12 de Julho, festa dos Santos Louis Joseph
Aloísio Estanislau Martin (1823-1892) e Zélie Martin (1831-1877, os pais de Santa
Teresinha do Menino Jesus. Sobre as virtudes do casal, assim se expressou o
bispo de Bayeux e Lisieux, Mons. Picaud:
“Quando a insuficiente formação dos
filhos patenteia tão frequentemente a omissão de tantos pais, mesmo batizados,
como encanta e é benfazejo discernir , notadamente na correspondência da Sra.
Martin, a requintada ternura e a vigilância assídua de uma mãe idealmente
cristã!
Quando as vocações religiosas e
sacerdotais tão frequentemente encontram um clima desfavorável e mesmo oposições formais no seio das
famílias, que lembrança eloquente da hierarquia
das vocações denotam as nobres aspirações e os santos desejos confiados
a Deus pela rendilheira de Alençon e pelo Patriarca dos Buissonets!
Encontraríamos hoje muitos pais que
conduzam, como o fez o Sr. \Martin, a sua “pequena Rainha” ao Bispo de Bayeux,
a fim de apressar sua entrada no convento, ainda que essa diligência devesse
apressar ao mesmo tempo o dilaceramento e a solidão de seu coração paterno?
A esses exemplos de vida conjugal e
familiar, vós não deixastes de acrescentar os de um avida laboriosa e de alta
consciência profissional que, anda hoje, é bem oportuno evocar para esclarecer
o reencaminhar o compromissos de muitos leitores.
Para dizer tudo numa palavra, é o
retrato de dois modelos incomparáveis – eu ia dizer de dois santos patronos –
que vós propondes à admiração e à imitação dos pais cristãos”[1]
E a vida do casal era a mais exemplar possível. Costumavam rezar juntos, liam bons livros sobre a vida dos santos, o terço era recitado todos os dias e a oração ocupava um lugar de preeminência tanto na vida familiar como na de cada membro da casa. Incentivavam suas filhas a ter devoção e amor à Virgem Maria. Todos os pobres que batessem à porta da família eram bem recebidos e acolhidos, recebendo roupa e comida. Nunca lhes negaram nada. O amor ao Papa e aos sacerdotes sempre foi cultivado na família Martin. Os padres tinham pousada garantida em sua casa quando passavam por Alençon.
Filhos do casal
Santa Zélia e São Louis tomaram a
decisão de ter muitos filhos. Nasce a primeira filha do casal, Marie Louise.
Todos os filhos e filhas receberam o nome de “Maria” como sinal de
agradecimento à Virgem Maria, que era tão amada e venerada na família Martin.
Aliás, no dia do casamento, Louis e Zélia receberam como presente a imagem de
Nossa Senhora das Vitórias, que mais tarde ficou conhecida, por causa do
milagre do sorriso a Santa Teresinha, como Nossa Senhora do Sorriso.
O grande sonho de Santa Zélia era ter
um filho sacerdote. Isso nunca aconteceu, mas os pais não rejeitaram as filhas
que Deus lhes enviara, e terminaram por encaminhar todas elas para a vida
religiosa, uma das quais já era santa quando convivia em seu lar com o casal.
Foram seus filhos: Marie Louise (1860-1940)
– Ir. Maria do Sagrado Coração no Carmelo de Lisieux(1886); Marie Pauline(1861-1951)
– Ir. Inês de Jesus no Carmelo de Lisieux(1882); Marie Leônie(1864-1941)
– Ir. Francisca Teresa na Visitação em Caen(1898); Marie Céline(1869-1959) –
Ir. Genoveva da Sagrada Face no Carmelo de Lisieux(1894); Marie François
Therese(1873-1897) – Santa Teresinha – Carmelo
Irmãos falecidos antes de Santa Teresinha nascer: Marie Heléne (1864-1870), Joseph Marie(1866-1867), Jean Baptiste Marie(1867-1868) e Marie Melânie Therese (1870 – falecida aos 3 meses de idade).
