quarta-feira, 25 de setembro de 2019

COMO OS ÍNDIOS PAGÃOS TRATAM SUAS MULHERES : POLIGAMIA E ESCRAVIDÃO






O escritor renascentista Michel de Montaigne pode ter sido o expoente, ou o pioneiro, da moderna corrente indigenista. Já naquele tempo, século XVI, ele apresentava  a “família”  indígena da seguinte forma:
“Os homens têm várias mulheres, em tanto maior número quanto mais famosos e valentes. Particularidade que não carece de beleza, nesses lares o ciúme, que entre nós impele nossas esposas a impedir que busquemos a amizade e as boas graças de outras mulheres, entre eles as induz a arranjarem outras para seus maridos...”[1]  Montaigne conclui que isto é uma “virtude” matrimonial...
Na realidade, as mulheres indígenas nada mais são do que escravas do homem, estão sempre a seu serviço. O padre francês André Thevet informa que quanto mais se notabiliza o homem por sua bravura e proezas, tanto maior será o número de mulheres que terá a seu serviço:
“E diga-se, a bem da verdade, que as mulheres trabalham incomparavelmente mais que os homens, pois é a elas que cabem as tarefas de colher raízes, reparar a farinha e as bebidas, apanhar os frutos, cultivar os campos, e tudo o mais que se refere à faina doméstica.
“Apesar de tudo isso, não costuma a mulher trair o marido depois de casada, pois este, no caso de surpreendê-la em adultério, não hesitará em matá-la...  ...O marido, no entanto, nada fará ao culpado, pois se tocar nele acarretará contra si a inimizade de todos os parentes do outro.
“(...) Há sempre uma entre elas que goza de maior consideração e respeito por parte do marido, não estando sujeita a tantos trabalhos como as outras...”[2]
A mesma coisa é confirmada pelo naturalista Carl von Martius:
“...fica a mulher qual criada submissa, a escrava do homem, num rebaixamento que se harmoniza no mais com o estado fero do selvagem brasileiro. Forçadas, têm as mulheres de sujeitar-se a todos os trabalhos agrícolas e domésticos e, sem a menor independência, sofrem todos os caprichos e todas as arbitrariedades do homem. E mais: O poder, a influência sobre a comunidade, a ambição e o temperamento do homem são motivos que mais tarde o determinam a aumentar o número de suas sub-esposas ou concubinas até cinco ou seis, raras vezes mais, porque a posse de muitas mulheres é considerada luxo para satisfazer a vaidade...  O marido é temido por todas as suas mulheres até idade avançada  e, o maior número de vezes conquista a sua aparente paz doméstica à custa de rigor extremo; sempre é ele o juiz em todas  as contendas do seu harém...”[3]
Muitas vezes ficava difícil saber qual a mulher verdadeira, ou a principal, dada a facilidade com que se largava uma e pegava outra. O sentimento que muitas índias adquirem ao se unirem a um homem é o de escravidão. Sendo escrava ela procura obedecer cegamente a seu senhor e à “principal” das suas mulheres, aquela que é mais do agrado dele e a quem todas as demais devem ser submissas. Tais sentimentos  impedem, naturalmente, que surjam questiúnculas e ciúmes, não por benquerença e sim por medo.
Havia ainda outro tipo de escravidão, a que se submetiam os inimigos capturados para serem mortos e comidos. Neste caso, as mulheres escravas eram destinadas aos serviços mais pesados, no meio das outras, e sempre na expectativa de que um dia iriam ser mortas e comidas.
Mais recentemente, Francisco Varnhagen (século XIX) também confirma que havia escravidão entre os índios:
“Cada homem, segundo sua valia, tinha uma ou mais mulheres: quando eram várias, a primeira, ainda que desdenhada e velha, era sempre considerada superior às outras. Em geral todas aturavam os maridos como escravas: acompanhavam-nos, nas suas longínquas jornadas, e às vezes até nas expedições de guerra. Estes hábitos marciais e a dura condição em que, sem ter a elas respeito,  as guardavam os maridos, não as levavam a separações”[4]
Era tal a submissão da mulher ao homem que quando as mesmas acabavam de parir era o marido que fazia o resguardo. Frei Vicente do Salvador diz que o índio se deita na rede e, ali coberto de alguma forma para que não tome vento, fica recebendo as visitas dos amigos até que seque o umbigo do filho. O mesmo informa o padre Simão de Vasconcelos, acrescendo que os outros vêm visitá-lo e trazem comidas para ele.
A sorte da mulher era julgada tão inferior a do homem que muitas mães matavam as filhas logo ao nascer. O Padre Anchieta conta que, com dificuldade, conseguiu salvar uma recém-nascida que a mãe queria matar. Este costume bárbaro ainda hoje é comum entre os índios Yanomâmis[5], na Amazônia. Costume, aliás, que é praticado também entre outros povos pagãos, como os chineses.





[1] Ensaios” – Michel de Montaigne – Biblioteca dos Séculos, pág. 267
[2] “As Singularidades da França Antártica” – André Thevet – Livraria Itatiaia Editora Ltda e Universidade de São Paulo, 1978, págs. 137/138
[3] “O Estado de Direito entre os Autóctones do Brasil – Carl F. P. von Martius – Editora Itatiaia e Ed. Universidade de São Paulo, 1982, págs. 50/51
[4] “História Geral do Brasil”, Edições Melhoramentos –Francisco Adolfo de  Varnhagen, vol.1, 9ª. Edição, 1978, pág. 49
[5] V. reportagem da revista “Veja”, edição de 19.09.1990.

Nenhum comentário: