segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A "MODA" INDIGENISTA DATA DO SÉCULO XVI





A atual “moda” que querem propagar no mundo de certos costumes indígenas não é nova, data do século XVI. O que é novo é o método com que tentam propagá-la, usando como meio o clero católico, tentando fazer uma “mistura”, que alguns chamam de sincretismo, entre nossa Religião e os rituais pagãos indígenas.

“Embaixadores” indígenas propagam o indigenismo na Europa
Era comum os navegantes voltarem de suas viagens levando os nativos para serem conhecidos na Europa. Com os Descobrimentos do século XVI este tráfico aumentou intensamente. O índio brasileiro despertou mais interesse do que os outros em virtude das descrições idílicas e elogiosas que lhe faziam os citados viajantes e cronistas. Era preciso dar ao mundo civilizado uma lição de inocência e bondade que os intelectuais humanistas e naturalistas reclamavam. De início, tais selvagens eram levados como escravos, mas, principalmente em Portugal, este tráfico foi proibido pelo bom rei Dom Sebastião, tendo elaborado o primeiro documento de libertação dos escravos do Brasil.  Outros, porém, eram levados simplesmente com o intuito de serem civilizados, e alguns que os brancos levavam por mera curiosidade.
Dos que foram à Europa para serem civilizados, o caso mais famoso foi de um índio carijó chamado Essomeriq, que em 1504 embarcou no navio francês “Espoir”. O capitão francês batizou-o com seu próprio nome, Binot. Chegando na França, o índio tornou-se civilizado e chegou até a se casar com uma filha do capitão Binot.  O ex-índio Essomeriq, agora senhor Binot Paulnier de Geneville, teve descendentes de seu consórcio, dentre os quais conta-se um padre do mesmo nome que foi cônego da Catedral de São Pedro, em Lisieux, e que escreveu obras históricas no decorrer do século XVII.
Dentre aqueles que iam à Europa para satisfazer á curiosidade e aos “estudos” de seus costumes, haviam alguns levados pelos humanistas com o fim precípuo de serem mostrados à sociedade como modelos de perfeição. Deveriam desfilar para os europeus, mostrando seus costumes, seus hábitos, encenar algumas danças e “guerras” teatrais, tudo ao natural como se estivessem em plena selva. A cidade de Rouen presenciou alguns desses desfiles. Em 1509 houve um com sete índios, narrado por Henri Estienne, em 1512, na obra “Cronologia”.  O desfile mais famoso, porém, deu-se no ano de 1550, na mesma cidade, denominado pelo escritor Ferdinand Denis como a “Festa Brasileira Celebrada em Ruão”.  Eram mais de 50 índios, com outros 300 figurantes brancos, desfilando perante o rei de França e toda a sua corte, com alguns nobres vindos de outros países especialmente convidados para a “festa”. Dentre estes destacava-se a presença de Maria Stuart, a futura desventurada rainha da Escócia assassinada por sua prima Elisabeth I.  Novamente os índios se apresentaram completamente ao natural, como viviam na selva.
Alguns destes índios voltavam à América, especialmente ao Brasil. Foi o caso de dois do Maranhão, assim encontrados por ocasião da expulsão dos franceses no início do século XVII:
“...dois índios vestidos à francesa, de calções e casacas curtas de veludo carmesim, guarnecidas de passamanes de ouro fino, e gibões de tela de ouro fino lavrado, e suas espadas douradas e largas, com talabartes de veludo carmesim lavrados de ouro, e tudo o mais nesta conformidade, até chapéu de castor com muitas plumas brancas, e bandas de Paris e resplendor de prata lavrada e cruzes de ouro fino ao pescoço como homens de hábito de São Luís.  Traziam consigo suas mulheres, moças francesas, vestidas de damas, com tais cotas, vestidos e adereços, que tudo era seda, guarnição e ouro”. [1]





[1] “Jornada do Maranhão” – Diogo de Campos Moreno – in “Cândido Mendes – Memórias para a História do Extinto Estado do Maranhão” – Rio, 1874.

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