Situação da Igreja nos Estados Unidos da América
O padre John McCloskey pertence ao Opus Dei, é investigador do “Reason Institute” e escreve para numerosos órgãos de imprensa como o “Catholic World Report”, “Crisis Magazine”, “The Wall Street Journal, “National Catholic Register”, “Washington Times”, “New York Times” e “ACI Prensa”. Recentemente o padre McCloskey analisou a situação da Igreja nos Estados Unidos. Sua análise abrange o período que vai o pós-Concílio Vaticano II, isto é, 1965, até o ano 2005.
A análise começa por mensurar a situação do sacerdócio naquele país, um indicador que ele julga importante para verificar o estado geral da Igreja. Em muitos sentidos as estatísticas nos Estados Unidos são parecidas com as da Europa, onde o hedonismo no Ocidente e o comunismo no Leste têm feito muitos estragos a partir da Segunda Guerra. No entanto, a principal causa da queda do número de católicos praticantes, tanto lá quanto cá, foi a grande confusão do pós-concílio.
Vejamos os dados. Em 1965, ao término do Concílio, havia nos Estados Unidos 58 mil sacerdotes; agora eles somam apenas 41 mil. A continuar esta queda, teremos no ano 2020 somente 31 mil sacerdotes, a metade deles com mais de 70 anos de idade. Em 1965, foram ordenados 1575 sacerdotes nos Estados Unidos; em 2005, foram ordenados apenas 454. Quer dizer, um decréscimo de mais de 60%. Deve-se levar em conta que a população católica americana cresceu 50%, passando de 45 para 67 milhões de fiéis. Nisto se verifica um mistério: enquanto cresce a quantidade de fiéis, decrescem as vocações.
No período analisado, o número de seminaristas decresceu de 50 mil, em 1965, para apenas 5 mil em 2005, quer dizer, uma queda de 90%.
É preciso se frisar que alguns bispos, incentivados já no pontificado de João Paulo II, estiveram promovendo um incremento das vocações sacerdotais, mas não houve crescimento significativo até 2005. Um fator que também tem contribuído para a pouca adesão dos jovens ao sacerdócio são os últimos escândalos envolvendo alguns padres. Espera-se que as vistorias feitas em alguns seminários e o cumprimento das recomendações da Santa Sé possam trazer uma maior fidelidade aos ensinamentos da Igreja, um ambiente moral mais sadio nos seminários e, como resultado, maior atração para os jovens realmente piedosos e possuidores de vocação.
Há também um decréscimo dos que levam vida consagrada em comunidades religiosas. Em 1965 havia nos Estados Unidos 22.707 sacerdotes pertencentes a comunidades de vida consagrada, enquanto o número em 2005 era de apenas 14.137, com grande quantidade deles já anciãos e perto do fim da vida. O número de irmãos leigos decresceu, no período, de 12.271 para 5.451. Mais assombroso ainda é o decréscimo das religiosas, que eram 179 mil em 1965 e caíram para 68 mil em 2005 – uma queda de mais de 90%.
O padre McCloskey ressalta que esta diminuição do número de religiosos em sua maioria não é decorrente de mortes, mas sim de apostasia às vocações. Da mesma forma, o fato de algumas ordens terem abandonado o cumprimento rigoroso de suas regras tem afastado os simpatizantes para as novas vocações e não ajudam no recrutamento, mas, ao contrário, está trazendo desalento na juventude. Enquanto isto, aqueles ou aquelas que perseveram vêm-se rodeados de pessoas idosas e sem muito entusiasmo pela vocação. As únicas congregações que denotam algum sinal de vitalidade e atrativo para novas vocações são as rigorosamente fiéis aos princípios evangelizadores, como aquelas que vestem hábitos completos e mantêm sólida vida de oração na comunidade.
O ensino religioso
Sobre o ensino religioso, disse o padre McCloskey:
“Podemos falar agora sobre o que, antes do Concílio, era gozo e coroa da Igreja católica nos Estados Unidos: o sistema educativo, que abarcava desde os colégios secundários até as centenas de escolas universitárias e universidades católicas.
“Na história da Igreja nunca tinha havido um sistema educativo tão amplo e, ao menos na aparência, tão sadio. A educação primária era atendida pela paróquia, onde se emulava o trabalho pioneiro de São João Neumann. As paróquias também dirigiam muitos institutos, porém vários outros eram fundados por grupos de religiosos e de religiosas. A maior parte destes institutos eram de educação diferenciada; outros admitiam meninos e meninas no mesmo edifício, porém o educavam separadamente”.
Após comentar sobre a decadência das famílias como uma das causas da crise nas escolas católicas, acrescenta: “Tudo isso desapareceu em grande parte. Quase a metade das escolas católicas que existiam em 1965 foram fechadas. Em meados da década de 1960 quatro milhões e meio de estudantes assistiam em colégios católicos; hoje são aproximadamente a metade.
“Porém, maior ainda é o problema da educação religiosa que se oferece nos colégios que ficam. Muitos de seus programas catequéticos são inapropriados e dirigidos por leigos de pouca formação... que têm sérias dificuldades com alguns pontos da doutrina e moral católicas”.
“Assim, por exemplo, somente 10% dos professores leigos de Religião aceitam o ensinamento católico sobre anticoncepção; 53% pensam que uma mulher pode abortar e continuar sendo católica; 65% dizem que um católica pode divorciar-se e voltar a se casar. Em fins da última década, numa pesquisa feita pelo New York Times, 70% dos católicos entre 18 e 54 anos deviam considerar a Sagrada Eucaristia como uma mera “recordação simbólica” de Jesus”.
Quanto ao nível superior, atualmente existem apenas 224 universidades e escolas universitárias formalmente reconhecidas como “católicas” pelos bispos. Apenas duas delas – Georgetown e Notre Dame Univesity – estão entre as 25 melhores do país.
O termo “católica”, porém, representa apenas uma fachada. Somente 6% destas universidades recebem aprovação oficial da autoridade eclesiástica, cumprindo exigências da Congregação para a Educação Católica baseadas na Constituição Apostólica “Ex Corde Ecclesiae”, de 1990.
A vida religiosa dos fiéis
Mas a assistência dos católicos às Missas e aos sacramentos não segue o mesmo sentido do crescimento de fiéis, pois são cada vezes menos estas freqüências. Antes do Concílio, 75% dos católicos americanos iam à Missa todos os domingos, enquanto hoje este índice ficou reduzido a 32%. Este índice chega a 40% daqueles que assistem á Missa em um dia qualquer da semana. Mais preocupante ainda é a quantidade daqueles que deixam de freqüentar os sacramentos, como da Confissão, Comunhão e até batizados. Também campeia a indiferença religiosa, permitindo que muitos católicos vivam às vezes em estado de pecado, participando mesmo assim de algum sacramento e aceitando divórcio e o até o aborto como coisa natural.
No final, o padre McCloskey aventa uma saída meio prática para a crise: a imigração de latinos, os quais, por serem em geral católicos mais fiéis e de proles mais numerosas poderão futuramente minorar a situação da Igreja nos Estado Unidos.
Tomara que a mensagem de Esperança, levada agora por Bento XVI em sua visita àquele país, faça com que todos entendam que a única coisa que fará a Igreja crescer é a santidade.
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