Dr. Plínio Corrêa de Oliveira escreveu o seguinte no jornal “Legionário”, na época em que o nazismo estava em pleno vigor na Alemanha: “O verdadeiro contrário do comunismo não é o extremo oposto, isto é, o nazismo, em última análise também ele dirigista, socialista e totalitário. O verdadeiro contrário do comunismo é o princípio de subsidiariedade”.
Vez por outra o tema da oposição entre nazismo e comunismo
vem à tona. Destacamos a de um ex-comunista que se ocupou de reanimá-lo. O
Autor é um tanto suspeito, não tanto pelo que é hoje mas pelo que foi ontem.
Assim, mesmo objeto de suspeição publicamos suas declarações, extraídas de seu
livro e estampadas no site “Forum Libertas”, da Espanha, Publicado em 17 de
fevereiro de 2005.
Martin Amis, escritor ex-comunista, analisa por contraste os
dois grandes horrores do século XX. Por que um se canoniza como o mal em estado
puro e o outro parece ver-se somente como um erro histórico?
Em seu livro “Koba el Terrible”, o novelista e ensaísta
britânico se centrava num ponto fraco do pensamento do século XX e ainda do
XXI: a tolerância dos intelectuais ocidentais ante o comunismo.
Martin foi militante comunista, como seu pai - o também
novelista Kingsley Amis-, até que as revelações de Solzhenitsyn em Archipiélago
Gulag foram inegáveis. Aquilo não podia mais sustentar-se.
Em “Koba el Terrible”, ele se anima a fazer a comparação em
grandes pinceladas.
Cifras - Mesmo
que acrescentemos as baixas totais da Segunda Guerra Mundial (40-50 milhões) as
do Holocausto (ao redor de 6 milhões), parece que o bolchevismo poderia
superá-las. A guerra civil, o Terror Vermelho, a FOME; uma Coletivização que,
segundo Conquest, causou talvez a morte de 11 milhões. Solzhenitsyn calcula (“Numa
estimativa modesta”) que foram entre 40 e 50 milhões os que cumpriram grandes
penas no GULAG de 1917 a 1953 (e muitos outros depois do breve degelo de
Jrushov), e durante o Grande Terror, a deportação de populações dos anos 40 e
50, Afeganistão… Os “Vinte Milhões” começam a parecer quarenta.
Exatidão - Há
alguma diferença moral palpável entre os trens e chaminés da Polônia e o
silêncio antinatural e surpreendente que caiu pouco a pouco sobre as aldeias da
Ucrânia em 1933? Sob Stalin “não se fez finca-pé na aniquilação completa de
nenhum grupo étnico”. A diferença se firma no emprego do adjetivo “completa”,
porque Lênin empreendeu campanhas genocidas (a descazaquização) e o mesmo fez
Stalin. A diferença poderia estar em que o terror nazista se esforçava por ser
exato, enquanto que o terror stalinista era deliberadamente aleatório. Todo
mundo era vítima do terror, desde o primeiro até o último; todos menos Stalin.
Ideologia - O
marxismo era um produto da classe média intelectual; o nazismo era
sensacionalista, de imprensa suja, dos baixos fundos. O marxismo exigia da
natureza humana esforços sem nenhum sentido prático; o nazismo era um convite
direto à abjeção. E sem embargo as duas ideologias funcionaram exatamente igual
em sentido moral.
Médicos da morte - Há
alguma diferença moral entre o médico nazista (bata branca, botas negras, bolas
de Zyklon B) e o interrogador salpicado de sangue do campo Orotukán? Os médicos
nazistas não só participavam em experimentos e “seleções”, inspecionavam todas
as etapas do processo executor. Na realidade, o sonho nazista era no fundo um
sonho biomédico. Foi uma subversão que não praticou o bolchevismo.
Efeito social - O
nazismo não destruiu a sociedade civil. O bolchevismo, sim. É uma das razões do
“milagre” da recuperação alemã e dos fracassos e a vulnerabilidade da Rússia
atual. Stalin não destruiu a sociedade civil. Lenin, sim.
O humor - A
resistência do humor a desaparecer se há destacado no caso soviético. Parece
que os Vinte Milhões não terão nunca a dignidade fúnebre do Holocausto. Isto
não é, ou não somente é, uma amostra da “assimetria da tolerância” (a expressão
é de Ferdinand Mount). Não seria assim se na natureza do bolchevismo não houvesse
algo que o permitisse.
