sábado, 29 de janeiro de 2022

OS ANTIGOS DEUSES EGÍPCIOS, FRUTO DA REVERÊNCIA PRESTADA AOS MORTOS?

 




         Os povos antigos, especialmente do período que vai da Suméria até o Egito dos faraós, tinham o costume de divinizar seus governantes (além dos astros e dos animais), sejam eles patriarcas, chefes das clãs ou “reis”, tornando-os deuses após a morte. Em alguns casos até mesmo antes da morte.

Foi o caso, por exemplo, de Isis e Osiris, dois deuses que, segundo Anna Catarina Emmerich, surgiram após a morte do patriarca José, filho de Jacó, que transformou-se num governante importante ao lado do faraó daquele tempo:“Tenho visto, por exemplo, que os deuses Isis e Osiris não eram outra coisa que José (vice-rei do Egito) e Asenet (sua esposa), que os astrólogos do Egito haviam predito a raiz de visões diabólicas, e que eles haviam colocado entre seus deuses.  Quando chegaram, foram venerados como deuses. Tenho visto que Asenet se lamentava e chorava por isso, e até escreveu contra o culto que se lhe tributava”[1]

Em outro trecho acrescenta a vidente: “Tenho visto que (Asenet, esposa de José) foi venerada como deusa com o nome de Isis, pela torcida interpretação de seus escritos e rolos. José foi logo venerado sob o nome de Osiris”[2] Quando Moisés libertou o povo hebreu do cativeiro do Egito, segundo CatalinaEmmerich, teve que levar às escondidas os restos mortais de José, que estava numa tumba escondida, a fim de evitar que os egípcios os descobrissem e o adorassem como deus.[3]

Com relação ao culto dedicado aos animais, Catarina Emmerich também fala sobre a origem do touro Ápis. Segundo a mesma vidente, o touro Ápis foi uma divindade que surgiu também no tempo de José, oriundo de uma crença surgida do sonho em que o faraó viu as sete vacas magras e as sete vacas gordas (Gên 41, 1-4).[4] É possível que essa idolatria já existisse desde o tempo em que o povo hebreu, em seu êxodo pelo deserto, mandou construir o bezerro de ouro com o fim de adorá-lo (Gên 32).

Osiris, o deus mais popular do Egito de então, começou a ser adorado em uma cidade secundária do Delta do Nilo, onde dizia a lenda que Osiris tinha sido rei e, auxiliado pelo deus Thot, seu primeiro ministro, ensinara aos súditos como cultivar a terra, erguendo depois os primeiros templos e promulgando algumas leis.  Um dia foi morto pelo irmão Seth, o qual enterrou-o num esquife em lugar escondido.  A deusa Isis conseguiu achar o esquife, mas os restos mortais tinham sido espalhados no rio. Nesta lenda Isis tinha um filho deus chamado Hórus, o qual, auxiliado por outros deuses conseguiu encontrar todos os restos mortais de Osiris, e sua esposa Isis conseguiu, com poderes mágicos, lhe restituir a vida. E assim construíram no Egito um dos mais suntuosos templos, que, no caso, seria também túmulo, para abrigar o deus Osiris. Não há algo de parecido entre as lendas da mitologia egípcia e as visões da Beata Anna Catarina Emmerich?

Os templos egípcios se rivalizavam em esplendor e grandeza, mas os dedicados a deuses-reis eram mais suntuosos. No entanto, nem toda a população tinha acesso a certos templos, pois eles consideravam-nos como as casas dos deuses, ou suas moradas eternas. Geralmente havia no fundo dos templos uma “câmara santa”, onde ficavam as estátuas, local onde só era permitido entrar os altos dignitários e sacerdotes.

Os templos mais magníficos e suntuosos eram dedicados aos deuses-faraós, isto é, àqueles faraós que foram transformados em divindades após a morte, como ocorreu com o primeiro deles, Ra, e com muitos outros.

Para os egípcios, a alma de todo morto era um deus admitido a viver eternamente no reino de Osiris, ou mesmo de Amon, ou Rá. Acreditavam que, de tempos em tempos, a alma poderia voltar ao corpo como ocorreu com Osiris. Assim, era necessário que o corpo não apodrecesse e ficasse conservado a espera da “ressurreição”. Impedir a decomposição dos corpos tornou-se, pois, não só um dever sagrado, mas até mesmo parte das funções e rituais das religiões.  Foi baseado nessa crença que o embalsamamento tornou-se uma prática comum no Egito, especialmente a partir do ano 1500 a.C. Segundo Heródoto em todas as cidades egípcias haviam embalsamadores profissionais. Depois, o próprio túmulo era como se fosse a casa do morto, tinha que ser preparado com apuro. Lá era colocada a mobília, provisões, uma estátua do morto, e o corpo mumificado numa posição de destaque.

