Vejamos todo o noticiário atual, a atenção que se dá às fofocas políticas, aos crimes e escândalos, de forma a provocar até comoção nacional (como o caso recente da criança que foi jogada do sexto andar de um edifício), e depois concluamos se não tinha razão Dr. Plínio quando escreveu o artigo abaixo em 1969:
“É um lugar comum afirmar que as forças propulsoras de cada país são as suas grandes instituições. No Brasil, as principais dentre elas são a Igreja, as Forças Armadas, as associações de classe e as universidades. Acrescentemos ainda – não sem alguma benevolência – os partidos políticos.
De todas estas instituições trata amiúde a imprensa. Mas, fazendo-o, ela nem sempre lhes dá um relevo proporcionado à importância real de cada uma. O grande noticiário é habitualmente consagrado à política, isto é, ao jogo das discrepâncias entre os partidos e à atuação dos organismos oficiais sob o impulso do pluripartidarismo. O que diz respeito às demais instituições é apresentado muitas vezes em um plano secundário. Daí vem que um enorme número de leitores imagina serem as ocorrências dos arraiais políticos mais importantes para o futuro do país do que os eventos de outra ordem. Um debate sensacional entre deputados teria, nesta perspectiva, sempre e forçosamente, muito mais alcance do que o provimento de uma cátedra universitária, a aprovação ou na condenação de um ponto de doutrina pela Igreja, etc.
...não é simplesmente segundo o relevo que lhes dá a maioria dos jornais, que se pode adquirir uma noção exata da importância dos diversos acontecimentos. Os fatos da vida interna das grandes instituições apolíticas – das quais mencionei quatro, mas poderia mencionar tantas outras – podem ter para o país uma importância maior do que muitos e muitos eventos partidários. E se um brasileiro lúcido quiser conhecer, em sua medula, a vida do País, há de consagrar uma atenção séria e contínua ao que se passa no interior de nossas instituições”
De todas estas instituições trata amiúde a imprensa. Mas, fazendo-o, ela nem sempre lhes dá um relevo proporcionado à importância real de cada uma. O grande noticiário é habitualmente consagrado à política, isto é, ao jogo das discrepâncias entre os partidos e à atuação dos organismos oficiais sob o impulso do pluripartidarismo. O que diz respeito às demais instituições é apresentado muitas vezes em um plano secundário. Daí vem que um enorme número de leitores imagina serem as ocorrências dos arraiais políticos mais importantes para o futuro do país do que os eventos de outra ordem. Um debate sensacional entre deputados teria, nesta perspectiva, sempre e forçosamente, muito mais alcance do que o provimento de uma cátedra universitária, a aprovação ou na condenação de um ponto de doutrina pela Igreja, etc.
...não é simplesmente segundo o relevo que lhes dá a maioria dos jornais, que se pode adquirir uma noção exata da importância dos diversos acontecimentos. Os fatos da vida interna das grandes instituições apolíticas – das quais mencionei quatro, mas poderia mencionar tantas outras – podem ter para o país uma importância maior do que muitos e muitos eventos partidários. E se um brasileiro lúcido quiser conhecer, em sua medula, a vida do País, há de consagrar uma atenção séria e contínua ao que se passa no interior de nossas instituições”
("Folha de São Paulo", 29.01.69).
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