Princípios teológicos extraídos da doutrina de São Boaventura com base na Sagrada Escritura
Na discussão que alguns cientistas modernos fazem a respeito da origem do universo, sempre debatem o assunto prescindindo completamente a idéia de que Deus foi o Criador de tudo. Isto porque, sendo céticos e ateus, consideram que Deus nada tem a ver com ciência. E assim caem num erro crasso: buscar a origem do universo completamente fora dela mesma, que é Deus, seu Autor e Criador. As teorias são as mais absurdas. Dizem que tudo surgiu de uma explosão enorme (o famoso big bang), causada não se sabe por quem ou por qual fator, dando origem ao Universo e a uma evolução da matéria e das espécies nela existentes. Supõe-se ter ocorrido um milagre mais absurdo e inverossímil do que a de admitir a existência do Criador: a geração espontânea da própria matéria e sua evolução. No curso desta evolução já se passaram um tempo em que são calculados aleatoriamente milhões ou bilhões de anos, sem no entanto se levar em consideração que no início do universo o tempo se contava de forma diferente: os dias tinham 24 horas como hoje? E os meses e os anos tinham o mesmo tempo? O sol, e com ele os planetas, tinham a mesma velocidade para percorrer o espaço? Ou será que o tempo foi aos pouco sendo formado por Deus: no início, lentamente, e depois com mais velocidade para se chegar ao que vemos hoje? Por aí se vê que o critério “cientista” de calcular os anos do universo é completamente aleatório e sem credibilidade. Fica muito mais fácil acreditarmos que Deus fez tudo, de forma até mesmo evolutiva como dizem, fazendo também evoluir o tempo que, para o universo material era lento no início e hoje veloz, mas para Deus é como se tudo fosse um instante, pois está Ele fora do tempo. Vejamos como um autor medieval, um santo teólogo de fama e respeitado, São Boaventura, via este assunto da Criação do Universo:
“I – Todo o Universo foi criado: a) do Ser absoluto. Quando se diz que todas as coisas foram criadas do Ser, diz-se que tudo vem de Deus; b) no tempo. Diz-se no tempo, porque o mundo não é eterno e está sujeito ao tempo; c) do nada. Diz-se do nada para que fique patente que também não é eterno o princípio material de que foi feito o mundo; d) somente por um Princípio primeiro e sumo. Diz-se por um Princípio primeiro e sumo para refutar o erro dos maniqueus, para os quais o mundo foi criado e é governado por princípios dualistas; e) que dispôs todas as coisas: com peso, número e medida. Diz-se que todas as coisas foram feitas por Deus com peso, número e medida porque as criaturas decorrem de 3 causalidades: 1ª - Causalidade eficiente, de onde as criaturas obtêm unidade, modo e medida; 2ª - Causalidade exemplar, de onde recebem a verdade, a espécie ou forma e o número; 3ª - Causalidade final, de onde recebem a Bondade, a ordem e o peso (estas propriedades encontram-se como vestígios do Criador em todas as criaturas - tanto corporais, quanto espirituais e de ambas as espécies)
II – A natureza corpórea ou material quanto ao produzir-se, quanto ao ser e quanto ao obrar: Quanto à produção: (restrita ao tempo de seis dias) No 1º dia foi feita a luz; no segundo o firmamento, no terceiro as águas foram separadas da terra, no quarto foram criados os luzeiros do céu, no quinto o ar, a água e as aves e os peixes, no sexto a terra com os animais e o homem. No sétimo dia, Deus descansou. Operação divina ao fazer o mundo: - a Criação corresponde à Sua onipotência; - a distinção dos seres corresponde à Sua Sabedoria; - o ornato corresponde à Sua Bondade. A criação provém do nada, pelo motivo de que ela é fruto do Primeiro princípio, antes de qualquer dia e como fundamento de todas as coisas e de todos os tempos. Não confundir nada com caos, ausência ou negação do ser. A distinção é tripla e Deus a fez em 3 dias. Pois se distingue: - A natureza luminosa da transparente e opaca (no 1º dia ao separar a luz das trevas); - Uma transparente de outra transparente (2º dia ao separar o firmamento das águas); - Entre transparente e opaca (3º dia ao separar as águas da terra). O ornato (que por si é uma distinção) foi concluído também em 3 dias: - O ornato da natureza luminosa (4º dia, criando os astros, estrelas, sol, etc.) - O ornato da natureza transparente (5º diz, ao criar as aves, peixes, etc.) - Ornato da natureza opaca (6º dia, os animais e o homem).
III – O princípio da Criação de forma gradual (ou evolutiva), porém não espontânea: a) Deus poderia ter criado o mundo num só ato; b) Preferiu, porém, fazê-lo de forma sucessiva: 1º. ) Para manifestar a distinção de sua Sabedoria e Bondade; 2º.) Por motivo da conveniente correspondência entre os dias os tempos e as operações; 3º. ) – Porque desde o princípio deveria se produzir as sementes das obras que haviam de se produzir, prefigurando os tempos futuros. 4º.) – Naqueles sete dias se antecipou, como semente, a distinção de todos os tempos que vão surgindo no decurso das sete idades. c) Também se pode dizer “de certo modo” que fez o mundo de uma só vez – então os sete dias há que se referir à consideração angélica, quer dizer, à maneira como foi comunicado aos anjos a Criação. Contudo, a primeira maneira de falar é mais conforme a Escritura e à autoridade dos santos.
