(COMENTÁRIOS DE DR. PLINIO CORRÊA DE OLIVEIRA SOBRE A SANTÍSSIMA VIRGEM
MARIA)
Os senhores conhecem bem o
fato - em vários "Santos do Dia" de anos anteriores, por mim
comentado - de que Nossa Senhora, nas primeiras décadas do século passado,
apareceu a uma santa religiosa, hoje canonizada pela Igreja, Santa Catarina
Labouré, em um convento de Paris, da Rue du Bac. É uma religiosa das Irmãs de
Caridade de São Vicente de Paulo. E várias vezes, durante a noite, um anjo sob
a forma de criança, conduziu essa religiosa à capela do convento, que estava,
entretanto, fechada por várias portas, trancadas a chave, intransponíveis, etc.
Conduziu essa religiosa até a capela aonde Nossa Senhora se encontrava sentada
em uma cadeira que até hoje se conserva ali. E lhe dirigiu a palavra,
comunicou-lhe várias coisas e, sobretudo, lhe comunicou esta devoção à Medalha
Milagrosa.
Essa medalha representa
Nossa Senhora das Graças, quer dizer, Nossa Senhora calcando aos pés uma
serpente. É a Imaculada Conceição, que calcou aos pés a Serpente infernal, de
acordo com o que está dito na Sagrada Escritura. E com as mãos abertas e, delas,
partindo feixes de luz resplandecentes.
A invocação de Nossa
Senhora das Graças quer dizer Nossa Senhora que tem em suas mãos todas as
graças, porque Ela é depositária de todos os tesouros de Deus. Mas quer dizer
também Nossa Senhora dadivosa, misericordiosa, que quer dar todas as graças e
que por isso tem as mãos abertas, Ela deseja dar tudo. Ela é a Mãe de
Misericórdia, Ela quer tocar todas as almas, Ela quer inundá-las de benefícios.
Ela quer encher o mundo
inteiro das manifestações soberanas e celestes de Sua bondade e de Seu poder! E
determinou que as pessoas que trouxessem essa medalha - que tem, então, no seu
aspecto principal Nossa Senhora e os dizeres: “Ó Maria concebida sem pecado,
rogai por nós que recorremos a Vós”. E com as outras características que acabo
de declarar, determinou que essas pessoas fossem especialmente protegidas pela
Providência Divina e que recebessem d’Ela graças enormes, especialmente no que
diz respeito à boa morte.
É celebre o fato de que a
grande maioria das pessoas que morrem usando essa medalhinha, ainda que sejam
atéias ou muito afastadas de Deus, pelo uso dessa medalhinha acabam se
entregando a Nosso Senhor, se arrependendo à última hora pelos rogos
onipotentes de Maria.
É compreensível - e é
disso que quero tratar, porque se revela aí um traço muito bonito da Sabedoria
divina - que Nossa Senhora queira ligar esta devoção a Ela enquanto Rainha e
Mãe de todas as graças, com um grande número de graças. É compreensível. É
compreensível também que tenha dito: “Quem usar uma medalha com a minha efígie
e com esses dizeres, recomenda-se a Mim mais especialmente e eu, por causa
disto, ajudarei a essa pessoa”.
Mas Nossa Senhora põe uma
lei. Ela indicou tudo: indicou a forma ovalada da medalha, indicou umas
iniciais com o nome d’Ela etc., para serem usadas no verso da medalha. Ela
indicou uma porção de pormenores a que a medalha tem que se conformar para
verdadeiramente corresponder às suas exigências. A tal ponto que em grande
número de rosários, no entroncamento dos dois braços do rosário existe a
Medalha Milagrosa. E quando se oscula o terço, quando há nele a Medalha
Milagrosa, é de bom alvitre oscular a medalha e o terço, não só o terço.
Muitas vezes, por exemplo,
na parte de cima, colocam rosas; um bispo conhecido disse que o simples fato de
serem colocadas rosas em relevo, de maneira a tirar o caráter ovalado da
medalha, faz com que ela não corresponda às exigências de Nossa Senhora. É essa
caracteristicamente a medalha. Se nessa face houvesse, em saliência, rosas,
poderia já não corresponder à devoção e poderia, portanto, já não merecer as
graças que foram prometidas por Nossa Senhora nessa ocasião. Por quê? Porque a
medalha era ovalada. Isso não quer dizer o seguinte: Nossa Senhora não dará
nenhuma graça! Medalha, qualquer que seja sua forma, é um objeto de piedade.
Mas isso quer dizer apenas que não tem as garantias daquela promessa.
Podemos perguntar por que
Nossa Senhora foi tão estrita na definição, no estabelecimento de todas essas
condições. E alguém poderia perguntar o seguinte: isso não será uma
mesquinharia e não está abaixo das grandezas de Nossa Senhora querer ser
obedecida em tais ninharias? Não seria muito mais sapiencial que Nossa Senhora
abrisse mão disto e que não exigisse minudências, minúcias tão exatas como
estas?
Nós devíamos ver na
própria minúcia uma manifestação de sabedoria, porque Nossa Senhora não faz
nada que não seja perfeito. Então, devemos nos perguntar qual é a razão
dessa minúcia, porque essa minúcia deve ter uma razão. E a razão, evidentemente,
é de adestrar em nós duas virtudes: em primeiro lugar, a virtude da fé e, em
segundo lugar, a virtude da obediência.
