Quase todas as
profecias do Antigo Testamento visavam o prenúncio da vinda do Messias e
preparar o povo para tal eventualidade. Da mesma forma, alguns previram também
o fim dos tempos, como Isaías e Daniel. Outros, porém, como Jonas, apenas
previram acontecimentos próximos para determinado povo. Com o Novo Testamento,
as profecias já passam a prenunciar o fim do mundo (Apocalipse, de São João
Evangelista) ou mesmo o futuro da Igreja, Corpo Místico de Cristo, e assim
preparar os católicos para os acontecimentos vindouros que ocorrerão com a
Igreja.
O Apóstolo São Paulo
foi o que mais incentivou o profetismo, tema por ele abordado na primeira
Epístola aos Coríntios: “Segui a caridade, aspirai aos dons espirituais e,
sobre todos, ao da profecia. A razão é que, o que fala uma língua
(desconhecida), não fala aos homens, mas a Deus, porque ninguém o ouve, e pelo
espírito fala coisas misteriosas, mas o que profetiza, fala aos homens para sua
edificação, exortação e consolação. O que fala uma língua desconhecida,
edifica-se a si mesmo; porém, o que profetiza, edifica a Igreja de Deus. Desejo
que todos vós tenhais o Dom das línguas; porém, muito mais que profetizeis. De
fato, é maior o que profetiza, que o que fala diversas línguas...” No final, torna São Paulo a exortar o
profetismo: “Se alguém crê ser profeta ou (pessoa) espiritual, reconheça que as
coisas que eu escrevo são mandamentos do Senhor. Se algum, porém, o ignorar, será ignorado. Por isso,
irmãos, desejai ardentemente o Dom de profecia e não proibais o uso do Dom
das línguas...” (I Cor 14)
Com o surgimento da
Igreja Católica, o novo profetismo consiste em coadjuvar o Magistério infalível
da mesma Igreja na condução dos fiéis. Assim, o novo profetismo não nasceu na
Hierarquia e nem dentro d’Ela. Nunca foi criada uma Ordem, tipo Carmelo, com
tal finalidade. A Providência, por
exemplo, inspirou São Pio X a escrever as teses contrárias aos erros modernistas,
enunciando-as numa Encíclica em forma de denúncia do tipo profético. Da mesma
forma, outras denúncias proféticas foram feitas ao longo da História sem que
tenha sido necessário que a Igreja lhes desse o título de “profecias”. As
previsões de Fátima são tidas por muitos como profecias, mas não foram enunciadas
por um ser humano mas pela própria Mãe de Deus.
São Paulo afirma que a
profecia é um sinal para os católicos e não para os infiéis (I Cor. 14, 22).
Trata-se de um Dom concedido a todos os fiéis (I Cor. 14, 5), Dom que
entretanto é inferior à Caridade e à graça santificante (I Cor. 13, 8-9). Nesta Epístola São Paulo
distingue nove dons ou graças, que ele
chama de carismas, dadas pelo Espírito Santo a todos os fiéis, quais sejam: 1)
a palavra de sabedoria, sermo sapientiae,
que nos ajuda a tirar das verdades de fé, conclusões que enriquecem o
dogma; 2) a palavra de ciência que nos faz utilizar as ciências humanas para
explicar as verdades de fé; 3) o Dom da fé; 4) o Dom das curas; 5) o poder de
operar milagres; 6) o Dom de profecia,
ou o Dom de ensinar em nome de Deus e, se preciso for, confirmar o ensino
com predições proféticas; 7) o discernimento dos espíritos; 8) o Dom das
línguas, e, 9) o Dom da interpretação.
No início do
Cristianismo existiam duas coisas com que os católicos se baseavam para suas
condutas: o Símbolo dos Apóstolos (hoje, o Credo) e o “Didaquê”. Constituíam, o
primeiro o conjunto de crenças de todo Cristão, e o segundo o conjunto de
normas de procedimento. Dando normas para os cristãos assim se referia o
“Didaquê” sobre os profetas: “Elegei, pois, inspetores e ministros dignos do
Senhor, que sejam homens mansos, desinteressados, verdadeiros e provados,
porque também eles administram o ministério dos profetas e mestres. Não os
desprezeis, pois, porque eles são os honrados entre vós, juntamente com os
profetas e doutores”.
Ágabo, por exemplo, foi
um profeta que viveu entre os primeiros cristãos, no tempo dos Apóstolos,
ocasião em que predisse uma grande fome (At 11, 28). No império de Cláudio,
realmente, grandes fomes assolaram os romanos. Ágabo é um dos pontos de
referência para se determinar a cronologia dos Atos dos Apóstolos. Quando, no
ano 58, São Paulo andava no caminho entre Cesaréia e Jerusalém, Ágabo tomou-lhe
o cinto, amarrou-se mãos e pés, profetizando em seguida que seria daquela forma
que São Paulo seria entregue pelos judeus aos pagãos (At 21, 10-11).
Assim, após a vinda de
Nosso Senhor Jesus Cristo, o profetismo continuou, não como era no Antigo
Testamento, pois agora já havia Ele fundado Sua Igreja para guiar os povos, mas
como guia da própria Igreja. Desde que São João Evangelista fez o Apocalipse
até nossos dias nunca deixou de existir na Igreja santos que previssem o futuro
e alertassem as Autoridades eclesiásticas e o povo
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