Pode haver ação angélica nos
“reflexos condicionados?”
Questão em debate: onde entra, ou não entra, a vontade humana
nos “reflexos condicionados”, e onde entra a ação angélica na determinação dos
atos humanos da espécie:
O que é “reflexo
condicionado”, conforme a fisiologia – um ramo da medicina
O que é um reflexo? É uma seqüência
estímulo-resposta e tem a função de manter o bom funcionamento biológico,
garantindo sobrevivência e reprodução. Existem reflexos em todos os sistemas
orgânicos: nervoso, endócrino, muscular, respiratório, digestivo, reprodutivo
e até mesmo respostas emocionais reflexas.
Foi o fisiologista russo Ivan Pavlov quem
iniciou o estudo dos “reflexos condicionados”. Suas experiências iniciais se atinham
aos aspectos meramente animais. Segundo Pavlov, para que haja um reflexo
condicionado (ele se refere sempre ao animal irracional) é preciso que existam
algumas condições: coexistência no tempo, várias vezes repetida, entre o agente
indiferente e o estímulo incondicionado; o agente indiferente deve preceder em
pouco tempo o estímulo incondicionado; inexistência naquele momento de outros
estímulos que possam provocar inibição de causa externa; para que o reflexo
condicionado se mantenha é necessário que periodicamente o reforcemos.
Todos estes condicionantes supõem que os
reflexos condicionados são algo meramente mecânico e que ocorrem no mundo
animal. No entanto, Pavlov e seus
seguidores admitem que os reflexos condicionados podem alterar funções
orgânicas. Outros já comprovam que estes reflexos (se bem enraizados em
algumas pessoas) alteram até mesmo aspectos genéticos.
Indo mais além, os estudiosos chegaram a
conclusões de que os reflexos condicionados contribuem para melhoria do
aprendizado. E aí saímos do meio animal irracional para o do homem e sua alma,
onde o aprendizado é um conjunto de atos mais psicológicos do que materiais
Senso de direção ou de orientação
Todo ser animal tem senso de direção inato.
Trata-se do sentido que o faz saber para onde vai e o que buscar. Alguns têm o
sentido de orientação mais aguçado do que outros, mas a maioria o possui em
grau apenas necessário para mover-se em pequenos espaços e poucos
deslocamentos. Mas, outros não; possuem sentidos, como os olhos da águia ou o
olfato do cão, para sentir e percorrer maiores distâncias sem perder-se.
Este senso de direção ou de orientação é
essencial para que os animais desempenhem sua limitada e inata auto-regência,
possam ter o domínio sobre si que Deus deixou para que cumpram bem seus dias de
vida. Mas, apesar de alguns o possuírem de uma forma até sofisticada (como os
morcegos), não há uma só espécie que consiga fazer com que tal senso cresça ou
atinja outros graus: tudo o que fazem não são nada senão fruto de sua própria
natureza..
Quanto ao ser humano, possui o senso de
direção ou de orientação que se desenvolve de acordo com cada indivíduo em alto
grau, podendo alguns chegar a maiores perfeições, outros ficarem estagnados e
outros até mesmo retrocederem em seus atributos inatos. Nosso senso de
orientação nos faz seguir para qualquer lugar do universo, seja nas entranhas
da terra, no ar ou nas profundezas do oceano, sem que se perca, sem que não
saiba para que destino seguir nem para onde voltar. Até mesmo no cosmo o senso
de orientação do homem é perfeito, fazendo com que o mesmo possa viajar para
qualquer astro (se isso for possível) sem que perca o caminho de volta. É claro
que poderá haver situações em que determinado indivíduo, ou mesmo grupo, se
perca momentaneamente e não ache seu senso de direção. Mas, isto são situações
anormais que ocorrem esporadicamente por causa de fatores que perturbem os
sentidos humanos em certo espaço de tempo.
Este senso é utilizado para muito além do
simples deslocar-se de um lugar para outro. O homem possui senso de orientação
de seu ser e de toda sua vida. Por
exemplo, ele desenvolve tal senso quando pensa em seu futuro ou no de seus
filhos, quando procura estudar para uma carreira promissora ou procura juntar
algumas economias para se prevenir para as incertezas do seu porvir, etc. Esta
preocupação é uma fase mais avançada do senso de orientação, coisa que os
animais irracionais não possuem. E o homem possui esse senso nesta fase assim
adiantada porque possui alma, porque tem o elemento espiritual que rege todo o
seu ser..
