A linguagem humana
não é capaz de exprimir, o intelecto humano não é capaz de sondar, a vontade
humana não é capaz de abarcar todas as perfeições de Nossa Senhora!
Hoje é festa da Natividade de Nossa
Senhora e coincidem quatro festas de Nossa Senhora ao mesmo tempo. É festa
de Nossa Senhora de Covadonga. Os senhores sabem que esta festa foi instituída
para comemorar a grande vitória dos espanhóis sobre os mouros em Covadonga, no
ano de 722, graças à intervenção miraculosa da Santíssima Virgem que deu início
à Reconquista espanhola.
(...)
Há livros que procuram desenvolver o
alcance, a importância das várias invocações de Nossa Senhora e há livros até
que colecionam essas invocações – durante muito tempo fizemos Santos do Dia na
base dessas várias invocações – com o desejo de obter uma vista de conjunto de
todas as invocações de Nossa Senhora. E por mais que os livros colecionem e os
pesquisadores se empenhem em reunir essas invocações, não conseguimos, ninguém
conseguiu até hoje, ter uma relação completa de todos os títulos que a Igreja
dá a Nossa Senhora.
Alguns desses títulos até se repetem.
Nossa Senhora Auxiliadora, por exemplo, é Nossa Senhora do Amparo debaixo de
certo ponto de vista, porque quem ampara auxilia, e quem auxilia, ampara. Nossa
Senhora das Dores, por exemplo, é quase um par com Nossa Senhora das Lágrimas,
porque as lágrimas e as dores indicam a mesma coisa. Depois, há títulos
completamente diferentes que dizem respeito a outras atribuições de Nossa
Senhora ou, então, a lugares onde Nossa Senhora apareceu: Nossa Senhora de
Loreto, Nossa Senhora de La Salete, Nossa Senhora de Fátima.
Quer dizer, há tal variedade de graças
dadas por Nossa Senhora e, por outro lado, de invocações dos fiéis que se
admiram com as qualidades d’Ela, que não conseguiríamos reunir tudo isto,
sequer numa enciclopédia, mesmo porque essa enciclopédia seria impossível de
atualizar. Quando a enciclopédia estivesse no prelo já estaria atrasada, porque
outras graças estariam sendo concedidas por Ela e outras invocações d’Ela
estariam nascendo.
A meu ver isto é o que deveria ser e
não deveria ser de outro modo, porque se as perfeições de Nossa Senhora são
insondáveis e, por mais que digamos coisas a respeito d’Ela, mais ainda teremos
a dizer. E a linguagem humana não é capaz de exprimir, o intelecto humano não é
capaz de sondar, a vontade humana não é capaz de abarcar todas as perfeições de
Nossa Senhora!
De outro lado, se a misericórdia d’Ela
é incessante, a cada grau de graça que Ela dá se acrescenta algum título; e com
isso, como os homens vão continuamente – apesar das heresias, das infâmias e
das torpezas – crescendo no amor de Nossa Senhora, vão compreendendo coisas
novas de Nossa Senhora, é natural que tudo isto seja inesgotável e que esteja
num progresso contínuo até o fim do mundo.
É bem possível que no fim do mundo nós
tenhamos, no Juízo Final, um dos mais belos capítulos do Juízo Final quando
Nossa Senhora for mencionada! Eu não quero dizer que Ela vá ser julgada, porque
eu A acho alheia a qualquer julgamento. Ela não está em juízo, Ela não está nem
sequer sob o juízo de Deus, porque Ela já foi coroada, está no Céu de corpo e
alma. Mas uma vez que se vão declarar não só as culpas, mas também os méritos
de todos, acho impossível que os d’Ela não sejam mencionados.
E então, sim, quando Deus Nosso Senhor
falar a respeito do mérito dos bem-aventurados, Ele falará d’Ela e saberá dizer
d’Ela a palavra perfeita que A defina por inteiro e que contenha todos os
elogios que Ela merece! E então todos os anjos vão cantar, vão desdobrar, vão
repetir e todos os fiéis que se tiverem salvo, vão também louvar a Nossa
Senhora! E, provavelmente, insistindo nas invocações, cada qual nas invocações
que nesta terra mais serviram para aproximá-lo d’Ela ou que mais lhe falaram
das graças d’Ela. E nesta ocasião Nossa Senhora vai ter o louvor suficiente, o
louvor proporcional, inteiramente adequado em Deus! Balbucio além do qual não
conseguiríamos ir, nós, homens, porque tudo o que diremos d’Ela é ainda um
balbucio, mas que repetiremos por toda a eternidade. A coroa das glórias d’Ela
estará completamente tecida!
