Primeiro domingo do Advento
SOBRE
O TEMPO DO ADVENTO
Há chegado,
amatíssimos irmãos, aquele tempo tão importante e solene, que, como disse o
Espírito Santo, é tempo favorável, dia da salvação,
da paz e da conciliação; o tempo que tão ardentemente desejaram os Patriarcas e
Profetas e que foi objeto de tantos suspiros e anseios; o tempo que Simeão viu
cheio de alegria, que a Igreja celebra solenemente e que também nós devemos
viver em todo momento com fervor, louvando e dando graças ao Pai Eterno pela
misericórdia que neste mistério nos tem manifestado. O Pai, por seu imenso amor
para conosco, pecadores, nos enviou o seu Filho único, para nos livrar da
tirania e do poder do demônio, nos convidar para o céu e nos inrtroduzir no
mais profundo dos mistérios de seu reino, nos manifestar a verdade, nos ensinar
a honestidade de costumes, nos comunicar o germen das virtudes, nos enriquecer
com os tesouros de sua graça e nos fazer seus filhos adotivos e herdeiros da
vida eterna.
A Igreja
celebra a cada ano o mistério deste amor tão grande para conosco, nos exortando
a tê-lo sempre presente. Por sua vez nos ensina que a vinda de Cristo não
somente é proveitosa aos que viviam no tempo do Salvador, mas que sua eficácia
continua, e ainda hoje se nos comunica se queremos receber, mediante a fé e os
sacramentos, a graça que Ele nos prometeu, e se ordenamos nossa conduta
conforme seus mandamentos.
A Igreja
deseja vivamente nos fazer compreender que assim como Cristo veio uma vez ao
mundo na carne, da mesma maneira está disposto a voltar a qualquer momento para
habitar espiritualmente em nossa alma com a abundancia de suas graças, se nós,
por nossa parte, tiramos todo obstáculo.
Por isso, durante este tempo, a Igreja, como mãe amorosa e zelosíssima de nossa
salvação, nos ensina, através de hinos, cânticos e outras palabras do Espírito
Santo e de diversos ritos, a receber convenientemente e com um coração
agradecido este benefício tão grande, a nos enriquecer com seu fruto e a
preparar nossa alma para a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo com tanta
solicitude como se tivesse Ele de vir novamente ao mundo. Não de outra maneira
no-lo ensinaram com suas palavras e exemplos os Patriarcas do Antigo Testamento
para que nisso os imitássemos.
(Das
cartas pastorais de São Carlos Borromeu, bispo – Acta Ecclesiae Mediolanenseis,
t. 2, Lyon 1683, pp. 916-917)
COMENTÁRIOS
DE SÃO TOMÁS AQUINO SOBRE O ADVENTO E O NATAL DO MENINO JESUS
Imensidade do Amor
Divino
Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu
Filho Unigênito para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida
eterna (Jo 3, 16.)
A causa de todos os nossos bens é o Senhor e
o amor divino; porque amar é desejar o bem de alguém. E como a vontade de Deus
é a causa de todas as coisas, o bem vem a nós porque Deus nos ama. O amor de
Deus é, portanto, a causa do bem de nossa natureza. É também do bem da graça
(Jer 31,3): Com amor perpétuo vos amei; por isso vos atraiu para mim, isto é,
por meio da graça.
Que Ele seja também um doador do bem da graça
procede de grande caridade, e, portanto, é mostrado aqui com quatro razões que
esta caridade de Deus é máxima:
1º) Pela razão da pessoa que ama, pois Deus é
aquele que ama sem a medida. Por isso disse: De tal maneira amou Deus .
2ª) Pela condição do amado; porque o amado é
o homem, ou seja, o homem mundano, corpóreo, pecador. Mas Deus faz sua caridade
brilhar em nós, porque, sendo todavia seus inimigos, fomos reconciliados com
Deus por meio da morte de seu Filho (Rm 5,8,10). É por isso disse: Deus amou
tanto o mundo.