A neurofisiologia afirma que todas as funções
cerebrais se realizam mediante Atos Reflexos. Inclusive as funções mais
complexas que formam a base dos fenômenos psíquicos. São de dois tipos: os Atos
Reflexos Incondicionados e os Atos Reflexos Condicionados. Os primeiros são
aqueles inatos, já nos acompanham desde o nascimento. Em geral, assim como os
animais irracionais, os atos reflexos incondicionados são aqueles que se
destinam à nossa própria sobrevivência, o instinto de conservação. Há outros
atos, porém, que vão além e se destinam, por exemplo, à nossa defesa, nos orientando
para que nos afastemos de tudo o que seja risco para nós ou para aqueles que
amamos. E, indo mais além, existem os “atos reflexos de orientação”, que guiam
o homem para onde vai, para onde vem, o que vai fazer naquele dia, naquela
semana ou mês, ou doravante em toda a sua vida, o que pretende ser no futuro,
etc.,
Este “ato reflexo” ou senso de orientação
desperta no homem dois outros sentidos externos: o assombro e a curiosidade. O
assombro se refere ao maravilhamento pelo belo, o bom e o pulcro. A curiosidade
pode levá-lo ao conhecimento, ao saber.
Tanto o assombro quanto à curiosidade, e suas conseqüências, como o
maravilhamento e a procura do saber, existem para levar o homem ao amor de
Deus.
Tais atos reflexos ou senso de orientação se
manifestam de acordo com as condições de vida e de educação do indivíduo. Ao
selecionar estímulos capazes de produzir reflexos condicionados, o córtex
cerebral estará realizando uma atividade de
síntese e de análise, necessárias
para se alcançar a adaptação indispensável às condições de vida e de equilíbrio
com o meio. Seria, portanto, uma atividade psicológica aliada aos estímulos
nervosos. E por ser “síntese” e “análise” estão ligadas ao ato de julgar
pertencente ao poder de regência. Aí entram em ação também a memória e a
consciência.
Assim, com base no conhecimento profundo que
os anjos possuem sobre atos reflexos e senso de orientação, conseguem
influenciar os homens a tomar atitudes, a praticar ações, conforme os objetivos
angélicos predeterminados, não somente no dia a dia, mas aquelas que possam
influenciar toda a vida humana até a própria morte.
O papel das atenções
Atenção é a aplicação do
espírito a alguma coisa. Ela fixa nossa mente naquilo que julga mais importante
dando-lhe primazia sobre as demais coisas. Por isso se diz que há pessoas que
vêem somente com olhos corporais e outras que vêem também com os olhos da alma
(Está no Evangelho: “...os que não vêem vejam, e os que vêem se tornem
cegos...”- Jo 9,39). É nossa atenção que faz com que elejamos algo como coisa
essencial ou primordial em nossas cogitações, deixando outras para o segundo
plano. Há, portanto, uma escala hierárquica naquilo que elegemos como nossas
preferências. É quase impossível que se dirija a atenção única para vários objetos
ao mesmo tempo..
Assim, se cuidamos que nossa atenção se
dirija repetidamente para um objeto, ou para um aspecto do aprendizado, por
exemplo, ela vai fixar em nós aquele objeto com mais eficiência e formar um
“ato reflexo” ou até mesmo um hábito. A partir de certa altura passaremos a
agir de forma inadvertida para exercer aquele ato sem prévia anuência da
vontade.
O sentido mais usado para fixar a nossa
atenção é o da audição. Serve ele também para nossa orientação e fixação em
lugares ou posições pré-estabelecidas. Por isso a palavra mais usada para se
cumprir as leis divinas é “ouvi!”, repetida muitas vezes tanto no Velho quanto no
Novo Testamento. Era também o sentido mais requerido nas aulas das
universidades medievais, mais orais do que escritas, pois pela audição o homem
prende mais sua atenção ao objeto do aprendizado. Os mais famosos oradores, de
natureza sacra ou profana, se evidenciaram numa época em que se dava mais valor
ao aprendizado pela audição (daí serem bons oradores) e com isso prendiam mais
a atenção da pessoas e as cativavam.