Quando Nossa Senhora nasceu – já que
estamos na festa da Natividade de Nossa Senhora – temos exatamente isto: todas
essas grandezas nascem ao mesmo tempo, porque n’Ela está a raiz de tudo quanto
d’Ela depois se disse, todas essas perfeições nasceram ao mesmo tempo. Ela foi
perfeita desde o primeiro instante de Seu ser, não só porque foi concebida sem
mancha de pecado original, mas porque foi desde logo constituída por Deus – no
primeiro instante de Seu ser – num grau de graça inimaginável por nós!
Quer dizer, se fôssemos sondar
simplesmente as graças que Ela teve no primeiro instante do Seu ser, não
saberíamos dizer, não conseguiríamos compreender, nem conseguiríamos amar
adequadamente! De lá para cá, até o fim da vida d’Ela, Ela não fez senão
crescer continuamente e corresponder perfeitamente a tudo. De maneira que este
insondável se tornou insondavelmente insondável quando Ela chegou ao termo de
Sua vida, mas a aurora dessas insondabilidades foi no primeiro instante do ser
d’Ela. Esse dia, portanto, contém em gérmen todas as invocações; e não é fora
de propósito, portanto, que comemoremos Nossa Senhora da Saúde, Nossa Senhora
do Amparo, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora de Covadonga, porque tudo isto
estava em gérmen quando Nossa Senhora nasceu. Nossa Senhora da Natividade
contém tudo isto.
O que é que devemos dizer da invocação
de Nossa Senhora da Saúde? Na consideração mais imediata Nossa Senhora da Saúde
é Nossa Senhora tendo pena da saúde dos homens, vendo os homens aflitos por
doenças de toda a ordem. Não há um órgão humano no qual não caibam, ao menos em
potência, as mais variadas perebas e doenças aflitivas. E aquilo que pode
acontecer, acontece. Logo, os homens que podem adoecer de tudo adoecem, de
fato, de tudo, e recorrem a Nossa Senhora para conseguir a sua cura.
É mau que os homens peçam a cura a
Nossa Senhora? De nenhum modo, é até muito bom. Por quê é bom? Porque Nossa
Senhora permite as doenças, permite as provações, em grande número de vezes,
para que os homens peçam a cura e para que através da cura eles sintam a
bondade materna d’Ela e sentindo essa bondade se sintam mais atraídos por Ela,
mais conquistados por Ela. Então, Nossa Senhora da Saúde, em primeiro plano, é
Nossa Senhora restituindo a saúde dos homens.
Será só isto? Nossa Senhora só é mãe
quando cuida de nossa saúde? Quando ela, às vezes, permite que adoeçamos, Ela
não nos concede também uma graça insigne? E quando permite que nossas doenças
durem, também não nos dá uma graça insigne? Muitas vezes, sim. As doenças são
meios de nos aproximarmos d’Ela, de tomarmos distância das coisas do mundo, de
compreendermos de como vale pouco a vida, de, pelo sofrimento, purificarmos
nossa alma de muitos pecados e de muitos defeitos. Muitas e muitas vezes a
doença é um bem para nós.
Então, quando pedimos a saúde devemos
dizer a Nossa Senhora que desejamos a saúde, que pedimos que Ela no-la dê, na
medida em que for um bem para a nossa alma. Se a doença for melhor, que Ela nos
deixe doentes. Se a morte for melhor, que Ela nos dê a morte. Mas podemos fazer
uma coisa, podemos dizer a Ela: "Se a doença for melhor para minha alma,
eu aceito, mas Vós, que podeis tanto, talvez possais dar um jeito com os desígnios
de Deus de maneira que a saúde ainda me faça mais bem do que a doença."
Porque não pedir uma coisa dessas? "E se tal for, se até lá chegar Vossa
misericórdia, se os pecados não constituírem obstáculo à Vossa misericórdia, eu
Vos peço que então me sareis, senão eu aceito com humildade o que Vós
destinardes".
(...)
Nossa Senhora da Saúde no-la restitui
nesse contexto, dentro dessa visão. Evidentemente Nossa Senhora, que é nossa
Mãe e que quer para nós toda a espécie de bens, se nos dá a saúde do corpo,
mais ainda quer dar-nos a saúde da alma, porque a saúde da alma vale
incomparavelmente mais que a do corpo, pois a alma vale mais do que o corpo. E
como estou partindo de baixo para cima, — estou falando do corpo primeiro, —
tratando da alma eu falo da saúde psíquica, antes de tudo. Aqueles que têm
enfermidades físicas que prejudicam o bom andamento das faculdades mentais,
enfermidades nervosas, etc., podem e devem dirigir-se a Nossa Senhora da Saúde
para que os cure.
