Amanhã
será festa de Santa Isabel da Hungria. Dom Guéranger, no l’Année
Liturgique, escreve o seguinte a
seu respeito:
“Filha de André II, rei da Hungria, Isabel
nasceu no ano de 1207. Com a idade de apenas quatro anos, ela foi à corte da
Turíngia, onde desposou, em 1221, o Landgrave Luís. Casamento feliz. O príncipe
compreendeu admiravelmente a sua ainda tão jovem esposa e lhe deu liberdade de
praticar as suas devoções e as suas penitências à vontade. E, ao mesmo tempo,
ele abria largamente a sua bolsa à inesgotável caridade da princesa. Esposa e
mãe exemplar, Elisabeth se levantava durante a noite e permanecia longas horas
em oração”.
“As
provações começaram quando da partida do duque Luís para a Cruzada. Não levou
muito tempo para que ela tomasse conhecimento de sua morte, no ano de 1227,
quando ela tinha, portanto, vinte anos. E o próprio irmão do landgrave, chamado
Henrique, deitou imediatamente a mão sobre os estados do defunto. Expulsa de
sua residência com suas quatro crianças, da qual a última não tinha senão
alguns meses de idade, sem recursos, ela foi obrigada a procurar, em pleno
inverno, um agasalho que a crueldade de seu cunhado proibia aos habitantes de
lhe fornecer”.
“Ela
conheceu então a pior miséria e se sentiu feliz de encontrar um abrigo num
estábulo para porcos. Em pouco tempo, porém, a sua fortuna lhe foi restituída,
mas ela quis permanecer entre os pobres e foi no meio deles, em uma choupana,
que ela morreu, no dia 17 de novembro de 1231, na idade de 24 anos. Quatros
anos mais tarde, Gregório IX a canonizava e seu culto se estendeu à toda a
Igreja Universal”.
Alguns
fatos desta vida são dignos de nota. Ela era filha do rei da Hungria e casou-se
com um landgrave alemão, da Turíngia. O que era um landgrave? Ao pé da letra,
“land” é terra e “grave” é conde. O landgrave é o conde de uma terra. Mas era
um grande senhor feudal, uma espécie de príncipe, com o qual ela se casou e foi
para sua corte aos quatro anos de idade. Isto porque prevalecia naquele tempo a
idéia de que, pelo menos nas altas camadas sociais, era conveniente mandar que
as meninas fossem muito cedo para os castelos e as famílias onde deveriam se
casar. Assim poderiam tomar toda a formação e assumir inteiramente toda a alma
do lugar, embora elas fossem livres de dizer “não” no momento em que fossem
maiores e de fato se casassem.
Ela
foi muito feliz com seu esposo, durante o todo o tempo, até o mesmo ir para a
Cruzada. Mas acontece que os
verdadeiros filhos da luz, os verdadeiros católicos, sempre acumulam em torno
de si toda espécie de inimizade. Não existe nenhum verdadeiro católico que não seja perseguido.
Nosso Senhor Jesus Cristo já disse isso: todo Seu autêntico discípulo seria
perseguido, como Ele o fora também. Assim, tinha ela contra si toda espécie de
odiosidades formadas e que em geral provinham de sua virtude, explorada
em aspectos que são menos fáceis de compreender por pessoas de mau espírito.
Assim,
por exemplo, numa ocasião ela recolheu em seu castelo um leproso que viu passar
pelas ruas, e o deitou no próprio leito, começando a tratá-lo como se fosse o
próprio Cristo. E isto por causa daquela palavra de Nosso Senhor, de que todos
os que são sofredores representam a Ele. E a sogra, sabendo disso, procurou o
landgrave e lhe disse: “Veja o que é sua esposa! Ela está metendo um leproso em
sua cama, para depois a doença passar para você quando for lá. Vá e encontrará
um leproso deitado na cama”.
Ele
foi, viu o leproso deitado na cama, arrancou o lençol e disse: “O que é isso? O
que significa esse homem deitado nesse leito?” Ela respondeu: “Meu esposo, este
homem é Nosso Senhor Jesus Cristo”. No momento em que disse isso, deu-se o
milagre e o duque viu - na pessoa do leproso - Nosso Senhor Jesus Cristo,
sentindo um cheiro admirável de rosas que se exalava da pessoa do leproso.
Então, ficou profundamente impressionado e a sogra perdeu a partida...
