A atual “moda” que querem
propagar no mundo de certos costumes indígenas não é nova, data do século XVI.
O que é novo é o método com que tentam propagá-la, usando como meio o clero
católico, tentando fazer uma “mistura”, que alguns chamam de sincretismo, entre
nossa Religião e os rituais pagãos indígenas.
“Embaixadores” indígenas propagam
o indigenismo na Europa
Era comum os navegantes voltarem de suas viagens
levando os nativos para serem conhecidos na Europa. Com os Descobrimentos do
século XVI este tráfico aumentou intensamente. O índio brasileiro despertou
mais interesse do que os outros em virtude das descrições idílicas e elogiosas
que lhe faziam os citados viajantes e cronistas. Era preciso dar ao mundo
civilizado uma lição de inocência e bondade que os intelectuais humanistas e
naturalistas reclamavam. De início, tais selvagens eram levados como escravos,
mas, principalmente em Portugal, este tráfico foi proibido pelo bom rei Dom
Sebastião, tendo elaborado o primeiro documento de libertação dos escravos do
Brasil. Outros, porém, eram levados
simplesmente com o intuito de serem civilizados, e alguns que os brancos
levavam por mera curiosidade.
Dos que foram à Europa para serem civilizados, o
caso mais famoso foi de um índio carijó chamado Essomeriq, que em 1504 embarcou
no navio francês “Espoir”. O capitão francês batizou-o com seu próprio nome,
Binot. Chegando na França, o índio tornou-se civilizado e chegou até a se casar
com uma filha do capitão Binot. O
ex-índio Essomeriq, agora senhor Binot Paulnier de Geneville, teve descendentes
de seu consórcio, dentre os quais conta-se um padre do mesmo nome que foi
cônego da Catedral de São Pedro, em Lisieux, e que escreveu obras históricas no
decorrer do século XVII.
Dentre aqueles que iam à Europa para satisfazer á
curiosidade e aos “estudos” de seus costumes, haviam alguns levados pelos
humanistas com o fim precípuo de serem mostrados à sociedade como modelos de
perfeição. Deveriam desfilar para os europeus, mostrando seus costumes, seus
hábitos, encenar algumas danças e “guerras” teatrais, tudo ao natural como se
estivessem em plena selva. A cidade de Rouen presenciou alguns desses desfiles.
Em 1509 houve um com sete índios, narrado por Henri Estienne, em 1512, na obra
“Cronologia”. O desfile mais famoso,
porém, deu-se no ano de 1550, na mesma cidade, denominado pelo escritor Ferdinand
Denis como a “Festa Brasileira Celebrada em Ruão”. Eram mais de 50 índios, com outros 300
figurantes brancos, desfilando perante o rei de França e toda a sua corte, com
alguns nobres vindos de outros países especialmente convidados para a “festa”.
Dentre estes destacava-se a presença de Maria Stuart, a futura desventurada
rainha da Escócia assassinada por sua prima Elisabeth I. Novamente os índios se apresentaram
completamente ao natural, como viviam na selva.
Alguns destes índios voltavam à América, especialmente
ao Brasil. Foi o caso de dois do Maranhão, assim encontrados por ocasião da
expulsão dos franceses no início do século XVII:
“...dois
índios vestidos à francesa, de calções e casacas curtas de veludo carmesim,
guarnecidas de passamanes de ouro fino, e gibões de tela de ouro fino lavrado,
e suas espadas douradas e largas, com talabartes de veludo carmesim lavrados de
ouro, e tudo o mais nesta conformidade, até chapéu de castor com muitas plumas
brancas, e bandas de Paris e resplendor de prata lavrada e cruzes de ouro fino
ao pescoço como homens de hábito de São Luís.
Traziam consigo suas mulheres, moças francesas, vestidas de damas, com
tais cotas, vestidos e adereços, que tudo era seda, guarnição e ouro”. [1]
[1] “Jornada
do Maranhão” – Diogo de Campos Moreno – in “Cândido Mendes – Memórias para a
História do Extinto Estado do Maranhão” – Rio, 1874.
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