terça-feira, 5 de janeiro de 2021

MEDITAÇÕES PARA O ADVENTO E EPIFANIA (XXXVIII)

 




5 de janeiro

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 -  O FRUTO DA BEM-AVENTURADA VIRGEM MARIA

 Bendito o fruto do vosso ventre (Lc 1,42). Às vezes, o pecador pede coisas que ele não pode obter, enquanto os justos obtêm. Para os justos se guarda a propriedade do pecador (Prov. 22). Eva procurou a fruta e não encontrou nela tudo o que desejava. A Santíssima Virgem, pelo contrário, encontrou em seu fruto tudo o que Eva havia desejado. Na verdade, Eva desejou três coisas em seu fruto.

1º) O que o diabo lhe prometeu falsamente, a saber: que seriam como deuses, conhecendo o bem e o mal (Gn 3, 5).  Você vai ser, ele disse mentiroso, como deuses. E mentiu, porque ele é um mentiroso e pai da mentira (Jo 8, 44). Porque Eva, ao comer o fruto, não se tornou semelhante a Deus, mas mais diferente; por pecar, se distanciou de Deus, seu salvador, e por isso foi expulsa do Paraíso. Mas ao contrário o encontrou a Santíssima Virgem e todos os cristãos no fruto de seu vemtre; porque através de Cristo nos unimos e nos assemelhamos a Deus: Quando ele aparecer, seremos semelhantes a ele, na medida em que o veremos assim como ele é (1 Jo 3, 2).

2ª) Eva desejava se deliciar com seus frutos, porque eram bons de comer; mas ela não o encontrou, porque imediatamente soube que ela estava nua e tinha dor. Por outro lado, no fruto da Virgem encontramos suavidade e saúde: quem come minha carne ... tem vida eterna (Jo 6:55).

3ª) O fruto de Eva era bonito de se ver; mas mais bonito é o fruto da Virgem na qual os Anjos desejam olhar: vistoso em beleza, mais do que os filhos dos homens (Sl 44,3); porque é o esplendor da glória do Pai. Eva não conseguiu encontrar em seu fruto o que não encontra pecador nos pecados. Portanto, o que queremos, vamos procurar no fruto da Virgem.

Esse fruto é abençoado:

1º) Por Deus, porque desta forma o encheu de toda graça que veio a nós em reverência: Bendito seja Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo, que nos abençoou com todas as bênçãos espirituais nos bens celestiais em Cristo (Ef 1, 3).

2ª) Para os Anjos e para os homens, como diz o Apóstolo: E toda língua confesse que o Senhor Jesus Cristo está na glória de Deus Pai (2, 11), e o profeta Davi: Bendito o que vem em nome do Senhor (Sl 117, 26). Assim, a Virgem é abençoada, mas seu fruto é ainda mais abençoado. (Salutat. Angelicae expositio, I),

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 ENTREMOS NA GRUTA DE BELÉM!

 E agora Maria convida todos os homens, nobres e plebeus, ricos e pobres,  santos e pecadores, a entrarem na gruta de Belém, a adorarem seu divino Filho e a lhe beijarem os pés. — Entrai, pois, almas cristãs, vinde ver sobre a palha o Criador do céu e da terra sob a forma duma criancinha, dum menino resplandecente de beleza e de brilhante luz. Agora que Ele nasceu na gruta e que está reclinado sobre palha, esse lugar já nada tem de repelente, mas tornou-se um paraíso. Entremos e não temamos. Jesus nasceu para todos, para quem o deseja. Eu sou, diz Ele nos Cânticos, eu sou a flor dos campos e o lírio dos vales. Ele se diz Lírio dos vales, para nos dar e entender que, tendo Ele nascido tão pobre, só os humildes o podem achar. Eis porque o anjo não anunciou o seu nascimento a César ou a Herodes, mas a pobres e humildes pastores. De resto, segundo o comentário do Cardeal Hugo, Ele se diz Flor dos campos, porque é acessível a todos. As flores dos jardins são reservadas a seu dono; não é permitido a todos colhê-las nem mesmo vê-las; os muros que as cercam, a isso se opõem. As flores dos campos, ao contrário, são expostas à vista de todos os transeuntes, e cada um as pobre colher: assim Jesus quis estar ao alcance de todos que o desejam achar.

Entremos; a porta está aberta e, acrescenta S. João Crisóstomo, “não há guarda para dizer: Não é hora”. Os reis da terra fecham-se em seus palácios, e esses palácios são rodeados de soldados; não é fácil chegar-se a eles: quem  lhes quer falar tem de suportar aborrecimentos: Venha em outra ocasião, agora não há audiência. Jesus Cristo não é assim: fica naquela grouta, e sob a forma duma criança para atrair docemente todos os que se apresentam; a gruta está aberta, sem guardas e sem portas, de sorte que cada um pode entrar à  vontade e em qualquer tempo para ver esse Rei-menino, falar-lhe e até abraçá-lo, se o ama e deseja.

Entrai, pois, almas cristãs, vinde ver no presépio sobre palhas esse tenro  Menino que chora. Vêde como é belo; vêde que luz irradia, que amor respira; seus olhos enviam setas de fogo aos corações que o desejam; seus vagidos são chamas para toda a alma que o ama; “o estábulo e o presépio, diz S. Bernardo, vos clamam que ameis aquele que tanto vos amou”. Amai um Deus que é digno de amor infinito e que desceu dos céus, se fez menino, se fez pobre, para vos mostrar seu amor e ganhar o vosso por seus sofrimentos.
Se lhe perguntardes: Ah! Menino encantador! dizei-me, de quem sois Filho? — Ele responderá: “Minha Mãe é essa Virgem toda bela e toda pura que está perto de mim. — E quem é o vosso Pai? — Meu Pai é Deus. — E como! vós sois o Filho de Deus, e nasceis em tanta pobreza e humilhação? quem poderá jamais reconhecer-vos? que caso farão de vós? — Não, responde Jesus, a santa fé me fará conhecer pelo que sou, e me fará amar pelas almas que vim resgatar da morte e inflamar de amor. Não vim para ser temido, mas amado; e se é como criança pobre e humilde que me mostro aos vossos olhos pela primeira vez, é para que me ameis mais, vendo a que humilhação me reduziu o amor que vos tenho. — Mas, dizei-me, amável Menino, porque girais assim os vossos olhos ao redor de vós? que estão olhando? Ouço-vos suspirar! dizei-me: porque suspirais? Ó Deus, vejo-vos chorar! dizei-me: porque chorais?
— Ah! me responde Jesus, olho ao redor de mim, para ver se encontro uma alma que me deseje. Suspiro, porque quisera ver ao meu lado um coração ardente de amor por mim, como eu ardo de amor por ele. Choro, sim, e eis porque choro: porque não vejo, ou vejo bem poucas almas e corações que me procuram e que me querem amar!

 (SANTO AFOSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf - Aparecida – 2004 – Fl. Castro (págs. 98/107)

 


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