terça-feira, 14 de abril de 2020

PODE HAVER AÇÃO ANGÉLICA NOS REFLEXOS CONDICIONADOS?








Pode haver ação angélica nos “reflexos condicionados?”

Questão em debate: onde entra, ou não entra, a vontade humana nos “reflexos condicionados”, e onde entra a ação angé­lica na determinação dos atos humanos da espécie:

O que é “reflexo condicionado”, conforme a fisiologia – um ramo da medicina
O que é um reflexo? É uma seqüência estímulo-resposta e tem a função de manter o bom funcionamento biológico, garantindo sobrevivência e reprodução. Existem reflexos em todos os sistemas orgânicos: nervoso, endócrino, muscular, respiratório, digestivo, re­produtivo e até mesmo respostas emocionais reflexas.
Foi o fisiologista russo Ivan Pavlov quem iniciou o estudo dos “reflexos condicionados”. Suas expe­riências iniciais se atinham aos aspectos meramente animais. Segundo Pavlov, para que haja um reflexo condicionado (ele se refere sempre ao animal irracional) é preciso que existam algumas condições: coexistência no tempo, várias vezes repetida, entre o agente indife­rente e o estímulo incondicionado; o agente indiferente deve preceder em pouco tempo o estímulo in­condicionado; inexistência naquele momento de outros estímulos que possam provocar inibição de causa externa; para que o reflexo condicionado se mantenha é necessário que periodicamente o re­forcemos.
Todos estes condicionantes supõem que os reflexos condicionados são algo meramente mecânico e que ocorrem no mundo animal.  No entanto, Pavlov e seus seguidores admitem que os reflexos con­dicionados podem alterar funções orgânicas. Outros já comprovam que estes reflexos (se bem enrai­zados em algumas pessoas) alteram até mesmo aspectos genéticos.
Indo mais além, os estudiosos chegaram a conclusões de que os reflexos condicionados con­tribuem para melhoria do aprendizado. E aí saímos do meio animal irracional para o do homem e sua alma, onde o aprendizado é um conjunto de atos mais psicológicos do que materiais

