sábado, 13 de março de 2021

ORIGEM DO SINCRETISMO RELIGIOSO

 



 Os dois males mais predominantes no mundo de hoje são: liberalismo e relativismo. O liberalismo é o pecado que faz o homem vê-se livre do cumprimento das leis divinas alegando uma suposta liberdade. O relativismo é a indiferença psicológica para o Bem e para a Religião verdadeira. Essa indiferença é manifestada principalmente através do que se chama sincretismo religioso, isto é, a mistura e prática de religiões pagãs juntamente com a Católica. Vejamos como surgiu o sincretismo, tendo sido um costume ou pecado social já predominante no antigo reino de Israel, também chamado de Samaria.

 Os samaritanos

O reino de Samaria, ou de Israel, havia pouco tempo que havia sido criado e já seu segundo sucessor (Amri) pensou em edificar sua capital, haja vista o risco que corria seus súditos de irem a Jerusalém, em peregrinação ao Templo, e lá ficarem. Para tanto comprou um monte, que pertencia a Somer (I Rs 16, 23-24), e nele construiu a cidade, que passou a se chamar de Samaria.  Amri era o pai de Acab, seu sucessor  no trono.

Esse rei Acab tornou-se  a maior calamidade para o reino de Samaria, pois “além dos males que fazia”  resolveu ainda casar-se com uma pagã, uma poderosa feiticeira chamada Jezabel, filha de Etbaal, rei dos sidônios e foco da idolatria provinda da Babilônia.

Antes de Acab, a idolatria na Samaria consistia na simples adoração de bezerros de ouro, para o que haviam feito dois altares (I Rs 12, 28-29), imitando o que haviam feito os hebreus quando fugiam do Egito no tempo de Moisés. Mas agora, com Acab e Jezabel, o “progresso”  havia chegado e novas formas de idolatria mais profundas eram necessárias para se propagar a gnose. Acab foi à Sidônia, lá foi “iniciado”  no culto de Baal e o trouxe para a Samaria (I Rs 16, 31-33), além de outros idólatras, os “adoradores”  dos bosques, um culto exercido por Jezabel, o qual também se originara na Mesopotâmia.

Como castigo, o povo de Samaria anos depois foi invadido pelos Assírios e levado para o cativeiro da Babilônia. Nem todos, porém, foram deportados, ficando na Região algumas tribos  (Rs II 15, 29). Isto ocorreu em torno do ano 734 a.C..  Somente o monte Galaad não era da tribo de Neftali, uma das principais levadas para o cativeiro juntamente com as outras além do Jordão. Esta expressão “além do rio”  foi utilizada depois por Esdras e Neemias para falar do povo que havia ficado na Samaria, havia sido misturado com pagãos da Mesopotâmia, e combatia os hebreus que tentavam reconstruir o Templo: “Tal é o teor da carta que lhe mandaram: Ao rei Artaxerxes, os teus servos, os homens que habitam do lado de além do rio...”  (Esdras 4, 11).

Assim, somente ficara na Palestina a parte central da Samaria. Alguns anos depois, nova incursão dos Assírios na região leva o resto do povo para o cativeiro (II Rs 17, 6) e acaba definitivamente com o “reino de Israel”.

A Samaria havia ficado, portanto, despovoada. Desta forma, o rei da Babilônia mandou gente de algumas de suas cidades para repovoá-la “em lugar dos filhos de Israel (II Rs 17, 24). Os novos ocupantes da região, porém, eram castigados por Deus com animais ferozes que os devoravam, dando sinais claros da reprovação divina de seus cultos pagãos. Por isso, o rei mandou que fossem doutrinados por um sacerdote hebreu (II Rs 17, 27-28), mas o povo não largava o paganismo, misturando as religiões e promovendo o sincretismo religioso (II Rs 17, 29-32 e 33-41).

