A fim
de que Deus possua completamente o nosso templo interior, é necessário que tenhamos
a posse das três Pessoas da Santíssima Trindade, e isso é feito pelo Exame de
Consciência, da Confissão e da Comunhão sacramental:
1) DEUS
PAI - No ato do auto-julgamento (o exame de consciência), a pessoa está sob
influência e regência do Pai Eterno, que nos inspira a melhor forma de fazê-lo;
O Padre Eterno, a
primeira revelação divina no templo da alma
As manifestações de Deus Pai, no Novo
Testamento, sempre mostram uma relação de afeto e veneração com o Filho e
revelada aos homens. Manifestou-se no batismo de Jesus (Mt 3, 17), dizendo:
“este é o meu Filho amado em quem pus minhas complacências”, frase repetida na
Transfiguração sobre o Monte Tabor (Mt 17, 5), parecendo ter sido estas as
únicas vezes em que Deus Pai se manifestou publicamente para dar testemunho de
Jesus. Aliás, tais cenas revelam uma manifestação da Santíssima Trindade e não
só do Pai Eterno.
Nosso Senhor disse que tudo o que fazemos ou
o que imaginamos, tudo o que pensamos, enfim, é segredo do Pai (Mt 6, 1-4). Por
isso, recomenda orar ao Pai em segredo (Mt 6,6 e 6, 18), pois não serão nossos
gestos ou palavras que O farão nos ouvir (Mt 6,7-8). O Pai perdoa a quem perdoa (Mt 6, 14/15) e só nos concede coisas boas
(Mt 7, 11). Por fim, só entrará no reino
dos céus quem faz a vontade do Pai (Mt 7, 21).
A ação de Deus Pai (que, aliás, é sempre
conjunta com as outras duas pessoas divinas, pois todas Elas agem ao mesmo
tempo) se circunscreve sempre ao interior mais profundo das almas. E da mesma
forma procede do Pai as revelações mais importantes, pois é Ele quem revela (a
Sabedoria) aos pequeninos e as esconde aos “sábios” (Mt 11,25).
Foi Deus Pai quem revelou a São Pedro o caráter divino da natureza de
Jesus (Mt 16, 17): “Não foi a carne e o sangue que to revelou, mas meu Pai que
está nos céus”,
De outro lado Pai e Filho têm tal união que
se completam, pois “ninguém conhece mais o Pai do que o Filho” (Mt 11, 26-27) e
vice-versa. Assim também como todas as coisas que são reveladas, inclusive a
própria revelação feita a São Pedro, Ele o faz através do Filho, e é o Filho
quem revela o Pai (Mt 11,27).
Enfim, Deus Pai se revela no interior de seus
filhos verdadeiros, trata-se da luz primeira, dos primeiros conhecimentos que o
homem tem em seu interior sobre Deus. Esta imagem primeira, estes sinais mais
recôndito de Deus, o homem o encontrará dentro de sua própria alma. Para tanto
basta que use a “luz da razão” e consulte sua consciência..
Aquele, pois, que procurar obscurecer sua
própria luz da razão e apagar em seu interior a imagem de Deus, estará
destruindo o templo divino e, como conseqüência, construindo o de satanás em
seu lugar. É um homem morto não só para a vida da Graça, mas até mesmo para a
vida natural para a qual foi também criado.
O nome de Pai é mais apropriado a Deus do que
o nome de Deus, conforme escreveu São Cirilo de Alexandria:
“O
Filho não manifestou o nome do Pai apenas revelando-o e dando-nos uma instrução
exata sobre a Sua divindade, uma vez que tudo isso tinha sido proclamado antes
da vinda do Filho, pela Escritura inspirada. O Filho também nos ensinou, não só
que Ele é verdadeiramente Deus, mas que é também verdadeiramente Pai, e que é
assim verdadeiramente chamado, pois tem em Si mesmo e produz para fora de Si
mesmo o Filho, que é co-eterno com a Sua natureza.
