(COMENTÁRIOS DE PLINIO CORRÊA DE
OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM MARIA) -
Quando esta revelação foi divulgada,
verificou-se que a Medalha Milagrosa era ocasião de um número enorme de graças
de conversão, das mais extraordinárias, com que se patenteou ou se documentou
mais uma vez que esta devoção era muito desejada por Nossa Senhora. Por causa
disso estabeleceu-se o excelente costume de colocar, no ponto de entroncamento
das contas do Rosário, a Medalha Milagrosa. Porque o uso da Medalha Milagrosa é
cercado de toda a espécie de graças. E essa devoção preparou as almas, muito
poderosamente, para a definição de um dos mais importantes dogmas de Nossa
Senhora, que é o da Imaculada Conceição.
Vale a pena portanto nós fazermos aqui
uma análise da Medalha e de tudo quanto ela simboliza, para compreendermos o
que a Providência Divina teve em vista quando favoreceu com tantas graças essa
devoção que Ela mesma revelou a Santa Catarina Labouré.
Nós temos, numa face da Medalha, Nossa
Senhora calcando o mundo. Quer dizer, pondo os pés sobre o mundo na afirmação
de Sua realeza sobre toda a Terra.
É exatamente essa a doutrina da
realeza de Nossa Senhora que veio lembrada em Fátima, como uma vitória da
Contra-Revolução: "o comunismo espalhará os seus erros por toda parte;
o Papa terá muito que sofrer; a Igreja será perseguida; por fim, o Meu
Imaculado Coração triunfará." Quer dizer, a Revolução será derrotada e
teremos então a vitória do Coração Imaculado de Maria.
Essa doutrina da realeza de Maria está
afirmada desse lado: Nossa Senhora calcando o mundo aos pés e também uma
serpente; o que está inteiramente coerente, concludente, com os demais símbolos
da Medalha. Porque desse lado da Medalha está escrito: "Ó Maria
concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós". Quer dizer,
é a Imaculada Conceição.
Mas não é pura e simplesmente a
Imaculada Conceição, porque há aqui um atributo que não se encontra nas imagens
da Imaculada Conceição como tal. E que é o seguinte: Nossa Senhora está com as
mãos abertas, em sinal de aquiescência, em sinal de atendimento, e de Suas mãos
partem feixes luminosos imensos, que são graças e os favores que pelas mãos d'Ela
- quer dizer pela ação d'Ela, por meio d'Ela - descem ao mundo. E então nós
temos aqui algo que faz pensar na Mediação Universal de Nossa Senhora. As
graças todas que vêm de Deus e que, pelas mãos de Nossa Senhora, que são as
mãos distribuidoras das graças de Deus numa quantidade enorme, se precipitam
sobre o mundo. Exatamente, a vitória sobre a Revolução dar-se-á no momento
culminante das vicissitudes da Santa Igreja e, pois, com a realização completa
das profecias de Fátima ("por fim, o Meu Imaculado Coração
triunfará").
Quer dizer, aqui nós temos uma série
de conceitos que se conjugam para dar uma visão grandiosa da vitória de Nossa
Senhora no mundo.
Essas graças que descem são a
conversão dos pecadores, mas são também o castigo dos irredutíveis à graça
divina, e para a proteção daqueles que se mantiveram fiéis até ao fim. E as
graças para que os fiéis continuem fiéis. Tudo isto sai das mãos de Nossa
Senhora como de um manancial. E Ela está afável, risonha, acolhedora para todos
aqueles que, tendo em vista esse conjunto de fatos, esse conjunto de símbolos,
de atributos, de noções, se dirigem confiantes a Ela pedindo as graças que
precisam.
O verso da Medalha não é menos
simbólico. Ele contém os elementos de várias devoções que se conjugam. Por que?
Eu mostrei que, na Medalha, onde está a imagem de Nossa Senhora, está lembrada
a Imaculada Conceição, por causa da jaculatória. Deste outro lado, vemos doze
estrelas, como na coroa de Nossa Senhora que esmaga a Serpente, da qual
fala o Apocalipse. E depois nós temos um M central, que é o M de Maria, que é o
nome de Nossa Senhora, e sobre o qual está uma cruz. Isso lembra muito a São
Luís Grignion de Montfort, "O Tratado da Verdadeira Devoção", a
"Carta aos Amigos da Cruz" .
E depois as duas grandes devoções (que
constituem, no fundo, uma só devoção): ao Sagrado Coração de Jesus e ao
Imaculado Coração de Maria, e que se encontram abaixo desse M. São todas as
graças dadas nos tempos modernos para a luta contra a Revolução: a afirmação da
Imaculada Conceição de Nossa Senhora, o dogma da Imaculada Conceição que
deveria ser definido algumas dezenas de anos depois da aparição da Medalha
Milagrosa; as devoções ao Sagrado Coração de Jesus e ao Imaculado Coração de
Maria, e que foram para evitar a Revolução na França; e de outro lado a obra de
São Luís Maria de Grignion de Montfort, que foi também dada para evitar a
Revolução. E uma e outra devoções dadas também para lutar contra a Revolução e
para abatê-la.
