A Assunção de Nossa Senhora foi constituída em dogma pelo Papa Pio XII
há poucos anos. Esse dogma foi ardentemente desejado pelas almas católicas do
mundo inteiro, por ser mais uma das afirmações a respeito d’Ela que A coloca
fora de paralelo com qualquer outra mera criatura, justificando o culto de
hiperdulia que a Igreja Lhe tributa.
Suave morte
seguida de ressurreição
Nossa Senhora, depois de uma morte suavíssima, qualificada com uma
linguagem muito bonita pelos autores como a “dormição”, para indicar que,
apesar de ter sido uma morte verdadeira, entretanto, mais pareceu um simples
sono; Ela, depois da morte, ressuscitou como Nosso Senhor Jesus Cristo. Foi
chamada à vida por Deus e subiu depois aos Céus, na presença de todos os
Apóstolos ali reunidos, e de uma quantidade muito grande de fiéis.
A Assunção representa para a Santíssima Virgem uma verdadeira
glorificação aos olhos de toda a humanidade até o fim do mundo, e o prêmio que
Ela deveria receber no Céu.
Momento
sublime, espetáculo incomparável
Seria interessante se pudéssemos fazer uma recomposição de lugar para
imaginarmos, à nossa maneira e de acordo com nossa piedade, como a Assunção se
passou, uma vez que a respeito dela não existem descrições, havendo uma
multidão de aspectos que poderiam ser representados.
Nossa Senhora subindo e, em baixo, os Apóstolos ajoelhados, rezando,
com algo de inefavelmente nobre, sublime, recolhido, interior; todos eles com
as expressões dos personagens de Fra Angélico. Em cima, o céu enchendo-se
gradualmente de Anjos, também ao modo de Fra Angélico. O céu material tomando
coloridos os mais diversos, com matizações, irradiações magníficas, de maneira
tal a representar um espetáculo absolutamente incomparável.
Se Nossa Senhora pôde dar ao céu um colorido tão magnífico, tão diverso
e produzir fenômenos tão excepcionais em Fátima, por que o mesmo não se teria
dado por ocasião de sua Assunção ao Céu?
Ela, em oração, Se coloca de pé; o respeito e recolhimento tomam conta
de todos os que estão ao redor; a semelhança física d’Ela com Nosso Senhor
Jesus Cristo vai crescendo, vai se acentuando cada vez mais.
A glória de Nosso Senhor transfigurado vai se comunicar a Ela, cada vez
mais Rainha, cada vez mais majestosa, cada vez mais Mãe também. Todo o seu
íntimo se manifestando de modo supremo nesta hora de despedida. Alguns Anjos se
aproximam, talvez os mais esplêndidos do Céu, e acompanham Nossa Senhora. Ela
vai subindo...
Aos poucos o Céu vai se transformando, aquela maravilha vai mudando. A
terra volta ao aspecto primitivo, os homens retornam às suas casas com a
sensação que tiveram após a Ascensão de Nosso Senhor: ao mesmo tempo
maravilhados e com uma saudade sem nome; desolados por algum lado, mas levando
na retina algo que nunca tinham visto, nem podiam ter imaginado a respeito de
Nossa Senhora.
É impossível pensar neste triunfo terreno, sem pensar no celeste que
veio logo depois.
A glória da
Rainha, prelúdio do Reino de Maria
O triunfo de Nossa Senhora começa no Céu! A Igreja Católica inteira vai
recebê-La, todos os coros de Anjos, São José, Nosso Senhor Jesus Cristo A
acolhe, Ela é coroada pela Santíssima Trindade.
É a glorificação de Nossa Senhora aos olhos de toda a Igreja Triunfante
e Militante. Com certeza, neste dia a Igreja Padecente teve uma efusão de
graças extraordinárias, e não é temerário pensar que quase todas as almas do
Purgatório tenham sido libertadas por Ela. De maneia que também ali houve uma
alegria enorme. Assim podemos imaginar como foi a glória dessa nossa Rainha.
Algo disso se repetirá, creio eu, quando vier o Reino de Maria.
No momento em que o mundo estiver transformado e a glória de Nossa
Senhora brilhar sobre a Terra, terá começado o reinado d’Ela de modo efetivo, e
os dias maravilhosos de graças, como nunca houve antes, começam a se anunciar.
Antes de contemplarmos a glória de Nossa Senhora no Céu, nós haveremos
de contemplá-la na Terra, certamente, com algo que poderá nos dar, com uma tal
ou qual analogia, com alguma semelhança desse triunfo sem nome que deve ter
sido, mesmo aos olhos dos homens, a glória de Maria.
Houve triunfos que os homens prepararam para seus grandes batalhadores,
por exemplo, quando as tropas francesas venceram os alemães, desfilaram sob o
Arco do Triunfo, depois da Guerra de 1914-1918. Quando pensamos no triunfo para
MacArthur ; em tantos triunfos que os
romanos preparavam para os seus generais vencedores. Assim, devemos compreender
que Nosso Senhor Jesus Cristo, que é infinitamente mais generoso, deve ter
premiado Nossa Senhora, no triunfo d’Ela aos olhos dos homens, de um modo
incomensuravelmente maior, e que deve ter havido tudo quanto há de mais
glorioso e triunfal nesta hora da Assunção de Nossa Senhora.
O senso da
glória de Maria
Meditando nisso, aproximamo-nos da festa da Assunção, pensando qual
virtude devemos pedir a Nossa Senhora. É claro que cada um deve pedir aquela de
que mais carece. Mas não haveria demasia em pedirmos a Ela uma virtude em
específico: o senso da glória d’Ela, para compreendermos bem tudo quanto
representa sua glória na ordem da Criação, e o quanto esta é a mais alta
expressão criada da glória de Deus. Devemos se sedentos de afirmar e defender –
por uma virtude de combatividade levada ao seu último extremo -, a glória de
Nossa Senhora na Terra.
Que Ela faça de nós verdadeiros cavaleiros, verdadeiros cruzados d’Ela,
lutando por sua glória na Terra. Essa me parece a virtude mais adequada a pedir
nesta festa de glória, que é a Assunção de Nossa Senhora. (Conferência de
14/08/1964)
(Extraído da revista “Dr. Plínio”, edição de agosto de 2022, págs. 12/14)
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