Santidade reconhecida por uma filha também santa
A
própria Santa Teresinha era constante em elogiar a santidade de seus pais,
especialmente o Sr. Louis Martin, com quem conviveu mais tempo, haja vista que
sua mãe faleceu quando ela ainda era criança.
Numa de suas cartas ao próprio pai (31.7.1888), escreveu ela: “Quando
penso em ti, paizinho, penso naturalmente em Deus, pois me parece impossível
que haja alguém mais santo do que vós na terra. Sim, vós sois, certamente, tão
santo como o próprio São Luís [rei de França], e preciso ainda repetir que eu vos
amo, como se vós ainda não o soubesses. Oh, que orgulhosa estou de ser
Rainha!... Espero merecer sempre esse título. Jesus, rei do Céu, ao tomar-me
para Si, não me tirou a meu santo rei da terra...”
Em outra carta, escrita num retiro (datada de 8.1.1889), ela se refere
ao fato de ser proibido escrever no retiro, cuja exceção foi concedida a ela
por alguma particularidade toda especial: “... se está proibido escrever, é
para não perturbar o silêncio do retiro; mas, poderá alguém perturbar sua paz
se escreve a um Santo?”
Em sua autobiografia, “História de uma alma”, Santa Teresinha se refere ao seu pai, por diversas vezes, ora como rei, ora como santo, mas estes qualificativos não eram apenas reflexos de sua admiração por ele, mas a constatação de uma realidade que ela presenciara em seu convívio. O fato de afirmá-lo de público, algo que qualquer outro santo temeria fazê-lo por alguém poder considerar falta de modéstia, revela a sinceridade de alma e a pureza de intenções de sua declarações a respeito de seus pais.
A opção entre a vida consagrada, conventual, e a
vida matrimonial
Segundo depoimento de sua filha, irmã Genoveva da Santa Face e de Santa
Teresa, Zélia Guérin foi batizada com o nome de Marie Azélie (ou Maria Azélia),
mas costumaram chama-la em família de Zélia. Como sua irmã consagrou-se a Deus
na Visitação, adotando o nome de Irmã Maria Dositéia, entrou ela também como
externa no colégio da Adoração Perpétua de Alençon, mantido pelas religiosas
dos Sagrados Corações de Picpus. Tinha intenções de levar vida consagrada como
sua irmã, apresentando-se assim às Irmãs de São Vicente de Paulo da Santa Casa
de Alençon. Mas foi dissuadida pela Superiora por causa de sua precária saúde.
Na ocasião, Santa Zélia fez essa prece:
“Meu Deus, já que
não sou digna de ser vossa esposa como minha irmã, abraçarei o estado de
matrimônio para cumprir vossa santa vontade. Peço-vos então muitos filhos e
que vos sejam todos consagrados”.
Segue o depoimento de sua filha:
“Suplicou a Nossa Senhora que lhe indicasse a maneira de assegurar pecuniariamente
seu futuro. E no dia 8 de setembro de 1851, durante uma ocupação absorvente,
distinguiu mui claramente uma espécie de voz interior que lhe dizia: “Ocupa-te
com o Ponto de Alençon”. Entrou, pois, numa Escola Profissional. Mas saiu antes
de terminar o curso para evitar a presença assídua do chefe do
estabelecimento”.
Segundo a depoente, Santa Zélia demonstrou habilidade e talento em sua arte, além de ser possuidora de atraente beleza. Por causa disso, uma senhora da sociedade local quis levá-la a Paris, talvez com intenção de lhe conseguir algum casamento vantajoso, mas sua recusa foi categórica. Demonstrou não gostar do mundo. Algum tempo depois estaria se casando com o Sr. Louis Martin, filho de um capitão aposentado. O que os atraiu um pelo outro foi, acima de tudo, a piedade, a santidade, virtudes que transbordariam dentro do lar.
Vocação para a maternidade
Em várias oportunidades, Zélia Guerin, ou Martin, demonstrou procurar
cumprir aqueles propósitos que manifestara ao escolher a vida matrimonial: a
vocação para a maternidade. Ao saber que uma senhora da região havia dado à luz
a trigêmeos, disse ela: “Oh feliz mãe! Se eu tivesse ao menos dois. Mas, não
terei jamais essa felicidade!” – “Amo loucamente as crianças”.