IV – Interpretação do que diz a Sagrada Escritura sobre a criação do universo: “Por isso a Sagrada Escritura, para insinuar a ordem da natureza, indica, conforme à maneira que convinha a Deus obrar, que aquela tripla natureza foi tirada do não-ser ao ser no princípio, antes que o tempo iniciasse a correr, quando disse: “No princípio criou Deus o céu e a terra, e o espírito de Deus era levado sobre as águas”. Donde, com o nome de céu se insinua a natureza luminosa; com o de terra, a opaca, e com o de água, a penetrável e transparente, tanto a sujeita à contrariedade quanto a não sujeita. Donde, da mesma forma, se insinua a Trindade eterna, quer dizer, o Pai, com o nome de Deus Criador; o Filho, com o nome de princípio; o Espírito Santo, com o de Espírito de Deus. E assim deve entender-se aquilo que em outra parte se disse: “O que vive eternamente criou todas as coisas juntamente”; não no sentido de que as tivesse criado num caos de completa confusão, como se o figuraram os poetas, pois produziu esta tripla natureza sinalando à suprema o lugar mais alto; à média, o intermédio, e à ínfima, o mais baixo; nem no sentido de que as houvesse criado num estado de perfeita distinção ou diferenciação, pois o céu estava perfeitamente acabado; a terra, todavia, desordenada; e a natureza média, como ocupando o lugar intermediário, não tinha sido levada ainda a uma perfeita distinção.
(Obras de San Buenaventura – BAC - vol. I, págs. 242/247)
II – A natureza corpórea ou material quanto ao produzir-se, quanto ao ser e quanto ao obrar: Quanto à produção: (restrita ao tempo de seis dias) No 1º dia foi feita a luz; no segundo o firmamento, no terceiro as águas foram separadas da terra, no quarto foram criados os luzeiros do céu, no quinto o ar, a água e as aves e os peixes, no sexto a terra com os animais e o homem. No sétimo dia, Deus descansou. Operação divina ao fazer o mundo: - a Criação corresponde à Sua onipotência; - a distinção dos seres corresponde à Sua Sabedoria; - o ornato corresponde à Sua Bondade. A criação provém do nada, pelo motivo de que ela é fruto do Primeiro princípio, antes de qualquer dia e como fundamento de todas as coisas e de todos os tempos. Não confundir nada com caos, ausência ou negação do ser. A distinção é tripla e Deus a fez em 3 dias. Pois se distingue: - A natureza luminosa da transparente e opaca (no 1º dia ao separar a luz das trevas); - Uma transparente de outra transparente (2º dia ao separar o firmamento das águas); - Entre transparente e opaca (3º dia ao separar as águas da terra). O ornato (que por si é uma distinção) foi concluído também em 3 dias: - O ornato da natureza luminosa (4º dia, criando os astros, estrelas, sol, etc.) - O ornato da natureza transparente (5º diz, ao criar as aves, peixes, etc.) - Ornato da natureza opaca (6º dia, os animais e o homem).
III – O princípio da Criação de forma gradual (ou evolutiva), porém não espontânea: a) Deus poderia ter criado o mundo num só ato; b) Preferiu, porém, fazê-lo de forma sucessiva: 1º. ) Para manifestar a distinção de sua Sabedoria e Bondade; 2º.) Por motivo da conveniente correspondência entre os dias os tempos e as operações; 3º. ) – Porque desde o princípio deveria se produzir as sementes das obras que haviam de se produzir, prefigurando os tempos futuros. 4º.) – Naqueles sete dias se antecipou, como semente, a distinção de todos os tempos que vão surgindo no decurso das sete idades. c) Também se pode dizer “de certo modo” que fez o mundo de uma só vez – então os sete dias há que se referir à consideração angélica, quer dizer, à maneira como foi comunicado aos anjos a Criação. Contudo, a primeira maneira de falar é mais conforme a Escritura e à autoridade dos santos.
IV – Interpretação do que diz a Sagrada Escritura sobre a criação do universo: “Por isso a Sagrada Escritura, para insinuar a ordem da natureza, indica, conforme à maneira que convinha a Deus obrar, que aquela tripla natureza foi tirada do não-ser ao ser no princípio, antes que o tempo iniciasse a correr, quando disse: “No princípio criou Deus o céu e a terra, e o espírito de Deus era levado sobre as águas”. Donde, com o nome de céu se insinua a natureza luminosa; com o de terra, a opaca, e com o de água, a penetrável e transparente, tanto a sujeita à contrariedade quanto a não sujeita. Donde, da mesma forma, se insinua a Trindade eterna, quer dizer, o Pai, com o nome de Deus Criador; o Filho, com o nome de princípio; o Espírito Santo, com o de Espírito de Deus. E assim deve entender-se aquilo que em outra parte se disse: “O que vive eternamente criou todas as coisas juntamente”; não no sentido de que as tivesse criado num caos de completa confusão, como se o figuraram os poetas, pois produziu esta tripla natureza sinalando à suprema o lugar mais alto; à média, o intermédio, e à ínfima, o mais baixo; nem no sentido de que as houvesse criado num estado de perfeita distinção ou diferenciação, pois o céu estava perfeitamente acabado; a terra, todavia, desordenada; e a natureza média, como ocupando o lugar intermediário, não tinha sido levada ainda a uma perfeita distinção.
(Obras de San Buenaventura – BAC - vol. I, págs. 242/247)
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