quinta-feira, 9 de maio de 2024

O profetismo no Novo Testamento

 




 

Quase todas as profecias do Antigo Testamento visavam o prenúncio da vinda do Messias e preparar o povo para tal eventualidade. Da mesma forma, alguns previram também o fim dos tempos, como Isaías e Daniel. Outros, porém, como Jonas, apenas previram acontecimentos próximos para determinado povo. Com o Novo Testamento, as profecias já passam a prenunciar o fim do mundo (Apocalipse, de São João Evangelista) ou mesmo o futuro da Igreja, Corpo Místico de Cristo, e assim preparar os católicos para os acontecimentos vindouros que ocorrerão com a Igreja.

O Apóstolo São Paulo foi o que mais incentivou o profetismo, tema por ele abordado na primeira Epístola aos Coríntios: “Segui a caridade, aspirai aos dons espirituais e, sobre todos, ao da profecia. A razão é que, o que fala uma língua (desconhecida), não fala aos homens, mas a Deus, porque ninguém o ouve, e pelo espírito fala coisas misteriosas, mas o que profetiza, fala aos homens para sua edificação, exortação e consolação. O que fala uma língua desconhecida, edifica-se a si mesmo; porém, o que profetiza, edifica a Igreja de Deus. Desejo que todos vós tenhais o Dom das línguas; porém, muito mais que profetizeis. De fato, é maior o que profetiza, que o que fala diversas línguas...”   No final, torna São Paulo a exortar o profetismo: “Se alguém crê ser profeta ou (pessoa) espiritual, reconheça que as coisas que eu escrevo são mandamentos do Senhor. Se algum, porém,  o ignorar, será ignorado. Por isso, irmãos, desejai ardentemente o Dom de profecia e não proibais o uso do Dom das línguas...”  (I Cor 14)

Com o surgimento da Igreja Católica, o novo profetismo consiste em coadjuvar o Magistério infalível da mesma Igreja na condução dos fiéis. Assim, o novo profetismo não nasceu na Hierarquia e nem dentro d’Ela. Nunca foi criada uma Ordem, tipo Carmelo, com tal finalidade.  A Providência, por exemplo, inspirou São Pio X a escrever as teses contrárias aos erros modernistas, enunciando-as numa Encíclica em forma de denúncia do tipo profético. Da mesma forma, outras denúncias proféticas foram feitas ao longo da História sem que tenha sido necessário que a Igreja lhes desse o título de “profecias”. As previsões de Fátima são tidas por muitos como profecias, mas não foram enunciadas por um ser humano mas pela própria Mãe de Deus.

São Paulo afirma que a profecia é um sinal para os católicos e não para os infiéis (I Cor. 14, 22). Trata-se de um Dom concedido a todos os fiéis (I Cor. 14, 5), Dom que entretanto é inferior à Caridade e à graça santificante  (I Cor. 13, 8-9). Nesta Epístola São Paulo distingue nove dons ou graças,  que ele chama de carismas, dadas pelo Espírito Santo a todos os fiéis, quais sejam: 1) a palavra de sabedoria, sermo sapientiae, que nos ajuda a tirar das verdades de fé, conclusões que enriquecem o dogma; 2) a palavra de ciência que nos faz utilizar as ciências humanas para explicar as verdades de fé; 3) o Dom da fé; 4) o Dom das curas; 5) o poder de operar milagres;  6) o Dom de profecia, ou o Dom de ensinar em nome de Deus e, se preciso for, confirmar o ensino com predições proféticas; 7) o discernimento dos espíritos; 8) o Dom das línguas, e, 9) o Dom da interpretação.

No início do Cristianismo existiam duas coisas com que os católicos se baseavam para suas condutas: o Símbolo dos Apóstolos (hoje, o Credo) e o “Didaquê”. Constituíam, o primeiro o conjunto de crenças de todo Cristão, e o segundo o conjunto de normas de procedimento. Dando normas para os cristãos assim se referia o “Didaquê” sobre os profetas: “Elegei, pois, inspetores e ministros dignos do Senhor, que sejam homens mansos, desinteressados, verdadeiros e provados, porque também eles administram o ministério dos profetas e mestres. Não os desprezeis, pois, porque eles são os honrados entre vós, juntamente com os profetas e doutores”.

Ágabo, por exemplo, foi um profeta que viveu entre os primeiros cristãos, no tempo dos Apóstolos, ocasião em que predisse uma grande fome (At 11, 28). No império de Cláudio, realmente, grandes fomes assolaram os romanos. Ágabo é um dos pontos de referência para se determinar a cronologia dos Atos dos Apóstolos. Quando, no ano 58, São Paulo andava no caminho entre Cesaréia e Jerusalém, Ágabo tomou-lhe o cinto, amarrou-se mãos e pés, profetizando em seguida que seria daquela forma que São Paulo seria entregue pelos judeus aos pagãos (At 21, 10-11). 

Assim, após a vinda de Nosso Senhor Jesus Cristo, o profetismo continuou, não como era no Antigo Testamento, pois agora já havia Ele fundado Sua Igreja para guiar os povos, mas como guia da própria Igreja. Desde que São João Evangelista fez o Apocalipse até nossos dias nunca deixou de existir na Igreja santos que previssem o futuro e alertassem as Autoridades eclesiásticas e o povo em geral. Assim, vários santos tiveram visões ou revelações proféticas, como Santo Agostinho, São Malaquias, São Jerônimo, Santa Catarina de Sena (que chegou a orientar o Papa), São Vicente Ferrer, Santo Odilon, e São Luís Grignion de Montfort . Mais atuais quanto ao tempo, tivemos as revelações proféticas do Beato espanhol Padre Francisco Palau e da polonesa Santa Faustina Kowalska, ambos sagrados por João Paulo II no final do século XX.


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