Após a saudação "Ave, Maria", inclinando-se, “o Anjo disse-lhe: "Não temas
Maria, pois encontraste graça diante de Deus. Eis que conceberás e darás à luz
um filho, e lhe porás o nome de Jesus. Ele será grande e chamar-se-á Filho do
Altíssimo, e o Senhor Deus lhe dará o trono de seu pai Davi; e reinará
eternamente na casa de Jacó e o seu reino não terá fim." (Lc 1, 30-34)
Vê-se que o Anjo fala
em “casa de Jacó”, mas o patriarca teve seu nome mudado por um Anjo para Israel
(Gên 32, 28). Poderia ter dito “casa de Israel”, mas na linguagem corrente
entre os hebreus o nome Jacó estava ligado à descendência real através da tribo
de Judá (poder temporal), enquanto Israel tinha sentido mais espiritual e
divino. O Anjo, portanto, falava claramente também numa descendência real
terrena. É como se estivesse definido aí a diferença entre o poder temporal e o
espiritual, que, no entanto, devem reger unidos.
O Profeta Isaías
também chama a dinastia que dominava os hebreus de “Casa de Jacó” e não “Casa
de Israel”, indicando um reinado meramente terreno: “Casa de Jacó, vinde e
caminhemos à luz do Senhor. Pois tu (ó Senhor) rejeitaste o teu povo, a casa de
Jacó, porque eles se encheram (de superstições) como noutro tempo tiveram
agoureiros como os filisteus, e se uniram aos filhos dos estranhos” (Is 2,
5-6). Note-se que quando o Profeta fala
“rejeitaste o teu povo”, logo a seguir completa, “a casa de Jacó”, quer dizer, Deus
recusou os dirigentes, os filhos de Judá, (hoje conhecidos como judeus), e não
o povo israelita. . Mais adiante, o Profeta dá a entender essa distinção entre
governantes e o povo quando diz: “Agora, pois habitantes de Jerusalém, e homens
de Judá, sede vós os juízes entre mim e a minha vinha” (Is 5, 3). Habitantes de
Jerusalém eram apenas os que moravam na capital, dominada por duas tribos,
Benjamin e Judá, e “homens de Judá”, claramente, eram os dirigentes, os
príncipes e reis que lá dominavam.
Quando o Profeta se
refere à “casa de Jacó” sempre dá a entender que está falando dos reis, da
dinastia real, e não do povo eleito em geral, como nestes textos: “E acontecerá
isto naquele dia: Os que tiverem ficado de Israel e os da casa de Jacó, que se
tiverem salvado, não se apoiarão mais sobre aquele que os fere; mas
apoiar-se-ão sinceramente sobre o Senhor, o Santo de Israel” (Is 10, 20-21). Em
seguida o profeta fala que se converterão apenas “as relíquias”, isto é, uma
pequena porção, tanto da “casa de Jacó” quanto do povo em geral.
Em outra passagem,
diz: “Apesar dos que investem com ímpeto contra Jacó, Israel florescerá” (Is
27-6), deixando bem claro a diferença entre o poder temporal (Jacó) e o
espiritual (Israel), indicando que mesmo que as elites recusem o poder divino,
este terminará por prevalecer.
Em outra parte vemos:
“Por esta causa, o Senhor, que resgatou Abraão, diz isto à casa de Jacó: Agora
não será confundido Jacó, nem agora se envergonhará o seu rosto; mas, quando
vir no meio dele os seus filhos, obra das minhas mãos, dar glória ao seu nome,
também eles santificarão o Santo de Jacó e glorificarão o Deus de Israel” (Is
29, 22-23). O “Santo de Jacó” é, pois, Jesus Cristo, descendente da “casa de
Jacó” (do poder temporal)e o “Deus de Israel” nem precisa dizer Quem é,
representando aí o poder espiritual.
E, no entanto, as
profecias diziam “E tu Belém de Efrata,
tu és pequenina entre as milhares de Judá; mas de ti é que há de sair aquele
que há de reinar em Israel”. (Miq 5, 2). Há, portanto, dois significados
nos títulos reais dados a Jesus Cristo: o terreno e o divino, sendo rei da
“casa de Jacó” o faz com o título meramente terreno, mas como “Rei de Israel”
(nome com que o Anjo mudou o nome de Jacó) ele reina sobre todos os homens,
pois este título é divino.
Estão bem definidos
aí os poderes temporal e espiritual, cujas características comportam todo o
Reino de Cristo.
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