De maneira que esses símbolos todos se
conjugam como uma espécie de compêndio dos temas ou dos pontos mais sensíveis
para a piedade católica, que lembram mais a piedade católica, objeto natural de
suas inclinações, de seus atos de devoção, de sua confiança, e que, portanto, devem
ser vistos nesse sentido pelos católicos.
Os senhores têm aí a razão pela qual
essa Medalha foi objeto de tantas graças. E, por causa disso, nós devemos amar
muito essa Medalha, vendo nela como que um programa para nós. E usá-la sempre,
tê-la sempre conosco.
Os senhores compreendem, por esta
forma, como a piedade católica sabe fazer bem as coisas. Porque outra devoção
esplêndida e que sempre os católicos tiveram, da Idade Média para cá, foi o
Rosário. Então, colocar essa Medalha unindo as dezenas do Rosário, é uma idéia
harmoniosa, felicíssima, adequadíssima, muito razoável, constituindo um todo de
objeto de piedade que nos deve falar muito à alma, e que deve despertar muito a
nossa devoção.
Vamos pedir a Nossa Senhora que, pelas
graças da Medalha Milagrosa, Ela apresse o dia de sua vitória de um lado. E
que, do outro lado também, Ela nos ajude a sermos fiéis durante todas as
tormentas que se aproximam. Porque nós nos devemos lembrar bem disso: a
perseverança é uma graça inestimável. Com efeito, do que adianta a gente ter
uma fé e outras virtudes, se depois vai cair em pecado? Essa perseverança não é
fruto de nossas qualidades pessoais, não é o fruto de nada que parte de dentro
de nós. Ela é um fruto da graça, que se trata de pedir humildemente, de implorar
com insistência, e à qual se trata de corresponder. Portanto precisamos pedir
as graças que nos asseguram a perseverança. E é isso que nós então devemos
especialmente pedir.
Há tantas almas que o demônio vai
levando para os rumos mais péssimos, mais execráveis. Talvez nem todo mundo
tenha a idéia de qual é a ação, a força do demônio, na época em que estamos.
Não me lembro qual foi o Doutor da
Igreja que disse que os demônios que pairam pelos ares e que não foram levados
ao inferno - mas que o serão no fim do mundo, e que pairam para a perdição das
almas - são tão numerosos que se eles pudessem ser vistos obscureceriam até o
sol, porque formariam uma espécie de capa em torno da Terra. E são os demônios
predispositivos que atuam - segundo li em certo autor - sobre as almas, não
diretamente para as levar ao pecado, mas para criar um clima que torna, depois,
a tentação dos outros demônios como que irresistível. Não é irresistível, mas é
como que irresistível, avassaladora. E se o mal hoje em dia tem tanta possibilidade
de progressão, é porque ele encontra, por toda parte, o clima psicológico
preparado.
Alguém poderia perguntar se no tran-tran
da vida espiritual, uma pessoa é tentada pelo demônio todos os dias ou
passam-se muitos dias em que as tentações são sobretudo naturais, não são
preternaturais e, portanto, em que o demônio não atua. A minha impressão
pessoal não tem nenhuma autoridade para afirmar nada nesse sentido, mas minha
impressão pessoal é que nessa pergunta haveria ingenuidade. E que muitas vezes
por dia, no tran-tran da vida espiritual, o normal é que o demônio tente
as pessoas. Não serão tentações sensíveis, é evidente. Mas é desse jeito,
daquele jeito, uma ação. Pode ser também um pulo violento... e os pulos
violentos não são os mais perigosos.
Então, nós devemos compreender que
essa Medalha, com todos esses símbolos, e recomendada por Nossa Senhora, é um
dos penhores da aliança d’Ela com seus verdadeiros devotos. É um dos meios, uma
espécie de escudo que Ela dá para a luta contra todas essas tentações do
demônio. E que essa invocação de Nossa Senhora das Graças, ou Nossa Senhora da
Medalha Milagrosa, é particularmente eficiente por tudo quanto Ela contém. E
pela Imaculada Conceição que está esmagando a cabeça do demônio, é
particularmente eficiente nesta luta contra o poder das trevas, que tanto e
tanto nós devemos conduzir nos dias de hoje.
Há uma razão a mais, portanto, para
nós nos aferrarmos nesses símbolos, para nós nos aferrarmos a essa Medalha,
para nós nos aferrarmos ao escapulário do Carmo, para nós nos aferrarmos ao
Rosário. Termos sempre conosco esses objetos de devoção como meio para ação
contra o demônio. E essa é uma consideração que me parece particularmente
importante nos dias que passam.
Era
o que eu tinha a dizer a esse respeito.
(Conferência de 27 de
novembro de 1964)
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