A virtude da fé quer dizer
crermos firmemente que Ela quis que isso fosse assim. Crermos na sua revelação
na íntegra e crermos que houve uma manifestação da Sua vontade, uma autêntica
manifestação de Sua vontade. Ela indicou também esses pormenores e um resquício
da virtude da obediência no seguinte: Ela é a Rainha e tem o direito de mandar
aquilo que Ela quiser; e a menor das vontades d’Ela nos deve ser muito
preciosa.
Não só muito preciosa -
porque vem de uma autoridade excelsa, Ela é a Mãe de Deus e Rainha do
universo - mas muito preciosa porque tudo quanto Ela quer é perfeito e nossa
vontade deve unir-se muito à vontade d’Ela. Devemos dizer: “minha Mãe, Vós o
quisestes assim, e porque Vós o quisestes assim, eu quero assim, porque eu
quero o que Vós quereis. Eu não só faço o que Vós quereis que eu faça, mas eu
quero que Vós queirais que eu queira, e como vós quereis que eu queira isto, que
eu tenha essa medalha assim, e com essas minúcias para gozar de tais graças, eu
me conformo humildemente à Vossa vontade soberana. Eu amo este gesto pelo qual
Vós quereis exercer sobre mim a Vossa realeza e eu, por causa disso, me dobro;
eu executo o que Vós quereis, reconhecendo que não sou senão uma criança nas
Vossas mãos, que eu não sou senão um filho e um escravo nas Vossas mãos e que
devo fazer tudo aquilo que Vós quereis”.
Para os senhores
compreenderem bem como este ato de obediência, assim, é grande, eu tenho lido
livros de vida espiritual que dizem que naquele fruto cuja ingestão era
proibida a Adão e Eva no Paraíso, naquela proibição de comerem o fruto daquela
árvore, não havia outra coisa senão um ato de vontade de Deus. A fruta não
tinha nada de nocivo ao homem. Se não fosse uma proibição de Deus, os homens
poderiam comer daquela fruta. Era uma coisa na aparência tão insignificante
querer comer uma fruta, mas aquela ordem versando sobre uma coisa tão
insignificante devia ser obedecida. Porque Deus é Senhor, porque Deus é nosso
Pai.
E nós devíamos fazer a
vontade d’Ele, porque Ele é Rei e porque é nosso Pai cheio de bondade e só pode
querer um coisa boa. E foi por causa de um ponto tão pequeno em que não houve
obediência, que houve a catástrofe do pecado original e todas as conseqüências
que vieram depois.
Isto é, meus caros, uma
lição magnífica de anti-liberalismo. O revolucionário, o liberal, de bom grado
- quando ele é assim, meio disfarçado, meio moderado - pensa o seguinte: “e
daí? É linha geral da vontade de Nossa Senhora, eu faço. Mas nas minúcias, eu
não creio que Nossa Senhora queira me obrigar à minúcia! Nas minúcias faço como
entendo eu”. Ou então: “por que Nossa Senhora exigiu as minúcias tais, eu não
estou de acordo que Nossa Senhora exija minúcias tais? Eu acho contra a minha
dignidade obedecer em coisinhas assim. Eu vou fazer o que entender”.
Isso é liberalismo puro e
desagrada a Deus. Nossa Senhora, quando recebeu a mensagem angélica de que
seria a Mãe de Deus, teve como resposta um ato de obediência: “Eis a escrava do
Senhor, faça-se em mim segundo a Sua palavra”. O que quer dizer isso? Significa
obedecer! Quer dizer, dobrar a nossa vontade na hora de receber as maiores
honras ou de executar as maiores ordens, como nas menores, porque Deus tem o
direito de ser obedecido em toda linha!
Nesse sentido a Medalha
Milagrosa é, de algum modo, a festa da santa obediência. E temos uma boa
ocasião de pedir a Nossa Senhora que nos dê o espírito de obediência, por
exemplo, no que diz respeito à prática dos Mandamentos. Obedecer aos
Mandamentos inteiros, inclusive em matéria que possa significar a mínima falta,
a mínima imperfeição, por amor à vontade de Deus. Por amor à vontade da Igreja
católica que tem seus mandamentos e tem poder de ditar os seus mandamentos. Por
isso a gente obedece meticulosamente, inclusive nas menores coisas.
Eu termino com uma
comparação. Os senhores sabem que a Igreja, nos áureos tempos - para Ela todos
os tempos são áureos e, portanto, o espírito d’Ela nunca muda - tinha uma
liturgia muito meticulosa. E na Missa e nos outros atos de culto, Ela
determinava aos padres os mínimos gestos que deviam fazer. Os senhores acham
que um padre que relaxasse um pouco aquele gesto e fizesse aquilo meio trocado,
seria um bom padre? Todo mundo diria não! Por quê? Porque a Igreja deve ser
obedecida pelos seus ministros até nas pequenas coisas! Aí nós sentimos ao vivo
a importância da obediência até nas pequenas coisas.
Que nossa vida seja assim
também! Obediente até nas pequenas coisas. Obediente a Deus Nosso Senhor, a
Nossa Senhora, que é nossa Medianeira junto a Ele; à santa Igreja Católica que
é nossa medianeira junto a Nossa Senhora e junto a Deus e àqueles que a
obediência colocou para nos corrigir.
Portanto, também às
pequenas autoridades de nosso Grupo. Quando mandarem fazer alguma pequena
coisa, obedecer, fazer como mandaram. Por quê? Porque nós devemos amar toda
forma de autoridade, em todas as suas manifestações e, de bom grado, com a
flexibilidade de alma sermos obedientes a essa autoridade. Isto é um dos
aspectos contra-revolucionários e anti-liberais que se depreende da devoção à
Medalha Milagrosa.
("Conferência", 26 de novembro de 1970)
Nenhum comentário:
Postar um comentário