O nome
de Pai é mais apropriado a Deus do que o nome de Deus: este é um nome de
dignidade, aquele significa uma propriedade substancial. Porque quem diz Deus
diz o Senhor do universo. Mas quem nomeia o Pai específica a característica da
pessoa: mostra que é Ele que gera. Que o nome de Pai é mais verdadeiro e mais
apropriado que o de Deus mostra-no-lo o próprio Filho pelo modo como o usa.
Pois Ele não dizia: «Eu e Deus», mas: «Eu e o Pai somos um» (Jo 10, 30). E
dizia também: «Foi a Ele, ao Filho, que Deus marcou com o Seu selo» (Jo 6, 27).
Mas,
quando mandou os seus discípulos batizarem todos os povos, ordenou
expressamente que o fizessem, não em nome de Deus, mas em nome do Pai, do Filho
e do Espírito Santo (Mt 28, 19)”..[1]
É comum nos depararmos com este paradoxo: não
conhecemos e nem sequer sabemos onde encontrarmos a nossa própria intimidade, o
âmago de nossa própria alma. Se não sabemos nem sequer onde se encontra o
âmago, o mais profundo das cogitações de nossa alma, como podemos, pois, saber
onde se encontra também o próprio Deus dentro de nós? O homem desconhecendo a si mesmo, não sabendo
quem ele realmente é, também não poderá conhecer seu Criador.
“Na casa de meu Pai há muitas moradas” (Jo 14, 2)
O que significa a expressão “Casa do meu
Pai?”. Trata-se do Templo de Deus. Foi assim que Ele se expressou ao expulsar
os vendilhões do Templo de Jerusalém: “Está escrito: a minha casa é uma casa de
oração e vós fizestes dela um covil de ladrões” (Lc 19, 45-46). A Casa de Deus,
o Templo de Deus e as moradas celestes são a mesma coisa, embora o Templo
citado acima diga respeito ao edifício de Jerusalém. E, no entanto, diz-se que
o Templo de Deus encontra-se no interior do homem; à semelhança de como está
Ele também no céu, encontra-se no coração e na alma do homem. Vale a mesma
afirmação para o coração, este interior profundo do homem, que sendo templo de
Deus deve ser antes de tudo “casa” de oração.
Existem várias passagens no Evangelho em que
Nosso Senhor fala das moradas, ora referindo-se às moradas celestes, ora às do
interior do homem. Por exemplo: “Na casa de meu pai há muitas moradas. Se assim
não fosse, eu vo-lo teria dito. Vou preparar o lugar para vós. Depois que eu
tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e tomar-vos-ei comigo
para que, onde eu estou, estejais também vós” (Jo 14, 2-3). E mais adiante: “Se
alguém me ama, guardará a minha palavra, meu Pai o amará, nós viremos a ele e
faremos nele morada” (Jo 14, 23).
A morada pode ser entendida como um lugar
geralmente destinado a acolher pessoas de uma forma permanente. Assim como as
moradas celestes são destinadas a acolher os bem-aventurados por toda a
eternidade, as moradas de Deus no nosso interior são destinadas a acolhê-Lo com
o fim de adorá-Lo, reverenciá-Lo, obedecê-Lo, prestar-Lhe culto, etc, isto tudo
de uma forma permanente, com intenções de tornar-se eterna na outra vida. Desta
forma, as moradas celestes, a que se referia Nosso Senhor nas passagens acima,
queria dizer tanto os lugares destinados aos bem-aventurados na outra vida
quanto as moradas que existem no interior de nossa alma. No Céu, são os tronos
celestes para o descanso eterno de nossa alma, e em nós são as moradas
interiores para que nelas Deus reine e seja adorado.
