Nossa Senhora do Bom Sucesso apareceu diversas vezes à Madre Mariana de Jesus Torres, no Equador (século XVII), nas quais sempre com o Menino Jesus nos braços. Eis como o Menino Jesus manifestou-se numa dessas aparições:
“Então, Nossa Senhora do Bom Sucesso apareceu-lhe com seu Doce Infante nos braços e disse:
“Pobre
filha de meu coração, com visão tão formidável desfaleceu já tuas forças
naturais, e se quisessem voltar à vida, humanamente não conseguirias. Mas ainda
não é tempo de deixares a terra. Sete anos mais, em memória de minhas sete
dores e alegrias, peregrinarás na terra, sofrendo e gozando em teu espírito.
Depois teu Amor te chamará à sua Casa e companhia lá nos Céus, onde tua longa
vida não parecerá ter durado senão um dia, e tu te rirás dos teus grandes
sofrimentos desta vida, os quais se te afigurarás como insignificantes, e
desejarás então voltar a viver para sofrer e merecer o dobro.
Doravante
a estima de tuas irmãs e dos devotos deste meu querido Convento será o maior
dos sofrimentos para teu coração, que ansioso desejará, sem agora conseguir, os
desprezos, as burlas e as calúnias, porque já passou por ti esse tempo de ouro.
Ele, entretanto, virá para minhas filhas e tuas em tempos futuros, pois almas
muito formosas teremos neste lugar querido.
Secreto
e oculto viverá teu espírito nelas, e serão o desprezo das próprias irmãs,
cujas mentes obscurecidas por disfarçada soberba não compreenderão nem saberão
dar valor ao tesouro que possuirão em suas irmãs santas. Quantas mencionarão o
teu nome desejando ter vivido em teu tempo, e não se darão conta de que tu
mesma estarás vivendo em algumas das irmãs, as mais esquecidas e oprimidas.
Felizes
as minhas boas filhas cujas almas unidas a Deus e à sua Mãe passarão esquecidas,
e, tranquilas na obscuridade e na dor, farão o bem aos seus e a estranhos”
E
prosseguiu a Rainha dos Céus:
“Levanta
agora tuas vistas e olha para o cerro de Pichincha, onde verás crucificado este
Divino Infante que trago em meus braços. Entrego-O à Cruz a fim de que Ele dê
sempre bons sucessos a esta república, a qual será muito feliz quando, em toda
sua extensão, Me conhecerem e Me honrarem sob esta invocação, pois terão bom sucesso nas almas, casas e
famílias, e esta invocação será penhor de salvação”.
Em
seguida Madre Mariana de Jesus viu os três Arcanjos, São Miguel, São Gabriel e
São Rafael, tomarem o Divino Menino dos braços de sua Santíssima Mãe e
conduzirem-No ao cerro de Pichincha, deixando-O ali com reverente acatamento,
desaparecendo logo depois.
O
Divino Menino parecia ter a idade de doze a quinze anos, formoso e cheio da
Divindade, ainda que oculta sob sua santa Humanidade. Ele prosternou-se em
terra, com os braços em cruz, e orou a seu Eterno Padre, dizendo:
“Meu
Pai e Deus Eterno, considerai benigno esta pequena porção de terra que hoje Me dais, para nela
reinar, como Senhor absoluto, o meu amoroso e terno Coração e o de minha Mãe
Santíssima, criatura tão pura e tão bela qual outra não há.
“Neste
lugar se dará liberdade de república nova, e meu Coração infantil se enche de
infinita ternura ao olhar quantos heróis perderão a vida temporal. Benditos
sejam mil vezes por seus heroicos sacrifícios: sejam suas almas recebidas no
Céu para que gozem o prêmio de seus esforços! É por isto que quero orar neste
monte como orei no Getsêmani, pedindo-Vos para Mim todas as almas que povoarem
estas terras, livrando-as da ira diabólica que tanto as ameaça. Eu quero salvar
a todos: e para isto tenho esposas virgens que, associadas a Mim, elevam suas
mãos súplices ao trono de Vossa Majestade, quais rolas inocentes gemendo sempre
ao pé do meu Sacrário.