Senso de direção ou de orientação
Todo ser animal tem senso de direção inato. Trata-se do sentido que o faz saber para onde vai e o que buscar. Alguns têm o sentido de orientação mais aguçado do que outros, mas a maioria o possui em grau apenas necessário para mover-se em pequenos espaços e poucos deslocamentos. Mas, outros não; possuem sentidos, como os olhos da águia ou o olfato do cão, para sentir e percorrer maiores distâncias sem perder-se.
Este senso de direção ou de orientação é essencial para que os animais desempenhem sua limitada e inata auto-regência, possam ter o domínio sobre si que Deus deixou para que cumpram bem seus dias de vida. Mas, apesar de alguns o possuírem de uma forma até sofisticada (como os morcegos), não há uma só espécie que consiga fazer com que tal senso cresça ou atinja outros graus: tudo o que fazem não são nada senão fruto de sua própria natureza..
Quanto ao ser humano, possui o senso de direção ou de orientação que se desenvolve de acordo com cada indivíduo em alto grau, podendo alguns chegar a maiores perfeições, outros ficarem estagnados e outros até mesmo retrocederem em seus atributos inatos. Nosso senso de orientação nos faz seguir para qualquer lugar do universo, seja nas entranhas da terra, no ar ou nas profundezas do oceano, sem que se perca, sem que não saiba para que destino seguir nem para onde voltar. Até mesmo no cosmo o senso de orientação do homem é perfeito, fazendo com que o mesmo possa viajar para qualquer astro (se isso for possível) sem que perca o caminho de volta. É claro que poderá haver situações em que determinado indivíduo, ou mesmo grupo, se perca momentaneamente e não ache seu senso de direção. Mas, isto são situações anormais que ocorrem esporadicamente por causa de fatores que perturbem os sentidos humanos em certo espaço de tempo.
Este senso é utilizado para muito além do simples deslocar-se de um lugar para outro. O homem possui senso de orientação de seu ser e de toda sua vida.  Por exemplo, ele desenvolve tal senso quando pensa em seu futuro ou no de seus filhos, quando procura estudar para uma carreira promissora ou procura juntar algumas economias para se prevenir para as incertezas do seu porvir, etc. Esta preocupação é uma fase mais avançada do senso de orientação, coisa que os animais irracionais não possuem. E o homem possui esse senso nesta fase assim adiantada porque possui alma, porque tem o elemento espiritual que rege todo o seu ser..
A neurofisiologia afirma que todas as funções cerebrais se realizam mediante Atos Reflexos. Inclu­sive as funções mais complexas que formam a base dos fenômenos psíquicos. São de dois tipos: os Atos Reflexos Incondicionados e os Atos Reflexos Condicionados. Os primeiros são aqueles inatos, já nos acompanham desde o nascimento. Em geral, assim como os animais irracionais, os atos reflexos incondicionados são aqueles que se destinam à nossa própria sobrevivência, o instinto de conservação. Há outros atos, porém, que vão além e se destinam, por exemplo, à nossa defesa, nos orientando para que nos afastemos de tudo o que seja risco para nós ou para aqueles que amamos. E, indo mais além, existem os “atos reflexos de orientação”, que guiam o homem para onde vai, para onde vem, o que vai fazer naquele dia, naquela semana ou mês, ou doravante em toda a sua vida, o que pretende ser no futuro, etc.,
Este “ato reflexo” ou senso de orientação desperta no homem dois outros sentidos externos: o assombro e a curiosidade. O assombro se refere ao maravilhamento pelo belo, o bom e o pulcro. A curiosidade pode levá-lo ao conhecimento, ao saber.  Tanto o assombro quanto à curiosidade, e suas conseqüências, como o maravilhamento e a procura do saber, existem para levar o homem ao amor de Deus.
Tais atos reflexos ou senso de orientação se manifestam de acordo com as condições de vida e de educação do indivíduo. Ao selecionar estímulos capazes de produzir reflexos condicionados, o córtex cerebral estará realizando uma atividade de síntese e de análise, necessári­as para se alcançar a adaptação indispensável às condições de vida e de equilíbrio com o meio. Se­ria, portanto, uma atividade psicológica aliada aos estímulos nervosos. E por ser “síntese” e “análise” estão ligadas ao ato de julgar pertencente ao poder de regência. Aí entram em ação também a memória e a consciência.
Assim, com base no conhecimento profundo que os anjos possuem sobre atos reflexos e senso de orientação, conseguem influenciar os homens a tomar atitudes, a praticar ações, conforme os objetivos angélicos predeterminados, não somente no dia a dia, mas aquelas que possam influenciar toda a vida humana até a própria morte.

O papel das atenções
Atenção é a aplicação do espírito a alguma coisa. Ela fixa nossa mente naquilo que julga mais importante dando-lhe primazia sobre as demais coisas. Por isso se diz que há pessoas que vêem somente com olhos corporais e outras que vêem também com os olhos da alma (Está no Evangelho: “...os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem cegos...”- Jo 9,39). É nossa atenção que faz com que elejamos algo como coisa essencial ou primordial em nossas cogitações, deixando outras para o segundo plano. Há, portanto, uma escala hierárquica na­quilo que elegemos como nossas preferências. É quase impossível que se dirija a atenção única para vários obje­tos ao mesmo tempo..
Assim, se cuidamos que nossa atenção se dirija repetidamente para um objeto, ou para um aspecto do aprendizado, por exemplo, ela vai fixar em nós aquele objeto com mais eficiência e formar um “ato reflexo” ou até mesmo um hábito. A partir de certa altura passaremos a agir de forma inadvertida para exercer aquele ato sem prévia anuência da vontade.
O sentido mais usado para fixar a nossa atenção é o da audição. Serve ele também para nossa orientação e fixação em lugares ou posições pré-estabelecidas. Por isso a palavra mais usada para se cumprir as leis divinas é “ouvi!”, repetida muitas vezes tanto no Velho quanto no Novo Testamento. Era também o sentido mais requerido nas aulas das universidades medievais, mais orais do que escritas, pois pela audição o homem prende mais sua atenção ao objeto do aprendizado. Os mais famosos oradores, de natureza sacra ou profana, se evidenciaram numa época em que se dava mais valor ao aprendizado pela audição (daí serem bons oradores) e com isso prendiam mais a atenção da pessoas e as cativavam. Talvez seja porque é na audição que o homem mais se esmera em reger ou ser regido com outro ser humano.
Há pessoas que têm acurada atenção ao que se ouve: estas conseguem fixar-se mais seguramente no sentido da orientação, no da observação, no assombro e maravilhamento, etc. Enquanto que aquelas que têm pouca atenção ao que se ouve perdem-se facilmente no esquecimento das coisas e de seus deveres, deixando falhas na memorização de fatos ou coisas importantes para o seu dia a dia.
Quando se diz que Deus “ouve” os homens está se referindo à atenção que Deus está lhes dando. E tal atenção está liado diretamente aos ouvidos.
Quer dizer, com os olhos os homens conseguem ver, mas é com o ouvindo que conseguem entender, e o dom do entendimento precede ao da Sabedoria. E a conversão só vem após o entendimento e não após a visão da Verdade. No Livro da Sabedoria os ouvidos são diretamente relacionado com a atenção: “Os teus ouvidos atentos ouvem tudo (Sab 1, 10)”. É, pois, importantíssimo que nossa atenção esteja completamente voltada em ouvir mais do que ver ou falar.

