Está completando cinquenta anos a Revolução da Sorbonne, que teve como
ponto máximo de suas manifestações uma passeata gigante, seguida de distúrbios
sociais, ocorrida em maio de 1968. Muitos jornalistas, escritores e
historiadores já se debruçaram sobre os fatos ocorridos naquela data, dali
tirando muitas conclusões ou lições para os dias futuros. O próprio presidente
francês, Sarkozy, fez o lema de sua campanha política baseado na rejeição aos
ideais daquela revolução. E, talvez por causa disso, foi eleito. De outro lado,
a candidata socialista Segolene Royale fez o contrário, fez apologia da
Sorbonne 68, e também talvez por causa disso tenha sido derrotada.
Aparentemente isto pode significar que aqueles ideais foram completamente rejeitados
pela opinião pública, especialmente no que diz respeito aos costumes e normas
de vida. Iremos analisar os fatos e verificar que não é bem assim, pois a
sociedade hoje vive inteiramente os princípios apregoados por aqueles
anarquistas.
Diferentemente da Revolução Francesa, em 1789, ou da Comunista, em 1917,
a Revolução da Sorbonne não veio derrubar tronos ou uma classe social, mas sim
explorar os impulsos desregrados dos homens para impeli-los a uma nova
concepção de vida. Foi uma revolução comportamental, tendencial, instintiva,
pode-se dizer. E os princípios e ideais implícitos nela foram disseminados e
absorvidos por todas as populações da terra, especialmente no mundo ocidental.
Diz-se que a Revolução da Sorbonne ocorreu em maio de 1968, mas na
realidade ela se iniciou em março do mesmo ano, ocasião em que estudantes
"invadiram" uma universidade dos subúrbios de Paris (Nanterre),
crescendo depois a contestação até chegar à Sorbonne. A "tomada", ou
invasão, daquela famosa universidade revestiu-se de um ato um tanto simbólico,
embora os manifestantes tenham-na usado para estabelecer o QG central da
revolução e com isso executar seus posteriores lances no resto da cidade.
Vieram depois as adesões dos sindicatos, associações civis de diversas
natureza, políticos, escritores, jornalistas, e, principalmente, de filósofos,
dentre os quais o criador do Existencialismo, Jean Paul Sartre. Da mesma forma
foi quase simbólico os atos de invasões das fábricas ou praças.
Por que digo "simbólico?" Porque os estudantes já conviviam
dentro das universidades, era lá que estudavam, e alguns até moravam em seus
albergues; os operários, por sua vez, também já estavam lá dentro das fábricas,
era lá que passavam a maior parte do dia trabalhando. Mas o ato de se fazer uma
"ocupação", seguido de publicidade, chamou a atenção pelo que se
revestiu de uma ação voltada contra as instituições. Da mesma forma, a tomada
da Bastilha, em 1789, foi um ato meramente simbólico para representar a
derrubada do poder que se via naquela torre. Na Revolução Francesa se arremetia
contra a classe social dominante, representada na Bastilha; na Revolução da
Sorbonne, investia-se contra as instituições em busca da utopia da
"autogestão", isto é, a ausência do poder e a predominância da
autonomia dos dirigidos na direção destas mesmas instituições.
O próprio Conh Bendit (como se sabe é alemão e não francês), um dos
principais dirigentes daquela Revolução, declarou anos depois que seus
objetivos não era tomar ou ocupar algo como posse ou como assunção do poder,
pois eles contestavam a própria validade do poder. Seus objetivos eram
meramente filosóficos, eram de natureza psicológica, uma conquista das mentes
das pessoas a fim de mudarem seus padrões de vida. O resultado vê-se hoje: por
toda parte há contestação contra qualquer poder, há relativismo moral em tudo,
aceitando-se o amor livre, o divórcio, o aborto e o homossexualismo como a
coisa mais natural do mundo.
Fazendo coro àqueles que sempre falam de Revolução como coisa
espontânea, disse Conh Bendit : "Sessenta e
oito foi a revolta dos jovens contra o mundo criado por seus pais (...) após a
guerra (...), rígido e conservador. Os novos direitos das mulheres,
homossexuais, minorias, etc, e a consciência ecológica, de pós-68, teriam criado
um mundo verdadeiramente novo, tornando anacrônicas lutas velhas de quatro
décadas, inadequadas à sociedade que soube se recriar permanentemente".
Não, as revoluções sociais não são espontâneas, elas não nascem do chão
como uma planta surgida de uma semente: as revoluções são fenômenos de grupos
organizados, que, de uma forma estruturada e bem arquitetada por mentes
inteligentes, investem contra seus opositores, contra uma classe, ou, no caso,
contra as instituições sociais. Após a Revolução da Sorbonne surgiram as atuais
modas da indumentária, das mochilas, das tribos urbanas, dos hippies, dos
punks, etc. Em alguns países, especialmente nos Estados Unidos da América, logo
se iniciou uma campanha para que as escolas fossem mistas e dessem educação
sexual aos alunos, atributo que era exclusivo dos pais antigamente. Os efeitos
deletérios desta famigerada educação sexual fez-se sentir já a partir dos anos
80 e 90, fazendo com que não fossem mais obrigatória em diversos países. Mas o
maior dividendo, a maior vitória auferida pela Sorbonne-68 foi a disseminação
da revolta contra a autoridade, contra a lei ou contra os vínculos morais da
sociedade. E hoje colhemos os frutos desta liberação assustadora com a inchação
de vícios e violências de todos os tipos.
Foi pra isso que veio a Sorbonne. Dir-se-ia que foi nela que foram
projetados aqueles demônios que a Beata Catarina de Emmerich viu em visões
serem como que “saídos” do inferno para invadir a terra (fenômeno que ela disse
iria ocorrer em torno da década de 60 ou 60 anos antes do ano 2000).
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