quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

MEDITAÇÕES DO ADVENTO E EPIFANIA (XXXIX)

 


6 de janeiro

 COMENTÁRIOS DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

 - EPIFANIA DO SENHOR

 Nações caminharão por sua luz, e reis pelo brilho de sua aurora (Is 60, 3). Os Magos são as primícias dos gentios que acreditam em Cristo; em que a fé e a devoção apareceram como um certo presságio dos gentios, que vieram a Cristo de países distantes. E para isso, então

E por isto, assim como a devoção e a fé dos gentios são isentas de erros por inspiração do Espírito Santo, também se deve acreditar que os Magos, inspirados pelo Espírito Santo, sabiamente prestaram reverência a Cristo.

Como diz Santo Agostinho, a estrela que guiou os Reis Magos ao lugar onde o Deus Menino estava com a Virgem Mãe, poderia conduzi-los à mesma cidade de Belém onde Cristo nasceu; mas removido de sua vista até que os judeus também testemunharam sobre a cidade em que Cristo nasceria; para que, confirmados por duplo testemunho, procurassem com uma fé mais ardente que manifestou a clareza da estrela e a autoridade do profecia. Assim, eles próprios anunciam aos judeus o nascimento de Cristo e eles perguntam o lugar. Por disposição divina aconteceu que, desaparecer a estrela, os oReis Magos foram a Jerusalém guiados por luzes humanas, procurando na cidade real pelo rei nascido, a fim de que o nascimento de Cristo fosse anunciado publicamente pela primeira vez em Jerusalém, de acordo com Isaías (2,3): De Sião, a lei, e a palavra do Senhor de Jerusalém, e também para que com a notícia dos sábios que vieram de longe, a preguiça dos judeus foi condenada, eles estavam perto.

Maravilhosa foi a fé dos Magos. Porque se eles, procurando um rei da terra, o teriam encontrado, caso em que teriam ficado confusos, por ter empreendido uma jornada tão dolorosa sem causa; então eles não o teriam adorado, nem oferecido presentes. Mas no presente caso, como eles procuraram um rei celestial, embora sem excelência veriam nele, no entanto, contente com o testemunho da estrela única, adoraram. Eles vêm ao Homem e reconhecem a Deus e oferecem-lhe presentes apropriados à dignidade de Cristo: Ouro como a um grande rei; incenso, que é usado no sacrifício de Deus, como Deus, e mirra, que serve para embalsamar corpos, a fim de demonstrar que deve morrer pela salvação de todos. (3 °, q. XXXVI, a. 8)

E prostrando-se, eles o adoraram (Mt 2:11). A este respeito, diz Santo Agostinho: "Oh infância, à qual as estrelas se submetem! Quem é esta grandeza e glória suprema, diante de cujas fraldas os Anjos assistem, reis tremem e sábios ajoelham-se? Quem é este, então e tão grande? Fico espantado quando vejo as fraldas e olho para o céu; Eu fico agitado quando olho para o mendigo e o mais ilustre na manjedoura do que as estrelas; salvar nossa fé, pois a razão humana falha. " (De Humanitate Christi)

 (Extraído de “MEDULLA S. THOMAE AQUITATIS PER OMNES AMNI LITURGICI SEU MEDITATIONES EX OPERIBUS S. THOMAE DEPROMPTAE.- Recopilação de Fr. Mezar, OP, e tradução do latim para o espanhol por Luís M. de Cádiz)

 

 JESUS DORME NO PRESÉPIO.

 O sono de Jesus Menino era curto e penoso. Uma manjedoura servia-lhe de berço, a palha formava o seu leito e travesseiro, de sorte que o seu repouso era freqüentemente interrompido pela dor que lhe causava essa cama tão dura e incômoda, e pelo rigor do frio que reinava na gruta. Não obstante, de tempo em tempo o tenro menino adormecia apesar de todos os seus sofrimentos. Mas o sono de Jesus diferia muito do das outras crianças.

O sono das outras crianças lhes é útil para a conservação da vida, mas não para as operações da alma, as quais são detidas pelo entorpecimento dos sentidos. Não foi assim o sono de Jesus. Eu durmo, mas o meu coração vigia. Seu corpo repousava, mas sua alma vigiava; pois em Jesus, a natureza humana estava unida à pessoa do Verbo, que não podia dormir nem sofrer o efeito dos sentidos. O santo Infante dormia pois; mas dormindo pensava em todas as penas que devia sofrer por nosso amor durante a sua vida e a sua morte. Pensava no que devia suportar no Egito e em Nazaré, onde viveria uma extrema pobreza e obscuridade; pensava sobretudo nos açoites, nos espinhos e nos opróbrios, nas agonias, em todos os tormentos da paixão e na morte desolada que teria de sofrer na cruz; e dormindo, tudo oferecia a seu Pai eterno, para nos obter o perdão dos pecados e a salvação. Assim, até dormindo, nosso Salvador merecia por nós, aplacava a seu Pai e nos proporcionava graças.

