São Bruno, referindo-se à degradação de
certos monges de seu tempo, escreve no capítulo I da Santa Regra:
“A
terceira e péssima espécie de monges é a dos sarabaítas[1],
que, não sendo provados por nenhuma Regra, nem pela experiência, como ouro na
fornalha, mas sendo, pelo contrário, moles como o chumbo, permanecendo ainda
fiéis ao século por suas obras, mentem a Deus pela tonsura. Os quais, andando
sem pastor, aos dois ou três, ou mais comumente sós, não nos apriscos do Senhor
mas nos seus próprios, têm por lei a volúpia dos desejos: de sorte que qualquer
coisa que pensarem ou preferirem, a isto chamam santo, e ilícito ao que não
quiserem.
Pois
bem, meus filhos, mãos á obra! Os que de vós se afastam, que vos censuram por
falta de amor, intimamente vos darão razão: talvez vos defendam publicamente.
Se os homens pudessem ver como eu trato “Grappin” (alcunha regional com que o
Santo designava o demônio), diriam que
não lhe tenho amor. Meto-lhe medo, causo-lhe espanto, lanço-o por terra, e
digo-lhe: “Grappin, tu me atacas; pois bem., eu me defendo também”.
Mas,
vós meus filhos, dir-me-eis que os homens não são demônios. Sem dúvida, muitos
não são demônios. Mas em todos que não estão unidos intimamente a Cristo está latente alguma
coisa diabólica: e contra isso deveis levantar-vos como executores de justiça.
O erro é um obstáculo para a união. Meu Deus, quão inexaurível é a verdade,
quão imarcessível, quão repleta de vida! Mais uma vez, não deixeis jamais de
combater o erro. E para isto, gastai a maior parte de vosso tempo. Começai,
pois, e perseverai! Não vos deixeis intimidar pela contradição. Contradição não
vale nada. Fareis bem e muito bem”. (Extraído de “Catolicismo”, n. 16, de abril
de 1952)
“Durante
uma missão em Nantes, penetra em um botequim mal afamado “Para mostrar de quem
é o locotenente, o Padre (de Montfort), põe-se de joelhos no meio dessa malta
fanática e reza uma Ave Maria. Depois, levantando-se, toma os instrumentos de
música, quebra-os contra o chão, derruba as mesas, em uma confusão de copos e
garrafas. O estupor é geral. Alguns resistem e desembainham a espada. Com um
gesto trágico o Santo avança diretamente para eles, o terço em uma das mãos e o
Crucifixo na outra. Um resto de fé fez recuar esses miseráveis e, apavorados por uma tal visão, fogem seguidos
de todo o bando”. (p. 223)”.
“Em
Saint-Pompain havia o mau hábito de de realizar feiras aos domingos...
Montfort, ao que parece, organizou uma procissão guerreira; e, entoando
cânticos, as crianças, as Virgens, os Penitentes, todos fiéis, se lançaram ao
assalto das prateleiras dos mercadores e da farândula de dançarinos.
Desconcertado, o inimigo fugiu”
“O
Padre de Montort teria composto um cântico que recorda esse fato: A derrota das
danças abomináveis e das feiras pagãs de Saint-Pompain, citado por Quérard”.
(p. 355)
(Um apôtre marial – Saint Louis-Marie
Grignion de Montfort”, pelo Padre Louis Le Crom, Montfortain – Ed. Librairie
Mariale, Calvaire Montfort, Pont-Chateau). (Extraído de “Catolicismo”, n.40,
abril de 1954)
Palavras de São Gregório Nazianzeno
referindo-se ao imperador Juliano, o Apóstata[3]:
“Eu o olhava, e me chamava a atenção sua cabeça sempre em movimento, seus ombros agitados, e que davam a impressão de desconjuntar-se, um olhar desvairado, um passo cambaleante, um nariz arrebitado que respirava insolência e desdém. E eu me perguntava: que monstro Roma alimenta aqui?” (Disc. V, 23, 24; P. G., t. XXV, col. 692, 693 - apud Fernand Mourret, “Histoire Générale de l’Eglise”, Ed. Gay, Paris, pág. 185). (Extraído de “Catolicismo”, n. 64. Abril de 1956);
CENSURA: JUÍZO NECESSÁRIO PARA A FORMAÇÃO DA OPINIÃO PESSOAL E PÚBLICA
1.
A Crítica;- Hoje vê-se a
crítica como a simples recusa e condenação feita a algo do qual não se gosta.
Criticar é mostrar os erros, é condenar. Mas, não foi bem essa a intenção dos
filósofos quando idealizaram a necessidade da crítica. Quando um tema estava em
discussão entre eles, havia necessidade de que alguém levantasse idéias opostas
a fim de que a tese fosse confrontada e demonstrada sua exatidão. Isso era
chamado de crítica, especialmente entre os escolásticos, onde as discussões
filosóficas eram mais livres e discutidas abertamente. A condenação ou
aprovação, o juízo final do tema não vem com a crítica, mas com a própria
conclusão a que se deve chegar no estudo da questão. A crítica é apenas uma
fase intermediária.
2.
A Censura – Da mesma forma, a
censura nem sempre provém da crítica. Ela vem muitas vezes da constatação
imediata do erro em que está a idéia que se debate. E censurar não é somente
condenar e apontar os erros, mas impedir que os mesmos sejam divulgados. Ela
pode ser exercida por cada pessoa individualmente, pelo grupo social a quem
todos pertencem, por um país inteiro através de seus governantes, ou por
qualquer autoridade que detenha poder para isso. E seu exercício pode ser feito
através de meios suasórios simples ou até mesmo pelo emprego de violência. Um
pai censura o filho por causa de seus
erros e manda que o mesmo obedeça-o, dando razões para isso; mas se o mesmo
teima na prática do erro o pai tem a obrigação de usar da força e obrigá-lo a
desistir de praticar o mal, castigando-o se for necessário. O mesmo
procedimento pode ser praticado pela autoridade de uma pequena comunidade
contra os fautores do mal ou de uma autoridade maior de um pais, seja contra um
indivíduo ou contra grupos deles. A censura, neste caso, é apenas a aplicação
da lei.
Conclusão: É com base na crítica
e na censura que é construída a opinião pública. É formada esta por idéias, e
quando estas surgem, logo de início as pessoas a confrontam com idéias opostas
(usando assim de crítica) para aquilatar, avaliar, se estão conformes com os
conceitos sociais aceitos por todos. Após a crítica vem a censura. Quer dizer,
as pessoas não somente apresentam as idéias opostas àquelas consideradas
erradas, mas passam automaticamente a censurar aqueles que as defendem ou as
propagam.
[1] Classe de monges antiga, que data do tempo de São Jerônimo. Viviam sem Regra. Eram de três classes: cenobitas, ermitãos e sarabaítas. Cenobitas porque viviam nas celas; ermitões porque andavam pelos deserto sem morada fixa, e sarabaita porque moravam numa comunidade, mas sem seguir Regras.
[2] Como adiante ele fala, os giróvagos podem pertencer a uma determinada Ordem, mas mudam-se com freqüência de uma e outra, são, portanto inconstantes numa vocação.
[3] Chamam-no de “Apóstata” porque era cristão e renegou a Fé, passando a perseguir a Igreja.
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