Por causa disso, aquele povo que não era mais israelita, nem de Judá nem do cismático reino da Samaria, passou a ser chamado derrisoriamente de “samaritanos” pelos judeus. No tempo de Nosso Senhor Jesus Cristo os samaritanos e os judeus haviam mudado muito, sendo que os últimos se tornaram piores do que os samaritanos. Daí porque Nosso Senhor usou da parábola do “Bom Samaritano” para servir de exemplo aos judeus, que eram mais bem tratados pelos samaritanos do que estes por aqueles.

O reino de Israel, ou da Samaria, havia sido exterminado, dando lugar a um povo estranho, uma mistura de povos pagãos da Assíria, que é assim relatado pela Sagrada Escritura: “O rei dos assírios mandou vir gente da Babilônia, de Cuta, de Ava, de Emat e de Sevarfaim e pô-los nas cidades de Samaria em lugar dos filhos de Israel. Eles possuíram a Samaria e habitaram nas suas cidades”  (II Rs 17, 24-25).

O rei dos assírios mandou então para lá aquele sacerdote hebreu, que vivia cativo na Babilônia, com o fim de catequizar o povo na religião do verdadeiro Deus: “Tendo, pois, ido um dos sacerdotes que tinham sido levados cativos da Samaria, habitou em Betel e ensinava-lhes o modo como deviam honrar o Senhor”   E era de Betel que se irradiava o sincretismo religioso, apesar de lá ter surgido anteriormente uma verdadeira escola de profetas, visitada por Santo Elias (II Rs 2, 23). Alguns profetas se referem a Betel como um lugar de sincretismo (Os 10, 15; Am 5,5), pois lá havia um santuário que ora abrigava o verdadeiro culto a Javé, ora a abominada idolatria.

Não se sabe qual era a verdadeira intenção do rei da Assíria, talvez até boa, mas foi logo deturpada pelo sacerdote que enviou ou pelos moradores do lugar: “Apesar disso, cada um desses povos fabricou para si o seu deus e colocaram-nos nos templos dos lugares altos, que os samaritanos tinham edificado, cada povo na sua cidade em que habitava. Porque os babilônios fizeram Socotbenot, os cuteus fizeram Nergel e os de Emat fizeram Asima. Os heveus fizeram Nebaaz e Tartac. Os que eram de Sefarvaim queimavam os seus filhos no fogo em honra de Adramelec e de Anamelec, deuses de Sefarvaim.” (II Rs 17, 29-31).

Ao lado de seus deuses eles servem também a Javé, o Deus verdadeiro dos hebreus: “Embora adorassem o Senhor serviam também aos seus deuses, segundo o costume das nações, do meio das quais tinham sido transferidos para a Samaria”. (II Rs 17, 33).

Não foi por falta de conselho e doutrina, pois há essa advertência para não cair nesse erro: “Não temais os deuses estrangeiros, nem os adoreis, nem os sirvais, nem lhes sacrifiqueis; mas temei ao Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito com grande poder e com braço estendido; a ele adorai e a ele oferecei sacrifícios. Observai também as cerimônias, as ordenações, as leis e os preceitos que ele vos deu por escrito, observando-os todos os dias; não tenhais medo dos deuses estrangeiros”.  (II Rs 17, 35-37).  No caso, os “deuses estrangeiros” são todos os ídolos, cuja idolatria era terminantemente proibida em Israel.

As expressões “que vos tirou da terra do Egito” e “as leis e os preceitos que ele vos deu por escrito” dá a entender que aquele povo não era inteiramente pagão, talvez fosse uma mescla de povos oriundos da diáspora hebraica, que já naqueles tempos era difusa em várias partes do mundo.

Apesar das admoestações “Eles, porém, não deram ouvidos, mas procederam segundo o seu antigo costume. Assim estes povos perseveraram em temer ao Senhor, mas todavia serviram também os seus ídolos, porque tanto seus filhos como seus netos ainda hoje fazem como fizeram seus pais”  (II Rs 17, 40-41).

 


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