Talvez seja porque é na audição que o homem mais se esmera em reger ou ser
regido com outro ser humano.
Há pessoas que têm acurada atenção ao que se
ouve: estas conseguem fixar-se mais seguramente no sentido da orientação, no da
observação, no assombro e maravilhamento, etc. Enquanto que aquelas que têm
pouca atenção ao que se ouve perdem-se facilmente no esquecimento das coisas e
de seus deveres, deixando falhas na memorização de fatos ou coisas importantes
para o seu dia a dia.
Quando se diz que Deus “ouve” os homens está
se referindo à atenção que Deus está lhes dando. E tal atenção está
liado diretamente aos ouvidos.
Quer dizer, com os olhos os homens conseguem
ver, mas é com o ouvindo que conseguem entender, e o dom do entendimento
precede ao da Sabedoria. E a conversão só vem após o entendimento e não após a
visão da Verdade. No Livro da Sabedoria os ouvidos são diretamente relacionado
com a atenção: “Os teus ouvidos atentos ouvem tudo (Sab 1, 10)”. É, pois, importantíssimo que nossa
atenção esteja completamente voltada em ouvir mais do que ver ou falar.
O papel dos anjos no
“condicionamento” dos atos reflexos:
Para guiar, orientar ou reger um homem o anjo
não pode influir nos atos reflexos incondicionados,
pois estes por si mesmo atuam na natureza humana sem necessidade de uma regência
externa. No entanto, os anjos podem atuar na produção de atos reflexos condicionados, pois estes dependem
tanto da auto-regência do próprio homem quanto de regência externa, seja de uma
ou mais pessoas humanas ou dos anjos.
Baseado, pois, em deduções lógicas e em
estudos precedentes, supõe-se que a ação angélica sobre os homens poderia
também dar-se da seguinte forma:
a) Ativar aqueles atos que possam produzir
efeitos desejados conforme o fim angélico: para a prática das virtudes se
tratar-se de nossos anjos da guarda, e para o vício se tratar-se de anjos maus.
b) Os anjos bons não fazem produzir atos que
interfiram no nosso livre arbítrio; já os anjos maus tentam fazê-lo por causa
de sua natureza despótica: os primeiros procuram provocar atos simples (através
da visão, da audição ou de qualquer outro sentido) de modo que demova o homem à
prática das virtudes, mas nunca afetam a parte mais nobre da alma humana, como
a vontade e a inteligência, não impõem atos que o homem não deseje executar.
c) A ação angélica consiste em inspirar ao
homem alguns atos que possam produzir atos reflexos condicionados. Trata-se de
algo que pode durar muito tempo, toda a vida do homem: é nas coisas mais
simples do dia a dia que estes atos reflexos vão se formando (ou sendo
impulsionados), nos toques, nos gestos, no ato de se alimentar, de se
vestir, o andado, etc. Estas atividades
seriam exercidas pelos anjos que denominaríamos de “Anjos Regentes”. Trata-se
da própria educação do homem. Um certo sentido de retidão vai sendo impresso na
alma humana para perceber quais atos são mais corretos, mais afins com a
natureza humana e com a ordem do universo, e quais são incorretos e não de
acordo com a natureza e a ordem do universo, evitando-se estes últimos e
praticando os primeiros. Este sentido de retidão é como ativado na alma da
criança pelos anjos (embora tenha nascido com ele, este sentido às vezes
esmaece) e ela vai aos poucos assimilando seus atos por ele. Na maneira de se
sentar, de gesticular, de pegar os objetos, de se dirigir aos mais velhos, em
tudo a criança usa o sentido de retidão para a prática de seus atos. Fazendo-os
ao longo dos anos cria atos reflexos bons.
d) Há também a influência direta do anjo no
pensamento do homem através de sua memória. Embora somente Deus possa ler
nossos pensamentos, no entanto os anjos podem influenciá-los e dirigi-los com
vistas ao fim desejado.
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