O papel dos anjos no “condicionamento” dos atos reflexos:
Para guiar, orientar ou reger um homem o anjo não pode influir nos atos reflexos incondicionados, pois estes por si mesmo atuam na natureza humana sem necessidade de uma regência externa. No entanto, os anjos podem atuar na produção de atos reflexos condicionados, pois estes dependem tanto da auto-regência do próprio homem quanto de regência externa, seja de uma ou mais pessoas humanas ou dos anjos.
Baseado, pois, em deduções lógicas e em estudos precedentes, supõe-se que a ação angélica sobre os homens poderia também dar-se da seguinte forma:
a) Ativar aqueles atos que possam produzir efeitos desejados conforme o fim angélico: para a prática das virtudes se tratar-se de nossos anjos da guarda, e para o vício se tratar-se de anjos maus.
b) Os anjos bons não fazem produzir atos que interfiram no nosso livre arbítrio; já os anjos maus tentam fazê-lo por causa de sua natureza despótica: os primeiros procuram provocar atos simples (através da visão, da audição ou de qualquer outro sentido) de modo que demova o homem à prática das virtudes, mas nunca afetam a parte mais nobre da alma humana, como a vontade e a inteligência, não impõem atos que o homem não deseje executar.
c) A ação angélica consiste em inspirar ao homem alguns atos que possam produzir atos reflexos condicionados. Trata-se de algo que pode durar muito tempo, toda a vida do homem: é nas coisas mais simples do dia a dia que estes atos reflexos vão se formando (ou sendo impulsionados), nos toques, nos gestos, no ato de se alimentar, de se vestir,  o andado, etc. Estas atividades seriam exercidas pelos anjos que denominaríamos de “Anjos Regentes”. Trata-se da própria educação do homem. Um certo sentido de retidão vai sendo impresso na alma humana para perceber quais atos são mais corretos, mais afins com a natureza humana e com a ordem do universo, e quais são incorretos e não de acordo com a natureza e a ordem do universo, evitando-se estes últimos e praticando os primeiros. Este sentido de retidão é como ativado na alma da criança pelos anjos (embora tenha nascido com ele, este sentido às vezes esmaece) e ela vai aos poucos assimilando seus atos por ele. Na maneira de se sentar, de gesticular, de pegar os objetos, de se dirigir aos mais velhos, em tudo a criança usa o sentido de retidão para a prática de seus atos. Fazendo-os ao longo dos anos cria atos reflexos bons.
d) Há também a influência direta do anjo no pensamento do homem através de sua memória. Embora somente Deus possa ler nossos pensamentos, no entanto os anjos podem influenciá-los e dirigi-los com vistas ao fim desejado.



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