Haviam também homenagens fúnebres por ocasião do enterro do defunto, quando então os sacerdotes rezavam fórmulas apropriadas e usavam de amuletos, joias de efeitos mágicos e outros apetrechos destinados a afastar as feras e serpentes do local.

A fim de dar aos mortos uma habitação digna, especialmente pelo fato de lá ele ter que ficar no aguardo de algum dia ressuscitar, os egípcios se esmeravam em construir túmulos ricos e suntuosos, conforme a condição social da família do morto. Aos faraós, por exemplo, eram dedicadas as famosas pirâmides, feitas de pedras em período posterior, mas no início feitas de tijolos. A Sagrada Escritura fala de enormes construções a que o povo hebreu era obrigado a trabalhar, como escravo que era, todas de tijolos, dando a entender que tratar-se-iam realmente de grandes templos antigos. A partir de certa época, porém, desistiram das pirâmides e cavaram imensos túmulos subterrâneos que os gregos chamavam de “hipogeus”. Foi descoberto recentemente um vale onde haviam mais de 300 túmulos subterrâneos, que hoje chamam de “vale dos reis”.

Quem eram os governantes egípcios daquele tempo, os Faraós? A palavra Faraó significa “casa grande”, quer dizer, grande dinastia. Era tarefa principal de um Faraó estabelecer a supremacia religiosa de sua própria “casa”, isto é, de sua descendência, de sua família, sobre todas as outras. E assim, se rivalizavam construindo monumentos funerários cada vez maiores, onde se utilizavam da força escrava para confecções de “tijolos”,ou grandes moles de pedras.  Quando morria um rei eram mortos e enterrados juntamente com ele todos os familiares e escravos, pois eles criam que no Além ele precisava daquele povo para o servir. Existe no Egito um local denominado “Vale dos Reis”, com enormes monumentos encravados em rochas de até 300 metros alturas e onde eram enterrados os Faraós.

Quando Moisés e Arão foram à presença do Faraó pedir que libertasse o povo hebreu, obtiveram como resposta que o povo precisava trabalhar mais e foi dado ordens aos chefes das obras: “Não mais dareis palhas, como antes, ao povo, a fim de fazer tijolos, mas eles mesmos juntarão a palha. E os obrigareis à mesma quantidade de tijolos que antes, sem lhes diminuir nada; porque estão ociosos, etc” E depois mandava açoitar o povo para que produzisse sempre a mesma quantidade de tijolos. Eram mais de dois milhões de pessoas, a maioria condenada aos trabalhos forçados! Que obra monumental necessitava de tanta gente? A Sagrada Escritura menciona as cidades de Fíton e Ramessés (Ex 1,11) construídas pelo trabalho escravo dos hebreus, mas não fala de outras talvez por considerar que eram obras humanas e destinadas a satisfazer a vaidade pessoal de algum rei. Hoje, descobre-se monumentos fantásticos construídos pelos Faraós, que causam pasmo e admiração ao homem moderno.

 



[1] “Ana CatalinaEmmerich”, tomo I, “El Antiguo Testamento”, Editorial Surgite, pág. 63;

[2] “Ana CatalinaEmmerich”, tomo I, “El Antiguo Testamento”, Editorial Surgite, pág. 94.

[3] Op. cit. págs. 101/103

[4] Segundo a lenda, esse touro negro (originado na cidade de Mênfis) deveria ter certos sinais ou manchas: na fronte, uma mancha branca quadrada; no dorso, a figura dum abutre ou duma águia; sob a língua, um nó em forma de escaravelho; os pêlos da cauda numa mescla de branco e preto e, enfim, um crescente branco sobre o lado direito do corpo. Encontrado um bezerro com tais características (ou, pelo menos, parecido com isso) pelos sacerdotes pagãos especiais chamados os Bastões de Ápis, o animal era conduzido a Mênfis em uma barca dourada e em grande pompa, depois de ter sido nutrido unicamente por mulheres durante 40 dias. Uma vez entronizado cerimoniosamente, vivia no seu santuário, ao lado do deus Ptah, a mais importante divindade menfita, da qual era tido como o arauto, a imagem viva. Sua mãe, um animal também reverenciado, era como que sua esposa legítima, mas tinha também outras vacas cuidadosamente escolhidas para ele. Dizia-se que o próximo touro Ápis era a ressurreição do anterior.


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