Da mesma forma, o fato de Nosso Senhor dizer
que são muitas as moradas, quer também significar a grande diversidade de vida
espiritual que cada um pode ter para se chegar até Deus, ou, como são diversas
as batalhas para conquistá-las até chegar a Ele. Neste sentido também, existem
tanto as moradas celestes quanto as de Deus no interior de nossa alma. Nosso
interior pode ter, neste sentido, dois grandes castelos senhoriais: um
destinado a ser templo de Deus e outro destinado à Sua morada. Melhor ainda, a
mesma morada pode servir ela mesma de templo. Aliás, uma só, não, várias
moradas, como disse o próprio Nosso Senhor. Assim, mesmo tendo Deus Pai em
nosso interior como luz primeira de nossa existência, precisamos preparar uma
morada para Deus Filho e o Espírito Santo. São Paulo disse: “Por essa causa dobro os meus joelhos diante
do Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, do qual toda a família, quer nos céus,
quer na terra, toma o nome, para que, segundo as riquezas de sua glória, vos
conceda que sejais corroborados em virtude, segundo o homem interior, pelo seu
Espírito, e que Cristo habite pela fé nos vossos corações, de sorte que,
arraigados e fundados na caridade, possais compreender, com todos os santos,
qual seja a largura e o comprimento, a altura e a profundidade; e conhecer
também o amor de Cristo, que excede toda a ciência, para que sejais cheios de
toda a plenitude de Deus” (Ef 3, 14-19)
Qual a finalidade das moradas celestes? Dar
descanso, gozo e paz (descanso não só como fim de nossas tribulações, mas como
êxtase nas coisas de Deus; gozo dos bens eternos e paz que é fruto da
tranqüilidade da ordem), pois esta é a finalidade de toda morada. E permitir à
contemplação do Eterno sem qualquer obscuridade de nosso espírito humano.
Por
causa disso, as moradas celestes devem ser compostas de substâncias espirituais
e corporais próprias do Empíreo (destinadas a acolher também as propriedades do
corpo ressurrecto: translucidez, sutileza, agilidade, ubiqüidade etc.), além de
dons, virtudes e graças para sustentar, alimentar e engrandecer corpo e
alma. Os quais foram necessários à
ascese na terra de uma forma imperfeita quanto ao nosso uso, mas perfeitíssimos
no céu por causa de estarmos imersos em Deus.
Temos no interior de nossa alma os reflexos
das celestes moradas de Deus, as quais se tornam realidade com a vinda da
Santíssima Trindade para morar em nós.
Assim, Deus pode morar em nosso interior de uma forma natural, como
reflexo de Suas perfeições (somos imagem e semelhança de Deus) e também de uma
forma completa através da ascese. Nós somos também uma morada de Deus no
verdadeiro sentido da palavra, como citamos acima (Jo 14, 23).
Como, então, poderemos chegar às moradas
divinas existentes no interior de nossa alma? Veremos que devemos travar
numerosas e renhidas batalhas para o mister. Devemos seguir não somente o
Decálogo, mas os conselhos evangélicos e andar nos passos de Nosso Senhor.. E
neles vamos encontrar a fórmula que fará com que o próprio Nosso Senhor venha
fazer em nós a Sua morada e nos leve para a Morada d’Ele:
“Depois
que eu tiver ido e vos tiver preparado o lugar, virei novamente e
tomar-vos-ei comigo para que, onde eu estou, estejais vós também. E vós
conheceis o caminho para ir onde vou” (Jo 14, 3-4):
Pelo que se viu acima, somente iremos depois
que Nosso Senhor foi, e somente iremos para o lugar que Ele nos preparou
juntamente com Ele mesmo. Da mesma forma, só iremos com Ele depois de “conhecer
o caminho” que Ele também já trilhou (quer dizer, o da Cruz e da santificação);
Como é este caminho? Ele mesmo o responde: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida,
ninguém vai ao Pai senão por mim” (Jo
14, 6). Para se ir ao Pai (portanto, para as moradas celestes) tem-se
primeiro que seguir o caminho (que é a Cruz), a verdade (que é a Fé) e a vida
(que é o amor a Deus, a caridade), e tudo isto ninguém o fará se não for por
intermédio de Nosso Senhor Jesus Cristo.
