Transcrevo abaixo a notícia da Zenit:
Ruas de Roma, presente digno de um Papa
Celebrando 500 anos da Via Giulia
Por Elizabeth Lev
ROMA, segunda-feira, 14 de abril de 2008 (ZENIT.org).- Todos sabem que o papado gerou a basílica de São Pedro e a Capela Sistina e as chaves e tiaras em numerosas igrejas, fontes e santuários da cidade são mais que testemunhas da generosidade papal que tornou essas estruturas possíveis.
Poucos, entretanto, são conscientes de que muitas ruas que guiam nossos passos, levam-nos de um monumento a outro, também fazem parte do projeto papal.
Este ano, a Via Giulia, a longa avenida ao lado do Tibre, está celebrando o 500º aniversário de sua fundação pelo Papa Júlio II, em 1508.
A Via Giulia, nomeada pelo mesmo Papa, foi a coroação de um projeto de 25 anos iniciado pelo tio de Júlio, o Papa Sixto IV (1471-1484). Consternado pela pobre organização, limpeza e apresentação da cidade, Sixto construiu a primeira ponte a cruzar o Tibre desde a antigüidade e abriu uma rua reta no lado do Trastevere do rio para trazer moradores diretamente para a área do Vaticano.
Júlio II, da mesma forma que Augusto continuou o projeto urbano de seu tio Júlio César, completou o projeto construindo a Via Giulia, uma verdadeira avenida quando comparada com as sinuosas, tortuosas ruas que serpenteavam a área.
Para seu projeto monumental, Júlio chamou o melhor arquiteto da época, Donato Bramante, que estava no meio do projeto da nova Basílica de São Pedro na época. O nativo de Urbino, com 64 anos, foi o homem que conferiu o majestoso desejo de Júlio para sua nova adição à paisagem de Roma.
A via logo se tornou o endereço residencial mais desejado em Roma. Elegantes palácios alinhados em suas fachadas, pontuados por preciosas igrejas.
Os florentinos, com sua habitual perspicácia nos negócios, dividiram a área no fim da rua, construindo sua Igreja de San Giovanni dei Fiorentini, que se tornou logo o quartel-general de S. Filipe Néri e seus Oratorianos.
No final de semana retrasado, os romanos sentiram o gosto do Renascimento da Via Giulia durante todo o final de semana para o Fondo Ambiente Italiano, que protege os tesouros nacionais da Itália através de sua conservação e restauração.
Quase todos os palácios e igrejas abriram suas portas para permitir aos visitantes verem os luxuosos jardins internos, os elaborados afrescos circulares ou os estonteantes espaços revestidos em mármore.
Enquanto os amantes da arte alinhavam-se de porta em porta, pedestres, diante do burburinho intenso na rua, enchiam os cafés locais, assistindo a crianças brincando e majestosas mulheres passeando com seus cães de raça.
Eu fiz o caminho para o palácio Farnese, a jóia da Via Giulia, agora Embaixada Francesa. Ainda que o palácio tenha sua própria praça de frente para o que era a Via Papalis, os afortunados Farneses fundaram em 1508 seu jardim de frente para a nova grande avenida romana.
Construído pelo Papa Paulo III, o palácio teve início quando o futuro pontífice Alessandro Farnese era ainda cardeal, por volta de 1490, e abrangeu muitas décadas e arquitetos, incluindo Antonio Sangallo, Vignola e Michelangelo.
Entramos pelo jardim, saindo da rua barulhenta para um idílico tipo de balcões de pedra aberta estruturados com glicínia. Colunas e estátuas foram atrativamente arranjadas em forma de pirâmides no jardim, como os troféus romanos de antigamente.
Então caminhamos no jardim principal, nossos saltos estalando no piso de pedra e ecoando nas paredes de alvenaria. Esta parte do palácio foi projetada por Michelangelo, com seu dramático esquema de alternar paredes fechadas com arcos abertos para desenhar o espaço.
Mas o momento mais excitante veio quando subimos a grande escadaria, passando através de salas profusamente pintadas, e entramos na galeria principal, onde o grande afresco do século XVII cruza a câmara.
Este é o «Amores dos Deuses», de Annibale Carracci, um afresco unindo o cromatismo de Veneza, o desenho de Florença, o humor grosseiro de Emilia Rmagna, e a monumentalidade de Roma para criar a primeira pintura verdadeiramente italiana.
Ainda deslumbrada pelos brilhantes matizes de Annibale, fui para o colégio espanhol de Montserrat, e caminhando no solene hall de Santa Maria do Sufrágio, projetado por Carlo Rainaldi no início do século XVII.
Para minha terceira e última visita, selecionei o Palácio Sacchetti, pintado por Francesco Salviati para o cardeal Ricci em 1554. O contraste entre os dois palácios é extraordinário. Dos deliciosos ambientes do Farnese, as extensas paredes do palácio Sacchetti são cobertas com mais sóbrias visões panorâmicas das histórias do Rei Davi.
Nessa única rua, com meia milha de distância somente, espanhóis e florentinos, homens da igreja e pessoas frívolas, artesãos e príncipes viveram lado a lado, na renovada Caput Mundi de Júlio II.
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