Sob o título acima, Dr. Plínio publicou artigo na "Folha de São Paulo" onde define muito bem o conceito da palavra modernidade, que até hoje é tão mal compreendida:
“O que é ser moderno? Gostaria que alguém me definisse. Pois a confusão a respeito vai crescendo à medida que a “modernidade” vai engendrando, com frenesi sempre crescente, paradoxos e contradições.
Por exemplo, adotar a filosofia estruturalista é, sob alguns pontos de vista, pôr-se à crista da onda da modernidade. Ora, o estruturalismo – com o celebérrimo Levi-Strauss à frente – preconiza, com toda a seriedade, como solução para os problemas de hoje, a volta a formas culturais e sociais do período pré-neolitico.
Mas se isto é ser moderno, então o conceito mais recente – e, portanto, mais “moderno” – de modernidade consiste em retroceder e não em avançar. E é moderno o homem que volta as costas ao progresso, e caminha com passo resoluto para a Pré-História.
Neste caso, é incompreensível porque um “sapo” (1), contente com todas as extravagâncias engendradas pelo mundo de hoje, se julgue obrigado a declamar contra a tradição, e mais especialmente com a que nos vem da Idade Média, para sentir-se genuinamente moderno.
Pois se o rumo da modernidade é a volta ao mais remoto passado, o amor à tradição e ao passado seriam índices de modernidade. E esse retrocesso à Idade da pedra lascada teria de passar evolutivamente pela Idade Média.
Peço a algum leitor “moderno”, que vitupera a TFP por seu pretenso caráter “medievalista”, que me diga no que está errado este raciocínio.
Por certo, nós da TFP admiramos os valores perenes que – mais do que em qualquer outra época histórica – floresceram na civilização medieval. O que não importa em pleitear a restauração do que ela teve de contingente e passageiro.
Que um leitor “moderno” de uns cinco anos atrás nos censurasse por isto era compreensível: também o erro tem sua lógica.
O que, porém, não é compreensível é que o “homem moderno” de hoje aclame como super-modernos os restauradores da Pré-História, e acuse de antiquados os que desejam conservar e desenvolver as tradições perenes que herdamos do passado e especialmente da Idade Média.
Essas reflexões me ocorreram a propósito de um recorte do “Jornal do Brasil”, já um pouco velho (mas o que é “velho” dentro destas perspectivas desnorteantes?). Data ele de 9 de outubro passado. Transcrevo-o: “Aceitam o culto ao Rei com entusiasmo e fervor, mesmo em suas vidas cotidianas. O respeito das pessoas pelas instituições é absoluto. São como garotos, capazes de realizar qualquer coisa que o governo ordene (...) Cantam e dançam em homenagem ao monarca...”
Pergunto se a sociedade assim descrita segue um figurino antigo ou moderno. Os leitores mais ciosos de sua modernidade darão uma gargalhada. É claro – exclamarão – que se trata de um figurino arcaico. Perfeitamente medieval.
De minha parte, acho que só com restrições essa descrição poderia ser encaixada num panorama da Idade Média.
- Mas esse leitor, que por certo reputará moderno o comunismo, o que me responderá se eu lhe disser que esse figurino é precisamente o do comunismo? E logo da variante comunista que muitos reputam mais moderna, isto é, a chinesa?
Entretanto, é esta a realidade. Substitua o leitor o nome “Mao” à palavra “Rei”, que ali introduzi para efeito de testagem, e terá diante de si uma descrição entusiasmada da sociedade chinesa atual, feita num filme de Antonioni – “A China” – projetado nos cinemas de Paris.
- Então, leitor moderno, o que entende por “homem moderno?” No que consiste a “modernidade”?
Nota (1) – “Sapo” era como Dr. Plínio chamava os ricaços que, apesar de nadar em riqueza, colaboravam com o comunismo e atacavam os tradicionalistas.
(Folha de São Paulo, 3 de fevereiro de 1974
Nenhum comentário:
Postar um comentário