Como Deus “habita” em
nós
a) de forma “natural”
Segundo São Tomás de Aquino, Deus está em
nós, naturalmente falando, de três maneiras diferentes:
- por
potência (todas as criaturas estão sujeitas a seu
império);
- por
presença
(por causa de sua onipresença) e
- por
essência (porque opera em toda parte e em toda parte Ele é a plenitude do
ser e causa primeira de tudo). Estas três maneiras são as mesmas com que Deus
também está não só nos homens mas em toda a criatura, sendo que nos homens está
de uma forma especial por sermos sua imagem e semelhança. Assim está Ele também
em qualquer homem, quer seja pagão ou cristão, pecador ou não, até mesmo entre
os condenados no inferno.
b) pela lei da Graça
A Santíssima Trindade faz-se presente na alma
humana, transmitindo-lhe a vida divina: o Pai vem a nós e continua em nós a
gerar o Filho; com o Pai recebemos o Filho em nosso interior, e como fruto do
amor de ambos recebemos o Espírito Santo. Fazem as três pessoas divinas sua
morada em nossa alma e nos adotam como filho: se acolhemos, pois, em nossa
morada o nosso Criador, Redentor e Santificador, transmitem-nos assim
participação na vida divina.
O mesmo São Tomás de Aquino também explica
como se dá esta outra forma com que Deus habita em nosso interior:
“Acima do modo comum, pelo qual Deus habita em toda
criatura, há um modo especial, por que Ele habita exclusivamente na criatura
racional, e é como o conhecido está naquele que conhece, e o amado no amante.
“Mas, como a criatura que conhece e ama (trata-se do
conhecimento pela fé e do amor pela caridade) alcança a Deus mesmo na sua
operação, resulta disso que Deus, por este modo de presença, não só está
presente na criatura, mas nela habita, como em um templo” [2]
Como, então, estando Deus em nosso interior
precisamos nos dirigir a Ele? É que Deus não se satisfaz em morar em nosso
interior apenas da forma natural, como fomos criados, mas principalmente da
maneira sobrenatural. O primeiro tipo de morada, o natural, é como se fosse uma
casa vazia; já o sobrenatural, é a mesma casa totalmente preparada para receber
um hóspede, com móveis, limpeza, decoração, etc. Então esta segunda forma de
morada não é sempre predominante nas almas, podendo estar ausente por causa dos
pecados, de nossas fraquezas ou das más inclinações. Além do mais, Deus pede que façamos uma
ascese em Sua busca para sermos perfeitos e felizes como Ele.
O desejo de
contemplar a Deus
Santo Anselmo tem
significativo texto sobre o desejo intenso de possuir Deus dentro de si mesmo:
“Eia, homenzinho, deixa um momento tuas ocupações habituais; entra num
instante em ti mesmo, longe do tumulto de teus pensamentos. Lança fora de ti as
preocupações esmagadoras; aparta de ti vossas inquietações trabalhosas.
Dedica-te por um instante a Deus e descansa pelo menos um momento em sua
presença. Entra no aposento de tua alma; excluí tudo, exceto Deus e o que possa
ajudá-lo a buscá-Lo; e assim, fechadas todas as portas, segue após Ele. Diz,
pois, alma minha, diz a Deus: “Busco vossa face; Senhor, desejo ver vossa
face”.
E agora, Senhor, meu Deus, ensina meu coração onde e como buscar-Vos,
onde e como encontrar-Vos.