Mas, sobretudo, devem dirigir-se a
Nossa Senhora os pecadores para que Ela restitua a saúde à alma que se tornou
enferma da pior das enfermidades, que é o pecado. Assim temos em ordem
ascendente os vários sentidos desta invocação e os nossos amigos da “Saúde” compreenderão melhor debaixo de quantos prismas a invocação que protege o grupo
d’Eles pode ser considerada.
A segunda invocação é de Nossa Senhora
do Amparo. Eu não sei bem se a geração muito nova tem idéia do que quer dizer
um indivíduo desamparado. Um indivíduo desamparado não é apenas um indivíduo a
quem falta algo, mas é um indivíduo que recorreu a todos os meios humanos para
obter aquilo que lhe faz falta e não conseguiu. É aquele que está, portanto,
desamparado, quer dizer, desajudado de tudo. O amparo é um sustentáculo, o
amparo é um apoio, o amparo é um arrimo. Um indivíduo que não tem nem sustentáculo,
nem apoio, nem arrimo, que está só, que está abandonado, que não tem em quem se
fiar, um indivíduo que tem uma dificuldade qualquer aguda, em que a sua vida
inteira está empenhada, não tem terrenamente quem o ajude.
Qual é a invocação, o significado de
Nossa Senhora do Amparo? Nossa Senhora do Amparo é exatamente Aquela que tem
uma particular pena dos que estão desamparados. Seja desamparados do ponto de
vista da alma, seja desamparados do ponto de vista do corpo. E que com aquela
compaixão especial que a mãe tem do filho aflito e precisado, faz coisas
inimagináveis para ajudá-lo! Quer dizer, é Nossa Senhora de todas as
solicitudes, é Nossa Senhora de todas as compaixões, é Nossa Senhora de todos
os instantes em que o homem precisa de alguma coisa e recorre a Ela.
É um amparo de Mãe, é um amparo que
não se limita a receber, mas atrai. Faz, portanto, como o pai do filho pródigo,
mas vai mais longe do que o pai do filho pródigo. Porque do pai do filho
pródigo, diz a parábola, que ele ficou olhando para ver se o filho vinha. Aí o
amparo foi mais longe, foi atrás do filho e pegou longe e reconduziu para a
casa paterna.
Nós devemos dizer algo de Nossa
Senhora da Luz, padroeira de Curitiba e também em São Paulo no chamado Bairro
da Luz, o convento da Luz, Estação da Luz, invocação lindíssima!
Por quê? Porque Nossa Senhora é Aquela
que gerou a Luz. A Luz do mundo é Ele. Todo o resto são canais, mas a Luz do
mundo é Ele. É a Luz que brilhou das trevas e que as trevas não conseguiram
abarcar, não conseguiram envolver, não conseguiram impedir que fosse vista pelo
mundo. Nossa Senhora da Luz é Nossa Senhora enquanto foco da Luz. Ela não é a
Luz, mas é o meio pelo qual a Luz chega até nós. Ela é a que conduz a Luz até
nós. Ela é a portadora da Luz. Ela, de algum modo, é a Luz. Em que sentido? Que
há luzes de Nosso Senhor que Ele só dá a quem muito especialmente invoca Nossa
Senhora. E Ela parece tão iluminada com a luz que vem d’Ele que quase se diria
que Ela mesma é a Luz. E por isso nós tanto podemos cantar como a Igreja canta d’Ela,
Ave Virgo gloriosa, ex tua luce mundo exorta, "Ave, ó Virgem
gloriosa, da qual saiu a Luz do mundo", como podemos dizer a Ela que Ela é
a nossa luz. Ela toda refulge de luz.
Nós devemos pedir a Nossa Senhora que
encha a nossa alma desta luz, evitando as trevas da Revolução. A Revolução é o
negrume, a Revolução é o erro, é o vício, é o crime, o mal. Nossa Senhora da
Luz é Nossa Senhora da Contra-Revolução. As trevas que procuram abarcar a luz e
impedem que a luz brilhe, essas são as trevas da Revolução. A luz que racha a
treva e que chega até os homens, essa luz é a Contra-Revolução. Nossa Senhora
da Luz é Nossa Senhora da Contra-Revolução. Que Ela toque cada vez mais para
frente o nosso querido grupo de Curitiba.Com isto está dada a vista global
dessas várias invocações. Fui um pouco longe mas, pelo menos, tenho a alegria
de não ter deixado de atender pedidos tão justos, sobretudo de ter tentado
aproximar, tocar um pouco mais a cada um de nós de Nossa Senhora com esta
meditação.
(Dr. Plinio Corrêa de
Oliveira – Conferência “Santo do Dia”, 8 de setembro de 1970)
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