quarta-feira, 31 de agosto de 2022

NAZISMO E COMUNISMO, VERSO E REVERSO DA MESMA MEDALHA


 

Dr. Plínio Corrêa de Oliveira escreveu o seguinte no jornal “Legionário”, na época em que o nazismo estava em pleno vigor na Alemanha:  “O verdadeiro contrário do comunismo não é o extremo oposto, isto é, o nazismo, em última análise também ele dirigista, socialista e totalitário. O verdadeiro contrário do comunismo é o princípio de subsidiariedade”.

Vez por outra o tema da oposição entre nazismo e comunismo vem à tona. Destacamos a de um ex-comunista que se ocupou de reanimá-lo. O Autor é um tanto suspeito, não tanto pelo que é hoje mas pelo que foi ontem. Assim, mesmo objeto de suspeição publicamos suas declarações, extraídas de seu livro e estampadas no site “Forum Libertas”, da Espanha, Publicado em 17 de fevereiro de 2005.

Martin Amis, escritor ex-comunista, analisa por contraste os dois grandes horrores do século XX. Por que um se canoniza como o mal em estado puro e o outro parece ver-se somente como um erro histórico?

Em seu livro “Koba el Terrible”, o novelista e ensaísta britânico se centrava num ponto fraco do pensamento do século XX e ainda do XXI: a tolerância dos intelectuais ocidentais ante o comunismo.

Martin foi militante comunista, como seu pai - o também novelista Kingsley Amis-, até que as revelações de Solzhenitsyn em Archipiélago Gulag foram inegáveis. Aquilo não podia mais sustentar-se.

Em “Koba el Terrible”, ele se anima a fazer a comparação em grandes pinceladas.

Cifras - Mesmo que acrescentemos as baixas totais da Segunda Guerra Mundial (40-50 milhões) as do Holocausto (ao redor de 6 milhões), parece que o bolchevismo poderia superá-las. A guerra civil, o Terror Vermelho, a FOME; uma Coletivização que, segundo Conquest, causou talvez a morte de 11 milhões. Solzhenitsyn calcula (“Numa estimativa modesta”) que foram entre 40 e 50 milhões os que cumpriram grandes penas no GULAG de 1917 a 1953 (e muitos outros depois do breve degelo de Jrushov), e durante o Grande Terror, a deportação de populações dos anos 40 e 50, Afeganistão… Os “Vinte Milhões” começam a parecer quarenta.

Exatidão - Há alguma diferença moral palpável entre os trens e chaminés da Polônia e o silêncio antinatural e surpreendente que caiu pouco a pouco sobre as aldeias da Ucrânia em 1933? Sob Stalin “não se fez finca-pé na aniquilação completa de nenhum grupo étnico”. A diferença se firma no emprego do adjetivo “completa”, porque Lênin empreendeu campanhas genocidas (a descazaquização) e o mesmo fez Stalin. A diferença poderia estar em que o terror nazista se esforçava por ser exato, enquanto que o terror stalinista era deliberadamente aleatório. Todo mundo era vítima do terror, desde o primeiro até o último; todos menos Stalin.

Ideologia - O marxismo era um produto da classe média intelectual; o nazismo era sensacionalista, de imprensa suja, dos baixos fundos. O marxismo exigia da natureza humana esforços sem nenhum sentido prático; o nazismo era um convite direto à abjeção. E sem embargo as duas ideologias funcionaram exatamente igual em sentido moral.

Médicos da morte - Há alguma diferença moral entre o médico nazista (bata branca, botas negras, bolas de Zyklon B) e o interrogador salpicado de sangue do campo Orotukán? Os médicos nazistas não só participavam em experimentos e “seleções”, inspecionavam todas as etapas do processo executor. Na realidade, o sonho nazista era no fundo um sonho biomédico. Foi uma subversão que não praticou o bolchevismo.

Efeito social - O nazismo não destruiu a sociedade civil. O bolchevismo, sim. É uma das razões do “milagre” da recuperação alemã e dos fracassos e a vulnerabilidade da Rússia atual. Stalin não destruiu a sociedade civil. Lenin, sim.

O humor - A resistência do humor a desaparecer se há destacado no caso soviético. Parece que os Vinte Milhões não terão nunca a dignidade fúnebre do Holocausto. Isto não é, ou não somente é, uma amostra da “assimetria da tolerância” (a expressão é de Ferdinand Mount). Não seria assim se na natureza do bolchevismo não houvesse algo que o permitisse.