Ciclo de vida - Stalin,
diferentemente de Hitler, fez todo o mal que pôde, entregando-se de corpo e
alma a uma empresa de morte. No ano que morreu estava preparando pelo vista
outra gigantesca campanha de terror, vítima, aos 73 anos, de um anti-semitismo
remoçado e senil. Hitler, pelo contrário, não fez todo o mal que pôde. O pior
de Hitler se eleva como uma larga sombra que afeta de forma implícita a nosso
conceito dos crimes que cometeu. De haver sobrevivido, o nazismo “maduro”
haveria sido, entre outras coisa, uma confusão genética em escala hemisférica
(já havia planos, em princípios dos anos quarenta, de depurar ainda mais a
linhagem ariana). O laboratório de Josef Mengele em Auschwitz havia sido
ampliado até alcançar as dimensões de um continente. A psicose hitlerista não
era “reativa”, não respondia aos acontecimentos, senão a ritmos próprios.
Possuía ademais uma tendência fundamentalmente suicida. O nazismo foi incapaz
de amadurecer. Doze anos era, quiçá, a duração natural de uma agressividade tão
sobrenatural.
Aplicabilidade - O
bolchevismo era exportável e em todas as partes produzia resultados quase
idênticos. O nazismo não podia se reproduzir. Comparados com a Alemanha, os
demais estados fascistas foram simples aficcionados.
Êxito em vida - Hitler,
ao final de sua trajetória afrontou a derrota e o suicídio. “Quando Stalin
completou 70 anos em 1949 – disse Martin Malia – era realmente o “pai dos
povos” para um terço da humanidade; e parecia que era possível, inclusive
iminente, que o comunismo triunfasse a nível mundial.
Vergonha da espécie
- A combinação alemã de desenvolvimento avançado, alta cultura e barbárie
infinita é, desde logo, muito singular. Sem embargo não podemos isolar o
nazismo alegando que era exclusivamente alemão. Tampouco podemos por em
quarentena o bolchevismo alegando que era exclusivamente russo. A verdade é que
os dois relatos abundam em notícias terríveis sobre o que é humano. Produzem
vergonha e ao mesmo tempo indignação. E a vergonha é maior no caso da Alemanha.
Pelo menos é o que eu acredito. Prestemos atenção ao corpo. Quando leio livros
sobre o Holocausto experimento algo que não me sucede quando leio livros sobre
os Vinte Milhões, é como uma infestção física. É vergonha da espécie. E isto é
o que o Holocausto nos pede.
Armas especiais -
Mas Stalin, ao dar grossas pinceladas de seu ódio, dispunha de armas que Hitler
não tinha.
Tinha o frio: o frio abrasador do Ártico. “Em Oimiakón
[Kolymá] chegaram a registrar-se temperaturas de -72°C. Chegando a temperaturas
muito mais altas se rachava o aço, rebentava os pneus e saíam chispas quando o
archote golpeava o tronco das árvores. Quando baixa a temperatura o hálito se
congela em cristais que tilintam no chão com um rumor que chamam “sussurro das
estrelas”.
Tinha a obscuridade: o sequestro bolchevique, a crudelíssima
e implacáel auto-exclusão do planeta, com seu medo às comparações, seu medo ao
ridículo e seu medo á verdade.
Tinha o espaço: o imenso império de onze zonas horárias, as
distâncias que extremavam o confinamento e o isolamento, a estepe, o deserto, a
taiga, a tundra. E o mais importente: Stalia tinha tempo.
E ademais... - Stalin
foi um dirigente muito popular dentro da URSS durante o quarto de século que
durou seu governo. Resulta um pouco humilhante pôr por escrito uma coisa assim,
mas não há forma de evitá-lo. Também Hitler foi um líder popular, mas diferente
de Stalin, conseguiu algumas vitórias econômicas e perseguiu a minoria
relativamente pequenas (os judeus eram 1% da população) . As vítimas de Stalin
foram grupos maioritários como o campesinato (85% da população). E ainda que a
vigilância de Hitler sobre a população fosse intimidatória e persistente não se
excedeu, como Stalin, para criar um clima de náusea e medo.
Amis fez um livro para despertar a memória: “Para a
consciência geral, os mortos russos seguem dormindo. Milhões. Se fez uma guerra
contra eles e contra a natureza humana foi contra sua própria gente”.
(tradução livre do texto publicado pelo site Fórum
Libertashttp://www.forumlibertas.com/frontend/forumlibertas/base.php)
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