Nota-se hoje um grande encalhe espiritual por causa da decadência moral da sociedade, impedindo até que as pessoas correspondam às graças divinas. Talvez o desencalhe social em grande escala, que provocaria o “grand retour” (grande retorno de todos ao grêmio da Santa Igreja), possa surgir da prática que os Contra-Revolucionários possam ter do maravilhamento, do fascínio e do esplendor.
O fascínio atrai,
irresistivelmente, como que arrasta as pessoas em determinada direção. Mas o
primeiro passo para isto é causar maravilhamento. Um centurião romano, São Pacômio, voltava da
guerra e teve que acampar com seus soldados próximos a uma localidade de
cristãos. Tal foi o seu maravilhamento vendo o procedimento dos cristãos que
pediu para ser um deles, tornando-se depois não só cristão, mas, mártir e
santo.
São Francisco
de Sales diz que esta graça externa, que nós chamamos de maravilhamento, é um
impulso ou comoção provocado por Deus nos corações das pessoas para excitá-los
ao bem. E desta forma “como um vento sagrado, nos impele para a atmosfera do
santo amor, move a vontade, e pela impressão de um certo gozo celeste (pode ser
um flash?), enternece-a, dilatando e desenvolvendo a inclinação natural que ela
tem para o bem, de forma que esta mesma inclinação lhe sirva de meio para
prender o nosso espírito; e tudo isto, como já disse, se faz “em nós e sem
nós”, porque é a graça divina que nos precede desta maneira” (1).
Por quê? Porque
o fascínio tem o condão de fazer caminhar, de atrair em direção dos
fascinadores, fazendo com que os outros desejem ser semelhantes a eles. Quando nasce o desejo vem depois a vontade e
os passos seguintes em direção da conversão. São vários passos, mas aí tudo
passa a depender da própria pessoa. Primeiro, desejar ser igual aos
contra-revolucionários; depois, desejar ser um deles e caminhar juntos na mesma
Causa.
O fascínio
faz-nos ter um comprazimento interior em contemplar espelhado em outrem o bem
que amamos, uma espécie de gozo interior, uma alegria, um entusiasmo por ver
aquele bem sendo posto em prática.
É como se alguém estivesse dormindo e
sonhasse com algo de fantástico e maravilhoso. Acorda e vê que aquele algo
existe e está bem na sua frente. Mas para desfrutá-lo tem que sair de sua
modorra sonolenta, levantar-se e ir em busca do bem que encontrou. Mas se achar
alguém que lhe ajude a levantar-se pegando em sua mão, sua vontade será mais
fortalecida e mais decidida.
Vejamos como São Francisco de Sales nos conta o exemplo da conversão de
São Pacômio:
“S.
Pacômio, quando era ainda soldado muito jovem, e sem conhecimento de Deus,
alistado sob a bandeira do exército que Constâncio levantara contra o tirano
Maxêncio, veio com o regimento a que pertencia aquartelar-se perto duma pequena
cidade, não muito distante de Tebas, onde não somente ele, mas todo o exército
se achou em extrema penúria de víveres.
“Tendo isto chegado ao conhecimento dos habitantes da pequena cidade,
que por um feliz acaso eram fiéis a Jesus Cristo, e por conseqüência amigos e
caritativos para com o próximo, imediatamente forneceram aos soldados tudo o
que precisavam, mas com tanta solicitude, urbanidade e desvelo, que Pacômio,
transportado de admiração, perguntou que nação era aquela, tão benévola, afável
e generosa. Disseram-lhe que eram Cristãos, e inquirindo novamente sobre a lei
e maneira de viver deles, soube que acreditavam
Mais adiante São Francisco de Sales comenta:
“Por certo aquele transporte de admiração
que ele teve, outra coisa não foi, senão o seu acordar, pelo qual Deus tocou,
como o sol toca a terra, com um raio de luz, que o encheu dum grande sentimento
de gozo espiritual”...(2)
Quer dizer, São Pacômio fascinado,
maravilhou-se; maravilhado encheu-se de entusiasmo, isto é, de Deus, da graça
divina; cheio de entusiasmo, converteu-se; convertido, tornou-se santo.