Senhor, se não estás aquí, onde Vos buacarei, estando ausente? Se estás
em todos os lugares, como não encontro vossa presença? Certo é que habitas numa
claridade inacessível. Porém onde se encontra essa inacessível claridade? Como
me aproximarei dela? Quem me conduzirá até aí para ver-Vos nela? E assim, com
que sinais, sob qual coisa Vos buscarei? Nunca jamais Vos vi, Senhor, Deus meu;
não conheço vossa face.
Que fará, altíssimo Senhor, este vosso desterrado tão longe de Vós? Que
fará vosso servidor, ansioso de vosso amor e tão longe de vossa face? Deseja
Vos ver e vosso rosto está muito longe dele. Deseja aproximar-se de Vós e vossa
morada é inacessível. Arde no desejo de encontrar-Vos e ignora onde vives. Não
suspira mais que por Vós e jamais viu o vosso rosto.
Senhor, Vós sois meu Deus, meu dono, e, contudo, nunca Vos vi. Me tens
criado e renovado, me tens concedido todos os bens que possuo e ainda não Vos
conheço. Me criaste, enfim, para Vos ver, e, todavía, nada é feito para aquilo para o qual fui criado.
Então, Senhor, até quando? Até quando Vós esquecereis de nós, apartando
de nós vosso rosto? Quando, finalmente,
nos olharás e nos escutarás? Quando encherás de luz nossos olhos e nos mostrará
vosso rosto? Quando voltarás para nós?
Olha-nos, Senhor; escuta-nos, ilumina-nos, mostrai-Vos a nós.
Manifesta-nos novamente vossa presença para que tudo nos ocorra bem; sem isso
tudo será mal. Tem piedade de nossos trabalhos e esforços para chegar até Vós,
porque sem Vós nada podemos.
Ensina-nos a buscar-Vos e mostrai-Vos a quem vos busca; porque não posso
ir em vossa procura a menos que Vós me ensine, e não posso Vos encontrar se não
Vos manifestas. Desejando Vos buscarei, buscando Vos desejarei, amando Vos
acharei e encontrando-Vos vos amarei”.[3]
2) DEUS
ESPÍRITO SANTO - No ato da Confissão (exposição dos fatos vistos no exame como
pecados ao Confessor e conseqüente arrependimento e absolvição) quem opera é o
Divino Espírito Santo, responsável pela nossa santificação;
Através do exame de consciência fazemos um
auto-julgamento, mas é na Confissão que cumprimos a vontade de Deus, submetendo-nos
à justiça divina por intermédio do Confessor. É um tribunal tão poderoso, o da Confissão,
que, após o mesmo, todos aqueles pecados são apagados da alma, é como se nunca
tivessem sido cometidos. O perdão é total. Ninguém vai ainda ser argüido no
Juízo após a morte sobre aqueles declarados ao confessor e absolvidos, pois
naquele momento a pessoa já foi submetida a seu julgamento, que é divino, pois o
Espírito Santo, por intermédio de Nosso Senhor Jesus Cristo, deu este poder aos
sacerdotes. De outro lado, aqueles pecados que forem retidos, isto é, não perdoados
na Confissão, ficarão para ser argüidos no momento do juízo da hora da morte.
Este poder de perdoar ou não os pecados, através
da Confissão, foi manifestado por Nosso Senhor Jesus Cristo como provindo do próprio
Espírito Santo, conforme explica São João no Evangelho: “Dizendo isso, soprou sobre
eles e lhes disse: Recebei o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados
ser-lhes-ão perdoados; aqueles aos quais retiverdes ser-lhes-ão retidos” (Jo 20,
22-23)
3) DEUS
FILHO - Por fim, está nossa alma pronta pare receber a Terceira Pessoa da
Santíssima, o Filho, na forma da Hóstia Consagrada, completando assim a total
regência da Trindade Santíssima em nós.