3º) Pela grandeza dos dons; porque o amor se
demonstra por meio da dádiva, pois, como disse São Gregório, a prova do amor é
a ação.
Deus nos deu o dom máximo, pois nos deu seu
Filho unigênito; o sua Filho por natureza, consubstancial a Si mesmo, não
adotivo; unicamente gerado, para mostrar que o amor de Deus não é dividido
entre muitos filhos, mas vai todo inteiro ao Filho que Ele nos deu, como prova
do Seu amor sem medida.
4º) Pela magnitude do fruto; porque por esse
dom alcançamos a vida eterna. Por isso disse: Para que todo aquele que crê não
pereça, mas tenha a vida eterna, que Ele adquiriu para nós por sua morte de
cruz.
Diz-se que uma coisa perece quando é impedida
de alcançar seu próprio fim. O homem tem vida eterna para seu próprio fim, e
quantas vezes ele peca aparta-se desse fim. E mesmo que, enquanto vive, não
perece totalmente, pois pode reabilitar-se,
no entanto, quando morre em pecado perece totalmente. Nas palavras:
“tenha vida eterna” se indica a imensidão do amor divino; porque ao dar a vida
eterna, Deus se dá a si mesmo; porque a vida eterna não é outra coisa para
desfrutar de Deus. Doar-se é sinal de grande amor. (In Joan., 3)
(Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI
LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de
Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)
- Ele se encarnou pela virtude do Espírito Santo, e se fez homem
Mas como é possível, ó meu Jesus, que eu tenha tantas vezes renovado voluntariamente com os ultrajes que cometi contra vós, essa horrível ruína causada pelo pecado e reparada com a vossa morte? Custou-vos tanto o salvar-me; e eu tantas vezes quis perder-me, perdendo a vós, o Bem infinito! Uma coisa reanima a minha confiança: vós dissestes que, quando o pecador, que vos voltou as costas, se converte, não deixais de abraçá-lo: Convertei-vos a mim... e eu me voltarei a vós. Dissestes ainda: Se alguém me abrir a porta, entrarei nele. Eis-me, Senhor, sou um desses rebeldes, um ingrato e traidor, que vos voltou muitas vezes as costas e vos expulsou de sua alma; mas hoje arrependo-me do fundo do coração de vos haver assim ultrajado e desprezado a vossa graça. Arrependo-me, e amo-vos sobre todas as coisas. Está aberta a porta do meu coração; entrai, pois, ó Jesus, mas entrai para não mais sair. Sei que vós não vos afastareis jamais, se eu vos não tonar a expulsar; mas é isso que temo; e é essa a graça que vos peço e espero pedir-vos sempre, de antes morrer do que tornar-me culpado dessa nova e extrema ingratidão. Meu caro Redentor, as ofensas que vos fiz, tornaram-me indigno de vos amar; mas peço-vos pelos vossos méritos me concedais o dom do vosso santo amor. Para isso fazei-me conhecer o grande bem que sois, o amor que me tendes, e tudo quanto fizestes para me obrigar a amar-vos. Ah! meu Deus e meu Salvador, não me deixeis viver mais na ingratidão para com tão grande bondade. Não quero mais abandonar-vos, meu Jesus. Muito vos tenho ofendido; é justo que empregue o resto da minha vida em amar-vos e agradar-vos. Meu Jesus! meu Jesus! ajudai-me; ajudai um pecador que deseja amar-vos.
Ó Maria,
minha Mãe, podeis tudo junto de Jesus, porque sois sua Mãe; dizei-lhe que me
perdoe; dizei-lhe que me prenda com seu santo amor. Vós sois a minha esperança,
em vós confio.
(“Encarnação, Nascimento e Infância de Jesus Cristo” - Santo Afonso Maria de Ligório - Doutor da Igreja e Fundador da Congregação Redentorista - Tradução do Pe. OSCAR DAS CHAGAS AZEREDO, C.Ss.R. Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 119/120)
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