“Sua correspondência está cheia dessas exclamações de alegria materna.
Escreveu a seu irmão, o Sr. Guérin, no dia 23 de abril de 1865, após o nascimento
de sua Helenazinha que deveria morrer em tenra idade:
“Há quinze dias fui ver aquela que está com a ama. Não me lembro de ter
jamais experimentado um sentimento de tal felicidade como no momento em que a
tomei nos braços e ela me sorriu tão graciosamente que acreditava ver um anjo.
Numa palavra, é inexprimível para mim. Acho que nunca se viu nem se verá jamais
uma criança tão encantadora. Minha Helenazinha! Quando enfim terei a felicidade
de possuí-la inteiramente! Não posso pensar que tenho a honra de ser mãe de
criatura tão deliciosa...”
“Longe de medir fadigas, sua confiança sobrenatural levava-a a confessar
mais tarde à sua cunhada, a Sra. Guérin, de saúde delicada e que esperava um
filho:
“Nosso Senhor não pede nada acima de nossas forças. Vi muitas vezes meu
marido preocupar-se comigo sobre esse ponto. E eu permanecia absolutamente
tranquila. Dizia-lhe: “Não receies, Nosso Senhor está conosco”. No entanto, eu
estava acabrunhada de trabalhos e preocupações de toda sorte, mas tinha a firme
confiança de ser sustentada pelo Alto.
“O que não a impedia de fazer esta confidência a seus parentes de Lisieux:
“Se tiveres tantos filhos quanto eu, isso exigirá muita abnegação e o
desejo de enriquecer o Céu com novos eleitos.
“Após cada nascimento, fazia logo esta prece:
“Senhor, concedei-me a graça de vos ser consagrado este filho e que nada
venha manchar a pureza de sua alma. Prefiro que o leveis imediatamente caso
venha a perder-se para sempre”.
Sua união com Deus e o fervor de suas orações quando esperava um filho
eram tão grandes que se admirava de não ver disposições para a piedade desde o
despertar da inteligência desses pequeninos. Maria, sua filha mais velha, tinha
apenas quatro anos e Paulinazinha contava somente dois quando ela confiava sua
decepção à querida Visitandina. Esta por sua vez escrevia a seu irmão, no dia 2
de fevereiro de 1864:
“Zélia já se atormenta por não ver sinais de piedade em suas filhas”.
“A criança devia ser batizada logo após o nascimento. Sempre se informava
sobre esse ponto quando se tratava dos filhos de seus parentes.
“Quanto ao batizado de Teresinha foi preciso ser adiado dois dias. Deixo
aqui a palavra a Madre Inês de Jesus. Interrogada, nos Processos, sobre o motivo
dessa demora, respondeu:
“Porque se esperava o padrinho. Durante esse intervalo nossa piedosa mãe
estava em contínuos sobressaltos. Pelo temor de sobreviver algum mal à criança.
Imaginava constantemente que a pequena estava em perigo.
“Mamãe teve nove filhos, dos quais quatro morreram ainda pequenos. De
acordo com meu pai, quis dar a todos o nome de “Maria” unido a outro nome, ao
de José para os dois meninos.
“No dia 8 de dezembro de 1860 pedira à Imaculada Conceição um segundo
filho e nove meses depois chegara Paulina que se seguiu a Maria, a primogênita.
“Vivíamos somente para eles. Eram nossa felicidade. Jamais a encontrávamos fora deles. Numa palavra, nada nos custava, o mundo não mais nos pesava. Era para mim a grande compensação, por isso eu desejava ter muitos filhos a fim de educá-los para o Céu”. (4 de março de 1877)”[2].
[1] Carta-prefácio do livro
“Histoire d’une famille”, do Pe. Stéphane-Joseph Piat, OFM, Office Central de
Lisieux, 4ª. Ed, págs. 7/8.
[2] Citações extraídas do livro
“A Mãe de Santa Teresa do Menino Jesus”, Carmelo do I. C. de Maria e Santa
Teresinha – Cotia(SP), págs. 11/17.
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