A superstição é um sentimento de veneração
religiosa, mas baseado em falsos temores e em crassa ignorância da realidade
das coisas divinas. De modo geral, leva o supersticioso a um exagerado temor de
coisas fantásticas que ele acredita terem forças superiores aos homens, baseado
sempre em fantasias, levando-o também a uma confiança sem limites em coisas vãs
que lhe mostram como úteis para a solução de seus problemas. Essa excessiva
credibilidade leva também ao fanatismo. É a religião que o
demônio faz instaurar entre os homens medíocres que não querem crer em
Deus. Mas que terminam crendo
exageradamente na divindade das coisas criadas por Deus...
São inumeráveis as superstições e falsas crendices
espalhadas entre os índios. Referiremos algumas apenas, a título de ilustração.
Gabriel Soares de Sousa, um dos primeiros
historiadores do Brasil, conta diversas dessas superstições. Por exemplo, era
costume entre eles que, todo aquele que matar um inimigo tomar o nome do mesmo
entre os da sua tribo. Outra superstição era que, quando as índias pariam, os
pais do recém-nascido ficavam deitados numa rede, onde permaneciam por vários
dias como se estivessem de resguardo, comendo gulodices e comidas especiais, e
evitando outras por considerarem de mau agouro. [1]
Havia uma superstição que era relacionada ao
preparo das bebidas. Em geral, depois de ferver o milho, por exemplo, algumas
donzelas mastigavam os grãos cozidos, cuspindo-os em outra vasilha. No caso de
ser chamada alguma mulher casada para esta tarefa, era necessário que ela se
abstivesse de relações com seu marido durante alguns dias, caso contrário a
bebida jamais alcançaria a necessária perfeição.
A exemplo do que fazem hoje os adeptos do culto do
candomblé, os índios também jogavam oferendas no mar ou no rio por onde
navegavam, dizendo que era para acalmar as águas. [2]
O padre Claude d’Abbeville nos fala de outras
superstições:
“Desejando
conhecer o motivo dessa loucura e diabólica superstição vim a saber que pensam
morrer quando vêem a lua assim sanguinolenta após as chuvas. Os homens batem
então no chão em sinal de alegria porque vão morrer e encontrar o avô a quem
desejam boa saúde... As mulheres, porém,
têm medo da morte e por isso gritam, choram e se lamentam”
Em
outro trecho o mesmo cronista
acrescenta:
“Têm
outra superstição: a de fincar à entrada de suas aldeias um madeiro alto com um
pedaço de pau atravessado por cima; aí penduram quantidade de pequenos escudos
feitos de folhas de palmeira e do tamanho de dois punhos; nesses escudos pintam
com preto e vermelho um homem nu. Como lhes perguntássemos o motivo de assim
fazerem, disseram-nos que seus pajés o haviam recomendado para afastar os maus
ares” [3]
Em geral
o cocar de penas colocados nas suas cabeças é fruto de uma infinidade de
superstições. Diferentemente das tiaras dos bispos e dos chapéus cardinalícios,
todos contendo símbolos celestes, mas sem dar caráter de crendice em entidades
fantásticas que possam estar associadas ao material ali usado.
.
[1] Vide a obra “Tratado Descritivo do Brasil em 1587” – Gabriel Soares de
Sousa – Typografia José Ignácio da Silva, 1879, pág. 302
[3] “História
da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e Terras Circunvizinhas –
Claude d’Abbeville – Ed. Itatiaia e Ed. Universidade de São Paulo, 1975, págs 247
e 253.
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