Apolo, o deus criador do céu e da terra, e o que tem dado a vida a todo o gênero humano. Ao ver isto, Jesus se indignou em sua alma, e, levantando os olhos ao céu, disse: Pai, glorifica a teu filho, para que tu sejas glorificado. E eis que uma voz saiu dos céus, que dizia: O tenho glorificado e o glorificarei novamente.

“E, no mesmo instante em que falou Jesus a terra tremeu e toda a estrutura do templo de desmoronou de cima a baixo. E o ídolo de Apolo, os sacerdotes do santuário e os pontífices dos falsos deuses ficaram sepultados no interior do edifício e pereceram. O resto da população que se encontra ali fugiu daquele lugar. Todos os ídolos e todos altares dos demônios que havia na cidade se abateram em ruínas. E todos os edifícios religiosos e todas as estátuas mágicas que rodeavam a cidade, imagens inanimadas de homens, feras e animais, caíram por terra com grande estrondo. Então os demônios lançaram um grito e disseram: Vede todos e compadecei-vos de nós, porque um menino tão pequeno nos destruiu, sendo o que somos, arruinando nossa morada, exterminando nossos servidores e fazendo-os falecer com má morte. Apoderai-vos, pois, dele e o matai sem piedade” [1]

A vidente Beata Catharina Emmerich teve visões deste exorcismo que foi assim relatado:

“Depois de se refrescarem aqui eles viajaram para uma grande cidade chamada Heliópolis ou On, que tinha belas construções mas muitas delas foram destruídas.[2] Quando os filhos de Israel estavam no Egito, o sacerdote egípcio Putifar viveu aqui e tinha em sua casa Asenet (a filha de Dina dos Siquemitas) com quem José (do Egito) se casou. Também Dionísio, o areopagita,, viveu neste lugar na época da morte de Cristo. A cidade foi devastada pela guerra, mas muitas pessoas fizeram casas sobre as ruínas.

“A Sagrada Família cruzou uma ponte muito alta sobre um largo rio que me parecia ter vários braços. Eles chegaram a um lugar aberto em frente do portão da cidade que era cercado por uma espécie de passeio público. Aqui havia um pedestal, mais espesso na parte inferior, com um grande ídolo com cabeça touro segurando em seus braços algo como uma criança de fraldas. O ídolo estava rodeado por um círculo de pedras como bancos ou tábuas e as pessoas vinham em multidões da cidade para depositar oferendas a ele. Não muito longe deste ídolo havia uma grande árvore sob a qual a Sagrada Família sentou-se para descansar. Pouco tempo depois veio um terremoto e o ídolo tremeu caindo no chão. Houve um alvoroço entre as pessoas e uma multidão de trabalhadores do canal correu para as proximidades.,etc.”. [3]

Em seguida, a vidente conta que a população quis investir contra a Sagrada Família, sabendo Quem causou a destruição de seus ídolos, mas sem obter sucesso, é claro. 



[1] “Evangelio de la Infancia de Jesucristo” – Ediciones Obelisco – pág. 74

[2] O geógrafo grego Estrabão esteve lá antes da Sagrada Família e deixou registrada a situação da cidade por causa da guerra, quase deserta e cheia de ruínas.

[3] Anna Catharina Emmerich – “Santíssima Virgem” – Mir Editora – pág. 354

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