Costumamos ver esta vida apenas sob aspectos dos prazeres que ela pode nos oferecer; poucos a analisam também sob o prisma do sofrimento, capaz de engrandecer todo o nosso viver nesta terra. Vejam como Dr. Plínio Corrêa de Oliveira sabe conjugar os dois fatores comparando-os com a navegação náutica: "As velas de um navio só deixam ver a sua beleza inteira quando o vento sopra e elas se enchem. O "pulchrum" de um navio só se deixa ver inteiro quando ele desencanta do cais. Se ele navega assim mesmo, quando está dentro do porto, dentro do golfo, ainda em circunstâncias onde se vê terra firme, ele não aparece no seu isolamento grandioso. É preciso que o barco seja imaginado num mar onde não se vê nada, onde de todos lados os confins do horizonte e do mar se fecham em torno dele, e ali se começa a perceber como ele é pequeno diante do mar que singra e como ele é grande, porque ousa singrar o mar. Que vitória singrar o mar!
Quando se inventou a fotografia, mil recursos foram empregados para fotografar navios em todas as posições e ações possíveis. Na época do avião, o homem ainda não cessa, a muito justo título, de se encantar e de se surpreender com a navegação. Ele se encanta, reproduz os navios de todas as ordens em toda espécie de mares. Isso vai para os álbuns, para os museus, por toda a parte. O homem canta a beleza dessa situação: um navio sozinho no mar e que navega.
Se fosse só isso. Quantos literatos, pintores, se têm esmerado em mostrar o navio na tempestade. Ou sob céu aberto, quando o mar está refulgente, espelhando o Sol, tranquilo ou com ondas belas que o fazem apenas balouçar, brincam com ele sem ter vontade de tragá-lo quando passa. É muito bonito!
Quando há tempestade, o navio continua; o infortúnio se abate, ele continua e resiste, ameaça naufragar, a tragédia... Até o seu soçobro é belo! A agonia e a morte de um navio são bonitas de tal maneira é bela a navegação.
Na realidade, todo o infortúnio da navegação faz ver aspectos da realidade náutica que dão a glória do navio até nos dias de bonança. Porque se não houvesse o perigo do soçobro, ninguém acharia tão bonito que o navio estivesse atravessando o mar. A verve da travessia que o navio faz é que por detrás está o perigo, e ele o vence.
Realmente o perigo é a condição da glória do navio. Por assim dizer, o perigo espreme, deita o melhor de sua beleza nesse sulco da dor.
As coisas se apresentam aos nossos olhos assim. Na tragédia da situação em que estamos, ao homem de hoje é dado ver uma desolação como igual o homem não conheceu. Ver tudo soçobrar é terrível.
(Extraído da revista "Dr. Plinio" edição 312 de março de 2024, pag. 11/12)
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