“Sobretudo
olhai minha Casa e Mosteiro, propriedade de minha Mãe Imaculada, fundada por
vossa santíssima vontade no próprio coração da cidade, para desgravo de tantos
crimes que se cometerão em todos os tempos. Ali temos, e em todos os séculos
teremos, almas crucificadas e justas que imitarão a Mim e à minha Mãe sem
mácula: elas sustentarão o braço encolerizado de vossa Justiça Divina para
impedir grandes males físicos e morais em sua pátria querida.
“Por
esta razão o Mosteiro será perseguido e o demônio procurará extingui-lo, valendo-se de bons e maus. Mas minha Mãe
querida, qual Estrela luminosa, brilhará sobre ela em todos os tempos e será
seu melhor arrimo, sua muralha impenetrável, e lhe dará sempre bons sucessos.
Por isso tantas vezes ali estivemos, e deixamos na preciosa Imagem o melhor
penhor de nosso amor e proteção. Abençoai-as e sustentai-as em suas lutas e
sofrimentos”
Terminada
esta oração, ouviu-se uma voz no céu que disse: “Este é meu Filho muito amado
em quem encontrei sempre minhas complacências. Ouvi-O, imitai-O, almas
escolhidas e queridas”.
A seguir
surgiram os três Santos Arcanjos. São Gabriel trazia reverente e muito devoto
uma branca hóstia. São Miguel uma longa túnica branca, salpicada de estrelas.
São Rafael, um manto de uma cor rosada muito preciosa, nunca vista na terra.
O
Menino Jesus, cheio de contentamento, vestiu-se por Si a túnica branca que
tomou das mãos do Príncipe São Miguel,
sobre a qual o Arcanjo ajustou a estola que estava no braço direito da cruz,
segundo o uso dos diáconos (dos ombros á cintura em diagonal). Por cima da
túnica o Menino Jesus pôs o precioso manto, tomando das mãos do Arcanjo São
Rafael.
Assim
vestido, aproximou-se da cruz, fixou-a com amor e, pelas rosadas faces correram
grossas lágrimas, logo recolhidas pelos Arcanjos São Miguel e São Rafael, que
as aspergiram em toda a nova nação.
Tomando
com amor a coroa de pontiagudos espinhos do braço esquerdo da cruz, colocou-a
em sua santíssima cabeça. Achegou-se a cruz e estendeu suas mãozinhas, ficando
crucificado sem aparecer os cravos.
Ordenou
em seguida ao Arcanjo São Gabriel que
pusesse a hóstia por trás da nuca, à meia altura de sua divina Cabeça. Isto
feito, apareceram sobre o branco da hóstia os três fachos de luz do resplendor,
o que conferia um extraordinário realce, porque a auréola era de ouro polido e
lavrado com verdes e finíssima esmeraldas. No raio vertical estava inscrita a
palavra Amor, no raio do lado direito Equador e no do lado
esquerdo Espanha.
O
Menino Jesus assumiu um semblante majestoso e um tanto triste como refletindo a
dor que intensamente afligia seus ternos e divinos membros. Mas ao mesmo tempo,
mostrava-se comprazido em sofrer por quem a tanto amava. De sua coroa de
pungentes espinhos saíam grossas gotas de sangue que corriam por sua fronte; de
suas mãos, as feridas dos cravos também vertiam sangue e o mesmo se dava com
seus pés que pisavam o solo daquele cerro. Contudo, não apareciam cravos nem
nas mãos nem nos pés.
Seu
olhar, da cruz, abarcava toda a nova pátria; sua cabeça não se movia e
permaneceu um pouco inclinada à direita; e soluçando repetia as seguintes
palavras:
“Não
posso fazer mais por ti para demonstrar-te meu amor. Almas ingratas, não Me
pagueis com desprezos, sacrilégios e blasfêmias tanto amor e delicadezas de meu
Coração. Pelo menos vós minhas mui amadas e escolhidas esposas, sede meu
consolo em minhas soledades eucarísticas: velai em minha companhia; longe de
vós o sono da indiferença em relação a Deus, que tanto vos ama! Sede
continuamente as heroínas de vossa pátria em meio aos amargos e funestos tempos
que a ela sobrevirão. Vossa humilde, secreta e silenciosa oração, juntamente
com vossa penitência voluntária salvá-los-ão da destruição para onde a
conduzirão seus filhos ingratos, pois estes, humilhando e desprezando os bons,
exaltarão e louvarão os maus e adventícios satélites de satanás”.
Em
torno da cruz não havia senão arbustos de espinhos com graciosas flores. O
Menino Jesus estava crucificado diante do grande Pichincha.
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