Feito isso, está perfeita a regência divina
em nós. Deus reina completamente em nosso coração pela presença da Trindade
Santíssima. O templo divino, presente em nosso coração, vai a partir daí
encontrar-se completamente ocupado pela Santíssima Trindade, não apenas nas
formas naturais, como visto acima, mas sobrenatural, fazendo-nos partícipe da
vida divina pela Graça e posse do mesmo Deus. Deus Pai nos inspirou e nos regeu
quando fizemos o exame de consciência; Deus Espírito Santo também nos regeu na
hora da Confissão, cumprindo assim a vontade divina; finalmente, a regência se
completou com a posse do Verbo Encarnado, o Filho de Deus Verdadeiro, ao
recebê-Lo na forma Eucarística, na comunhão sacramental. Está completa a
regência da Santíssima Trindade em nós.
A terceira vinda de Cristo
É desta forma que se
conclui a terceira vinda de Cristo, imaginada por São Bernardo:
“Virá
a nós a palavra de Deus.
Sabemos
de uma tripla vinda do Senhor. Ademais da primeira e da última, há uma vinda
intermediária. Aquelas são visíveis, mas esta não. Na primeira, o Senhor se
manifestou na terra e conviveu com os homens, quando, como o afirmou Ele mesmo,
O viram e O odiaram. Na última, todos verão a salvação de Deus e verão ao que
traspassaram. A intermediária, em troca, é oculta, e nela somente os eleitos
vêem o Senhor no mais íntimo de si mesmos, e assim suas almas se salvam. De maneira
que, na primeira vinda o Senhor veio em carne e debilidade; nesta segunda, em
espírito e poder; e, na última, em glória e majestade.
Esta
vinda intermediária é como uma estrada por onde se passa da primeira para a
última: na primeira, Cristo foi nossa redenção; na última, aparecerá como nossa
vida; nesta, é nosso descanso e nosso consolo.
E
para que ninguém pense que é pura invenção o que estamos dizendo desta vinda
intermediária, ouvi-o a Ele mesmo: o que me ama – nos disse – guardará minha
palavra, e meu Pai o amará, e viremos a ele. Li em outra parte: O que teme a
Deus obrará o bem; mas penso que se disse algo mais daquele que ama, porque
este guardará sua palavra. E onde vai guardá-la? No coração, sem dúvida alguma,
como disse o Profeta: Em meu coração escondo teus conselhos, assim não pecarei
contra ti.
Assim
é como hás de cumprir a palavra de Deus, porque são ditosos os que a cumprem. É
como se a palavra de Deus tivesse que passar pelas entranhas de tua alma, teus
afetos e tua conduta. Faz do bem tua comida e tua alma desfrutará com este
alimento substancioso. E não esqueças de comer teu pão, não ocorra que teu
coração se torne árido: pelo contrário, que tua alma repouse completamente
satisfeita.
Se
é assim como guardas a palavra de Deus,
não cabe dúvida que ela te guardará a ti. O Filho virá a ti em companhia do
Pai, virá o grande Profeta que renovará Jerusalém, O que o faz todo novo. Tal
será a eficácia desta vinda, que nós, que somos imagem do homem terreno,
seremos também imagem do homem celestial. E assim como o velho Adão se difundiu
por toda a humanidade e ocupou ao homem inteiro, assim é agora necessário que
Cristo o possua todo,
porque Ele o criou todo, o redimiu todo, e o glorificará todo”.[4]
[1]São
Cirilo de Alexandria (380-444), bispo e Doutor da IgrejaComentário ao evangelho
de João, 11, 7; Pg 74, 497-499(a partir da trad. Delhougne, Les Pères
[2]
Suma Teológica I, Q XLIII, a. 3
[3]Del libro Proslógion de san Anselmo, obispo (Cap. 1:
Opera omnia, edición Schmitt, Seckau [Austria] 1938, 1, 97-100)
[4]Dos sermões de São Bernardo, Sermão 5 no
Advento do Senhor, 1-3; Opera Omnia, edições cistercienses, 4, 1966, 188-1905
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