Peçamos-lhe que, pelo mérito de seu bem-aventurado sono, nos livre do sono mortal dos pecadores, que dormem miseravelmente na morte do pecado, no esquecimento de Deus e de seu amor; e que nos dê, ao contrário, o sono feliz da Esposa sagrada, da qual Ele dizia: Não perturbeis o repouso da minha dileta, deixai-a dormir quanto ela queira. O doce sono que Deus dá às suas almas amadas não é outra coisa, segundo São Basílio, que um profundo esquecimento das criaturas. A alma o goza quando se esquece inteiramente de todos os objetos terrestres para só pensar em Deus e no que interessa a sua glória.


Afetos e Súplicas.

 Ó caro e santo Menino, vós dormis; ah! como me encanta o vosso sono! Para os outros o sono é a imagem da morte; mas em vós é um sinal de vida eterna, pois que repousando mereceis para mim a salvação eterna. Vós dormis, mas o vosso coração não dorme: pensa em sofrer e morrer por mim. Dormindo orais por mim e me obtendes de vosso Pai celeste o descanso eterno do paraíso. Mas, antes que me introduzais no céu, como espero, para lá repousar convosco, quero que repouseis sempre em minha alma. Ó meu Deus, tenho-vos repelido outrora; mas tanto batestes à porta do meu coração, ora por temores, ora por luzes, ora por apelas chios de ternura, que creio já tenhais entrado nele. Sim, eu o creio, pois sinto uma grande confiança de haver recebido de vós o meu perdão; experimento profundo horror e sincero arrependimento das minhas ofensas contra vós; esse arrependimento me causa grande dor, mas uma dor sem perturbação, uma dor que me consola, e me dá a segurança de ter obtido o meu perdão da vossa bondade. Agradeço-vos, meu Jesus, e vos peço não vos afasteis mais de minha alma. Sei que não saireis dela se eu vos não expulsar; é essa a graça que vos peço e suplico-vos me ajudeis a pedi-la sem cessar: não permitais vos torne a banir do meu coração. Fazei que tudo esqueça para só pensar em vós, que sempre pensastes em mim e na minha felicidade. Fazei não cesse de vos amar nesta vida até que minha alma unida sempre a vós voe aos vossos braços para repousar eternamente em vós sem temor de vos perder.

Ó Maria, assisti-me durante a vida, assisti-me na hora da morte a fim de que Jesus repouse sempre em mim e que eu repouse sempre em Jesus.

 (SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 190/192)

 -SOBRE A ADORAÇÃO DOS MAGOS

Amável Menino, embora vos veja na gruta deitado sobre palha, tão pobre e desprezado, a fé me ensina que sois o meu Deus, descido do céu para minha salvação. Reconheço-vos pois por meu supremo Senhor e Salvador; mas nada tenho para vos oferecer. Não tenho o ouro do amor, pois só tenho amado os meus caprichos, e não tenho amado a vós, o Bem infinitamente amável. Não tenho o incenso da oração; tenho vivido miseravelmente sem pensar em vós. Não tenho a mirra da mortificação, pois para me não privar dos miseráveis prazeres, tantas vezes desgostei vossa bondade infinita. Que vos oferecerei então? Ofereço-vos o meu coração, manchado e pobre com o é; aceitai-o e transformai-o, pois que viestes a este mundo para lavar os nossos corações no vosso sangue, purificá-los dos pecados e assim converter-nos de pecadores  em santos. Dai-me pois o ouro, o incenso e a mirra, que me faltam: dai-me o ouro do vosso santo amor; dai-me o espírito de oração; dai-me o desejo e a força de mortificar-me em tudo o que vos desagrada. Estou resolvido a obedecer-vos e a amar-vos; mas conheceis minha fraqueza, concedei-me a graça de vos ser fiel. Virgem santa, que acolhestes os piedosos Magos com tanto afeto e os consolastes, dignai-vos também acolher-me e consolar-me, que a seu exemplo vos venho visitar e oferecer me a vosso divino Filho. Maria, minha Mãe, tenho grande confiança em vossa intercessão. Recomendai-me a Jesus. Entrego-vos a minha alma, a minha vontade; prendei-a para sempre
ao amor de Jesus.

(SANTO AFONSO MARIA DE LIGÓRIO - “Encarnação, Nascimento e Infância do Menino Jesus” – Edição Pdf Aparecida – 2004 – Fl. Castro – págs. 205/206)

 


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