O reino de Samaria, ou de Israel, havia pouco
tempo que havia sido criado e já seu segundo sucessor (Amri) pensou em edificar
sua capital, haja vista o risco que corria seus súditos de irem a Jerusalém, em
peregrinação ao Templo, e lá ficarem. Para tanto comprou um monte, que
pertencia a Somer (I Rs 16, 23-24), e nele construiu a cidade, que passou a se
chamar de Samaria. Amri era o pai de
Acab, seu sucessor no trono.
Esse rei Acab tornou-se a maior calamidade para o reino de Samaria,
pois “além dos males que fazia” resolveu
ainda casar-se com uma pagã, uma poderosa feiticeira chamada Jezabel, filha de
Etbaal, rei dos sidônios e foco da idolatria provinda da Babilônia.
Antes de Acab, a idolatria na Samaria
consistia na simples adoração de bezerros de ouro, para o que haviam feito dois
altares (I Rs 12, 28-29), imitando o que haviam feito os hebreus quando fugiam
do Egito no tempo de Moisés. Mas agora, com Acab e Jezabel, o “progresso” havia chegado e novas formas de idolatria
mais profundas eram necessárias para se propagar a gnose. Acab foi à Sidônia,
lá foi “iniciado” no culto de Baal e o
trouxe para a Samaria (I Rs 16, 31-33), além de outros idólatras, os
“adoradores” dos bosques, um culto
exercido por Jezabel, o qual também se originara na Mesopotâmia.
Como castigo, o povo de Samaria anos depois
foi invadido pelos Assírios e levado para o cativeiro da Babilônia. Nem todos,
porém, foram deportados, ficando na Região algumas tribos (Rs II 15, 29). Isto ocorreu em torno do ano
Assim, somente ficara na Palestina a parte
central da Samaria. Alguns anos depois, nova incursão dos Assírios na região
leva o resto do povo para o cativeiro (II Rs 17, 6) e acaba definitivamente com
o “reino de Israel”.
A Samaria havia ficado, portanto,
despovoada. Desta forma, o rei da Babilônia mandou gente de algumas de suas
cidades para repovoá-la “em lugar dos filhos de Israel (II Rs 17, 24). Os novos
ocupantes da região, porém, eram castigados por Deus com animais ferozes que os
devoravam, dando sinais claros da reprovação divina de seus cultos pagãos. Por
isso, o rei mandou que fossem doutrinados por um sacerdote hebreu (II Rs 17, 27-28),
mas o povo não largava o paganismo, misturando as religiões e promovendo o
sincretismo religioso (II Rs 17, 29-32 e 33-41).
Por causa disso, aquele povo que não era
mais israelita, nem de Judá nem do cismático reino da Samaria, passou a ser
chamado derrisoriamente de “samaritanos” pelos judeus. No tempo de Nosso Senhor
Jesus Cristo os samaritanos e os judeus haviam mudado muito, sendo que os
últimos se tornaram piores do que os samaritanos. Daí porque Nosso Senhor usou
da parábola do “Bom Samaritano” para servir de exemplo aos judeus, que eram
mais bem tratados pelos samaritanos do que estes por aqueles.
O reino de Israel, ou da Samaria, havia sido exterminado, dando lugar a um povo estranho, uma mistura de povos pagãos da Assíria, que é assim relatado pela Sagrada Escritura: “O rei dos assírios mandou vir gente da Babilônia, de Cuta, de Ava, de Emat e de Sevarfaim e pô-los nas cidades de Samaria em lugar dos filhos de Israel. Eles possuíram a Samaria e habitaram nas suas cidades” (II Rs 17, 24-25).
O rei dos assírios mandou então para lá aquele sacerdote hebreu, que vivia cativo na Babilônia, com o fim de catequizar o povo na religião do verdadeiro Deus: “Tendo, pois, ido um dos sacerdotes que tinham sido levados cativos da Samaria, habitou em Betel e ensinava-lhes o modo como deviam honrar o Senhor” E era de Betel que se irradiava o sincretismo religioso, apesar de lá ter surgido anteriormente uma verdadeira escola de profetas, visitada por Santo Elias (II Rs 2, 23). Alguns profetas se referem a Betel como um lugar de sincretismo (Os 10, 15; Am 5,5), pois lá havia um santuário que ora abrigava o verdadeiro culto a Javé, ora a abominada idolatria.
Não se sabe qual era a verdadeira intenção do rei da Assíria, talvez até boa, mas foi logo deturpada pelo sacerdote que enviou ou pelos moradores do lugar: “Apesar disso, cada um desses povos fabricou para si o seu deus e colocaram-nos nos templos dos lugares altos, que os samaritanos tinham edificado, cada povo na sua cidade em que habitava. Porque os babilônios fizeram Socotbenot, os cuteus fizeram Nergel e os de Emat fizeram Asima. Os heveus fizeram Nebaaz e Tartac. Os que eram de Sefarvaim queimavam os seus filhos no fogo em honra de Adramelec e de Anamelec, deuses de Sefarvaim.” (II Rs 17, 29-31).
Ao lado de seus deuses eles servem também a Javé, o Deus verdadeiro dos hebreus: “Embora adorassem o Senhor serviam também aos seus deuses, segundo o costume das nações, do meio das quais tinham sido transferidos para a Samaria”. (II Rs 17, 33).
Não foi por falta de conselho e doutrina, pois há essa advertência para não cair nesse erro: “Não temais os deuses estrangeiros, nem os adoreis, nem os sirvais, nem lhes sacrifiqueis; mas temei ao Senhor vosso Deus, que vos tirou da terra do Egito com grande poder e com braço estendido; a ele adorai e a ele oferecei sacrifícios. Observai também as cerimônias, as ordenações, as leis e os preceitos que ele vos deu por escrito, observando-os todos os dias; não tenhais medo dos deuses estrangeiros”. (II Rs 17, 35-37). No caso, os “deuses estrangeiros” são todos os ídolos, cuja idolatria era terminantemente proibida em Israel.
As expressões “que vos tirou da terra do Egito” e “as leis e os preceitos que ele vos deu por escrito” dá a entender que aquele povo não era inteiramente pagão, talvez fosse uma mescla de povos oriundos da diáspora hebraica, que já naqueles tempos era difusa em várias partes do mundo.
Apesar das admoestações “Eles, porém, não deram ouvidos, mas procederam segundo o seu antigo costume. Assim estes povos perseveraram em temer ao Senhor, mas todavia serviram também os seus ídolos, porque tanto seus filhos como seus netos ainda hoje fazem como fizeram seus pais” (II Rs 17, 40-41).
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