Dr. Plínio comenta que há hoje um encalhe
espiritual em toda a sociedade que impede as pessoas de se converterem e de
praticar as virtudes cristãs. O mesmo ocorria com os povos pagãos daqueles
tempos, que, ao verem o modo de vida dos cristãos, maravilhavam-se e,
fascinados, se convertiam, desencalhando suas almas para a prática do bem e o
amor a Deus.
E para que a
Contra-Revolução cumpra fidedignamente o seu papel devemos nos apresentar com
todo esplendor. Só assim poderemos fascinar os revolucionários, a ponto de
torná-los contra-revolucionários. A propósito deste apostolado do esplendor,
Dr. Plínio deu os seguintes princípios numa “palavrinha” aos equatorianos e
uruguaios, em 31-01-92, e comentada pelo Sr. João Clá em 26-05-2003 (que ainda
não era sacerdote). É preciso notar que quando Dr. Plínio se refere à TFP ele
está, “ipso facto”, referindo-se a ele mesmo ou a uma Família de Almas, pois a
Entidade era apenas o resultado da doutrina dele, da ação dele, do apostolado
dele refletido nessa Família, e assim os dois como que se confundiam sob a
mesma denominação :
“Qual é a doutrina da TFP?
A doutrina da TFP é a seguinte. Que em
matéria de ideologia, doutrinária como nós travamos – nossa luta é uma luta
religiosa, no sentido mais amplo da palavra – comporta a diferença no modo de
ver a religião.
Mas, depois, todas as conseqüências que isso
tem no terreno político, cultural, etc.etc., que são incalculáveis. Em todas
essas conseqüências, cada conseqüência é uma trincheira, de dentro da qual nós
estamos atirando argumentos sobre o adversário. Esse seria o gráfico da TFP..
E há
o seguinte. No interior de cada homem há um contraste – isso em todas as épocas
foi assim – que se define da seguinte maneira:
No interior do revolucionário há um
contra-revolucionário que dorme. E no interior do contra-revolucionário há um
revolucionário que dorme.
O problema para os revolucionários é acordar
em nós o revolucionário. E o problema para nós, contra-revolucionários, é
acordar o contra-revolucionário que dorme. Porque quem consiga acordar a outra
parte, ganha a batalha.
Mostrar o esplendor da
Contra-Revolução
Então, o que é preciso para nós, mais do que tudo, é sabermos difundir e
tornar claro àqueles com quem nós fazemos apostolado, o esplendor – eu
intencionalmente não estou falando de beleza, estou falando de esplendor que é
um grau superlativo de beleza – o esplendor da Contra-Revolução.
É preciso que ele sinta esse esplendor, que ele compreenda o esplendor, o
esplendor da Igreja. Não a Igreja nos
seus aspectos artificiais e adulterados do progressismo, etc., etc. mas a
Igreja no seu aspecto clássico, tradicional, magnífico, a Igreja no seu
esplendor, a civilização cristã no seu esplendor; os monumentos, os homens, as
instituições, os fatos, os gestos que ela despertou, os heroísmos, as
dedicações, os martírios, tudo mais que ela suscitou.
Que eles compreendam a beleza e a santidade da austeridade, do
sacrifício, da luta, portanto, da castidade. Mais esplendorosa do que a
castidade, só há uma coisa, é a Fé. É
evidente isso. E é preciso que nós tenhamos a alma cheia disso e tenhamos fatos
concretos, tenhamos figuras, tenhamos fotografias, tenhamos meios de apresentar
isso aos outros...
Arautos de um mundo novo que vem
Durante um primeiro período, que corresponde à revolução que o neófito
vai tendo, fala-se preponderantemente e não exclusivamente nos horrores de
hoje. No outro período se continua a falar dos horrores de hoje, mas se começa
a preponderar no falar dos esplendores de outrora, como esplendores de amanhã.
Não sermos apenas os cicerones de um museu do mundo antigo, mas sermos os arautos de um mundo novo que vem, que é o mundo antigo aprimorado e aperfeiçoado pela graça da Santíssima Virgem”.
(1)
– “Tratado do
Amor de Deus” – Liv. Apostolado da Imprensa , pp. 104/105
(2)
- op.cit, págs. 104/105
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