De modo geral, fala-se muito hoje em dia no respeito que se deve ter pelos
“costumes” dos povos nativos, em especial dos indígenas.
No que consistem os costumes indígenas? Quando os
portugueses chegaram ao Brasil, era mais profusa a disseminação de tais
costumes: antropofagia (matavam e comiam seus adversários), feitiçarias,
curandeirismo, muitas superstições, etc.
O aspecto religioso era, e é até hoje, o que chama
mais atenção. E a tônica é o xamanismo, feitiçaria, verdadeiramente diabólica. Carl
von Martius, estudioso do século XIX, afirma que os feiticeiros formavam uma
verdadeira “confraria”, realizando encontros que eles chamavam de “santidade”.
Vejamos uma destas reuniões feitas por
eles. Pode ser que se tratasse das faladas “santidades” ou então simples
reunião de seus rituais pagãos.
Jean de Léry, pastor protestante francês que esteve
no Brasil tomando parte da famosa “França Antártida”, no Rio, assistiu uma delas, que ele mesmo narrou num livro, e que ocorreu da seguinte
forma:
“...Os
nossos tupinambás costumavam reunir-se com grande solenidade de três em três ou
de quatro em quatro anos; achei-me por
acaso em uma dessas reuniões...
“...foram
reunir-se em número de quinhentos a seiscentos numa grande praça... Paramos então e voltamos para saber o motivo
da assembléia; nisto os silvícolas se separaram subitamente em três bandos. Os
homens recolheram-se a uma casa, as mulheres entraram noutra e as crianças numa
terceira. Como vi dez ou doze caraíbas entre eles, suspeitei algum acontecimento
extraordinário e convenci meus companheiros a permanecer ali até averiguá-lo.
“Antes de
se separarem das mulheres e meninos, os caraíbas proibiram severamente de sair
das casas em que se encontravam; aí
também nos encerraram... ...quando
principiamos a ouvir... ...um murmúrio
surdo de rezas; imediatamente, as mulheres, em número de quase duzentas, se
puseram todas de pé e muito perto umas das outras. Os homens pouco a pouco
erguiam a voz e os ouvíamos distintamente repetir uma interjeição de encorajamento:
HE, he, he, he. As mulheres, por seu turno, a repetiram com voz trêmula: He,
he, he. He.
“Assim
aconteceu um quarto de hora e nós não sabíamos o que fazer. Ao mesmo tempo
urravam, saltavam com violência, agitavam os seus braços e espumavam pela boca
até desmaiar como vítimas de ataques epilépticos; por isso não era possível
deixar de acreditar que se tivessem repentinamente possuídos do diabo. Também
os meninos se agitavam e se torturavam... confessarei que tive medo...
“...Ao
contrário do que afirmara o intérprete,
não se incomodaram os selvagens conosco;[1] conservaram-se em seus lugares e continuaram as suas cantorias, em
vista do que eu e meus companheiros nos acomodamos sossegadamente em um canto a
fim de contemplar a cena...
“...Como
eram numerosos, formavam três rodas no meio das quais se mantinham três ou
quatro caraíbas ricamente adornados de plumas, cocares, máscaras e braceletes
de diversas cores, cada qual com um maracá na mão...
“...Os
caraíbas não se mantinham sempre no mesmo lugar como os outros
assistentes; avançavam saltando ou
recuavam do mesmo modo e pude observar que, de quando em quando, tomavam uma
vara de madeira de quatro a cinco pés de comprimento em cuja extremidade ardia
um chumaço de “petum”[2]e voltavam-na acesa para todos os lados soprando a fumaça contra os
selvagens e dizendo: “Para que vençais os vossos inimigos recebei o espírito da
força”.
A reunião que, pelo relato, talvez estivesse até
mesmo decidindo ou pedindo aos espíritos forças contra os católicos, termina
melancolicamente:
“Essas
cerimônias duraram cerca de duas horas e durante esse tempo os quinhentos ou
seiscentos selvagens não cessaram de dançar e cantar...” [3]
Será que os participantes do Sínodo da Amazônia,
que se realiza agora no Vaticano, pretendem que futuramente haja cerimônias
como estas dentro de nossas igrejas? Vão querer “paganizar” a Santa Missa com
tais rituais?
[1] A
aliança entre os maus: a presença de um herege não incomodava os feiticeiros.
Jean de Lery encontrava-se provavelmente entre os tamoios, aliados dos
franceses que haviam invadido o Rio de Janeiro.
[2]
“petum” - fumo
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