Ciclo de vida - Stalin, diferentemente de Hitler, fez todo o mal que pôde, entregando-se de corpo e alma a uma empresa de morte. No ano que morreu estava preparando pelo vista outra gigantesca campanha de terror, vítima, aos 73 anos, de um anti-semitismo remoçado e senil. Hitler, pelo contrário, não fez todo o mal que pôde. O pior de Hitler se eleva como uma larga sombra que afeta de forma implícita a nosso conceito dos crimes que cometeu. De haver sobrevivido, o nazismo “maduro” haveria sido, entre outras coisa, uma confusão genética em escala hemisférica (já havia planos, em princípios dos anos quarenta, de depurar ainda mais a linhagem ariana). O laboratório de Josef Mengele em Auschwitz havia sido ampliado até alcançar as dimensões de um continente. A psicose hitlerista não era “reativa”, não respondia aos acontecimentos, senão a ritmos próprios. Possuía ademais uma tendência fundamentalmente suicida. O nazismo foi incapaz de amadurecer. Doze anos era, quiçá, a duração natural de uma agressividade tão sobrenatural.

Aplicabilidade - O bolchevismo era exportável e em todas as partes produzia resultados quase idênticos. O nazismo não podia se reproduzir. Comparados com a Alemanha, os demais estados fascistas foram simples aficcionados.

Êxito em vida - Hitler, ao final de sua trajetória afrontou a derrota e o suicídio. “Quando Stalin completou 70 anos em 1949 – disse Martin Malia – era realmente o “pai dos povos” para um terço da humanidade; e parecia que era possível, inclusive iminente, que o comunismo triunfasse a nível mundial.

Vergonha da espécie - A combinação alemã de desenvolvimento avançado, alta cultura e barbárie infinita é, desde logo, muito singular. Sem embargo não podemos isolar o nazismo alegando que era exclusivamente alemão. Tampouco podemos por em quarentena o bolchevismo alegando que era exclusivamente russo. A verdade é que os dois relatos abundam em notícias terríveis sobre o que é humano. Produzem vergonha e ao mesmo tempo indignação. E a vergonha é maior no caso da Alemanha. Pelo menos é o que eu acredito. Prestemos atenção ao corpo. Quando leio livros sobre o Holocausto experimento algo que não me sucede quando leio livros sobre os Vinte Milhões, é como uma infestção física. É vergonha da espécie. E isto é o que o Holocausto nos pede.

Armas especiais - Mas Stalin, ao dar grossas pinceladas de seu ódio, dispunha de armas que Hitler não tinha.

Tinha o frio: o frio abrasador do Ártico. “Em Oimiakón [Kolymá] chegaram a registrar-se temperaturas de -72°C. Chegando a temperaturas muito mais altas se rachava o aço, rebentava os pneus e saíam chispas quando o archote golpeava o tronco das árvores. Quando baixa a temperatura o hálito se congela em cristais que tilintam no chão com um rumor que chamam “sussurro das estrelas”.

Tinha a obscuridade: o sequestro bolchevique, a crudelíssima e implacáel auto-exclusão do planeta, com seu medo às comparações, seu medo ao ridículo e seu medo á verdade.

Tinha o espaço: o imenso império de onze zonas horárias, as distâncias que extremavam o confinamento e o isolamento, a estepe, o deserto, a taiga, a tundra. E o mais importente: Stalia tinha tempo.

E ademais... - Stalin foi um dirigente muito popular dentro da URSS durante o quarto de século que durou seu governo. Resulta um pouco humilhante pôr por escrito uma coisa assim, mas não há forma de evitá-lo. Também Hitler foi um líder popular, mas diferente de Stalin, conseguiu algumas vitórias econômicas e perseguiu a minoria relativamente pequenas (os judeus eram 1% da população) . As vítimas de Stalin foram grupos maioritários como o campesinato (85% da população). E ainda que a vigilância de Hitler sobre a população fosse intimidatória e persistente não se excedeu, como Stalin, para criar um clima de náusea e medo.

Amis fez um livro para despertar a memória: “Para a consciência geral, os mortos russos seguem dormindo. Milhões. Se fez uma guerra contra eles e contra a natureza humana foi contra sua própria gente”.

(tradução livre do texto publicado pelo site Fórum Libertashttp://www.forumlibertas.com/frontend/forumlibertas/base.php)

 


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