O
duque era muito bom homem, mas morreu e a perseguição se desencadeou em cima
dela de um modo trágico. Os senhores vêem, ela que era a duquesa do lugar e
filha de rei, teve que morar num estábulo de porcos. Quer dizer, foi a pior das
perseguições. E uma coisa tremenda, que nos faz ver bem qual é a realidade das
misérias humanas, é a seguinte: muitas vezes eram pessoas que tinham sido
cumuladas por ela com toda espécie de liberalidades que se manifestavam frias a
seu respeito na hora de perseguição. Em vez de ir ao encontro dela, se
afastavam, mantinham distância e na hora da perseguição, se afirmavam frias em
relação à sua benfeitora.
Houve
uma famosa noite em que ela foi a um convento. Foi muito bem recebida lá, mas
depois teve que se retirar, porque o cunhado estava se aproximando para
persegui-la. Então saiu dessa abadia, onde tinha mandado cantar um Te Deum para dar graças a Deus pelos sofrimentos
pelos quais estava passando. E caiu uma chuva medonha em cima dela e dos
filhos. Mas chuva de inverno europeu, os senhores não podem ter idéia do que é,
porque chove água gelada, para não dizer que chove gelo. É uma coisa tremenda!
E ela no mato, sofrendo aquilo tudo...
Nesse
momento teve até um momento de desfalecimento e parece que lhe passaram pela
cabeça umas dúvidas quanto à fé, a respeito das quais não se sabe bem qual foi
o grau de seu consentimento. E se penitenciou a vida inteira disso - para os
senhores verem como o homem é fraco... Mas a Providência a perdoou e, afinal de
contas, ela levou anos de penitência, chegando até à mais alta santidade. Os
senhores vêem isso pelo fato de que a fortuna lhe foi restituída e, entretanto,
ela não quis mais voltar para as regalias antigas: quis passar o resto de sua
vida entre os pobres.
Seu
diretor espiritual era um capuchinho chamado Conrado, que a submetia a grandes
provações. Mas a Escritura diz: “repreende o justo e ele te amará”. Quer dizer,
quando o homem é justo, gosta de ser repreendido. Quando não gosta de ser
repreendido, tem que adquirir no caminho a justiça... Ela era justa e gostava
dessa direção espiritual, por certo muito pouco modern style, muito
pouco aggiornata.
Mas
era tal a consciência que tinham os habitantes da Turíngia do papel desse homem
em sua santificação que em honra dela mandaram construir um monumento a ele. Os
senhores estão vendo por aí a profundidade de conceito que eles tinham disso.
*
* *
Para
concluir, a fim de que os senhores vejam como a Revolução extingue ou tenta extinguir as coisas mais gloriosas e
mais admiráveis: uma das cenas mais famosas da pseudo-reforma
protestante foi a declaração da reforma, creio que na Turíngia. O landgrave
protestante chegando à porta da igreja, diante de um povo incontável, abre o
esquife de Santa Isabel da Hungria, ou o relicário onde ela está, e faz o vento
soprar em cima, o que espalha por todos os lados as cinzas da Santa... Isto é o
protestantismo. Esse landgrave era descendente de Santa Isabel e fazia isso na
qualidade de tal. Os senhores vejam até onde podem chegar as coisas e qual a
miséria da vida humana...
Temos
alguma coisa a pensar a respeito de Santa Isabel da Hungria? Certamente.
Devemos ver nessa santa a constância nas piores desgraças. Há duas formas de constância na desgraça:
uma consiste em a pessoa aguentá-la quando acontece. Mas há uma outra
forma: quando a pessoa prevê a desgraça e é capaz de antevê-la e de a fitar com
olhos calmos, é capaz de oferecer o sacrifício que terá ou que fará a Nossa
Senhora; é capaz de fazer a oração de Nosso Senhor no Horto das Oliveiras: “Meu
pai, se for possível, afaste-se de mim esse cálice. Mas se não for, seja feita
a Vossa vontade e não a minha”.
Isto
é a vida de Santa Isabel da Hungria e é isto que devemos ter diante de nós: a
calma, a resignação de ver as desgraças pelas quais devemos passar e a
constância no decurso delas. O que não se pode conseguir a não ser seguindo
o exemplo adorável de Nosso Senhor
Jesus Cristo: na hora da aflição, orar e vigiar para não cair em tentação.
É isto que devemos fazer, por meio
da prece onipotente de Nossa Senhora.
(Plínio Corrêa de Oliveira - Santo
do Dia, 18 de novembro de 1966)
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